PERFIL DAS GESTANTES ADOLESCENTES EM UM MUNICÍPIO DO PARANÁ ENTRE OS ANOS DE 2010 E Thais Rocha da Silva (PIBIC/UENP)
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1 PERFIL DAS GESTANTES ADOLESCENTES EM UM MUNICÍPIO DO PARANÁ ENTRE OS ANOS DE 2010 E 2014 Thais Rocha da Silva (PIBIC/UENP) thaisr_tha@hotmail.com Carolina Fordellone Rosa Cruz (orientador) Centro de Ciências Biológicas - Campus Luiz Meneghel - Universidade Estadual do Norte do Paraná fordellone@uenp.edu.br Resumo Introdução: este estudo foi realizado em um município do Paraná com o objetivo de identificar a incidência, o perfil socioeconômico e o motivo da gravidez nas gestantes adolescentes. Materiais e métodos: estudo descritivo e retrospectivo com base de dados primários de caráter quantitativo. Resultados: o resultado obtido mostrou que nesses cinco anos, 2012 foi o ano com maior taxa de incidência de gestantes adolescentes, 5,29 por 1000 mulheres, o principal motivo da gravidez foi o descuido computando 59% (37), 23,81% (15) das adolescentes tinham 19 anos ao engravidar, 79,19% (48) eram de cor/raça não branca, 42,86% (27) possuem ensino fundamental incompleto, 73,02% (46) não possuem ocupação renumerada (do lar) e 55,55% (35) possuíam renda familiar até um salário mínimo. Considerações Finais: a educação escolar e em saúde, o preparo e comprometimento dos profissionais tornam-se componentes fundamentais no trabalho com adolescentes. Palavras-chave: Gravidez; Adolescência; Gravidez na adolescência. Fundamentação teórica Adolescência é um período de transição entre a infância e a vida adulta, que assume diferentes configurações psicossociais. Em termos cronológicos, segundo a Organização Mundial da Saúde, a adolescência compreende a fase entre os 10 e os 19 anos. Em termos psicológicos e fisiológicos, esse período do desenvolvimento é marcado por intensas modificações biológicas, psicológicas e sociais, que anunciam a passagem da infância para a vida adulta. Embora não se resuma à questão biológica, a adolescência frequentemente está associada às transformações físicas decorrentes da puberdade, que transformam o corpo infantil em corpo adulto, capacitando-o à reprodução (1). Por ser um período muito especial para a construção do indivíduo e para sua inserção social, deve ser entendido como de risco e vulnerabilidade (2). A ocorrência da gravidez na adolescência pode ser influenciada por inúmeros fatores, desde aqueles com origem social aos de caráter biológico, tais como contexto econômico desfavorecido; desejo de inserção precoce na vida adulta; mudança de status e obtenção de prestígio social; repetição de história familiar; desconhecimento e uso inadequado de métodos contraceptivos; relações de gênero; diminuição da idade de menarca; carência de serviços específicos para atender essa faixa etária; e outros fatores ligados à subjetividade do adolescente (3).
2 A saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes é motivo de constante preocupação para pais, educadores, profissionais de saúde e governantes, uma vez que suas consequências são de alto impacto individual e social. É fato que a associação entre conhecimento de métodos contraceptivos e prática do sexo seguro é frágil, levando à gravidez na adolescência e ao contágio de doenças sexualmente transmissíveis (4). Já em relação à prevenção da gravidez, resultados de pesquisas revelam que a maioria das adolescentes não faz uso dos métodos contraceptivos, embora elas os conheçam e saibam onde encontrá-los. Tal constatação confirma que o simples conhecimento sobre contracepção não garante que a prevenção aconteça e aponta questionamentos sobre a qualidade dos programas voltados para a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes (5). O adolescente, não sendo mais criança e não sendo ainda adulto, tem dificuldade em se definir como individuo, em assumir seu papel social e suas novas responsabilidades, inclusive com o autocuidado (6). A equipe de saúde pode auxiliar no enfrentamento de momentos conflituosos; na compreensão de sua ambiguidade de sentimentos e na apreensão de comportamentos geradores de práticas saudáveis em relação a gravidez e ao desenvolvimento do concepto. Portanto, faz-se necessário disponibilizar espaços para a escuta dos jovens, possibilitando dar visibilidade as suas necessidades durante o processo reprodutivo. Durante a gestação e após o nascimento surge o sentido da maternidade, transformando a adolescente em mãe, que necessita do apoio familiar e afetivo para assumir essa identidade, o que evidência a importância do apoio do companheiro e de outros membros da família para que consiga transitar da adolescência para a função materna (7). Este trabalho teve como finalidade identificar no município de Bandeirantes-PR, a incidência