TributAção. Janeiro/Fevereiro de Edição nº 88
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- Bruna Anjos Palha
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1 TributAção Janeiro/Fevereiro de Edição nº 88 LEGISLAÇÃO Congresso prorroga a vigência da MP nº 627/2013 (p. 2) Contribuintes dispensados de apresentar o DACON (p. 2) LDO fixa índice de atualização dos precatórios (p. 2) Estado de São Paulo pode cassar inscrição estadual de empresas que operarem com mercadoria irregular (p. 3) Espírito Santo institui programa de parcelamento de débitos fiscais (p. 3) Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro minimiza burocracia quanto às obrigações acessórias do ICMS (p. 4) Município de São Paulo altera regras do processo administrativo tributário (p. 4) DIREITO COMENTADO ISS sobre exportação de serviços e a posição do Tribunal Administrativo do município de São Paulo favorável aos contribuintes (p. 9) TRIBUNAIS Limite de 30% para compensação de prejuízo fiscal de IRPJ e base negativa de CSL: a batalha no STF (p. 5) O STJ e o uso de seguro-garantia em execução fiscal (p. 5) TJ de São Paulo reabre prazo de intimação eletrônica (p. 6) TJ de São Paulo decide que ICMS cobrado nas vendas online deve ser repartido entre os estados envolvidos (p. 6) Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF aprova súmulas (p. 7) CARF valida estrutura tributária que reduz ganho de capital na venda de participações societárias (p. 7) A Solução de Consulta nº 47/13 e o posicionamento restritivo das autoridades fiscais com relação aos incentivos fiscais à inovação tecnológica (p. 8) Receita Federal esclarece a tributação do perdão de dívidas por pessoas físicas (p. 9) Este Boletim foi redigido meramente para fins de informação e debate, não devendo ser considerado opinião legal para qualquer operação ou negócio específico Direitos autorais reservados a Pinheiro Neto Advogados. TRIBUTAÇÃO é elaborado mensalmente pela Área Tributária de PINHEIRO NETO ADVOGADOS, composta por 111 integrantes, sendo 15 sócios, 4 consultores, 73 associados e 19 estagiários.
2 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS RELEVANTES Congresso prorroga a vigência da MP nº 627/2013 Publicado em o Ato do Presidente da Mesa do Congresso Nacional nº 1, de 2014, prorrogando por 60 dias a vigência da Medida Provisória (MP) nº 627/13, que trouxe uma série de mudanças na legislação tributária e contábil, dentre as quais a revogação do Regime de Tributação Transitório (RTT). Com a prorrogação, o Congresso terá até (data do fim da vigência da MP nº 627/13) para aprovar o projeto de conversão da Medida Provisória em Lei. Após a aprovação, a Presidente terá 15 dias, contados do recebimento do projeto no Planalto, para sanção ou veto. Contribuintes dispensados de apresentar o DACON Em , a Receita Federal publicou a Instrução Normativa nº 1.441/14, que extinguiu o Demonstrativo de Apuração de Contribuições Sociais (DACON) e dispensou sua apresentação em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 1º A extinção do DACON uniformiza a prestação de informações sobre os fatos geradores do PIS e da COFINS por meio da sistemática do Sped, 1 que agora passa a ser obrigatória para as pessoas jurídicas sujeitas à apuração do IRPJ pela sistemática do lucro real. 2 A dispensa de apresentação do DACON se aplica, inclusive, aos casos de extinção, incorporação, fusão, cisão parcial ou cisão de empresas anteriormente obrigadas à sua apresentação, contanto que esses eventos societários tenham ocorrido após 1º Por fim, pela IN RFB nº 1.441/14, a apresentação do DACON original ou retificador, quanto a fatos geradores ocorridos até , deverá ser efetuada por meio das versões anteriores do programa gerador. 1 Vide artigo sobre implantação das novas regras sobre apresentação de informações contábeis em meio digital constante do Anexo ao BI nº 2.285, de A IN RFB nº 1.015, de , revogada pela IN RFB nº 1.441/2014, e a IN RFB nº 1.305, de , já dispensavam um extenso rol de contribuintes da obrigação de entregar o DACON, dentre os quais se incluíam as pessoas jurídicas sujeitas à apuração do IRPJ pela sistemática do lucro presumido. LDO fixa índice de atualização dos precatórios A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO - Lei nº /13), de , dispôs que em 2014 os precatórios serão corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo Especial (IPCA-E), do IBGE. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal (STF), em março de 20013, derrubou artigos da Emenda (EC) nº 62/09, inclusive o critério de correção monetária dos precatórios. A EC nº 62/09 estabelecia o índice de atualização oficial da caderneta de poupança (TR). Contudo, o STF entendeu que tal índice era inconstitucional e não refletia a real desvalorização da moeda. Quanto aos -2-
