DMet CTO / MN Centro Técnico Operacional de Manaus Divisão de Meteorologia
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- Simone Guimarães Branco
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1 El Niño O fenômeno El Niño, identificado pelo aquecimento anômalo das águas do Pacífico equatorial central e/ou oriental, produz mudanças na circulação global com reconhecidos reflexos no regime pluviométrico em diversas regiões do planeta. Entre estas acha-se a Região Amazônica, onde tais reflexos ocorrem habitualmente cerca de três meses adiante. As figuras 01(a,b,c) abaixo mostram as condições das anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) nas regiões de ocorrência do El Niño durante os meses de novembro e dezembro de 2006 e janeiro de Figura 01a Figura 01b
2 Figura 01c Embora timidamente as primeiras áreas de anomalias de TSM surgiram já no mês de julho de 2006, próximo à costa do Peru (Niño 1+2), evoluindo desde então e expandindo-se para oeste até o Pacífico central (Niño 3, Niño 4). A análise das anomalias mostra um El Niño com atividade moderada a fraca (anomalias inferiores a 2ºC) com maior magnitude na área do Niño 3-4, cuja evolução indica, nesse momento, uma tendência de regressão pontuada pela redução na área de abrangência assim como pela magnitude das anomalias da TSM. Diagnóstico de Janeiro A figura 02, adiante, representa o acumulado (mapa do lado esquerdo) da precipitação na região no mês de janeiro de 2007 e os mapas à direita representam a climatologia da precipitação para o mês, sendo o mapa superior direito indicativo do máximo de precipitação considerado normal e, o inferior, correspondendo ao mínimo normal para o referido mês. As normais foram produzidas empregando-se o método dos decis sobre uma série de 30 anos ( ) de dados de chuva, tendo sido considerados normais os valores desde o limite inferior do quarto decil até o limite superior do sétimo decil. A distribuição dos totais de chuvas durante o mês apresentou uma característica típica da influência dos sucessivos episódios de ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul) ocorridos, com alinhamento das chuvas na direção noroeste/sudeste. Tais sistemas são próprios dessa época do ano, mas apresentaram maior tempo médio de permanência. Tal fato deu-se, possivelmente, devido a atuação do El Niño, que favorece a presença de bloqueios na altura da região sudeste do Brasil. Isso explicaria as chuvas abundantes observadas no oeste e sudoeste do Amazonas. Por outro lado, em boa parte da Amazônia
3 oriental, região reconhecidamente afetada pelo El Niño, foram observadas chuvas abaixo do esperado, especialmente nos estados do Amapá, Maranhão, Tocantins e no leste do Pará. Figura 02 As figuras a seguir apresentam a climatologia ou comportamento médio esperado da circulação atmosférica (setas em azul) e as anomalias observadas (setas em vermelho) no mês de dezembro, permitindo examinar-se as condições do comportamento do escoamento atmosférico em conexão com a distribuição das chuvas em janeiro. As figuras representam cortes zonais no escoamento com os valores médios em diversos níveis na vertical entre 5 N e 5 S (circulação de WALKER, figura 03) e entre 5 S e 15 S (circulação ZONAL, figura 04), onde a faixa em destaque (amarelo) identifica a área correspondente à Região Amazônica. As configurações observadas indicam a ocorrência de anomalias subsidentes (setas vermelhas apontando para baixo) inibindo a convecção sobre o setor oriental da região, correspondendo aos estados do Amapá, Maranhão, Tocantins e leste do Pará, áreas reconhecidamente afetadas pela presença do fenômeno El Niño. Essas anomalias, que em meses anteriores achavam-se ainda confinadas à atmosfera superior e média (acima de 700hPa), atingiram a superfície provocando redução nos índices pluviométricos e na distribuição das chuvas nessas áreas à partir de então.
4 Figura 03 Figura 04
5 Por outro lado, no setor ocidental do Amazonas as anomalias convectivas observadas (setas vermelhas para cima) favoreceram a formação de muitas nuvens produzindo os elevados índices pluviométricos ali registrados. A evolução do quadro atual e as perspectivas decorrentes Figura 5 (a, b, c) áreas de correlação TSM x precipitação. Tomando por base a ocorrência de El Niño com anomalias de TSM no mês de novembro, na região do Niño 3-4, SENNA, R (com. pessoal) procurou estabelecer uma correlação com a precipitação na Amazônia Legal, tendo encontrado anomalias negativas de precipitação para o mês de fevereiro conforme a área indicada na figura 5a. A persistência do quadro nos meses de dezembro e janeiro produziria anomalias em março e abril, respectivamente, conforme indicado nas figuras 5b e 5c, subseqüentes. A análise de diversos modelos de prognóstico da TSM aponta para uma tendência de retorno à condição de normalidade, com redução gradativa das anomalias e conseqüente desaparecimento do El Niño nos próximos meses. Todavia, os efeitos desse aquecimento ainda devem persistir ao menos mais um ou dois meses, dependendo do seu grau de evolução, o que significa uma persistência do quadro atual pelo menos durante os meses de fevereiro e março. Alternativamente, outro fator a ser considerado diz respeito a posição da Zona de Convergência do Atlântico Sul, principal responsável pela qualidade da estação chuvosa na região e que acha-se, atualmente, mais ao norte da sua posição climatológica. Tal deslocamento tem relação com a presença de águas quentes no Atlântico Tropical norte, percebida nos últimos meses mas que também acha-se em fase de regressão. Dessa forma, para os próximos meses o cenário aponta para uma permanência da situação atual no início do trimestre e um retorno à climatologia ao cabo deste.
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