Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2001/ ) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : DOLIZETE FÁTIMA MICHELIN E OUTROS RECORRIDO : LEITE GLÓRIA DO NORDESTE S/A ADVOGADO : GIOVANNI GOULART RIBEIRO E OUTRO EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. OFENSA À COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ISENÇÃO. ACORDO DE COMPLEMENTAÇÃO ECONÔMICO Nº 7 ENTRE BRASIL E ARGENTINA APROVADO PELO DECRETO Nº /87. INTERPRETAÇÃO DOS ARTIGOS 5º, 6º E 7º DO DECRETO Nº /87. COMPONENTE ELETRÔNICO. 1. O pedido veiculado no mandado de segurança e respectiva sentença não abarcou o mérito da presente ação anulatória de débito fiscal. Rejeita-se a prefacial de ofensa à coisa julgada. 2. Descabe excluir a isenção do imposto de importação de equipamento que contem comando ou controle eletrônico digital, se a norma do artigo 5º do Acordo de Complementação Econômica, subscrito entre o Brasil e a Argentina reconhece a incidência do imposto apenas sobre o acessório. 3. Recurso especial improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília (DF), 06 de dezembro de 2005 (Data do Julgamento). Ministro Castro Meira Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 1 de 6

2 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2001/ ) RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : DOLIZETE FÁTIMA MICHELIN E OUTROS RECORRIDO : LEITE GLÓRIA DO NORDESTE S/A ADVOGADO : GIOVANNI GOULART RIBEIRO E OUTRO RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Trata-se de recurso especial interposto com fulcro no artigo 105, III, alínea "a" da Constituição Federal contra acórdão prolatado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, nestes termos ementado: "TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ISENÇÃO. ACORDO ECONÔMICO. COMPONENTE ELETRÔNICO. ART. 5º, DO DECRETO /87. AUTORIZAÇÃO DA SEI. MULTA. 1. Não pode ser excluído de isenção do imposto de importação, o equipamento que contem comando ou controle eletrônico digital, se a norma do art-5 do acordo de complementação econômica subscrito entre a Argentina e o Brasil, prevê a incidência do imposto apenas sobre esse acessório. 2. 'Comando eletrônico digital' não se confunde com bem de informática, não necessitando de anuência da SEI para importação. Exclusão da multa" (fl. 328). A recorrente alega, em preliminar, ofensa aos artigos 267, V, 472 e 474 do Código de Processo Civil. No mérito, sustenta negativa de vigência aos artigos 5º, 6º e 7º do Decreto nº /87. Defende a tese de existência de coisa julgada, visto que o objeto do pedido da inicial do mandado de segurança impetrado pela ora recorrida foi o mesmo veiculado no presente feito, bem como a sentença de primeiro grau proferida naquele processo foi extra petita e portanto eivada de nulidade "que deveria ter sido desconstituída com o ajuizamento de ação rescisória, nos termos do artigo 485 do Código de Processo Civil (fl. 337). Afirma que os comandos e controles eletrônicos digitais que equipam a máquina importada da empresa não são de fabricação brasileira, o que poderia ensejaria a sua exclusão, mas sim de fabricação argentina, fato esse "reconhecido e admitido na própria inicial" (fl. 339). Requer, em síntese, o restabelecimento da sentença de primeiro grau. Não foram apresentadas contra-razões. Admitido o recurso na origem, subiram os autos a esta Corte. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 2 de 6

3 RECURSO ESPECIAL Nº RS (2001/ ) EMENTA PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. OFENSA À COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ISENÇÃO. ACORDO DE COMPLEMENTAÇÃO ECONÔMICO Nº 7 ENTRE BRASIL E ARGENTINA APROVADO PELO DECRETO Nº /87. INTERPRETAÇÃO DOS ARTIGOS 5º, 6º E 7º DO DECRETO Nº /87. COMPONENTE ELETRÔNICO. 1. O pedido veiculado no mandado de segurança e respectiva sentença não abarcou o mérito da presente ação anulatória de débito fiscal. Rejeita-se a prefacial de ofensa à coisa julgada. 2. Descabe excluir a isenção do imposto de importação de equipamento que contem comando ou controle eletrônico digital, se a norma do artigo 5º do Acordo de Complementação Econômica, subscrito entre o Brasil e a Argentina reconhece a incidência do imposto apenas sobre o acessório. 3. Recurso especial improvido. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Preliminarmente, passo ao exame da prefacial atinente à tese de coisa julgada. Versam os autos sobre ação declaratória interposta pela ora recorrida visando a declaração de nulidade de auto de infração lavrado pela fiscalização da Receita Federal em Uruguaiana-RS, em virtude de ter importado da Argentina, em 1990, um aparelho esterilizador automático, com tanque superior para recuperar água quente, painel de comando e controle completo, gratificador em cores e motor acoplado, conforme Guia de Importação e Aditivo, ao argumento de que as máquinas e equipamentos, ainda que acompanhados de comando e controle eletrônicos, beneficiam-se do Acordo de Complementação Econômico nº 7, subscrito pelo Brasil e Argentina, aprovado pelo Decreto nº /87, o que não se beneficiaria são os próprios comandos e controles. A Corte regional, reformando a sentença de primeiro grau, rechaçou a preliminar de ofensa à coisa julgada e no mérito, julgou procedente a ação, ao fundamento de que não pode ser excluído de isenção imposto de importação, o equipamento que contém comando ou controle digital, se a norma do art-5 do Acordo de Complementação Econômica subscrito entre Brasil e Argentina, prevê a incidência do imposto apenas sobre este acessório. Quanto à extinção pela coisa julgada, é incontroverso que os dois feitos - a presente ação anulatória de débito fiscal e o mandamus - versam sobre o mesmo processo de importação. No writ, verifica-se que, consoante as cópias da sentença e acórdão nele proferidos (fls e 100), tratava-se de Imposto de Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). Por outro lado, na presente ação anulatória o assunto diz respeito ao Imposto de Importação e multa decorrente pela falta de anuência da Secretaria Especial de Informática -SEI, o que afasta a preliminar argüida, porquanto diversas as matérias nos dois processos. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 3 de 6