3 precatórios de natureza tributária, o STF entendeu que o critério de correção monetária deverá ser o mesmo utilizado na atualização dos créditos tributários. Assim, considerando o índice utilizado para a atualização dos créditos tributários, é possível concluir que a SELIC seria, ao menos em tese, o índice aplicável na atualização dos precatórios federais tributários. Porém, o STF não fixou expressamente os índices a serem aplicados, deixando tal determinação aos Tribunais inferiores e/ou à lei. O debate, portanto, segue aberto. Tanto é assim que, sem fazer qualquer distinção sobre os precatórios de natureza tributária, a LDO determinou a aplicação do IPCA-E de forma genérica para a atualização dos precatórios, afastando a TR (na linha do STF) e sem tratar da eventual aplicação da SELIC. Portanto, a definição do tema dependerá (i) do STF, que precisa decidir sobre a modulação dos efeitos, fixando a partir de quando as modificações nos critérios de correção monetária serão aplicadas; e (ii) da definição pelos Tribunais inferiores dos índices a serem aplicados aos precatórios de natureza tributária (IPCA-E, SELIC ou outro). Estado de São Paulo pode cassar inscrição estadual de empresas que operarem com mercadoria irregular O Governo de São Paulo sancionou a Lei Estadual nº /14 que dispõe sobre a cassação da inscrição no cadastro de contribuintes do ICMS, do estabelecimento que adquirir, distribuir, transportar, estocar, revender ou expor à venda quaisquer bens de consumo, gêneros alimentícios ou quaisquer outros produtos industrializados fruto de descaminho, roubo ou furto, independentemente de ficar ou não caracterizada a receptação. A Lei determina ainda (i) o perdimento de todos os créditos tributários de ICMS decorrentes das operações mercantis; (ii) o impedimento, por 5 anos, à pessoa do sócio do estabelecimento, seja física ou jurídica, de exercer o mesmo ramo de atividade, mesmo que em estabelecimento distinto; (iii) a proibição, por 5 anos, de solicitar a inscrição de nova empresa, no mesmo ramo de atividade; e (iv) a aplicação de multa correspondente ao dobro do valor dos produtos tidos como produto de roubo e furto. Agora, os contribuintes paulistas, principalmente os varejistas, atacadistas, distribuidores, transportadoras, comerciantes e os sites de intermediação de negócios, terão que redobrar a atenção na análise da origem das mercadorias comercializadas, sob pena de terem de paralisar as suas atividades, independentemente de ficar comprovada ou não a participação ou o conhecimento de supostas irregularidades. Espírito Santo institui parcelamento de débitos fiscais Por meio do Convênio CONFAZ nº 157/13, da Lei nº /13 e do Decreto nº R/14, o Estado do Espírito Santo instituiu um programa de parcelamento de débitos fiscais relacionados com o ICM e o ICMS, suas multas e demais acréscimos legais, cujos fatos geradores tenham ocorrido até , constituídos ou não, inscritos ou não em dívida ativa, inclusive ajuizados, observadas as condições e os limites a seguir estabelecidos: -3-
4 Formas de Pagamento À vista 2 a 60 parcelas mensais Redução de 90% das multas punitivas e moratórias; e Redução de 80% dos juros incidentes. Redução de 65% das multas punitivas e moratórias; e Redução de 60% dos juros incidentes. 