PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: O EGRESSO DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA E O EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA.

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1 Aurelane Alves Santana Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e aluna do curso de Especialização em Análise do Espaço Geográfico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) lanezinhaliu@gmail.com PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO: O EGRESSO DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA E O EXERCÍCIO DA DOCÊNCIA. INTRODUÇÃO O presente artigo trata-se de um arcabouço inicial para a pesquisa a ser desenvolvida no curso de Especialização em Análise do Espaço Geográfico da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), tendo por finalidade precípua discutir a prezarização do trabalho docente, analisando, sobretudo, as dificuldades e perspectivas dos egressos dos anos de 2011 à 2013, do curso de Licenciatura em Geografia da UESB, de se inserirem no mercado de trabalho em sua área de formação. Nesse sentido, tenciona-se discorrer, primeiramente, sobre o ensino de Geografia e, posteriormente, sobre a categoria trabalho, tendo em vista que a mesma serve de base para o conhecimento teórico não somente das forças produtivas que se estabelecem cotidianamente através do modo de produção vigente, mas, também, da relação sociedade-trabalho-natureza. Assim, diante das discussões que insurgem, procura-se analisar a realidade concreta do trabalho docente na contemporaneidade, uma vez que os níveis de precarização do trabalho, em todas as suas dimensões, são progressivos e refletem diretamente na reprodução da vida dos trabalhadores, que mesmo com a formação exigida pelo mercado, possuem cada vez mais dificuldades de se inserir nele. É nessa conjuntura social e econômica, de reestruturação produtiva do capital, que faz-se necessária uma discussão de como os egressos do curso de Licenciatura em

2 Geografia da UESB criam, diante das inúmeras dificuldades que se materializam todos os dias no universo laborativo, estratégias de reprodução e resistência frente à crescente desvalorização da profissão, e de como isso se reflete nas universidades nos processos de formação docente e, consequentemente, da reprodução do conhecimento (aqui, no caso, geográfico) nas escolas. JUSTIFICATIVA Em meio aos novos padrões de acumulação capitalista, os seus reflexos sobre o mundo do trabalho tornam-se demasiadamente evidentes na medida em que há uma progressiva massa de egressos de cursos universitários desempregada. Partindo-se dessa premissa e, também, por fazer parte desse universo de egressos de um curso de Licenciatura em Geografia, a análise e o acompanhamento das dificuldades e perspectivas que os recém-formados em Geografia apresentam de se inserirem no mercado de trabalho, em sua área de formação, tornou-se necessária, pois, entende-se, que tal pesquisa, além de demonstrar como o sistema do capital subsume e aliena toda as esferas laborativas, também direciona as discussões à compreensão de como a valoração e o elitismo atuam na emersão e/ou submersão de determinada profissão na sociedade de classes. Assim, justifica-se a realização desse estudo tendo, sobretudo, como base, a experiência de vivenciar todos os empecilhos e as esperanças que regem os recémgraduados do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB, no que se refere ao exercício real da docência, isto é, do ser professor. PROBLEMATIZAÇÃO

3 Quando admitimos o trabalho docente como práxis humana, passamos a ter consciência da dinâmica de sua precarização, que passa pela intensificação do ritmo do trabalho em paralelo ao achatamento e perdas salariais, desde a captura da subjetividade do trabalhador até a retirada de seus direitos. O olhar reflexivo sobre as diversas dinâmicas de precarização do trabalho vivenciadas, sobretudo na docência do ensino fundamental e médio, bem como na formação de professores, vêm revelando como a reestruturação produtiva atingiu o modo de fazer educação dos professores. Diante disso, questiona-se: Quais os principais fatores que tem contribuído para o processo de precarização docente? Os egressos, licenciados em Geografia, estão atuando como docentes? Quais as dificuldades enfrentadas pelos egressos do curso no processo de inserção no mercado de trabalho, em sua área específica de formação? Quais as perspectivas desses egressos em relação à sua atuação no mercado de trabalho? OBJETIVOS Objetivo Geral: Analisar as dificuldades e perspectivas dos egressos do curso de Licenciatura em Geografia de se inserirem no mercado de trabalho na sua área de formação. Objetivos Específicos: Compreender como se dá a precarização do trabalho docente na contemporaneidade; Identificar as principais dificuldades dos egressos do curso de Geografia de se inserirem na rede pública e privada de ensino, em sua área de formação; Verificar o percentual de egressos inseridos no mercado de trabalho docente, na sua área específica de formação.

