AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE DIFERENTES FUNGICIDAS NO CONTROLE in vitro DE Myrothecium roridum
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1 Área temática: Fitopatologia AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE DIFERENTES FUNGICIDAS NO CONTROLE in vitro DE Myrothecium roridum Andréia Quixabeira Machado (UNIVAG/GPA-CAB / machadoaq@terra.com.br), Daniel Cassetari Neto (UFMT/FAMEV), Nilma Rocha da Silva (UNIVAG/GPA-CAB), Juliana Gusmão Abdo (UFMT/FAMEV), Kamila Etienne Umann (UFMT/FAMEV), Luciana Sousa Cassetari (UFLA). RESUMO A mancha de Myrothecium foi constatada nas principais regiões produtoras de algodão na safra 2003/2004 causando perdas de aproximadamente 50% da produção. O objetivo deste trabalho foi avaliar diferentes fungicidas no controle in vitro de Myrothecium roridum. O ensaio constou de 10 tratamentos em delineamento inteiramente casualizado com 4 repetições. Os fungicidas foram adicionados ao meio BDA nas doses recomendadas para a cultura do algodão. As placas de Petri contendo BDA e fungicida foram inoculadas com um disco de micélio de 5 mm de diâmetro do fungo Myrothecium e mantidas em incubação por 7 dias. Foi avaliado o índice de velocidade de crescimento micelial, diâmetro médio das colônias e concentração de esporos. Os melhores resultados na inibição do crescimento micelial do fungo foram obtidos com os fungicidas Carbendazim, Tebuconazole, Pyraclostrobin, Tiofanato metílico e Propiconazole + Trifloxystrobin, nas doses avaliadas. Os ingredientes ativos Carbendazim, Tebuconazole, Pyraclostrobin, Tiofanato metílico, Trifenil hidróxido de estanho e Propiconazole + Trifloxystrobin foram eficientes na inibição da esporulação do fungo Myrothecium roridum. Palavras-chave: algodão, Myrothecium roridum, controle, fungicidas. INTRODUÇÃO A área cultivada com algodão na safra 2006/2007 foi de 1,07 milhão de hectares, superior a da safra anterior em 24,4% (209,1 mil hectares). Esse incremento ocorreu devido aos baixos preços da soja e do milho na época da implantação dessas culturas, o que estimulou os produtores a migrarem para o algodão (CONAB, 2007). Segundo Juliatti et al., 1999 o algodoeiro tem apresentado novas doenças ou surtos epidêmicos causados por fungos de importância secundária devido à introdução de novas variedades de origem australiana ou americana sem uma base de sustentação em programas de melhoramento no Brasil. A mancha de Myrothecium foi constatada nas principais regiões produtoras de algodão na safra 2003/2004 nos Estados do Maranhão, Mato Grosso, Goiás e Bahia. No Estado do Maranhão, esta doença causou perdas de aproximadamente 50% na produção de algodão (CHITARRA e MEYER, 2004; CHITARRA, 2005). A mancha de Myrothecium é considerada uma das doenças que causam surtos epidêmicos esporádicos, embora em anos com excesso de umidade e altas temperaturas podem ocorrer perdas significativas (SUASSUNA et al., 2006). Myrothecium roridum Tode ex Fr é um fungo habitante do solo, saprófita, oportunista, polífago e sem hospedeiro específico (MIRANDA et al., 2005) que sobrevive em restos culturais e que pode ser transmitido pelas sementes. Em condições favoráveis, o fungo é capaz de penetrar nos tecidos de plantas danificadas ou estressadas, causando problemas de desfolha e apodrecimento de maçãs, acarretando perdas de produção. Culturas de valor econômico como a soja, milho, café, trigo, batata,
