Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de 2011
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- Juliana Furtado Caldas
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1 Análise sinótica associada a ocorrência de chuvas anômalas no Estado de SC durante o inverno de Introdução O inverno de 2011 foi marcado por excessos de chuva na Região Sul do país que, por sua vez, acarretaram em danos à população, especialmente do Estado de SC, devido à que a persistência da chuva resultou em cheia de alguns rios do Estado. Tal situação provocou enchentes que deixou centenas de pessoas desabrigadas e/ou desalojadas principalmente na região do Vale do Itajaí, Planalto e Litoral Norte. Figura 1: Enchente no Vale do Itajaí no dia 8 de setembro de Foto fonte: site deolhonotempo No mês de Junho, o deslocamento de um sistema frontal entre o norte do RS e sul de SC no dia no decorrer do dia 21 causou acumulados expressivos de chuva, como em Chapecó, onde acumulou 115,1 mm em 24h.
2 Em Julho houve poucos sistemas frontais que passaram pelo Brasil, porém, aqueles que atuaram no Sul do país causaram chuvas fortes. Neste mês anomalias positivas de precipitação de até 100 mm ocorreram no norte e nordeste do Estado de SC apenas na primeira quinzena do mês. Na segunda quinzena as anomalias positivas de precipitação de até 100 mm não só persistiram, como também abrangeram as demais áreas deste Estado. Em especial, o mês de Agosto foi um dos mais chuvosos dos últimos tempos, principalmente na faixa leste catarinense e do Planalto ao Litoral, onde a chuva chegou ao dobro e, em alguns casos, até o triplo do esperado para o mês, batendo recordes em vários municípios. Neste mês, uma onda frontal que oscilou estacionária sobre a Região Sul do Brasil no decorrer do dia 10, influenciou a ocorrência de chuva significativa em SC, em Florianópolis o acumulado de chuva foi de 90,1 mm em 24h. Na primeira semana de setembro um sistema frontal influenciou a condição de tempo sobre SC. No decorrer do dia 5 uma frente fria atingiu o sudeste catarinense chegando ao Litoral Norte de SC às 00Z do dia 6, avançando para o PR onde se manteve estacionária até as primeiras horas do dia 9 com a pista de ventos de sudeste na retaguarda deste sistema mantendo a condição de tempo chuvoso em toda faixa leste deste Estado até as primeiras horas deste dia. O acumulado de chuva em 24h, do dia 6 ao dia 7 segundo registro do INMET, chegou a 73 mm em Campos Novos e acumulou 46 mm em Joinville. Entre os dias 7 e 8, em Campos Novos, foi registrado o acumulado de chuva de 98 mm, em Florianópolis acumulou 97 mm, em Indaial, 75 mm, em Lages, 65 mm e em Navegantes, 71 mm. A Figura 2a, representa a precipitação total acumulada entre os dias 20 de Agosto e 18 de Setembro, observa-se que no centro-leste do Estado de SC houve acumulado de chuva em torno e/ou acima de 300 mm. Na Figura 2b, nota-se anomalia positiva acima de 150 mm de precipitação para o mesmo período nesta região, ou seja, choveu pelo menos 150 mm acima do normal para este período.
3 a) b) Figura 2: a) Precipitação total acumulada entre os dias 20/08/2011 e 18/09/2011. b) Anomalia de precipitação entre os dias 20/08/2011 e 18/09/ Análise Sinótica Segue abaixo uma análise da situação sinótica associada ao evento de precipitação ocorrido nos primeiros dias de setembro, com ênfase no padrão sinótico do dia 07 de setembro de Imagens de satélite A Figura 3 mostra uma seqüência de imagens do satélite GOES-12 realçadas no canal infravermelho para a madrugada do dia 07 de setembro. Através da figura nota-se nuvens com topo inferiores a -70C entre o extremo nordeste de SC, sul e leste do PR, o que indica nebulosidade convectiva nesta área. Nas demais áreas de SC os topos de nuvens ficaram com temperatura em torno de -40C, um indicativo de que a nebulosidade foi mais rasa e com pouco desenvolvimento vertical e associado à chuva mais estratiforme.
