CORRELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FENOTÍPICAS E A PRODUÇÃO LEITEIRA EM MATRIZES DA RAÇA GIR LEITEIRO

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1 CORRELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FENOTÍPICAS E A PRODUÇÃO LEITEIRA EM MATRIZES DA RAÇA GIR LEITEIRO PEREIRA, D. B. H. ; PASCHOAL, J. J. 2 Graduado em Zootecnia, Faculdades Associadas de Uberaba, Uberaba (MG). 2 Doutora Juliana Jorge Paschoal, professora da Faculdades Associadas de Uberaba - FAZU, Uberaba (MG). RESUMO: O Sistema Único de Mensuração (SUM) é uma técnica que ajuda na classificação do animal ideal. É utilizada uma escala de pontuação na qual atribui valores numéricos às partes integradas, cuja soma é aplicada à escala de classificação, permitindo formar o conceito do animal. O objetivo deste trabalho foi avaliar as correlações fenotípicas do SUM com produção de leite em vacas da raça Gir Leiteiro. Foram utilizadas informações de características de tipo e produção de leite de 334 vacas Gir leiteiro, distribuídas em 20 rebanhos. Utilizou-se a lactação real sem ajuste para a idade adulta e sem correção para 305 dias. Foram avaliadas 9 características: capacidade digestiva (CAD), dorso-lombar (DLO), comprimento corporal (COC), feminilidade (FEM), flanco (FLC), garupa (GAR), úbere-anterior (UBA), ligamento-central (LIC), úbere-posterior (UBP), membros-anteriores (MEA), membros-posteriores (MEP), pigmentação (PIG), racial (RAC), tetos (TET), tórax (TOR), úbere (UBE), vascularização (VAS), pontuação total (TOT) e produção de leite (PL). As correlações fenotípicas observadas entre produção de leite e as características do SUM foram de baixa a moderadas magnitudes, proporcionando relativo aumento na produção de leite das vacas, quando seleciona-se para tipo leiteiro. PALAVRAS CHAVE: Classificação; seleção; animal ideal; tipo leiteiro; produção leiteira. CORRELATIONS BETWEEN PHENOTYPIC CHARACTERISTICS AND MILK PRODUCTION IN MATRIX GIR BREED DAIRY ABSTRACT: The Single System of Measurement (SSM) is a technique that helps on the classification in the ideal animal. Is utilized a scale of punctuation where it attaches to the numerical values integrated parts witch the sum is applied to the rating scale allowing from the concept of the animal. The objective of this work was to evaluate the phenotypic correlations of the Single System of Measurement with production of milk in dairy Gir cattle. Information was used for type traits and milk productions in 334 cows of Gir cattle, distributed in 20 flocks. It was used real lactation without adjustment for adulthood and no remediation for 305 days. Were evaluated 9 characteristics: Digestive capacity (CAD), lumbar-dorse (DLO), body length (COC), femininity (FEM), flank (FLK), croup (CRO), udder previous (UBA), central ligament (LIC), back udder (UBP), previous members (MEA), back members (MEP), pigmentation (PIG), racial (RAC), ceilings (TET), chest (TOR), udder (UBE), vascularization (VAS), total punctuation (TOT) and milk production (PL). The phenotypic correlations observed between milk production and the Single System of Measurement characteristics were low to moderate magnitudes. So when these features are selected there are significant gains to increase the milk production of cows when it is selected for dairy type. KEY WORDS: Classification, selection, ideal animal; dairy type; dairy production. No entanto, criadores de Gir observando que suas INTRODUÇÃO fêmeas produziam leite excessivo, começaram a selecionar a raça para aptidão leiteira. Essa característica foi tomando O Gir, como a maioria das raças zebuínas, é força e os criadores começaram a investir no proveniente da Índia. A raça Gir é, mais especificamente, originária da península de Kathiawar. Por ser também de um país tropical, com muitas semelhanças nas condições edafo-climáticas, o Gir encontrou no Brasil um ambiente propício para expressar o seu potencial (SANTOS, 2007). A raça ingressou oficialmente no Brasil após as importações no início do século XX. Inicialmente, a raça era destinada à produção de carne, porém, o Gir acabou perdendo espaço para raças mais especializadas, sendo deixado de lado, chegando quase à extinção (MACHADO, 999). melhoramento genético voltado para produção de leite. Hoje a raça está presente em cerca de 82,4% dos rebanhos leiteiros do Brasil (SANTOS, 2007). A produção de leite é a característica mais importante em um programa de melhoramento genético de gado leiteiro, consequentemente é necessário aferir a sua associação com outras particularidades, as quais podem ter um efeito negativo e acabam passando despercebidos quando é visada somente a produção de leite. Vale destacar que determinadas características necessitam receber uma maior atenção quando se visa maior vida produtiva do

