Estrutura e Dinâmica Social (EDS)
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- Renata Sá
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1 Estrutura e Dinâmica Social (EDS) Prof. Diego Araujo Azzi
2 Introdução à Sociologia brasileira Raízes da Desigualdade Social na Cultura Política brasileira Teresa Sales, 1993.
3 Tese: Existência de elementos de continuidade do passado no presente do Brasil. A mais decisiva permanência é a estrutura agrária baseada no grande domínio territorial, que continuou praticamente intocada nos vários pactos de poder
4 Ao contrário do que ocorreu na França e na Inglaterra, a revolução burguesa no Brasil não se consumou completamente, pois a burguesia emergente se associou a antiga classe latifundiária. Assim, não se efetivou a formação de uma ordem competitiva, racional e do mercado no país (Weber) Não existe uma sociedade de classes aberta, ou seja, com mobilidade social efetiva. A anomia é aí fruto de uma sociedade que não visa integrar os indivíduos (Durkheim)
5 Conceito de Dádiva: Marcel Mauss, Ensaio sobre a Dádiva Métodos e regras de troca entre sociedades primitivas da Polinésia (1925) Ciclo: Presentar Reciprocidade Obrigação de presentear Obrigação de de aceitar Mostra como a partir das trocas se formam relações sociais mais amplas entre grupos tribais, envolvendo alianças, proteção mútua, assistência e hospitalidade
6 Cultura Política espécie de cimento das relações de mando e subserviência permanência de elementos presentes em nossa cultura política que representam continuidade em relação aos padrões de mando/subserviência do passado um dos elementos-chave de permanência é a estrutura agrária baseada em grandes extensões territoriais (latinfúndio) As raízes da desigualdade estão na cultura política brasileira
7 Weber: poder, dominação e obediência Sales: obediência não, subserviência (além de obedecer, também pedir) Pedir um favor implica ter um provedor forte Um favor sempre implica uma contrapartida de quem o recebe, seja no presente ou no futuro Relações de Reciprocidade: você precisa me ajudar a te ajudar quem quer rir tem que fazer rir
8 Estrutura agrária: intocada do latifúndio ao agronegócio
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16 A história social da Casa Grande é a história íntima de quase todo brasileiro Gilberto Freyre, 1973
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21 Gilberto Freyre (1936): O mestiço é a síntese do Brasil. Ele traz a contribuição civilizatória do português, somada a contribuição cultural dos indígenas e negros. Esta seria a nossa democracia racial. No Brasil, não haveriam raças mas sim etnias, que se toleram e se misturam sem limitar direitos e oportunidades às pessoas de cor.
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23 O sadismo do menino sinhôzinho, excedendo a esfera da vida sexual e doméstica; tem-se feito sentir através da nossa formação em campo mais largo: social e político Gilberto Freyre, 1973
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28 Primeira República ( ) Mesmo após a abolição da escravatura, a cidadania não se realiza plenamente para os novos homens livres, prevalecendo o compromisso coronelista, com mecanismos de patronagem e clientelismo que marcam esse período Permanece ainda muito tempo depois de abolido o trabalho escravo, o seu vínculo de dependência pessoal para com o senhor de terras O sentido da morada é uma expressão desse vínculo de subserviência do morador em relação ao senhor das terras
29 Coronelismo na Primeira República Troca de favores entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais Reciprocidade entre os chefes municipais e os coronéis com seus currais eleitorais, de um lado, e de outro, o Estado que dispõe do orçamento, dos empregos, da força policial e dos favores O coronelismo é a nova manifestação do poder privado, assentado ainda no latifúndio Cultura política do coronelismo: Motivação particularista dos indivíduos; incapacidade de guiar-se por critérios impessoais ou ideológicos Currais eleitorais, fraude eleitoral, mandonismo, filhotismo
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31 Coronelismo na Primeira República Chefes Locais > apoio aos candidatos da situação, garantir os votos Governos > concessão de carta branca ao chefe local governista, até na nomeação de funcionários públicos do lugar A própria autonomia municipal passa a ser uma dádiva do poder, concedida pelos senhores da localidade (Nordeste) O compromisso implica sobretudo a dádiva do poder
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33 Cidadania Concedida (contradição em termos) Cidadania sem conquista Construção da cidadania brasileira como uma não-cidadania para o homem livre e pobre, sempre dependente dos favores do senhor de terras Numa sociedade escravocrata, homens livres e pobres dependem das dádivas provenientes de senhores de terra A dinâmica da dádiva sobrevive desde o domínio privado das fazendas coloniais, a abolição da escravatura, no compromisso coronelista e chega aos nossos dias A cultura da dádiva é a expressão política da nossa desigualdade social, pautada pela relação mando-subserviência
34 A dádiva chega à República substituindo direitos básicos de cidadania que o nosso liberalismo não proveu Democracia Racial e Homem Cordial: noções mediadoras das nossas relações de classe contribuem para que situações de conflito frequentemente não resultem em conflito de fato, mas em conciliação Década de 1960: massivo êxodo rural (fim do vínculo com o latifúndio) causa um relativo rompimento dessa relação. Extrema mobilidade espacial do trabalhador rural brasileiro da Colônia até hoje
35 A liderança local exerce seu domínio não apenas pela força mas também pela concessão de favores dádivas ao povo pobre O domínio territorial é a fonte do poder da liderança local Centralidade do latifúndio para a nossa própria constituição enquanto nação permanece Situação intermediária de milhões de pessoas: não são mais escravos, mas ainda não são cidadãos
36 Contradição Os donos do poder privado (senhores de terras) controlam os aparelhos de justiça, os delegados de polícia e as administrações municipais Quando o pobre tem algum problema com uma instituição pública, ele recorre ao auxílio do senhor de terras Favor como categoria de mediação da relação social e das esferas pública e privada
37 Nas nações ibéricas, à falta dessa racionalização da vida, que tão cedo experimentaram algumas terras protestantes, o princípio unificador foi sempre representado pelos governos A obediência aparece muitas vezes como virtude suprema para os ibéricos. Obediência cega, diferente da lealdade medieval e feudal A dominação, quando mediada pelo favor, aparece como uma benesse e o próprio dominado reafirma a cadeia de lealdades que o prende aos poderosos; a entende como benefício recebido com gratidão e como autoridade voluntariamente aceita
38 Crescimento da burocracia estatal e ampliação de programas sociais como elementos de construção nacional (nation-building) Impessoalidade dos programas sociais fomentam uma nova identidade social em substituição àquela baseada na lealdade local Corte da mediação poder privado dos coronéis e capitalização por parte dos políticos locais A vinculação pobreza-submissão, mais do que a marca da cultura política herdada do monopólio do mando pelo domínio territorial, é uma marca desse compromisso herdado de nossa República Velha
39 Homem cordial (Sergio Buarque de Holanda) Combinação de traços culturais ibéricos e africanos hospitalidade gentileza generosidade raízes na esfera do familiar e do privado religiosidade caseira, intimidade com os santos uso do diminutivo acrescido ao nome na linguagem corrente ou uso do primeiro nome informalidade no convívio em geral portador de uma ética de fundo emotivo A cordialidade do homem brasileiro seria de caráter utilitarista, pois se expressa na expectativa de uma retribuição de favores
40 Um sério dilema para o Brasil Homem cordial representa a impossibilidade de atingir uma ordenação impessoal que permita a ruptura com padrões privatistas e particularistas dominantes
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