61 a 120 parcelas Redução de 50% multas punitivas e moratórias; e mensais Redução de 50% dos juros incidentes. Observações: A adesão deve ser formalizada no período compreendido entre os dias e Os benefícios concedidos não alcançam a atualização monetária, que deverá ser calculada com base na variação do Valor de Referência do Tesouro Estadual (VRTE). Os benefícios também são aplicáveis aos parcelamentos remanescentes em curso, desde que estes não tenham sido beneficiados por quaisquer programas de parcelamento incentivado. Os honorários advocatícios decorrentes das ações judiciais relativas aos débitos alcançados pelos benefícios serão estipulados no percentual mínimo de 5% e máximo de 10%. Secretaria de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro minimiza burocracia das obrigações acessórias do ICMS O Decreto Estadual nº /14, de , alterou dispositivos do Decreto Estadual nº /00 (RICMS/00), incluindo o Livro VI (obrigações acessórias), minimizando diversas obrigações acessórias relacionadas com o ICMS, em especial as referentes aos modelos, impressão, autenticação e extravio de documentos fiscais. De acordo com o artigo 9º do referido Decreto, tais modificações só produzirão efeitos a partir de Município de São Paulo muda processo administrativo tributário Em , foi publicado o Decreto nº /2014, com importantes alterações na legislação do Município de São Paulo quanto ao processo tributário administrativo. O Decreto estabeleceu que o Chefe da Representação Fiscal (representante da Fazenda Municipal) deverá requerer autorização para deixar de recorrer contra decisões proferidas pelo Conselho Municipal de Tributos (CMT) favoráveis ao contribuinte, quando a matéria já tiver sido definitivamente decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), -4- em repercussão geral, e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em recurso repetitivo. Ademais, o mencionado Decreto determinou que a jurisprudência firmada pelo CMT poderá ser objeto de Súmula, cujo teor terá efeito vinculante, ou seja, será aplicável em todos os demais casos. Note-se que o Presidente do Conselho poderá, inclusive, propor edição de Súmula com base em decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF e STJ nas situações anteriormente indicadas.
5 Cabe destacar ainda que o referido Decreto também reduziu para 15 dias os seguintes prazos processuais: (i) interposição de Recurso de Revisão (cabível contra decisão proferida pela Câmara Julgadora que der à legislação tributária interpretação divergente da que lhe haja dado outra Câmara Julgadora ou as Câmaras Reunidas); (ii) apresentação de Contrarrazões contra o Recurso de Revisão; (iii) interposição de Pedido de Reforma (recurso da Fazenda Municipal, cabível contra decisão contrária proferida em recurso ordinário); e, ainda (iv) apresentação de Contrarrazões contra o Pedido de Reforma interposto pela Fazenda Municipal. DIREITO TRIBUTÁRIO NOS TRIBUNAIS Limite de 30% para compensação de prejuízo fiscal de IRPJ e base negativa de CSL: a batalha no STF Em novembro de 2008, por 7 x 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a repercussão geral do Recurso Extraordinário (RE) nº /SP, sobre a constitucionalidade do limite de 30% para compensação de prejuízos fiscais e bases negativas de CSL (tema 117). Contudo, em setembro de 2013, seu Relator, Ministro Marco Aurélio, proferiu decisão singular negando seguimento ao referido recurso, sob o fundamento de que esta matéria já teria sido julgada pela Corte no Recurso Extraordinário nº /PR. Agora, em dezembro de 2013, após Agravo Regimental da empresa, o Ministro Marco Aurélio reconsiderou sua decisão para reconhecer que esta discussão tributária ainda não estaria pacificada pelo STF. No seu entender, a Corte não teria apreciado a violação a determinados princípios constitucionais tributários, já que o RE nº /PR enfrentou apenas a ofensa aos princípios da anterioridade e irretroatividade. Assim, a questão ainda não está definida e a qualquer momento o RE nº /SP poderá ser incluído na pauta do STF para análise da constitucionalidade do limite de 30% sobre a compensação de prejuízos fiscais e bases negativas de CSL à luz de princípios constitucionais tributários não apreciados, tais como os da capacidade contributiva e da tipicidade (conceito de renda e lucro). STJ e o uso de seguro-garantia em execução fiscal Desde 2006, ano em que foi previsto no Código de Processo Civil (CPC), o segurogarantia passou a ser uma interessante opção aos devedores que pretendem garantir suas dívidas em processos de execução. Era uma alternativa em substituição às garantias tradicionais (carta de fiança, depósito judicial, etc.), notadamente pelo seu custo reduzido. Entretanto, em que pese a clareza da previsão legislativa, a recente jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem entendido que não é possível a apresentação de seguro-garantia para assegurar execuções fiscais. Esse entendimento prevalece tanto na 1ª Turma quanto na 2ª Turma do referido Tribunal. Segundo os Ministros, tal modalidade de garantia não estaria expressamente -5-