2 animal, fato que poderá resultar numa menor redução de descartes de vacas no rebanho (WENCESLAU, 2000). Em sua grande maioria, os criadores de gado selecionam seus animais baseado nas características de tipo, observando exclusivamente o exterior do animal, no entanto, esses animais são selecionados para características de maior ênfase na preservação dos padrões raciais. O termo tipo, num conceito mais técnico, está correlacionado ao conjunto de características morfológicas que definem o animal ao grupo funcional e a raça que ele pertence. Sendo assim, obtêm-se animais de tipo leiteiro e de tipo de corte, que diferenciam, simultaneamente, animais destinados à produção de leite ou à produção de carne. Para classificação do animal ideal é utilizada uma escala de pontuação na qual atribui valores numéricos às partes integradas, cuja soma é aplicada à escala de classificação, permitindo formar o conceito do animal. A contagem máxima é de 00 pontos o que representa o tipo ideal. Para chegar à contagem final, o classificador irá avaliar cada uma das partes do animal, aplicando assim a porcentagem de perfeição atribuída a cada uma delas (NEIVA, 998). Seguindo a metodologia de Neiva (998), a classificação do animal será baseada na somatória das avaliações de quatro características (aparência geral, composto corporal, composto de úbere e composto pernas e pés) que serão obtidas por meio de pesos específicos para cada característica morfológica, conforme dados apresentados na Tabela. TABELA Classificação por tipo A APARÊNCIA GERAL 25 Racial 2 2 Pele e pigmentação 2 3 Feminilidade 8 4 Dorso-lombar 5 5 Garupa 8 B CAPACIDADE 25 CORPORAL Tórax 8 2 Capacidade digestiva 8 3 Comprimento corporal 6 4 Flanco 3 C SISTEMA MAMÁRIO 35 Úbere-anterior 5 2 Ligamento-central 8 3 Úbere-posterior 6 4 Tetos 4 5 Úbere 0 6 Vascularização 2 Uma vez feita a avaliação para as características lineares, os pontos foram somados e a matriz classificada dentro da seguinte pontuação (Tabela 2). TABELA 2 Pontuação e classificação da matriz PONTUAÇÃO CLASSIFICAÇÃO De 90 a 99 Excelente De 76 a 89 Muito Bom De 5 a 75 Bom De 0 a 50 Regular FONTE: ABCGIL, 20. O objetivo principal das características envolvidas na avaliação visual de diferentes tipos morfológicos é classificar aqueles animais que, nas condições viáveis de criação, cumpram seu objetivo eficientemente. Dentro deste contexto, o objetivo deste trabalho foi avaliar e obter as correlações fenotípicas do Sistema Único de Mensuração (SUM) com produção de leite em matrizes da raça Gir Leiteiro. MATERIAL E MÉTODOS As informações de características de tipo e produção de leite utilizadas nesta pesquisa foram obtidas no período de junho a dezembro de 2009, sendo utilizadas 334 vacas Gir leiteiro, distribuídas em 20 rebanhos provenientes dos Estados de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. As fêmeas foram selecionadas com base no número de lactações. Grupo ( a lactação), grupo 2 (2 a a 4 a lactações) e grupo 3 (maior que 4 lactações), porém, somente foram analisados os animais do grupo 2. Foram utilizadas 9856 informações referentes às características lineares analisadas entre si e com a produção de leite. A avaliação visual foi realizada por técnicos da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), com o objetivo de minimizar o erro humano. As vacas foram colocadas individualmente em uma superfície plana, para avaliação de suas partes. Os dados de produção de leite foram provenientes da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) com apoio da ABCGIL. Foi utilizada a lactação real sem ajuste para a idade adulta e sem correção para 305 dias. Após a seleção dos dados, as correlações foram estimadas mediante utilização do software SAS (SAS, 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO As correlações fenotípicas das características referentes à aparência geral, pontuação total e produção de leite, estão apresentadas na tabela 3. D SISTEMA 5 LOCOMOTOR Membros-anteriores 6 2 Membros-posteriores 9 FONTE: ABCGIL, (20).

