(<ÂÆê0Ø1T0) fls.1/6. Nº Lote: _3 - APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO N /MT - TR49703
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- Marco Antônio Paranhos
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1 (<ÂÆê0Ø1T0) R E L A T Ó R I O EXMO. SR.DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO NEVES DA CUNHARELATOR Trata-se de recursos de Apelação, interpostos pela União e pelo SINDIJUFE, com vistas na reforma da Sentença que acolheu o pedido, parcialmente, para reconhecer aos Substituídos da Parte-autora o direito ao reajuste correspondente à diferença entre o índice de 2,13% (dois vírgula treze por cento) e o efetivamente pago, no que se refere à pretensão pelo reajuste de 13,23% (treze inteiros e vinte e três décimos por cento), relativos à Lei nº /2003, que concedeu Vantagem Pecuniária Individual aos Servidores Públicos dos três Poderes da República, em valor fixo de R$ 59,87 (cinquenta e nove reais e oitenta e sete centavos). Na dicção do SINDIJUFE, o objetivo da Lei nº /2003 foi o de conceder revisão geral diferençada, que favoreceu as Classes de Servidores Públicos de menor poder aquisitivo, em ordem a reparar desigualdades. Assim, requer o Apelante a reforma do decisum, para que o pedido formulado na Peça exordial seja acolhido, in totum. A União, por seu turno, entre outras razões, aduz não haver como considerar que a Lei nº /2003 tenha promovido a revisão geral da remuneração dos Servidores Públicos Federais. A tese da Inicial, em suma, considera que a concessão da VPI, pela Lei nº /2003, implicou violação à norma insculpida no art. 37, X, da Constituição da República, na medida em que a revisão geral anual da remuneração dos Servidores Públicos não pode contemplar diferentes percentuais. Destarte, a concessão, a título de revisão geral anual, no aludido valor fixo de cinquenta e nove reais e oitenta e sete centavos, teria implicado inconstitucionalidade, na medida em que servidores com menor remuneração foram contemplados com um valor percentual mais elevado que os de maior remuneração. A tese da Contestação, ao contrário, considera que a questão em tela não se subsume à previsão do preceito inscrito no art. 37, X, da Constituição Federal, mas, sim, de vantagem pecuniária concedida com o escopo de minimizar distorções de remuneração entre Servidores Públicos. Sustenta-se, no entanto, que o Senhor Presidente da República não tem competência para a iniciativa de lei que contemple toda a classe dos Servidores Públicos, salvo quanto à previsão do referido art. 37, X, da CF. Nesse molde, em vista de a vantagem concedida pela Lei nº /2003 estender-se a todo o Funcionalismo Público da União, sua natureza jurídica não poderia ser diversa daquela da revisão geral anual de remuneração, única hipótese em que a Constituição permite ao Presidente da República a iniciativa de lei que preveja reajuste de modo não exclusivo aos Servidores do Poder Executivo. Contrarrazões, da União, às fls. 168/170 e, do Sindicato, às fls. 177/191. É o Relatório, no essencial. V O T O No caso em tela, deve ser dado provimento à Remessa de Ofício e à Apelação da União, pelas razões que passo a expor. Nº Lote: _3 - - TR49703 fls.1/6
2 A quaestio posta nos autos é simples, não comporta maiores digressões, e pode ser sintetizada, nestes termos: status quaestionis - o art. 37, X, da Constituição da República Federativa do Brasil, assegura aos Servidores Públicos a revisão geral anual, sempre na mesma data, sem distinção de índices. - a Lei nº /2003, cuja iniciativa legislativa foi do Presidente da República, concedeu reajuste de 1% (um por cento) a todo o Funcionalismo Público Federal, da Administração Direta e da Indireta (autarquias e fundações públicas), a partir de 1º de janeiro de Trata-se de reajuste linear, na referida razão percentual, incidente sobre remunerações e subsídio, nos termos do que prevê o art. 37, X, da Constituição Federal. - em seguida, foi editada a Lei nº /2003, também de iniciativa do Presidente da República, que concedeu um bônus, no valor fixo de R$ 59,87 (cinquenta e nove reais e oitenta e sete centavos), a partir de 1º de maio de 2003, também a todo o Funcionalismo Público. - nos termos do art. 61, 