CORRELAÇÃO DOS FATORES CULTURAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS NAS GESTAÇÕES DE ADOLESCENTES: uma revisão bibliográfica
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1 2 CORRELAÇÃO DOS FATORES CULTURAIS, SOCIAIS E ECONÔMICOS NAS GESTAÇÕES DE ADOLESCENTES: uma revisão bibliográfica Autores: Maria Sandy Helen Oliveira Leal, Wellington Santos e Sâmia Gonçalves de Moura. Resumo: A gravidez na adolescência constitui um dos temas de maior relevância na realidade social brasileira. A abordagem tradicional relaciona a gravidez como indesejada e decorrente da desinformação sexual das jovens. O trabalho em estudo questiona essa posição, postulando a importância do significado individual da gravidez, bem como a noção de uma gravidez socioeconômica determinada por fatores culturais e psicológicos que particularizam o significado da maternidade em adolescentes de classes populares. Conclui-se pela necessidade de reformulação das políticas públicas para com essa população. Palavras-Chave: Gravidez. Adolescência. Fatores Socioeconômicos. Abstract: Teenage pregnancy is one of the most relevant topics in the Brazilian social reality. The traditional approach relates to unwanted pregnancy and sexual misinformation arising from the youth. Work on study questions this position, arguing the importance of individual significance of pregnancy as well as the notion of a "socioeconomic pregnancy" determined by cultural and psychological factors that particularize the meaning of motherhood among adolescents of lower classes. It concludes the need to reform public policies toward this population. Key Words: Pregnancy. Adolescence. Socioeconomic Factors. INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) define adolescência cronologicamente como período compreendido entre 10 a 19 anos (WHO, 2002), no qual acontecem grandes mudanças, tanto físicas como psíquicas. Nesse processo de transformação, marcado por especificidades emocionais e comportamentais, o adolescente vivencia a sexualidade apresentando uma série de desejos e conflitos que podem repercutir na sua saúde sexual e reprodutiva (GUBERT; MADUREIRA, 2008). A gravidez na adolescência tem sérias implicações biológicas, familiares, emocionais e econômicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e engajamento dessas
2 jovens na sociedade. Devido às repercussões sobre a mãe e sobre o concepto é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da Saúde (OMS 1977, 1978), porém, atualmente postula-se que o risco seja mais social do que biológico. O início precoce da atividade sexual na adolescência traz consigo consequências indesejáveis imediatas como o aumento da frequência de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) nessa faixa etária; e gravidez, muitas vezes também indesejada e que por isso, pode terminar, em muitos dos casos, em prática de aborto (CHABON et al., 2000). Quando a atividade sexual tem como resultante a gravidez, gera consequências tardias e em longo prazo, tanto para a adolescente quanto para o recém-nascido. A adolescente poderá apresentar problemas de crescimento e desenvolvimento, emocionais e comportamentais, educacionais e de aprendizado, além de complicações da gravidez e problemas de parto (WILCOX; FIELD, 1998). Nos últimos anos, a incidência de gravidez na adolescência vem aumentando significativamente, tanto no Brasil como no mundo. No Brasil, observasse que, apesar do declínio das taxas de fecundidade desde o início dos anos 70, é cada vez maior a proporção de partos entre as adolescentes em comparação com o total de partos realizados no País. Segundo dados estatísticos do SUS relativo a 2000, dos 2,5 milhões de partos realizados nos hospitais públicos do país, 689 mil eram de mães adolescentes com menos de 19 anos de idade. A maioria das adolescentes grávidas pertence às classes populares (DADOORIAN, 2003). Os elevados índices estatísticos de gravidez na adolescência provocaram um maior interesse sobre essa questão por parte dos profissionais de saúde brasileiros. A literatura existente relaciona essa situação às mudanças sociais ocorridas na esfera da sexualidade, as quais provocaram maior liberalização do sexo, sem que, simultaneamente, fossem transmitidas informações sobre métodos contraceptivos para os jovens. Segundo esses profissionais de saúde, a gravidez na adolescência é indesejada, sendo enfocada como um problema que deve ser solucionado através da diminuição do número de gravidezes nessa população. A fórmula encontrada para resolver essa questão se reduz aos programas de informação sexual (DADOORIAN, 2003). Outros fatores alarmantes são a ocorrência de partos prematuros e também recém-nascidos (RN) de baixos pesos, caracterizados também como problemas de saúde pública, por gerar um custo elevado de despesas médicas hospitalares, com as internações dos RN em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Diversos estudos tem procurado relacionar a gravidez na adolescência e as características socioeconômicas dos pais com esse fato (COSTA; SENA; DIAS, 2011). CONTRIBUIÇÃO DOS MODELOS FAMILIARES