6 prevista no rol de garantias da Lei de Execuções Fiscais (LEF), razão pela qual não bastaria a previsão contida no CPC. Esse posicionamento do STJ é motivo de preocupação, principalmente ao se considerar a vigência de Portaria da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (Portaria PGFN nº 1.513/2009), na qual se admite o uso de seguro-garantia, desde que preenchidos determinados requisitos formais. Com a edição dessa norma interna da PGFN, os Procuradores passaram a ser mais flexíveis quanto à possibilidade de utilização de segurogarantia nos processos tributários envolvendo a União. Esse entendimento, no entanto, poderá se tornar menos frequente em razão da atual jurisprudência do STJ. TJ de São Paulo reabre prazo de intimação eletrônica O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP) proferiu decisão reabrindo o prazo de apresentação de defesa administrativa para o contribuinte que foi intimado pessoalmente durante o processo de fiscalização, mas cuja ciência da lavratura do auto de infração se tenha dado de forma eletrônica (Apelação n ). Segundo o Tribunal, muito embora a adoção de atos processuais por meio eletrônico tenha fundamento legal, a mudança de formato sem aviso prévio criou insegurança jurídica, violando o princípio do contraditório. A decisão abre espaço para a discussão sobre a legitimidade da implantação dos sistemas eletrônicos de intimação que são feitos sem aviso ou consentimento prévio do contribuinte. TJ de São Paulo decide que ICMS cobrado nas vendas online deve ser repartido entre os estados envolvidos A definição sobre o Estado ao qual é devido o ICMS nas vendas interestaduais feitas por lojas virtuais permanece aguardando julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda assim, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP) se adiantou e definiu recentemente que o ICMS incidente nas vendas online deve ser recolhido em parte ao Estado no qual está localizado o centro de distribuição da empresa que administra a loja virtual e em parte ao Estado no qual está o comprador (uma pessoa física ou não contribuinte do imposto). A inovação da decisão está na nova interpretação conferida à regra constitucional que trata da partilha do ICMS entre os Estados. Até então, vinha prevalecendo o entendimento de que o ICMS deveria ser pago integralmente ao Estado no qual está localizado o centro de distribuição dos produtos vendidos online. Nessa nova decisão, o tribunal entendeu que, em se tratando de comércio eletrônico, as vendas cujos destinatários residam em estado distinto do estabelecimento distribuidor devem ser consideradas interestaduais para fins de recolhimento do ICMS, devendo o Estado do vendedor, no caso São Paulo, cobrar ICMS pela alíquota insterestadual (7% ou 12%), cabendo ao Estado destinatário cobrar apenas a respectiva diferença de alíquota. Embora ainda se espere que o STF se manifeste a respeito do assunto, a decisão do tribunal paulista é um importante precedente a ser considerado em tais discussões. -6-
7 Câmara Superior de Recursos Fiscais do CARF aprova súmulas O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), na sessão extraordinária do Pleno e das Turmas da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), em , aprovou 10 súmulas que passarão a orientar os julgamentos desse Órgão. Merecem destaque: Súmula nº 92: A DIPJ, desde a sua instituição, não constitui confissão de dívida, nem instrumento hábil e suficiente para a exigência de crédito tributário nela informado. Súmula nº 93: A falta de transcrição dos balanços ou balancetes de suspensão ou redução no Livro Diário não justifica a cobrança da multa isolada prevista no art. 44 da Lei nº 9.430, de , quando o sujeito passivo apresenta escrituração contábil e fiscal suficiente para comprovar a suspensão ou redução da estimativa. Súmula nº 94: Os lucros auferidos no exterior por filial, sucursal, controlada ou coligada serão convertidos em reais pela taxa de câmbio, para venda, do dia das demonstrações financeiras em que tenham sido apurados tais lucros, inclusive a partir da vigência da MP nº , de Súmula nº 95: A presunção de