2 amendoim, berinjela e girassol também são hospedeiros do fungo (CHITARRA e MEYER, 2004; CHITARRA, 2005). O objetivo deste trabalho foi avaliar a eficiência de diferentes fungicidas no controle in vitro de Myrothecium roridum. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no laboratório de fitopatologia, do UNIVAG - Centro Universitário, em Várzea Grande, Mato Grosso, no período de junho a outubro de Folhas de plantas de algodão apresentando sintomas da mancha de Myrothecium foram coletadas em lavoura comercial no município de Campo Verde, em maio de O material coletado foi submetido à incubação, em placas de Petri de 15 cm de diâmetro contendo três folhas de papel de filtro umedecidas com água destilada e esterilizada. As placas foram mantidas em câmara de incubação por sete dias, em temperatura de 22ºC ± 2ºC e fotoperíodo de 12 horas. Após a incubação foi realizado o isolamento do fungo para o meio BDA (Batata-Dextrose-Agar), em câmara de fluxo laminar, com o auxilio de uma alça de platina de ponta fina flambada realizando a transferência dos esporodóquios para as placas de Petri de 10 cm de diâmetro. Após o isolamento, as placas foram mantidas em câmara B.O.D (Biological Oxygen Demand), para incubação por 10 dias em temperatura de 25 C, em ausência de luz. Na instalação do ensaio os fungicidas foram adicionados ao meio BDA com o auxilio de micropipeta nas doses recomendadas para a cultura do algodão. As diferentes misturas de BDA + fungicida representantes de cada tratamento foram distribuídas em placas de Petri de 10 cm de diâmetro. Após o resfriamento do BDA contendo os fungicidas, adicionou-se um disco de micélio de 5 mm de diâmetro do fungo Myrothecium roridum, em cada placa. As placas foram mantidas em câmara de incubação em 22ºC ± 2ºC fotoperíodo de 12 horas por sete dias. Durante o período de incubação, foi feita a medição diária do diâmetro da colônia, para determinar o índice de velocidade de crescimento micelial (IVCM), segundo Oliveira (1991). IVCM = C 1 /N 1 + C 2 /N C n /N n Onde: IVCM = índice de velocidade de crescimento micelial; C 1, C 2 e C n = crescimento micelial na primeira, segunda e n-ésima avaliação; N 1, N 2 e N n = número de dias de avaliação. Aos sete dias de incubação foi avaliado o diâmetro médio das colônias utilizando-se uma régua. Após o período de incubação avaliou-se a concentração de esporos de Myrothecium roridum. A suspensão de esporos foi obtida por meio de lavagem das placas com 50 ml de água destilada. Para a avaliação da concentração de esporos utilizou-se a câmara de Neubauer. Após a contagem dos esporos realizou-se o cálculo da concentração dos mesmos por meio da fórmula: N = n(a) x 1,6 x 10 5 Onde: N = número de esporos/ml; n(a) = número médio de esporos em (a) O ensaio constou de 10 tratamentos em delineamento inteiramente casualizado, com 4 repetições. A unidade experimental constou de 5 placas de Petri de 10 cm de diâmetro (Tab. 1). O contraste de médias para comparar tratamentos nos parâmetros avaliados foi realizado pelo teste de F. As médias entre os tratamentos foram comparadas pelo teste de Tukey (P 0,05).
3 Tabela 1. Tratamentos avaliados no controle in vitro de Myrothecium roridum. Várzea Grande, MT Tratamentos (nome do i.a) Doses (ml pc/ha) 1 Carbendazim 500 Tebuconazole 750 Pyraclostrobin 400 Azoxystrobin 200 Tiofanato Metilico 800 Flutriafol 600 Cyproconazole + Azoxystrobin 300 Propiconazole + Trifloxystrobin 600 Trifenil hidróxido de estanho 500 Testemunha - 1 Doses recomendadas para a cultura do algodão RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados observados mostram que houve diferença significativa entre os tratamentos para todos os parâmetros avaliados (Tab. 2). Para a avaliação do IVCM observou-se que todos os tratamentos proporcionaram redução no crescimento micelial do fungo Myrothecium roridum, porém, os tratamentos Carbendazim (500mL p.c/ha), Tebuconazole (750mL p.c/ha), Pyraclostrobin (400mL p.c/ha), Tiofanato metílico (800mL p.c/ha) e Propiconazole + Trifloxystrobin (600mL p.c/ha), registraram inibição total no desenvolvimento do fungo nas condições in vitro (Tab. 2). Dentre os tratamentos, Flutriafol (600mL p.c/ha), Cyproconazole + Azoxystrobin (300mL p.c/ha) e Azoxystrobin (200mL p.c/ha), durante o período de incubação reduziram o IVCM, porém, quando comparados aos demais tratamentos foram considerados menos eficazes para o controle do patógeno (Tab. 2). O ingrediente ativo Trifenil hidróxido de estanho (500mL p.c/ha), também