Também é evidente o descompasso entre o custo-benefício do serviço, em exemplos como:

Transcrição

1 Exma Senhora Adjunta A Ordem dos Notários agradece o reconhecimento do seu empenho em acolher o processo de inventário, no entanto não concorda que o Ministério tenha relegado a respectiva regulamentação, em sede de Portaria, para um segundo plano. Não obstante os nossos esforços em tentar discutir os temas pessoalmente, para que o trabalho final pudesse ser rigoroso e adequado às necessidades do cidadão, sem ser prejudicial à classe dos notários, verificamos que, infelizmente, as principais decisões acabaram por ser tomadas isoladamente pelo Ministério, às portas da entrada em vigor do Regime Jurídico do inventário, colocando em causa a efetividade de toda a reforma. Reforçamos, portanto, que a nossa insatisfação se refere a todo o ínterim entre a publicação da Lei 23/2013, de 5 de março e a sua regulamentação e não unicamente em relação aos pontos agora em aberto, relativos nomeadamente aos honorários dos notários. Isto porque, não aceitaremos uma eventual argumentação futura, no sentido de que os notários se opuseram ou dificultaram a passagem da nova competência, por razões financeiras. Esta proposta de portaria conduzirá a um aumento exponencial da intervenção do juiz no processo de inventário, quer por remessa do Notário, quer por o juiz ser obrigado a fixar o valor de honorários devidos ao Notário pelos incidentes. Se o Ministério nem confia nos Notários para a fixação de honorários perante uma tabela variável, onde se encontra limitado o seu montante mínimo e máximo, não se percebe por que razão transfere a competência para estes profissionais. Compreendemos a pretensão do MJ no sentido de não onerar o cidadão, bem como a opção política de não alimentar a polémica sobre a transferência dos inventários para os cartórios, com um novo argumento de aumento dos preços. Não obstante, é impossível para a Ordem dos Notários aceitar que a portaria, assim como está, assegura os valores adequados aos notários. Na verdade, com este projeto de portaria os custos do processo de inventário seriam substancialmente reduzidos para as partes, dado que os valores previstos não correspondem minimamente ao que atualmente é cobrado pelos tribunais. Encontramo-nos numa situação em que, por um lado, enquanto profissionais e cidadãos responsáveis e zelosos, queremos contribuir da melhor forma para a boa administração da justiça em Portugal. Como

2 profissionais especializados e tecnicamente competentes, queremos e sabemos que podemos desenvolver o nosso trabalho com qualidade e rigor para o bem do cidadão e da Justiça. Todavia, por outro lado, constatamos que este trabalho não será remunerado na razoável proporção do esforço exigido ao notário. Basta ver que a outros profissionais envolvidos nos processos de inventário é concedido um pagamento superior, como é o caso dos advogados oficiosos em processos judiciais, designadamente nos processos de inventário, agentes de execução em processos executivos, conservadores em sede de registo e em sede de procedimentos. Também é evidente o descompasso entre o custo-benefício do serviço, em exemplos como: - a intervenção de agente de execução numa execução? depende da tabela do solicitador e da fixação que cabe ao critério de cada um. - a intervenção de agente de execução e de notário num despejo? a intervenção de advogado oficioso em processo penal - Crimes da competência do tribunal singular? 280,50 ; - a intervenção de advogado oficioso em ato processual isolado? 127,50 ; - a taxa mínima de justiça de uma ação declarativa de condenação? Ação até 2.000,00 -> 91,80 - a taxa mínima de justiça de constituição de assistente e pedido de abertura de instrução? taxa mínima pelo recurso para a Relação de uma ação declarativa? Recurso (acima de5.000,01 ) -> 91,80 - o registo de um palheiro numa Conservatória? o registo de um palácio numa Conservatória? testamento? 113,45