omissão de receitas caracterizada pelo fornecimento de recursos de caixa à sociedade por administradores, sócios de sociedades de pessoas, ou pelo administrador da companhia, somente é elidida com a demonstração cumulativa da origem e da efetividade da entrega dos recursos. As súmulas são resumos do entendimento reiterado do CARF e têm como objetivo consolidar a jurisprudência acerca do tema. Nos termos do art. 18, XXI, do Anexo II, do Regimento Interno do CARF, os Presidentes das Câmaras negarão seguimento ao recurso que contrariar súmula em vigor quando não houver outra matéria objeto do recurso. As súmulas poderão ser revistas ou canceladas por propostas do Presidente do CARF, do Procurador-Geral da Fazenda Nacional, do Secretário da Receita Federal, entre outros, encaminhadas pelo Presidente do CARF, que deverá observar o mesmo procedimento adotado para a sua edição. CARF valida estrutura tributária que reduz ganho de capital na venda de participações societárias O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) proferiu decisão favorável aos contribuintes e validou a redução de capital de sociedade holding com posterior venda de participação societária pelas pessoas físicas. Em geral, essa estrutura é utilizada pelos contribuintes pelo fato de que o ganho de capital auferido pelas pessoas físicas é tributado pelo Imposto sobre a Renda (IR) à alíquota de 15%, sem necessidade de qualquer recolhimento adicional de imposto. Por outro lado, o ganho de capital auferido pelas pessoas jurídicas é tributado pelo Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSL) à alíquota combinada de 34%. As autoridades fiscais alegaram que teria havido a prática de ato simulado pelas pessoas físicas controladoras das sociedades holdings que tiveram o seu capital reduzido, tendo em vista que a estrutura teria tido o único propósito de submeter o ganho de capital à tributação nas pessoas físicas (15%), -7-
8 ao invés de sujeitá-lo à tributação nas pessoas jurídicas (34%). Ao analisar a questão, os conselheiros do CARF cancelaram o Auto de Infração por unanimidade, de forma muito bem fundamentada. O CARF entendeu que não houve qualquer ilicitude no procedimento adotado pelo contribuinte, principalmente porque o artigo 22 da Lei nº 9.249/95 assegura a opção do contribuinte de receber bens e direitos do ativo da pessoa jurídica a título de devolução de sua participação no capital social, pelo valor contábil ou de mercado. Além disso, o CARF afirmou que a diferença de alíquotas de IR incidentes sobre o ganho de capital auferido pela pessoa física e pela pessoa jurídica é mera opção do legislador. A acertada decisão do CARF representa um importante precedente a favor dos contribuintes, trazendo segurança jurídica a quem pretende implementar procedimento semelhante em vendas de bens que compõem o ativo de sociedades holdings. A Solução de Consulta nº 47/13 e o posicionamento restritivo quanto aos incentivos fiscais à inovação tecnológica Na Solução de Consulta nº 47/13 da Coordenação-Geral de Tributação (COSIT), publicada no fim do ano passado, as autoridades fiscais manifestaram o entendimento de que os investimentos realizados por empresa atacadista visando à automação do "processo interno de recebimento, armazenamento e despacho de mercadorias" não podem ser considerados investimentos em pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica para fins de fruição dos incentivos fiscais previstos na Lei nº /05 (a Lei do Bem ). Não é a primeira vez que o Fisco busca limitar o uso dos incentivos à inovação tecnológica. Além de outras manifestações em Soluções de Consulta, a Instrução Normativa nº 1.187/11, editada pela Receita Federal, também traz restrições não previstas na lei para utilização dos benefícios fiscais, especialmente com relação à impossibilidade de contratação de terceiros e necessidade de elaboração de projeto de pesquisa detalhado para fins de aproveitamento dos incentivos. Entretanto, essa não nos parece ser a melhor interpretação para as previsões constantes da Lei nº /05. Isso porque os incentivos fiscais à inovação tecnológica foram instituídos como parte de um plano para promover a inovação no país, e com isso aumentar a competitividade das empresas nacionais. Assim, ao contrário do posicionamento adotado pelas autoridades fiscais, para que o objetivo da Lei do Bem seja alcançado é preciso que os incentivos sejam compreendidos de forma ampla e que sejam aplicáveis a todas as empresas, em qualquer área de atuação, que invistam em pesquisa e desenvolvimento para inovação ou aperfeiçoamento de produtos e processos. -8-