3 TABELA 3 Correlações fenotípicas entre as características associadas à aparência geral, pontuação total e produção de leite. Características DLO FEM RAC GAR PIG TOT PL DLO FEM RAC GAR PIG TOT Pode-se observar que dentro das características avaliadas, uma correlação alta e positiva foi observada entre tórax e capacidade digestiva (0,44). Comparando as características fenotípicas corporais com a produção de leite, 0.2 obteve-se uma correlação positiva, significativa, porém de média magnitude (0.2) entre capacidade digestiva 0.28 (CAD) e produção de leite (PL). Desta forma espera-se que vacas com maior capacidade digestiva produzam -0.6 mais leite Estudos realizados nas raças Holandesa (ESTEVES et 0.07 al., 2004), na raça Gir ( LAGROTTA et al., 200), e na Pardo Suíça (RENNÓ, et al., 2003), as correlações encontradas 0.04 para tórax e produção de leite foram (0,02; - 0, e 0,0; respectivamente), menores que a encontrada neste trabalho (0,4), para as mesmas características. Os dados relativos ao sistema mamário merecem PL destaque especial e encontram-se apresentados na Tabela DLO, dorso-lombar; FEM, feminilidade; RAC, racial; GAR, garupa; PIG, pigmentação; TOT, pontuação total e PL, produção de leite. 5. De acordo com os dados apresentados na tabela acima, pode-se observar correlação positiva e de média magnitude entre feminilidade e produção de leite (0,28) Neste sistema de avaliação não foram considerados dados relativos ao ângulo e abertura de garupa, porém, em estudo realizado por Rennó et al. foram observadas correlações superiores para ângulo e abertura de garupa com produção de leite na raça Pardo-suíça (0,8 e 0, respectivamente). Lagrotta et al (200) na raça Gir encontraram para ângulo e comprimento de garupa correlações inferiores à este trabalho (0,04 e 0,02 respectivamente). Esteves et al (2004) na raça Holandesa encontraram uma correlação baixa, porém superior ao encontrado neste trabalho para largura de garupa e produção de leite (0,09). Na Tabela 4 estão apresentados os dados relativos às correlações fenotípicas das características referentes à capacidade corporal, pontuação total (TOT) e produção de leite (PL). TABELA 4 Correlação fenotípica entre as características associadas à capacidade corporal, pontuação total e produção de leite. Características CAD COC FLC TOR TOT PL CAD COC FLC TOR TOT PL CAD, capacidade digestiva; COC, comprimento corporal; FLC, flanco; TOR, tórax; TOT, pontuação total e PL, produção de leite. TABELA 5 Correlação fenotípica entre as características do sistema mamário com total e produção de leite. Característi UBA LIC UBP TET UBE VAS TOT PL cas UBA < < LIC < UBP < TET UBE < VAS TOT PL UBA, ligamento-anterior; LIC, ligamento-central; UBP, úbere-posterior; TET, tetos; UBE, úbere; VAS, vascularização; TOT, pontuação total e PL, produção de leite. De acordo com os dados apresentados, vale ressaltar as correlações observadas entre úbere-anterior e ligamento-central (0,42), úbere-anterior e úbere (0,66); ligamento-central e úbere-posterior (0,7), úbere e vascularização (0,43), úbere-posterior e tetos (0,9) e ainda úbere-posterior e vascularização (0,45). Foi observada correlação positiva moderada (0,34) entre úbere-posterior e produção de leite, resultado superior ao encontrado por Rennó et al. (2003) para largura de úbere-posterior e produção de leite na raça Pardo-suíça (0,20). Rennó et al. (2003) encontraram correlação negativa entre ligamento-central e produção de leite concordando com os resultados obtidos por Freitas et al. (2002) que obtiveram uma correlação negativa de alta magnitude (-0.44) entre as características acima especificadas. Diferentemente dos resultados apresentados, a correlação encontrada para as características ligamentocentral e produção de leite foi positiva de média magnitude