3 Reafirmamos que para não onerar o cidadão aceitamos cobrar neste processo valores tendencialmente idênticos aos que são atualmente praticados mas não é isso que se verifica: Vejamos, 1) um incidente atualmente pode levar ao pagamento até 14 UC (=1428 ), quando revista especial complexidade, sendo que na tabela da portaria o máximo é de 510 ; 2) o incidente de intervenção de 3ºs, se a ação for de valor superior a é de 4 UC (= 408 ), pelo que não se entende porque na portaria se reduz o valor para ) o incidente da reclamação à relação de bens é o mais usual, e por isso mesmo não pode ser gratuito, até porque é dos mais trabalhosos. Atualmente é um incidente pago e não se descortina qual a razão de passar a ser gratuito com a transferência de competências. 4) A reclamação do mapa da partilha também é inexplicável que não seja paga, quando atualmente também é um incidente pago. A gratuitidade terá até um efeito pernicioso de permitir prolongar indefinidamente o inventário, contra aquilo que é o objetivo deste diploma, de aceleração processual. E proliferarão as reclamações de todos os interessados, pois mesmo que percam, nada têm a pagar. E não há qualquer justificação plausível para um incidente não ser pago. 5) Falta ainda prever o valor a pagar em caso de oposição ao inventário, dedução de exceções, impugnações variadas (cfr. artigo 30º da Lei 23/2013). Ou entende que se tratam de incidentes?????? Atualmente tais oposições e impugnações pagam taxa de justiça/custas, pelo também não se entende qual o objetivo pretendido com esta alteração introduzida pelo projeto de Portaria.

4 6) A nosso ver, é também inadmissível o Instituto das isenções previsto no artigo 16.º do diploma, pois os Notários não têm que subsidiar o sistema da Justiça em Portugal e sobretudo no que respeita a entidades públicas que herdam bens de particulares. 7) Completamente inaceitável é a forma e o momento de pagamento dos honorários relativos a incidentes. Para além de ser uma total desconfiança a fixação dos honorários pelo juiz, na esteira do previsto no n.º 4, do artigo 18.º,entendemos ser completamente desrazoável que o notário tenha que esperar por uma decisão judicial de homologação da partilha para receber os honorários relativos a um ato que praticou (e suportou todos os custos)provavelmente muitos anos antes, ficando o pagamento de honorários dependente de uma decisão de homologação cuja celeridade não é controlada pelo Notário. 8) Hodiernamente, existe mais algum exemplo em que os honorários de um profissional liberal, que não tenham intervenção meramente acidental no processo, fiquem dependentes de uma apreciação de mérito (subjetiva) do juiz? Pretende-se descongestionar os Tribunais ou inundá-los com processos de apreciação de contas? Não seria razoável e tecnicamente fundado esperar pelas reclamações da nota final de honorários e despesas que até podem condenar o notário em multa, nos termos do artigo 24.º do Diploma? Com todos estes exemplos parece-nos que Ministério da Justiça desconhece o que é ser idêntico. Será que o objetivo do Ministério da Justiça é anunciar uma redução de custos do inventário, subsidiada pelos Notários?! Que para além de tudo, passam a custear as despesas de instalação e funcionamento da plataforma e a custear o acesso ao direito por parte dos cidadãos mais desfavorecidos? Pese embora as atuais taxas de justiça previstas no Regulamento das Custas Processuais não serem suficientes para cobrir os custos efetivos com estes processos, a Ordem dos Notários sempre aceitou que, para não haver um acréscimo de custos para o cidadão com a transferência da competência para os Notários, se mantivesse o atual regime de custas processuais, com uma remissão para o seu regime, de