9 Esclarecida a tributação do perdão de dívidas por pessoas físicas A Solução de Consulta nº 70, de , da Coordenação-Geral de Tributação (COSIT), esclareceu o posicionamento que deverá ser adotado pelas autoridades fiscais com relação ao perdão de dívidas contraídas por pessoas físicas. No caso, uma pessoa física formulou consulta informando que tomara um empréstimo em dinheiro junto a outra pessoa física. A credora, entretanto, acabou por perdoar absolutamente a dívida. O consulente, então, questionou se a extinção de sua dívida deveria ser considerada rendimento tributável para fins de incidência do Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF). A legislação não é totalmente clara quanto ao tratamento das dívidas de pessoas físicas que são perdoadas sem que o credor exija qualquer ônus. O Regulamento do Imposto sobre a Renda, em seu artigo 55, I, determina que dívidas perdoadas ou canceladas em troca de serviços prestados estarão sujeitas ao IRPF. Por outro lado, silencia sobre as demais situações em que se perdoassem dívidas contraídas por pessoas físicas. Diante desse cenário, a COSIT respondeu que, em razão da ausência de contrapartidas à dívida perdoada, esta poderia ser baixada da Declaração de Ajuste Anual do devedor sem que tal montante esteja sujeito à incidência do IRPF. É importante destacar que esta solução de consulta representa um ganho de segurança jurídica em favor dos contribuintes que, nada obstante a ausência de normas expressas quanto ao assunto, passaram a contar com um esclarecimento da Receita Federal no que toca à tributação do perdão de dívidas em favor de pessoas físicas. Ressalte-se que desde o advento da Instrução Normativa nº 1.396/13, o teor das respostas a consultas oriundas da COSIT passaram a vincular a atuação da Receita Federal. DIREITO TRIBUTÁRIO COMENTADO ISS sobre exportação de serviços e a posição do Tribunal Administrativo do município de São Paulo favorável aos contribuintes Rafael Minervino Bispo José Marcio Rego Filho Associados da área Tributária de Pinheiro Neto Advogados O Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) previsto no artigo 156, III, da Constituição Federal de 1988 (CF/88) é um tributo municipal incidente sobre a prestação de serviços, que não deve incidir sobre as exportações de serviços para o exterior, cabendo à lei complementar Lei Complementar nº 116, de (LC 116/03) regulamentar tal limitação ao poder de tributar. A intenção é evitar a exportação de tributos impedir que os tributos se tornem custo do exportador e acabem sendo agregados ao preço da mercadoria ou serviço exportado, tornando o produto (mercadoria ou serviço) nacional mais competitivo no mercado internacional. Atenta à CF/88, a LC 116/03 estabeleceu que o ISS não incide sobre as exportações de serviços (artigo 2º, I). Na tentativa de esclarecer o alcance da imunidade, a norma dispôs que não se -9-
10 enquadram em tal conceito os serviços desenvolvidos no Brasil, cujo resultado aqui se verifique, ainda que o pagamento seja feito por residente no exterior ( 1º do mencionado artigo 2º). A definição relativa à possibilidade de determinada prestação de serviço desenvolvida no Brasil caracterizar-se como uma exportação de serviço não estando, pois, sujeita ao ISS, reside na abrangência do conceito "resultado" do serviço. A imunidade do imposto será aplicada apenas aos casos em que o resultado do serviço ocorrer no exterior. De um lado, temos a interpretação dada pelas autoridades fiscais municipais, que entendem que o resultado corresponde ao local onde o serviço foi prestado. Assim, uma vez concluída a prestação do serviço no Brasil, a conclusão seria a de que o seu resultado foi aqui verificado. Desta interpretação também decorre o posicionamento fiscal de que apenas serviços concluídos no exterior teriam seu resultado verificado fora do País, estando, somente em tais hipóteses, a salvo da incidência do ISS. Por outro lado, os contribuintes do ISS sustentam que o local do resultado de um serviço não se confunde com o local de sua