1º, inciso II, alínea a, todos da Constituição Federal, compete ao Presidente da República a iniciativa da lei que, entre outros, disponha sobre aumento da remuneração de Servidores e Empregados Públicos. - assim, como o reajuste fixado pela Lei nº /2003 não observou a linearidade, vez que concedido em valor fixo, resultou em aumentos diferentes, que desprestigiaram os Servidores com maior remuneração, o que implicou desarmonia com o preceito constitucional. - outrossim, o Presidente da República não tem competência para deflagrar o processo legislativo tendente a conceder aumento de remuneração diverso do preceituado no art. 37, X, da CF, salvo em relação aos Servidores do Poder Executivo. - tais considerações conduziram esta Corte a juízo de interpretação da Lei nº /03 conforme à Constituição, pelo que passou a deferir a extensão remuneratória aos Servidores que perceberam valores a menor, de molde a harmonizar o texto legal ao preceito constitucional insculpido no art. 37, X. - ao julgar a Reclamação 14872, o eg. STF afastou a possibilidade, in casu, de aplicação da técnica de interpretação conforme a Constituição e determinou seja proferido novel decisum, com a observância das Súmulas Vinculantes 10 e 37. É de notório saber que a douta Primeira Turma deste Sodalício Regional, em face do entendimento de ser cabível valer-se da técnica da interpretação conforme à Constituição, deferiu a extensão aos Servidores da Justiça do Trabalho do valor relativo ao índice de reajuste decorrente da Lei nº /03, decisum este em face do qual a União intentou a Reclamação nº 14872, distribuída à col. Segunda Turma do eg. Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, confirmou os fundamentos de medida liminar outrora concedida pelo eminente Ministro Gilmar Mendes, em favor da Fazenda Pública, para declarar que o Veredicto deste Tribunal Regional Federal da Primeira Região viola os teores das Súmulas Vinculantes de números 10 e 37. O Julgado do Supremo Pretório se fundamentou nas Súmulas Vinculantes de números 10 e 37, para julgar procedente a aludida Reclamação, e restou ementado, nos seguintes termos: Reclamação. 2. Direito Administrativo. 3. Servidores públicos. 4. Incorporação da vantagem referente aos 13,23%. Lei / Ações que visam à defesa do texto constitucional. O julgador não está limitado aos fundamentos jurídicos indicados pelas partes. Causa petendi aberta. 7. É vedado ao Poder Judiciário conceder reajuste com base no princípio da isonomia. Ofensa à Súmula Vinculante Reclamação julgada procedente. (Rcl 14872, Nº Lote: _3 - - TR49703 fls.2/6
3 Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 31/05/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-135 DIVULG PUBLIC ) Entretanto, ao apreciar a Arguição de Inconstitucionalidade do art. 1º, da Lei nº /2003, incidente na AC nº , a ínclita Corte Especial deste Pretório julgou pela parcial inconstitucionalidade daquele dispositivo legal, ou seja, deferiu a incorporação dos 13,23% aos vencimentos dos Servidores, em índices percentuais, em adaptação daquela norma aos parâmetros traçados no art. 37, X, da Constituição da República. Aliás, tal entendimento também foi adotado pelo eg. STJ. Nesse passo, a Súmula Vinculante 10 não mais tem aplicação à espécie, superada que restou a questão relativa à ofensa do anterior decisum à cláusula de reserva de plenário, insculpida no art. 97, da CF/88. Com efeito, reza o art. 97, da Carta da República: Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. Por seu turno, dispõe a SV 10: Súmula Vinculante 10: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte. Todavia, a declaração de parcial inconstitucionalidade do art. 1º, da Lei nº /03 não exauriu a questão, pois não tange a vedação inserta na Súmula Vinculante 37 cuja redação reproduz a do enunciado 339 da Súmula do STF, que veda ao Poder Judiciário, ante a ausência de competência legislativa, conceder aumento de vencimentos a Servidores Públicos, ainda que ao fundamento de isonomia. Vejamos: Súmula Vinculante 37: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. De fato, como se sabe, diferentemente da Lei nº /03, que outorgara reajuste a todos os Servidores, no valor relativo de 1% (um por