5 molde a que, sempre que haja alteração das custas processuais, se reflita nos honorários pagos em sede de processo de inventário. Qualquer outra solução (ainda que simples transcrição das atuais tabelas constantes do Regulamento das Custas Processuais), por não ter uma indexação constante, representará uma discriminação dos Notários face à atual situação, que é inadmissível e incomportável pela classe notarial, que não tem obrigação alguma de suportar os custos com a Justiça. Tal discriminação negativa ocorre já no valor da taxa suplementar prevista no artigo 47º n.º 4 por falta de comparência à conferência preparatória, fixado no artigo 28º do projeto de Portaria, para que já chamámos a atenção anteriormente e que voltamos a realçar: deve ser igual à multa prevista no Regulamento das Custas Processuais, para falta de comparência a qualquer ato judicial em que seja obrigatória a presença, como acontece atualmente com o processo de inventário, e deve ser fixada pelo Notário, nos mesmos termos em que é atualmente fixada pelo Juiz. Tal multa visa dissuadir os interessados a faltarem à conferência preparatória, onde é fundamental a presença dos interessados de molde a tentar-se o acordo ou alcançar a maioria de 2/3 prevista na lei para desbloquear o processo. Ora, o valor atualmente previsto é insignificante e por isso nada dissuasor, não se alcançando assim o fim visado pelo legislador. Reiteramos novamente que o caminho a seguir é o da simples remissão para o Regulamento das Custas Processuais, que, não sendo o ideal, pelo menos assegurará o não aumento de custos para o cidadão e que o Notário seja remunerado pelo seu serviço em termos idênticos aos atualmente em vigor. A redação do n.º 1 do artigo 21.º continua incoerente com o n.º 2, dando a ideia de que o notário tem que realizar previamente a despesa e só depois cobrar. Continuam sem estar previstos, como já estiveram na anterior versão enviada pelo Senhor Chefe de Gabinete em 17 de Julho, os direitos de retenção e de execução que são fundamentais para a cobrança dos honorários do Notário, tanto mais que existe uma 3ª prestação após a homologação da partilha pelo juiz. Ou será que o Ministério da Justiça

6 pretende que os Notários, para receberem os valores dos seus honorários não pagos, ainda tenham que propor ação declarativa para reconhecimento desse direito?! Obviamente que terá que constituir título executivo, e tal terá que estar consagrado expressamente na Portaria. É nosso receio, depois de consultar e perceber a reação da classe, que, por um lado, muitos dos que ainda têm possibilidade de regressar à função pública o irão fazer percebendo que os inventários onerarão ainda mais os seus custos correntes, inviabilizando a manutenção de muitos Cartórios privados, e, por outro, muitos Colegas regressarão à advocacia, donde a maior parte provém, pondo em causa a classe notarial e deitando por terra todos os esforços que têm sido feitos para a criação de uma rede notarial digna e que, com a proximidade ao cidadão, resolva de forma mais célere os seus problemas. Foi com essa intenção que, com todo o empenho, nos dedicámos a esta questão dos inventários, tendo nos últimos meses desenvolvido todos os esforços para formar a classe para este novo desafio, investido numa plataforma informática, porque acreditávamos podermos ser uma solução para tornar mais célere este tipo de processo, que se eterniza nos tribunais. Com estas condições que foram unilateralmente alteradas pelo Ministério da Justiça, que não asseguram uma remuneração minimamente justa aos Notários pelo trabalho a desenvolver, completamente dispare dos custos atualmente suportados pelos cidadãos no processo de inventário que corre termos em tribunal, sem qualquer justificação plausível, que deixa em aberto uma série de dúvidas, questões por esclarecer que, no futuro, representarão atrasos no decurso do processo e questões a serem resolvidas, com perda de tempo e de autoridade por quem desempenhará estas funções, com consagração de soluções que mostram desconfiança da Tutela pelo profissional em causa, é sentimento geral da classe, que me tem sido transmitido por diversas vias desde que foi conhecida as últimas alterações à Portaria, de que não estão dispostos a entrar num processo que não é solução para os problemas atuais do cidadão, pelas razões acima referidas.

7 Em conclusão, reiteramos o nosso apelo em reunir pessoalmente e com urgência com a Senhora Ministra da Justiça. Com os melhores cumprimentos, O Bastonário da Ordem dos Notários, João Maia Rodrigues