4 REFERENCIAL TEÓRICO Quando se analisa a formação docente nas licenciaturas, e na Geografia especificamente, as questões relacionadas às condições de trabalho na sociedade contemporânea devem ser consideradas como importantes uma vez que a própria Universidade está inserida em um contexto social e é influenciada por interesses econômicos, políticos e culturais definidos pela dicotomia do jogo de forças sociais (SOUZA, 2011, p. 37). É neste cenário de contradições sociais, que Passos (2004, p. 90) salienta a sua preocupação perante os processos de formação docente em Geografia, ao dizer que ela deve oferecer subsídios que ajudem a compreender o contexto sócio histórico, cultural e institucional onde se insere a ação pedagógica. O autor salienta, ainda, que a educação é prática social que se define a partir do e no conjunto das relações sociais, relações essas que são geradas no tencionamento de forças da dinâmica social. Para Pereira (1999, p. 111), são vários os fatores que prejudicam tanto a formação dos professores quanto a inserção desses no mercado de trabalho. Dentre as mais relevantes, ele aponta o desestímulo dos jovens na escolha do magistério como profissão, advinda, principalmente, das más condições de trabalho, salários baixos e jornada de trabalho excessiva. Na Geografia, os problemas relacionados à docência são perceptíveis desde a formação dos professores até à sua entrada e permanência no mercado de trabalho. É notório, cada vez mais, o crescimento exacerbado do exército de reserva e de outros profissionais com qualificação, que nada tem a ver com a pedagógica, assumindo cargos de docente (SOUZA, 2011, p. 52). Isso porque, de uma política atual neoliberal intrínseca aos processos de restruturação do capital, insurgem relações de trabalho que relaciona-se diretamente à acumulação e reprodução capitalista (OLIVEIRA, 2010, p.12). Dentre as mais comuns estão: trabalhadores temporários, flexibilização dos

5 contratos de trabalho, terceirizados, ocupação de vagas para a supressão de metas governamentais pré-estabelecidas que visam, sobretudo, a quantidade e não a qualidade do ensino. O trabalho, na sua essência, consiste em uma atividade libertadora, em que as trocas dos homens com a natureza (via transformação) resultam na produção de tudo aquilo que é necessário à vida humana. Concomitantemente a esse suprimento das necessidades, há, também, a produção constante de conhecimentos, o que gera, nos homens, o desenvolvimento das suas forças produtivas e da sociabilidade humana, afirmando-os, assim, como, além de seres biológicos, seres sociais. Essa simultânea articulação e diferença do mundo dos homens com a natureza tem por fundamento o trabalho. (LESSA, TONET, 2008, p.53) [...] Ao mesmo tempo em que os indivíduos transformam a natureza externa, tem também alterada sua própria natureza humana, num processo de transformação recíproca que converte o trabalho social num elemento central do desenvolvimento da sociabilidade humana. (ANTUNES, 2004, p.8) A capacidade do ser de viver em sociedade advém do fato de os homens se organizarem prioritariamente para produzirem o indispensável à vida (LESSA, TONET, 2008, p. 75). A transformação da realidade e a evolução da história estão tacitamente relacionadas ao trabalho humano. Assim, o homem evolui, a história está em constante processo, pois todo ato de trabalho produz uma nova situação, na qual novas necessidades e novas possibilidades irão surgir (LESSA, TONET, 2008, p.21). [...] Essa articulada transformação da natureza e dos indivíduos permite a constante construção de novas situações históricas, de novas relações sociais, de novos conhecimentos e habilidades, num processo de acumulação constante [...]. (LESSA, TONET, 2008, p. 26). A história dos homens é marcada pelas transformações das forças produtivas e, não obstante, isso corresponde, também, aos modos de produção que em determinadas escalas temporais moldaram a vida e o cotidiano das pessoas, desde aos aspectos de ordens econômicas, como os políticos e sociais.