4 O argumento trazido à baila pela recorrente de que a sentença proferida no mandamus seria nula não irradia qualquer efeito, considerando que não houve decisão de mérito em juízo quanto à matéria postulada na anulatória. Superada a prefacial, passo à análise do mérito do recurso, porquanto a matéria foi prequestionada. Em síntese, a recorrente aduz que a dicção dos artigos 5º, 6º e 7º do Decreto nº /87 não permite interpretação extensiva no sentido de excluir o imposto de importação do equipamento que contenha comando eletrônico ou digital. Os mencionados dispositivos legais estabelecem o seguinte, respectivamente: "Os equipamentos de comando e controle eletrônicos digitais serão excluídos do presente Acordo, embora, estejam incorporados às máquinas e equipamentos que compõem a lista comum. Os produtos da lista comum, fabricados na Argentina que incorporem comandos e controle eletrônico digital de origem brasileira beneficiam-se do presente Acordo. Ficam contemplados neste Acordo, os bens incluídos na lista comum, projetados para trabalhar com comando e controle eletrônico digital, sempre que desprovidos dos pertinentes comandos e controles eletrônicos digitais". Conclui-se que a regra é que sempre as máquinas e equipamentos componentes da lista se beneficiam do Acordo. Não são beneficiados os comandos e controles eletrônicos. A sentença entendeu que o acessório seguiria o principal a fim de afastar o benefício da alíquota zero, quando afirma que: "(...) se um bem, mesmo incluído na lista comum, como é o caso presente, estiver equipado com comando e controle eletrônico digital de origem estrangeira, há incidência do imposto de importação sobre a unidade, porque o acessório segue o principal" (fl. 292). Evidencia-se que ocorreu uma inversão da regra "o acessório segue o principal", como bem apontado pelo acórdão recorrido: o principal seria a máquina ou o equipamento - in casu, o esterilizador automático - que é isento, e o acoplado - o comando eletrônico, o acessório, que caso tributável, acarretaria a tributação de bem importado que possui o benefício da alíquota zero. Por oportuno, incorporo os seguintes argumentos adotados pelo acórdão regional quando encampou as incoerências apontadas pela empresa, nas razões de apelação: "- 'O fato de o referido comando vir acoplado, não pode afastar o benefício, pois nestes caso a norma seria burra e estaria a sugerir e induzir que os importadores realizassem a importação de tais máquinas e comandos em separado, pois só assim se Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 4 de 6

5 beneficiariam da alíquota zero; - 'Estando correta a interpretação oferecida pela sentença que ora se recorre, estaríamos diante da possibilidade de importarmos os mesmos produtos com alíquotas diferentes...' (conforme se importasse a máquina com comandos acoplados ou não); -'Nenhum impedimento de ordem mecânica existe no desacoplamento dos comandos e controles...'; - 'Nenhum impedimento fiscal existe na importação em separado dos comandos e controles' (fls. 324/325). Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial. É como voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 5 de 6

6 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2001/ REsp / RS Números Origem: EM MESA JULGADO: 06/12/2005 Relator Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA VASCONCELOS Secretária Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI AUTUAÇÃO RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL PROCURADOR : DOLIZETE FÁTIMA MICHELIN E OUTROS RECORRIDO : LEITE GLÓRIA DO NORDESTE S/A ADVOGADO : GIOVANNI GOULART RIBEIRO E OUTRO ASSUNTO: Tributário - Imposto de Importação CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator." Os Srs. Ministros Francisco Peçanha Martins, Eliana Calmon e João Otávio de Noronha votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 06 de dezembro de 2005 VALÉRIA ALVIM DUSI Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/12/2005 Página 6 de 6