de gestantes adolescentes entre os anos de 2010 e 2014 e levantar quais foram os motivos que levaram as adolescentes a engravidarem, descrevendo as características socioeconômicas das adolescentes. Materiais e métodos Foi realizado um estudo descritivo e retrospectivo com base de dados primários de caráter quantitativo. A pesquisa foi realizada no município de Bandeirantes, o qual está localizado no norte do Paraná. Sua população em 2010 foi estimada em habitantes, sendo que habitantes são mulheres e são homens. O número de mulheres na idade entre 10 a 19 anos somam habitantes. O município de Bandeirantes conta com mulheres na área urbana e na zona rural (8). Foram incluídas todas as adolescentes com até 19 anos que tiveram filho nos anos de 2010 a 2014, que residem no município de Bandeirantes-PR e concordaram em participar da pesquisa. Foram excluídas as adolescentes, maiores de 19 anos, que não residem no município de Bandeirantes-PR, moradoras da área rural, as que não aceitaram ou não foram autorizadas a participarem da pesquisa e as que mudaram de endereço, as que não foram encontradas em seus domicílios ou não atenderam e as que o endereço não existia. A população foi composta por todas as adolescentes com até 19 anos que tiveram filhos nos anos de 2010 a 2014 residentes no município de Bandeirantes PR e que foram cadastradas na Secretária Municipal de Saúde. A amostra total foi composta por 354 adolescentes mas apenas 63 adolescentes foram entrevistadas, dessa amostra 30 adolescentes foram excluídas por morarem em área rural, 59 adolescentes foram excluídas por não serem encontradas em sua residência com três tentativas de retorno, 64 endereços não existiam e 138 mudaram de endereço com
3 perda de contato. As informações necessárias para realização deste trabalho foram obtidas através do cadastrado das gestantes na Secretaria Municipal de Saúde do município de Bandeirantes, após autorização do responsável pelo setor. O departamento da Secretária da Saúde forneceram os dados sobre a quantidade de gestantes adolescentes cadastradas no Sistema Único de Saúde (SUS) nos anos de 2010 a 2014 suas idades além do fornecimento dos endereços das adolescentes. Essas informações estão armazenadas em livros de registros e será mantido total sigilo, os nomes e endereços não foram publicados e nem divulgados. As informações foram utilizadas apenas para fins acadêmicos. Para a população foram utilizados dados populacionais obtidos junto à Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os dados foram obtidos por um formulário preenchido através de visitas domiciliares realizadas a cada uma das adolescente. As visitas foram realizadas pelo próprio pesquisador diretamente aos domicílios sem agendamento ou contato prévio. As entrevistas foram realizadas utilizando-se um formulário estruturado aplicado individualmente. As participantes foram procuradas pela pesquisadora, em seus domicílios e informadas sobre a pesquisa através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). As adolescentes menores de 18 anos que aceitaram participar da pesquisa foram autorizadas por um responsável maior de idade, o qual assinou o TCLE para menor antes das adolescentes responderem ao questionário. Foi elaborado um banco de dados em planilha Excel 2013 para o estudo das variáveis com as seguintes informações: Perfil socioeconômico: iniciais da adolescente, iniciais do responsável, data de nascimento, relação com o chefe da família, vínculo, escolaridade, raça/cor, renda familiar, profissão, ocupação extra. Primeiramente foram calculadas as incidências anuais de gestantes adolescentes para o município de Bandeirantes entre os anos de 2010 e As incidências foram calculadas de acordo com a seguinte fórmula: Taxa de Incidência= Nº de gestantes/ População de mulheres do período x (9). Os demais dados foram tabulados e agrupados em uma planilha no Excel 2013, sendo posteriormente transformados em figuras e tabelas. A análise foi por meio de frequência absoluta e relativa. O projeto foi aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde do município de Bandeirantes - Paraná e pela secretária municipal de saúde. O projeto foi encaminhado para o comitê de ética em pesquisa via plataforma Brasil. Após aprovação da plataforma Brasil as participantes receberam explanação verbal sobre o estudo, foram identificadas e convidadas a participar do estudo, e solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) por um responsável maior de idade. Esta pesquisa foi realizada respeitando os princípios éticos segundo a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde que tem como função ditar normas e procedimentos de pesquisas que envolvem seres humanos (10). Resultados Em Bandeirantes-PR no ano de 2012 foi registrado o maior número de incidência de gestantes adolescentes com 5,29 por 1000 mulheres. Os motivos que levaram as adolescentes a engravidarem tiveram como principal causa o descuido com 59% (37), seguido por vontade própria 40% (25) e por falta de informação 1% (1). Nas variáveis socioeconômicas a idade média que as adolescentes engravidaram foi de 19,57. A cor/raça não branca predominou com 63,49% (40). A maioria possuía o ensino fundamental incompleto 42,86% (27) e apenas 23,81% (15) possuíam o ensino médio completo. 73,02% (46) tinham como ocupação/profissão do lar, 12,70% (8) era estudante e 14,29 (9) tinham outra ocupação, como, atendente, cabeleireira, chapeira, cuidadora de idoso, faxineira,