cento), a partir de 1º de janeiro de 2003, a vantagem concedida pela pré-falada Lei nº /03 implicou acentuada distinção de reajuste, pois, em números percentuais (relativos) esse reajuste foi tanto maior quanto menor fosse a remuneração do Servidor, em números absolutos, já que concedida em valor fixo, de R$ 59,87 (cinquenta e nove reais e oitenta e sete centavos), nestes termos: Art. 1º. Fica instituída, a partir de 1º de maio de 2003, vantagem pecuniária individual devida aos servidores públicos federais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da União, das autarquias e fundações públicas federais, ocupantes de cargos efetivos ou empregos públicos, no valor de R$ 59,87 (cinquenta e nove reais e oitenta e sete centavos). Parágrafo único. A vantagem de que trata o caput será paga cumulativamente com as demais vantagens que compõem a estrutura remuneratória do servidor e não servirá de base de cálculo para qualquer outra vantagem. Deveras, o entendimento pela inconstitucionalidade do dispositivo legal reproduzido retro, ao fundamento de ausência de competência do Presidente da República senão para deflagrar o processo legislativo referente ao reajuste anual da remuneração dos Servidores Públicos, sempre na mesma data e sem diferença de índices (CF, art. 37, X) por não elidir a incidência da referida SV 37, abstém-se de reverenciar a autoridade do d. decisum do STF, na aludida Reclamação nº 14872, cujo dispositivo nela colheu fundamento, de modo expresso. Nº Lote: _3 - - TR49703 fls.3/6
4 Outrossim, não se deve aventar a impossibilidade de aplicação da SV 37, editada em data posterior à da discussão da tese jurídica objeto dos autos, tanto mais quanto a aludida Súmula reproduza, como tive ocasião de dizer linhas retro, o teor do enunciado nº 339, da Súmula do eg. STF. É dizer: a SV 37, resultante da Proposta de Súmula Vinculante n. 88, é nova, sob a ótica formal, mas vetusta, quanto à matéria de que trata. E, mais, desde os primórdios da era republicana, a questão referente ao reajuste de Servidores Públicos está reservada à lei, eis que a Constituição de 1891, a primeira a ser promulgada após a proclamação da República, orientou-se pelo princípio fundamental do Estado de Direito. Nesse aspecto, considero oportuna a literal transcrição de alguns excertos do d. Voto do ilustre Relator da Reclamação 14872, nestas linhas: Na hipótese dos autos, mutatis mutandis, entendo que também devem ser levadas em consideração as peculiaridades do caso concreto para que seja observado o entendimento da Súmula Vinculante 37, apesar de posterior ao ato reclamado, haja vista que apenas consolidou o entendimento já sedimentado há muito por esta Corte. Se não se entender assim, ter-se-á um excessivo formalismo do processo constitucional, com sérios prejuízos para a eficácia de decisões desta Corte e, por que não dizer, para o próprio sistema jurídico, que, dependente da forma aleatória de provocação, produzirá decisões incongruentes, dando ensejo à interminável sequência de demandas a propósito de casos já resolvidos por esta Corte. Primeiro porque, em razão da unicidade do sistema jurídico, a devolução dos autos ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região para reapreciar a matéria apenas pela violação à Súmula Vinculante 10 desta Corte, ainda que cumprida a determinação do art. 97 da CF, hoje subsiste a própria Súmula Vinculante 37, inexistindo outra saída àquele Tribunal, senão a sua aplicação ao caso concreto. Ainda, ressalta-se que, desde a primeira Constituição Republicana de 1891, em seus artigos 34 e 25, já existia determinação de que a competência para reajustar os vencimentos dos servidores públicos é do Poder Legislativo, ou seja, ocorre mediante edição de lei. Atualmente, a Carta Magna de 1988, em seu artigo 37, X, trata a questão com mais rigor, uma vez que exige lei específica para o reajuste da remuneração de servidores públicos. Em consulta à jurisprudência desta Corte, observa-se que, desde a época em que vigia a Constituição de 1946, o STF já havia consolidado entendimento no sentido de que não compete ao Poder Judiciário reajustar os vencimentos dos servidores públicos com fundamento no princípio da isonomia, sendo necessária