3 A gravidez em adolescentes de classes populares foi estudada a partir da investigação dos modelos familiares e da classe social e, por conseguinte, da articulação entre família/adolescente grávida/classe social. É notória a mudança familiar das últimas décadas. Modelos considerados antigos não são mais bem vistos no século XXI, o autoritarismo e o maior poder de decisão dos pais em relação aos atos sexuais dos filhos não se enquadram nos moldes atuais da população brasileira. Atualmente, a maior liberdade e o maior acesso as práticas sexuais acarretam em problemas sérios, como por exemplo, a utilização indiscriminada de contraceptivos, na maior prática de abortos, maiores problemas patológicos relacionados as DSTs, e em essencial a problemática socioeconômica que esse quadro traz. Uma vez que, a adolescente grávida ficará com acesso mais restrito a educação, a área de trabalho dentre outros. O ponto de vista humano ao mesmo tempo em que faz essa liberação repreende essas adolescentes que tiveram filhos precocemente. A maioria das adolescentes abandona os estudos para cuidar da criança, ocorrendo aumento dos riscos de desemprego, mudança de estrato socioeconômico e dependência econômica dos familiares, perpetuando-se assim, a pobreza, educação limitada, abuso e violência familiar tanto à mãe quanto à criança (Suzuki 2007). No estudo realizado, notou-se a incidência de casos em todas as classes econômicas, desde a classe alta até a mais baixa, porém, a classe dita mais pobre apresentou os maiores índices de gravidez em adolescentes. Esse fato pode ser caracterizado pelo o falho acesso as informações, a baixa escolaridade dessas famílias e até mesmo o não conhecimento dos meios contraceptivos, como por exemplo, o uso de preservativos. De fato, existe uma grande necessidade de enquadramento dessa classe em políticas de inclusão social para mostrar a esses jovens os riscos que eles passam ao praticar tais atos sem proteção e conhecimento. Em geral, uma família pertencente às classes populares brasileiras tende a educar os filhos com vistas à obtenção de empregos para ajudar no orçamento familiar. O casamento é algo que pode ocorrer precocemente, sendo acompanhado, muitas vezes, de vários filhos. Uma família da classe média, por sua vez, já prioriza a atividade intelectual dos seus jovens. O casamento é, geralmente, adiado para após o término dos estudos. O ambiente familiar também tem relação direta com o início da atividade sexual. Experiências sexuais precoces são observadas em adolescentes em cuja família, os irmãos mais velhos já apresentam vida sexual ativa. É comum encontrar adolescentes grávidas cujas mães
4 também iniciaram a vida sexual precocemente ou engravidaram durante a sua adolescência (COSTA; SENA; DIAS, 2011). FATOR FEMINILIDADE E MATERNIDADE A questão do feminino na teoria psicanalítica está intimamente relacionada com a maternidade. Freud (1905) mostra que é na adolescência que se dá a finalização do processo de construção da sexualidade, através da capacidade do jovem de procriar, processo esse que se inicia na mais remota infância. Esse momento é bastante importante para a espécie e fruto de muitas angústias para o jovem. No caso específico da menina, será através do desejo de ser mãe que ela se tornará mulher. Assim, para Freud, o caminho que leva à feminilidade se dá por meio da maternidade. A maternidade se coloca, assim, como um atributo que caracteriza o feminino. Através do filho, um ser que é uma extensão do seu próprio corpo, a mulher se sente plena, nada lhe falta. O filho funciona como um objeto que completa as suas carências e os seus desejos mais íntimos. O desejo de ter um filho, isto é, o desejo de ter o falo, é algo bastante forte no inconsciente feminino (Freud, 1931). A essa gravidez, fruto da estreita relação entre o corpo e a pulsão sexual, denominaremos aqui de gravidez hormonal. A partir daí, dois desfechos se colocariam para a adolescente: o desejo negativo de ter o filho, expresso no aborto, e o desejo positivo de ter o filho, situado na maternidade. Assim, esse desejo positivo ou negativo de ter um filho na adolescência é um