4 manicure, secretária, serviços gerais e vendedora. Em relação à renda familiar 55,55% (35) tinham como renda até um salário mínimo, 41,27% (26) de um a três salários mínimos e apenas 3,17% (2) de quatro a dez salários mínimos. Considerações Finais O perfil obtido das gestantes adolescentes mostra que os dados encontrados são semelhantes com os da literatura: gravidez ocasionada por descuido, cor/raça não branca, abandono escolar, ausência de ocupação remunerada, baixa renda familiar. Os resultados da pesquisa demonstraram que a gravidez na adolescência está relacionada com à baixa escolaridade, baixo poder aquisitivo, de cor não branca e falta de estrutura familiar, o que nos leva a conclusão que, a população jovem dessas áreas, possuem recursos limitados e com acesso restrito aos serviços de saúde, o as leva não ter uma idealização e correr atrás de seus objetivos. Demonstrou também que a maior parte da gravidez na adolescência ocorreu por descuido, onde não causou angustias nem arrependimento nas jovens, que relataram usar a gravidez como motivo para saírem de casa, mesmo tendo um bom relacionamento familiar. Com isso, torna-se evidente o papel dos profissionais de saúde na atuação junto aos adolescentes. As orientações e assistências deveriam ser iniciadas na pré-adolescência, antes de ocorrer a gravidez. Tais soluções poderiam proceder através de parcerias com escolas e espaços sociais onde jovens frequentam, fornecendo programas, discussão em grupos, orientações sobre os métodos contraceptivos e interceder junto com a família para mostrar a importância de um planejamento familiar, assim prevenindo a gravidez indesejada ou até mesmo para as adolescentes terem uma idealização em suas vidas. Quando já ocorrida a gravidez, é necessário dar apoio e fazer com que a gravidez seja uma experiência de amadurecimento e não um evento traumático. A gravidez na adolescência, seja ela por falta de orientação, informação, falta de acesso aos meios contraceptivos ou pelo contexto em que se encontra, é um problema que afeta a sociedade de uma forma geral, acarretando uma diminuição da possibilidade de melhoria da situação socioeconômica das jovens. Dessa maneira torna-se necessário que o profissional de saúde entenda e reconheça os adolescentes nos seus vários espaços e promova a promoção e a prevenção desses adolescentes. A educação escolar e em saúde, o preparo e comprometimento dos profissionais tornam-se componentes fundamentais no trabalho com adolescentes. Referências 1- Patias ND, Dias ACG. Fatores que tornam adolescentes vulneráveis à ocorrência de gestação. Rev Adolescência e Saúde 2011 abr/jun; 8(2): Silva JLP, Surita FGC. Gravidez na adolescência: Situação Atual. Rev Bras de Ginecol. Obstet ago; 34(8): Gontijo DT, Carleto DGS, Martins S, Alves HC. Gravidez na adolescência: Mapeamento da produção científica publicada em periódicos nacionais entre 2003 e Rev Triangulo Ensino Pesquisa e extensão 2009 jul/dez; 2(2):
5 4- Guanabens MFG, Gomes AM, Mata ME, Reis ZSN. Gravidez na adolescência: um desafio à promoção da saúde integral do adolescente. Rev Brasileira de Educação Médica 2012 jan/mar; 36(1) Supl Souza AXA, Nobrega SM, Coutinho MPLC. Representações sociais de adolescentes grávidas sobre a gravidez na adolescência. Rev Psicologia & Sociedade 2012; 24(3): Fonseca AD, Gomes VLO, Teixeira KC. Percepção de adolescentes sobre uma ação educativa em orientação sexual realizada por acadêmicos(as) de enfermagem. Rev Enfermagem 2010 abr/jun; 14(2): Almeida IS, Souza IEO. Gestação na adolescência com enfoque no casal: Movimento existencial. Rev Escola Anna Nery 2011 jul/set; 15(3): BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Estimativa da população Disponível em < lang=&codmun=410240&idtema=130&search=parana%7cbandeirantes%7cestimativada-populacao-2014-> Acesso em 12 de novembro Medronho RA., et al. Epidemiologia. 2.ed. São Paulo: Atheneu; BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução 466/2012. Disponível em Acesso em 24/02/2016.
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