a edição de lei para tal finalidade. O Plenário do STF, em virtude da remansosa jurisprudência sobre o tema, aprovou, em , a edição da Súmula 339, com o seguinte teor: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia. Esse entendimento manteve-se inalterado, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988, como se depreende dos seguintes julgados: Mandado de segurança. Equiparação de vencimento. Isonomia. - O parágrafo 1º do artigo 39 da Constituição Federal e preceito dirigido ao legislador, a quem compete concretizar o princípio da isonomia, considerando especificamente os cargos de atribuições iguais ou assemelhadas. - Como a concretização da isonomia salarial depende de ato legislativo específico, a fixar idênticos vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o parágrafo 4º do art. 41 Nº Lote: _3 - - TR49703 fls.4/6
5 da Lei nº 8.112/90 revela-se imprestável para o objetivo almejado pelos recorrentes, pois que se trata de norma que repete, no plano infraconstitucional, o enunciado genérico do 1º do art. 39 da Constituição Federal. - Por outro lado, permanece íntegro o enunciado da Súmula 339 dessa Corte, que não sofreu qualquer alteração em decorrência da nova Constituição e da legislação editada após outubro de Recurso ordinário a que se nega provimento. (RMS , Rel. Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, DJ ) (Grifei) Destaco ainda que, em , o teor da Súmula 339 ganhou maior relevância com o julgamento do mérito do RE-RG , de minha relatoria, ocasião na qual, reconhecendo a repercussão da matéria, o Plenário reafirmou o entendimento de que não compete ao Poder Judiciário conceder aumento a servidor público com base no princípio da isonomia, sob pena de usurpação de atribuições do Legislativo. Como demonstrado, há muito já havia preocupação com a exigência de reserva legal relacionada à remuneração dos servidores. Na linha do que reiteradamente decidido pelo STF, destaco que a Segunda Turma, recentemente, ao julgar o ARE-AgR , Rel. Min. Teori Zavascki, em que se discutia o reajuste de 24% sobre a remuneração de servidor público do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, entendeu, em conformidade com a Súmula Vinculante 37 e a Súmula 339 do STF, não ser possível ao Poder Judiciário ou à Administração Pública aumentar vencimentos ou estender vantagens a servidores públicos civis e militares regidos pelo regime estatutário, com fundamento no princípio da isonomia. Dessa forma, resta claro que esta Corte pacificou o entendimento no sentido de que aumento de vencimentos de servidores depende de Lei e não pode ser efetuado apenas com suporte no princípio da isonomia. Outrossim, não há olvidar que as regras referentes ao orçamento, que têm sede constitucional, também se mostram vinculantes. E esta é, precisamente, a razão de a norma constitucional reservar à lei a CF/88 requer lei específica a questão relativa a reajustes para o setor público. Como observou a Ministra Carmen Lúcia, do STF, em seu Voto, no Julgamento da mesma Reclamação 14872, o reajuste é para ajustar, de novo, uma categoria defasada a um patamar escolhido pelo legislador que a tem como imprópria. É isso. Então, houve a revisão e houve o reajuste, ou seja, com a edição de duas leis distintas: a de nº /03, que concedeu a revisão de que trata o art. 37, X, da CF, e a de nº /03, que concedeu um reajuste, com critério eleito pelo legislador. Esse critério, evidentemente, não soluciona a aludida inconstitucionalidade formal do vício de iniciativa da Lei nº /2003, que não caberia ao Presidente da República, como já se disse, nas linhas anteriores. Todavia, esse tema não pode ser solucionado neste Órgão fracionário e, ademais, não há como prescindir da autoridade da Súmula Vinculante 10. A extensão dos reajustes pretendidos, de fato, implicaria aumento de remuneração, a ser concedido pelo Poder Judiciário, à nobre Classe dos Servidores Públicos, ao fundamento de isonomia. Isso posto DOU PROVIMENTO à Remessa oficial e à Apelação da União e JULGO PREJUDICADA a apelação da parte autora. Nº Lote: _3 - - TR49703 fls.5/6
6 É o Voto. fls.6/6 Nº Lote: _3 - - TR49703
Supremo Tribunal Federal
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