4 Figura 3: Sequência de imagens realçadas do satélite GOES-12 para a madrugada do dia 07/09/2011 para o Sul do Brasil Análise da circulação atmosférica em superfície e altitude Nível de 250 hpa: Na análise do nível de altitude, ou seja, 250 hpa, da 00Z do dia 07 de setembro (Figura 4), nota-se a presença de amplo anticiclone centrado por volta de 13S/75W entre o Pacífico e o Peru. O Jato Subtropical (JST) contorna a borda sul deste sistema prolongando-se do Pacífico ao Atlântico e cruzando o Estado de SC. A persistência deste padrão anticiclônico ao norte de 15S entre o Pacífico e o continente favoreceu para que o JST se mantivesse posicionado sobre SC. Além disso, este máximo de vento dá suporte dinâmico a uma frente em superfície sobre a Região Sul neste dia.
5 Figura 4. Carta sinótica de 250 hpa das 00Z do dia 07/09/2011. Sombreado em verde estão os máximos de vento acima de 70 kt. Nível de 500 hpa: Analisando a carta sinótica do nível de 500 hpa, nível médio, da 00Z do dia 07 de setembro (Figura 5), observa-se que ao sul de 20S há uma área com fortes ventos (sombreado em verde), intenso gradiente de temperatura entre o norte do RS e o sul do PR, onde a temperatura estava em -18C e - 9C, respectivamente, e ainda, forte gradiente de altura geopotencial, condições que indicam uma área de intensa baroclinia. As baixas temperaturas neste nível, associadas às temperaturas relativamente mais elevadas em superfície e à quantidade de umidade na coluna entre superfície e 500 hpa garantem a manutenção dos índices de instabilidade em níveis bastante críticos e favoráveis a formação de tempo severo em áreas do Sul do Brasil. Figura 5: Carta sinótica de 500 hpa das 00Z do dia 07/09/2011.
6 Nível de superfície: Através da análise da carta sinótica de superfície da 00Z do dia 07 de setembro (Figura 6), é possível notar uma frente estacionária entre o sudeste da Bolívia, nordeste do Paraguai, sul do MS, norte do PR e sul de SP, entendendo-se pelo Atlântico. Na retaguarda deste sistema frontal nota-se uma área de alta pressão com valor pontual de 1023 hpa sobre Atlântico adjacente ao RS, associada a alta pós-frontal. Este sistema anticiclônico na costa da Região Sul, advecta umidade para o continente através dos ventos de quadrante sudeste/leste devido a sua circulação. Tal fator favorece a instabilidade e a chuva, principalmente, na faixa centro-leste da Região. Figura 6: Carta sinótica de superfície das 00Z do dia 07/09/2011. A análise da circulação atmosférica em 850 hpa para o período de 1 a 9 de setembro (Figura 7) mostra a atuação de um anticiclone centrado entre o Atlântico e o leste da Região Sudeste do Brasil. A circulação associada a este sistema gera o escoamento de norte em direção ao Paraguai, Argentina e Região Sul do Brasil. Desta forma, tal escoamento favorece a advecção de uma massa mais quente e úmida oriunda da região amazônica, configurando o suporte termodinâmico a formação de instabilidade sobre as áreas comentadas. Neste caso, o padrão termodinâmico aliado a passagem do sistema frontal pela Região Sul intensificou a condição de instabilidade.
7 Figura 7: Campo de 850 hpa. Em sombreado a anomalia da componente V do vento e as linhas representando linhas de corrente para o período de 1 a 9 de setembro de Analisando o perfil vertical da atmosfera em Florianópolis para o dia 07 de setembro no horário das 12Z (Figura 8), nota-se que a atmosfera encontrava-se com uma camada saturada entre superfície e o nível de 400 hpa. Além disso, através do perfil vertical do vento observa-se em baixos níveis, aproximadamente até 750 hpa, advecção quente devido ao giro anticiclônico do vento até este nível. Por outro lado, nota-se na camada entre 600 hpa e 400 hpa, advecção fria já que os ventos giram ciclônicamente com a altitude. Desta forma a troposfera média e baixa apresentava características potencialmente instáveis. Nesta sondagem, verifica-se que os índices de instabilidade não apresentavam valores expressivos, o que confirma a atuação da instabilidade estratiforme que atuou sobre esta área.
8 Figura 8 Perfil vertical da atmosfera através do diagrama Skew-T para Florianópolis no dia 07/09/2011 no horário das 12Z. Elaborado por Naiane Araujo. Meteorologista do Grupo de Previsão de Tempo (GPT) do CPTEC-INPE.
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