Juliana Santilli, Promotora de Justiça, MPDFT e Doutora (Direito Socioambiental)- PUC-PR
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- Ana Laura Álvares Franco
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1 Juliana Santilli, Promotora de Justiça, MPDFT e Doutora (Direito Socioambiental)- PUC-PR 1
2 Igs identificam e agregam valor a produtos associados a determinados territórios, concebidos em suas dimensões natural e cultural. O nome geográfico usado no produto estabelece um vínculo entre as suas características e a sua origem geográfica. champagne, cognac, queijo Roquefort, presunto de Parma, água de Colônia, vinho do Porto etc 2
3 As Igs destacam (e criam mercados especiais) para produtos diferenciados, associados a determinadas identidades culturais e regionais, que buscam a sua forma própria de competição em mercados dominados por produtos globalizados e padronizados. Produtos padronizados são, na realidade, produtos sem alma, e os produtos de origem, regionais, típicos ou locais, integram o patrimônio cultural de suas regiões de origem. 3
4 Promover o desenvolvimento local sustentável Proteger o patrimônio cultural, inclusive o alimentar, associado a determinadas regiões geográficas Assegurar a identidade e a qualidade dos produtos Proteger os produtores da concorrência desleal Proteger os consumidores de fraudes, e fortalecer os vínculos entre produtores e consumidores 4
5 Impede a utilização, na designação ou apresentação do produto, de qualquer referência que indique ou sugira que o produto é originário de uma região geográfica diferente do seu verdadeiro local de origem, de forma a enganar o público em relação à real origem do produto. Concorrência desleal 5
6 Não há nenhuma obrigação de proteção às Igs que não são protegidas em seu país de origem, ou que tenham caído em desuso neste país ou se tornado genérica IMPORTANTE: As Igs não criam reputação ou qualidade, apenas reconhecem aquilo que já existe 6
7 As Igs não devem ser confundidas com marcas comerciais, usadas para distinguir produtos (similares ou não) fabricados por diferentes empresas As marcas comerciais não são associadas a territórios específicos, e as características dos produtos não estão relacionadas com as suas regiões de origem As marcas comerciais diferenciam os produtos de acordo com as empresas que os fabricam, e não pelas suas origens geográficas As Igs criam, em tese, benefícios para todos os atores sociais envolvidos na cadeia de produção 7
8 Previstas na Lei 9.279/96 como um direito de propriedade intelectual coletivo Elas se dividem em dois grupos: indicações de procedência e denominações de origem Foto: Marcos Santilli 8
9 A indicação de procedência corresponde ao nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço. (Vínculo entre o produto e determinada região geográfica, independentemente de suas qualidades intrínsecas) 9
10 É necessário que o produto ou serviço guarde características e qualidades próprias, que estão relacionadas ao território, incluídos os fatores naturais (clima, solo, vegetação, etc.) e os fatores culturais (saberes, práticas, modos de fazer e criar, processos e técnicas tradicionais de fabricação de produtos, etc.) diferenciados. 10
11 A proteção se estende tanto ao nome geográfico como a qualquer representação gráfica ou figurativa da região geográfica O registro tem natureza declaratória O registro só pode ser solicitado por associações, cooperativas e outras entidades coletivas, representativas dos produtores de determinada região geográfica. Não pode ser solicitado por produtores individuais (exceto em casos excepcionais) 11
12 Vinhos do Vale dos Vinhedos (RS) Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos (2002): Impulso no turismo (300%) e na produção local (número de vinícolas cresceu de 15 para 31) 12
13 Café do Cerrado mineiro Conselho das Associações dos Cafeicultores do Cerrado (2005) 13
14 Carne bovina e seus derivados Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (2006) 14
15 Cachaça artesanal de Paraty (RJ) Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça Artesanal de Paraty (2007) 15
16 Uvas e Manga do Vale do Submédio São Francisco Conselho da União das Associações e Cooperativas dos Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco (Bahia e Pernambuco) 2009 Produtos de couro do Vale do Sinos Associação das Industrias de Cortumes do Rio Grande do Sul (2009) 16
17 Vinhos de Pinto Bandeira Associação de Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (RS, 2010) Café da região da Serra da Mantiqueira (MG),