fenômeno universal, visto que pode ocorrer com todas as adolescentes, indistintamente. Os fatores não-biológicos, ou seja, os aspectos culturais e psicológicos, é que irão determinar o destino dessa gravidez hormonal (Dadoorian, 1994). METODOLOGIA Trata-se de um estudo de revisão da literatura de caráter descritivo e exploratório. A revisão da literatura é o delineamento de um estudo secundário através de outros estudos, ditos primários, que são analisados de forma criteriosa e avaliados quanto à sua qualidade científica para serem incluídos, ou não, numa análise. A pesquisa descritiva tem por finalidade proporcionar maiores informações sobre determinado assunto; facilitar a delimitação de uma temática de estudo; definir os objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou, ainda, descobrir um novo enfoque para o estudo que se
5 pretende realizar. Pode-se dizer que a pesquisa exploratória tem como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Os artigos utilizados para o devido estudo foram selecionados, por meio de busca eletrônica de artigos das bases de dados biblioteca Cochrane, Medline, Lilacs, Scielo e PubMed. DISCUSSÃO A busca por artigos para realizar esta revisão demonstrou que existe uma vasta literatura que aponta a associação da idade materna e sua condição socioeconômica para o grande número de adolescentes grávidas. Notou-se a importância da implantação de políticas de enquadramento social para as classes econômicas mais baixas, visando um maior conhecimento desses jovens sobre os assuntos que envolvem a prática sexual. Uma vez que, a classe predominante com jovens grávidas é dita a classe com menor poder aquisitivo. Outro fator abordado foi à contribuição da família para o problema abordado. A família contribui de forma direta para o surgimento de adolescentes grávidas. E, além disso, o fator feminilidade e maternidade que caracterizam a importância da mulher engravidar para firmar seu lado feminista. CONCLUSÃO A constatação da grande incidência de gravidez levada a termo em adolescentes de classes populares e a insuficiência dos referenciais teóricos explicativos indicou a necessidade de se investigar o significado da gravidez através do discurso dessas adolescentes sobre o seu estado e da influência dos fatores sociais, culturais e econômicos. A partir dessa análise, pode-se dizer que as causas da gravidez na adolescência não se referem exclusivamente à desinformação sexual, mas ao desejo universal de ter um filho na adolescência, seja para a adolescente testar a sua feminilidade através da constatação da sua capacidade reprodutiva, seja pelo próprio desejo de ter um filho. Ao analisar o contexto social dessas jovens, observa-se que a função social feminina está relacionada à maternidade, ou seja, ser mulher para essas adolescentes equivale a ser mãe. O desejo de ter um filho é um rito de passagem, uma mudança substancial no status: de menina para mulher. Evidenciou-se que a vivência de situações de carência afetiva e relacional com a família pode também provocar o desejo na adolescente de ter um filho, em que este aparece como o objeto privilegiado capaz de reparar essa carência.
6 Com isso, é necessária uma maior atenção dos órgãos públicos com essa faixa etária, buscando levar maiores informações para esses adolescentes, buscando cada vez mais minimizar a gravidez precoce e consequentemente diminuir os agravos que essa situação acarreta, seja eles sociais, econômicos ou culturais. REFERÊNCIAS CHABON, B; FUTTERMAN, D; HOFFMAN, N.D. HIV and AIDS in adolescents. Pediatric Clin. North Am. 2000; 47(1): COSTA, E.L; SENA, M.C.F; DIAS, A. Gravidez na adolescência - determinante para prematuridade e baixo peso. Com. Ciências Saúde - 22 Sup 1:S183-S188, DADOORIAN, D; Gravidez na Adolescência: um Novo Olhar. Psicologia ciência e profissão, v. 21, n. 3, DADOORIAN, D. A gravidez desejada em adolescentes de classes populares. Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (1994). Freud,S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Ed.Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. GUBERT, D; MADUREIRA, V. S. F. Iniciação sexual de homens adolescentes. Ciênc. Saúd. Coletiva., Rio de Janeiro, v. 13, n. 2 Suzuki CM, Ceccon MEJ, Falcão MC, Vaz FAC. Análise comparativa da frequência de prematuridade e baixo peso entre filhos de mães adolescentes e adultas. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum. 2007; 17(3): WHO-World Health Organization. Adolescent friendly health services an agenda for hange. Geneva, Disponível em >. Acessado em 03 nov
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