realização, mas sim com o local em que o beneficiário final usufrui a utilidade do serviço, ainda que prestado no território nacional. A jurisprudência não está definida a respeito do tema, existindo decisões para ambos os lados. O assunto tem ensejado debates e pode até mesmo ser levado a julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Neste cenário e no que tange às decisões do Conselho Municipal de Tributos (CMT) de São Paulo, o entendimento originalmente adotado era no sentido de que o local em que se dava o resultado do serviço confundia-se com o local de sua prestação. Não obstante, em alguns julgados recentes o colegiado tem adotado posicionamento diverso acolhendo a tese dos contribuintes, em especial a 1ª Câmara. Em , a 1ª Câmara, ao examinar operações envolvendo a prestação de serviços dentro de um grupo multinacional, desconsiderou o local onde os serviços foram prestados e concluiu pela não incidência do ISS sobre tais operações pelo fato de que o desenvolvimento, coordenação, assessoria, aperfeiçoamento, etc., foram direcionados para as subsidiárias de outros países, em favor da matriz internacional, todas localizadas no exterior, de tal forma que também restou caracterizada a exportação de serviços (não destacado no original). Mais recentemente, as Câmaras Reunidas do CMT de São Paulo última instância na esfera administrativa municipal proferiram nova decisão sinalizando uma mudança da jurisprudência sobre o tema em favor dos contribuintes. Em , rejeitaram pedido apresentado pelo Fisco visando à reforma de decisão favorável a uma empresa brasileira que havia prestado, no Brasil, serviços de consultoria para um fundo de investimentos estrangeiro. Manteve-se, assim, outra decisão da 1ª Câmara pela não incidência do ISS sobre os serviços prestados pela empresa brasileira sob os argumentos de que (i) o local do resultado não se confunde com o local da realização do serviço e (ii) a caracterização do local do resultado não pode se dar em outro lugar que não aquele onde se encontra o beneficiário do serviço (...). Tal decisão é de extrema importância não só para as empresas que prestam serviços a fundos de investimentos no exterior, como também para todas as demais que realizam exportação de serviços. -10-
11 Assim, a manutenção da decisão acima em destaque pelas Câmaras Reunidas do CMT de São Paulo é um importante precedente aos contribuintes e confirma a tese de que, para a caracterização de uma exportação de serviços, deve ser levado em consideração o local onde há a fruição do serviço pelo beneficiário final, e não o lugar onde o serviço foi prestado. Ainda que sujeita a questionamentos das autoridades fiscais municipais, entendemos que a empresa brasileira que, no curso de suas atividades, prestar serviços cuja utilidade seja verificada no exterior possui bons argumentos para afastar a incidência do ISS sobre esta operação. O Informativo TributAção é desenvolvido mensalmente pelos profissionais que integram a Área Tributária de Pinheiro Neto Advogados. Sócios da Área Tributária: São Paulo: Sérgio Farina Filho, Marcelo Mazon Malaquias, Ricardo Luiz Becker, Luciana Rosanova Galhardo, Mauro Berenholc, Eduardo Carvalho Caiuby, Luiz Roberto Peroba Barbosa, Tércio Chiavassa, Marcelo Marques Roncaglia, Giancarlo Chamma Matarazzo, Flávio Veitzman e Jorge N. F. Lopes Jr. Rio de Janeiro: Carlos Henrique T. Bechara, Marcos de Vicq de Cumptich e Emir Nunes de Oliveira Neto. Colaboraram com esta edição: Marcos de Vicq de Cumptich, Jorge N. F. Lopes Jr., Saul Tourinho Leal, Diego Caldas R. de Simone, Fernanda Ramos Pazello, Ana Carolina Fernandes Carpinetti, Rafael Minervino Bispo, Otavio Henrique de Castro Bertolino, Andrey Biagini Bartkevicius, William Roberto Crestani, Renato Caumo, Christiane Alves Alvarenga, Pedro Afonso Demartini, Mariana Monte Alegre de Paiva, Ana Teresa Lima Rosa, José Marcio Rego, Rubens Barrionuevo Biselli, Gabriela Fischer Junqueira Franco, Gustavo Andrejozuk, Helena Christiane Trentini, Guilherme Villas Boas e Silva. RUA HUNGRIA, 1.100, SÃO PAULO, SP T.: +55 (11) F.: +55 (11) BRASIL RUA HUMAITÁ, 275, 16º ANDAR RIO DE JANEIRO, RJ T.: +55 (21) F.: +55 (21) BRASIL SAFS QUADRA 2, BLOCO B, 3º ANDAR, ED. VIA OFFICE, , BRASÍLIA, DF T.: +55 (61) F.: +55 (61) BRASIL PNA@PN.COM.BR
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