4 (0,23) ressaltando a importância de avaliação desta característica dentro do sistema único de mensuração adotado. A correlação entre úbere-anterior com produção de leite foi positiva e baixa (0.06), similarmente aos resultados observados por Rennó et al. (2003) quando avaliaram animais da raça Pardo-suiço. Lagrotta et al. (200) e Esteves et al. (2004) trabalhando com animais das raças Gir Leiteiro e Holandesa respectivamente, encontraram correlação negativa para estas características. Lagrotta et al. (200) afirmaram que quanto mais fortemente o úbere estiver ligado ao ventre do animal, menor será a produção de leite, porém a permanência desta fêmea no rebanho será maior. O ideal é selecionar animais que apresentem escores intermediários quanto à inserção do úbere-anterior. As correlações fenotípicas entre as características do sistema mamário e produção de leite, na maioria das vezes, apresentaram valores positivos de baixa a média magnitude, como pode ser observado entre as características de úbere-posterior (0,34), vascularização (0,30), ligamento-central (0,23) e úbere (0.2). No entanto, uma característica apresentou correlação negativa com produção de leite: tetos (-0.05). Este resultado também foi confirmado pelos pesquisadores Rennó et al. (2003), Esteves et al (2004), Freitas et al. (2002) e Teodoro et al. (2000). O único autor que encontrou correlação positiva entre tetos e produção de leite foi Lagrotta et al. (200). As correlações entre tetos e produção de leite foram baixas e negativas, confirmando a pequena importância desta característica dentro do sistema de mensuração. O sistema locomotor também foi avaliado no presente trabalho conforme dados apresentados na Tabela 6. TABELA 6 Correlação fenotípica entre as características do sistema locomotor com total e produção de leite. Características MEA MEP TOT PL MEA MEP TOT PL MEA, membros-anteriores; MEP, membros-posteriores; TOT, pontuação total e PL, produção de leite. A estimativa de correlação fenotípica entre as características de membros-anteriores e membrosposteriores foi alta e positiva (0,46). Não foi encontrada na literatura consultada, correlação entre membros-anteriores e membros-posteriores. Comparando estas características com pontuação total obteve-se correlação moderada a alta (0,39 e 0,42 respectivamente) demonstrando que as características de aprumo são valorizadas no sistema de avaliação adotado. As características membros-posteriores com a produção de leite foi baixa e sem relevância. Dados semelhantes foram encontrados por Lagrotta et al. (2008) onde observaram correlação entre perna vista lateralmente e perna vista por trás com produção de leite (0,6 e 0,7; respectivamente). Já Esteves et al. (2004) encontraram correlação negativa entre pernas vista lateralmente com produção de leite (-0.02). A correlação fenotípica entre vista lateral das pernas com produção de leite no trabalho realizado por Lagrotta et al (200), foi superior ao encontrado no presente trabalho (0.30). A pontuação final do animal é dada em função do somatório das notas obtidas é um indicativo global da qualidade fenotípica do animal em avaliação. Desta forma, a correlação existente entre a pontuação final alcançada pelo animal e a produção de leite merece especial consideração e encontra-se apresentada na Tabela 7. TABELA 7 Correlação fenotípica entre as características de pontuação total com produção de leite. Características TOT PL TOT PL - - TOT, pontuação total e PL, produção de leite. O valor observado entre pontuação total e produção de leite foi positivo e de moderada magnitude (0,30). Este valor foi superior ao encontrado por Esteves et al. (2004) de 0,5 e Freitas et al. (2002) de 0,0, sugerindo grande dificuldade em avaliar fenotipicamente um animal valorizando também a sua capacidade de produção. CONCLUSÃO As correlações fenotípicas observadas entre produção de leite e as diversas características do SUM, em sua grande maioria, revelaram possíveis ganhos para produção de leite quando a seleção para algumas características de tipo é efetuada, porém, vale destacar que a avaliação dessas características irá proporcionar uma maior longevidade e permanência desta fêmea dentro do rebanho. A nota final alcançada pelo animal, oriunda da sua avaliação fenotípica, está positivamente relacionada com a capacidade produtiva do mesmo, sugerindo eficiência no sistema de avaliação utilizado. REFERÊNCIAS ABCGIL, Associação Brasileira dos criadores de Gir leiteiro. Tipo ideal da raça Gir. Disponível no site: Acesso em: 9 de março de 20. ANUALPEC 200. Anuário da Pecuária Brasileira: FNP Consultoria & Comércio, p. ABCZ, Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. 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