6 Atualmente, o desemprego justifica-se pelo discurso da não qualificação fortemente disseminado pela/na sociedade capitalista e se explica pela escassez de força de trabalho que corresponda às reais finalidades que lhes são atribuídas. Assim, a sociedade conforma-se como caótica e desigual, fazendo com que o universo do trabalho torne-se, cada vez mais, precarizado e complexo. Essa precarização e complexidade afeta de forma homogênea todos aqueles que fazem parte direta ou indiretamente do processo de produção implicando em mutações constantes no interior do sistema do capital, no sentido de que sempre haverá o privilégio daqueles que possuem os meios de produção em detrimento da força de trabalho assalariada e da massa desempregada. O desemprego crônico, com a evolução das forças produtivas, tornou-se inerente ao desenvolvimento do sistema do capital. Esse processo massificador afeta toda a esfera produtiva e coloca a reprodução do homem em crescente declínio no que se refere às possibilidades de reprodução social. A reprodução dos homens fica fragilizada à medida em que há diminuição da oferta de trabalho e a exigência da qualificação se sobrepõem ao número de trabalhadores dispostos a venderem a sua força de trabalho no mercado. Essa impossibilidade dos homens de trabalharem e, consequentemente, de se reproduzirem, causa na sociedade transtornos incomensuráveis e, muitas vezes, irreversíveis, cuja tendência é piorar as condições das classes menos favorecidas. A situação imposta à sociedade pelo sistema do capital consiste em uma alcantilada tendência ao esfacelamento social. Assim, toda a conjuntura populacional, urbana e rural, está acometida às tendências advindas do sistema do capital, tanto no que se refere ao processo produtivo das mercadorias, como ao modo de vida, ao padrão social de cada indivíduo. É esse processo tendencioso que determina os estratos sociais e faz com que o capitalismo desenvolva novas ações alusivas à produção e às relações de trabalho.

7 Como assevera Thomaz Júnior (2006, p. 10), o trabalho não está acabando, o emprego, sim, é que está moribundo. Apesar das modificações impostas pelo sistema do capital quanto à finalidade do trabalho, ele não deixará de existir. Assim, independentemente do modo de produção capitalista, o trabalho sempre vigorará. O que pode acontecer é a abrupta redução do oferecimento do emprego. Este, sim, espécie de mutação de trabalho e capital, está acondicionado aos mandos e desmandos desse sistema imodicamente perverso. É nesse sentido que se busca compreender o universo dos trabalhadores professores de Geografia com ênfase aos recém-graduados - tendo em vista que esse período pós-formação, corresponde ao momento em que os egressos conseguem visualizar com maior precisão como o mercado de trabalho, em sua área de formação, se constitui, podendo racionalizar, assim, as dificuldades que vem sendo evidenciadas, e criando as perspectivas para um trabalho digno, ou seja, para a vida. METODOLOGIA A metodologia utilizada nessa pesquisa combinará elementos teóricos, qualitativos e quantitativos. Essa opção metodológica baseia-se, principalmente, no fato de a mesma permitir uma maior aproximação da realidade concreta que se estuda e atingir o desenvolvimento de todos os objetivos aqui propostos. Assim, para se compreender a precarização do trabalho docente e as dificuldades e perspectivas dos egressos do curso de Licenciatura em Geografia de se inserirem no mercado de trabalho em sua área de formação, a pesquisa terá por base revisões bibliográficas de autores como Pereira (1999), Antunes (2004), Lessa (2008), Tonet (2008), Thomaz Júnior (2006), Souza (2011), entre outros, que contribuirão, efetivamente, na composição do entendimento teórico das relações de trabalho que se estabelecem no universo da docência e quão precária é a situação dos professores recém egressos da universidade.