18 Camarões da Costa Negra (CE): Denominação de origem (2011) Doces finos tradicionais de Pelotas (RS), IG Queijo do Serro (MG) 18
19 Primeira Denominação de Origem brasileira (2010) Arroz, Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte gaúcho 19
20 Panelas de barro de Goiabeiras (ES) Associação das Paneleiras de Goiabeiras (26/07/2011) As panelas de Goiabeiras são produzidas artesanalmente com a argila retirada do Vale do Mulembá, em Vitória. O tanino, usado para a impermeabilização das peças, é obtido da casca da planta mangue vermelho 20
21 Artesanato em capim dourado do Jalapão (Tocantins) (12/07/2011), usado para fazer bolsas, fruteiras, portajóias e outras peças. Associação dos Artesãos em Capim Dourado da Região do Jalapão do Estado do Tocantins 21
22 As políticas de apoio às Igs no Brasil têm enfocado principalmente normas sanitárias, homogeneidade do produto final e visibilidade da embalagem. Elas não têm valorizado a dimensão identitária e patrimonial dos produtos de origem, e tendem a favorecer produtos agropecuários voltados para a exportação, e não os produtos territorializados e a sociobiodiversidade As políticas de Igs devem valorizar a nossa diversidade biológica e cultural e os produtos que tal diversidade gera e produz, e fugir da excessiva padronização dos produtos 22
23 O valor agregado pelas Igs deve ser distribuídos entre todos os atores da cadeia de produção (e não beneficiar apenas os intermediários) Deve-se pensar em cestas de produtos e serviços territorializados, pois o enfoque em apenas um produto desestimula a biodiversidade 23
24 24
25 Articulação das Igs com outros instrumentos de valorização da diversidade biológica e cultural Ex: Registro de Bens Culturais Imateriais (Decreto 3.551/2000) Conceito constitucional de patrimônio cultural: (art.216): natureza material e imaterial e multiculturalismo as formas de expressão os modos de criar, fazer e viver além das obras, objetos, documentos, edificações etc. 25
26 Livros de Registro: 1- dos Saberes (conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades); 2- das Celebrações; 3- das Formas de Expressão; 4- dos Lugares Os bens culturais imateriais registrados não geram, necessariamente, produtos e serviços com um valor econômico, ainda que tenham um forte valor cultural, simbólico, político, social etc. 26
27 O registro parte de propostas coletivas (sociedades, associações), devem contar com o apoio dos grupos sociais envolvidos e gera a obrigação dos poderes públicos de promover ações de salvaguarda Gera a obrigação dos poderes públicos de promover ações de salvaguarda Ex: Ofício das paneleiras de Goiabeiras, no Espírito Santo, e ofício das baianas de acarajé, na Bahia. 27
28 Ex: Modo artesanal de fazer Queijo Minas (das regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre) 28
29 Registro do sistema agrícola indígena do Rio Negro (05/11/2010) Sistema: conjunto de elementos interdependentes, e não apenas um objeto. Rica agrobiodiversidade: 243 espécies cultivadas e 73 variedades de mandioca (Emperaire et al) 29
30 Plantações de café-cuba Tokaj-Hungria Região vinícola- Açores Convenção da Unesco para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (1972) 1992: as paisagens culturais 30
31 As paisagens culturais brasileiras e a criação do instrumento da chancela A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em uma soma de testemunhos da interação do homem com a natureza 31
32 Brasil: Portaria n. 127, de 30 de abril 2009, do presidente do IPHAN A paisagem cultural brasileira é declarada por chancela instituída pelo IPHAN A chancela é uma espécie de selo de qualidade, um instrumento de reconhecimento do valor cultural de uma porção definida do território nacional, que possui características especiais na interação entre o homem e o meio ambiente. 32
33 Considera caráter dinâmico da cultura e da ação humana; convive com transformações Chancela: pacto entre poder publico, sociedade civil e iniciativa privada, visando a gestão compartilhada da porção do território reconhecida Plano de Gestão Complementa e integra instrumentos de preservação do patrimônio cultural já existentes 33
34 Primeira chancela de Paisagem Cultural Brasileira: Maio 2011 Núcleos rurais de Testo Alto, em Pomerode, e Rio da Luz, em Jaraguá do Sul Paisagem cultural da região de imigrantes dovale do Itajaí (SC) 34
35 Não há no SNUC (Lei 9.985/2000) nenhuma categoria destinada à agrobiodiversidade. Ucs já criadas raramente contemplam ações voltadas à biodiversidade agrícola Ex: Parque de la Papa (Peru) 35
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