8 Já a pesquisa qualitativa caracteriza-se como importante, pois, considerando-se que essa abordagem permite compreender o universo de significados (MINAYO, 1994, p. 21), percebe-se, também, que as relações e os fenômenos espaciais podem ser apreendidos através do cotidiano, da convivência. Sendo assim, a realização de entrevistas e aplicação de questionários aos egressos, serão de sumo valor empírico no desenvolvimento das conclusões de causa e efeito da precarização do trabalho e de um olhar crítico sobre realidade da luta pelo trabalho dos recém-formados do curso de Licenciatura em Geografia. Vale ressaltar que a amostragem utilizada será de aproximadamente 20% do total de egressos nos anos de 2011 a 2013 dos turnos matutino e noturno, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Para completar os procedimentos metodológicos usados na realização de tal estudo, o de caráter quantitativo ajudará tanto no mapeamento de situações de trabalho precário, quanto na elaboração de um banco de dados com o percentual de egressos inseridos no mercado de trabalho docente, na sua área específica de formação. Para isso, serão necessária consultas ao colegiado do curso de Geografia da UESB e escolas do município de Vitória da Conquista. Dentro dessa perspectiva, acredita-se que o método que melhor ampara as discussões que serão discorridas ao longo desse estudo, é o dialético, pois tem-se a consciência de que, o mesmo, compreende melhor as contradições que açambarcam o modo de produção capitalista e os efeitos desse sobre o mundo do trabalho: trabalhadores subjugados a níveis cada vez maiores de exploração e precarização de sua força de trabalho. RESULTADOS PRELIMINARES

9 Sob a proposta de se identificar, precipuamente, os níveis de precarização que atingem o universo do trabalho docente, foi delimitado, como objeto empírico dessa pesquisa, a inserção no mercado de trabalho dos egressos do curso de Licenciatura Plena em Geografia da UESB, dos anos de 2011 à 2013, em sua área de formação: a docência. O número de graduados nesse período, entre os turnos matutino e noturno, segundo dados fornecidos pelo Colegiado do curso, é de 141 alunos. Dessa forma, para se estabelecer parâmetros de análise sobre a profissão professor e de como ela vem se desenvolvendo em meio à hegemonia capitalista, foi selecionado uma amostragem de, aproximadamente, 20% desse total, o que corresponde, especificamente, a um número de 30 egressos. Para uma melhor visualização dos dados trabalhados, seguem, abaixo, tabelas que demonstram a espacialização temporal dos egressos nos períodos mencionados (Tabela 1) e a amostra utilizada para a realização de tal estudo (Tabela 2): Tabela 1: Número de egressos do curso de Licenciatura Plena em Geografia da UESB, nos anos 2011, 2012 e 2013 Ano de conclusão Número de egressos Fonte: Colegiado de Geografia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB. 12 de dezembro de Tabela 2: Amostragem utilizada na realização da pesquisa Ano de conclusão Amostragem Amostragem turno Total turno matutino noturno

10 Total 30 Fonte: Aurelane Alves Santana, Com a realização de um campo preliminar, já se é sabido que 50% do total da amostragem dos egressos entrevistados atuam como docentes e outros 50% estão inseridos em atividades distintas ou desempregados, como ratifica o gráfico da Figura 1, abaixo: Figura 2: Atua como docente (em sua área de formação). Fonte: Questionários aplicados aos egressos do Curso de Licenciatura em Geografia da UESB de dezembro de 2013 à fevereiro de Assim, como dito, anteriormente, que o artigo trata-se de um arcabouço inicial para o desenvolvimento de uma pesquisa à nível de Especialização, é a partir desses dados sobre a inserção ou não dos egressos do curso de Licenciatura em Geografia no mercado de trabalho, em sua área de formação, que se tentará responder a todos os questionamentos e objetivos, aqui, elencados para estudo.

11 REFERÊNCIAS: ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho. São Paulo: Cortez, 1995 Os Sentidos do Trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. 3ª ed. São Paulo, Ed. Boitempo, MÉSZÁROS. István. Para além do capital. Tradução de Paulo Cesar Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo MINAYO, Maria Cecília de Souza. (0rg) et al. Pesquisa social-teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro, Vozes, OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino. de. Modo Capitalista de Produção. São Paulo. Ed. Ática, PEREIRA, Júlio Emílio Diniz. As licenciaturas e as novas políticas educacionais para a formação docente. São Paulo: Cortez; Campinas: CEDES, In: Educação & Sociedade, v. 20, n. 68, dez SOUZA, Jacqueline Ramos Macedo Antunes de. Projeto Construindo Saberes e a Formação para o Exercício da Docência: Avaliação do Programa Prodocência no âmbito da Universidade Federal do Tocantins. Fortaleza, THOMAZ JÚNIOR. Antônio. Por uma geografia do trabalho! Pegada, v.3, número especial, agosto de 2006, Presidente Prudente.