permitiu o crescimento micelial, no entanto, proporcionou a inibição total da esporulação do patógeno, devendo ser considerado em avaliações futuras de controle da doença em condições de campo (Tab. 2). Após a avaliação do diâmetro médio de colônia (DMC) e da Concentração de esporos, foi possível observar a inibição total do desenvolvimento do fungo quando submetido ao tratamento com os fungicidas Carbendazim (500mL p.c/ha), Tebuconazole (750mL p.c/ha), Pyraclostrobin (400mL p.c/ha), Tiofanato metílico (800mL p.c/ha) e Propiconazole + Trifloxystrobin (600mL p.c/ha), sendo os mesmos considerados altamente eficientes no controle do fungo Myrothecium roridum nas condições em que foram conduzidos os trabalhos (Tab. 2). Resultados observados neste trabalho concordam com relatos de Chitarra e Meyer (2005) que afirmam a possibilidade de controle da mancha de Myrothecium através do uso dos fungicidas recomendados para o controle da ramulose e da mancha de ramularia. Medeiros et al. (2005) constataram uma forte inibição do crescimento micelial de M. roridum com o uso de tebuconazole e cloreto de benzalcônio, além de fungicidas cúpricos. O efeito inibidor do ingrediente ativo tebuconazole no desenvolvimento de Myrothecium roridum, também foi observado neste trabalho, onde os resultados indicaram controle de 100% do patógeno. Silva et al. (2006) relataram à eficiência dos ingredientes ativos pyraclostrobin + epoxiconazole, tebuconazole, metconazole e azoxystrobin + ciproconazole no controle da mancha de Myrothecium.
4 Tabela 2. Avaliação in vitro do Índice de velocidade de crescimento micelial (IVCM), Diâmetro médio da colônia (DMC) aos 7 dias, e Concentração de esporos (10 5 /ml) de Myrothecium roridum submetido a diferentes tratamentos com fungicidas. Várzea Grande, MT Tratamentos IVCM DMC (cm) Concentração de Nome do i.a Doses (ml p.c/ha) esporos (10 5 )/ml 1 Carbendazim 500 0,0 a 0,0 a 0,0 a 2 Tebuconazole 750 0,0 a 0,0 a 0,0 a 3 Pyraclostrobin 400 0,0 a 0,0 a 0,0 a 4 Azoxystrobin 200 1,18 d 2,59 d 74,9 b 5 Tiofanato Metilico 800 0,0 a 0,0 a 0,0 a 6 Flutriafol 600 0,82 c 1,23 c 0,92 a 7 Cyproconazole + Azoxystrobin 300 0,85 c 1,49 c 78,7 bc 8 Propiconazole + Trifloxystrobin 600 0,0 a 0,0 a 0,0 a 9 Trifenil hidróxido de estanho 500 0,68 b 0,89 b 0,0 a 10 Testemunha - 1,48 e 3,86 e 1596,67 d CV (%) - 2,23 3,91 38,38 Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Em trabalho realizado por Kobayasti et al (2006), o controle do crescimento micelial do fungo Myrothecium roridum foi obtido com os ingredientes ativos Tebuconazole (1,0L p.c/ha), Trifloxystrobin + Propiconazole (0,6L p.c/ha), Tiofanato metílico + Clorothalonil (2,0L p.c/ha) e Tiofanato metílico + flutriafol (1,0L p.c/ha). Os autores relatam também o efeito dos ingredientes ativos Carbendazim (1,0 L p.c/ha), Tetraconazole (0,7 L p.c/ha), Procloraz (1,0 L p.c/ha), Flutriafol (0,7 L p.c/ha) e Trifloxistrobin + Ciproconazole (0,6 L p.c/ha) na inibição da produção de conídios do patógeno. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos e nas condições em que foi conduzido este trabalho podemos concluir que os ingredientes ativos Carbendazim, Tebuconazole, Pyraclostrobin, Tiofanato metílico e Propiconazole + Trifloxystrobin, nas doses avaliadas foram eficientes no controle in vitro de Myrothecium roridum inibindo o crescimento micelial do fungo. Os ingredientes ativos Carbendazim, Tebuconazole, Pyraclostrobin, Tiofanato metílico, Trifenil hidróxido de estanho e Propiconazole + Trifloxystrobin, nas doses avaliadas, foram eficientes na inibição da esporulação do fungo Myrothecium roridum. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO 1. Permitir a seleção de moléculas fungicidas e suas misturas, com potencial de utilização a campo no controle de Myrothecium roridum em algodão. 2. Contribuir com informações que possibilitem a adoção de programas de manejo visando à redução dos riscos do desenvolvimento de populações Myrothecium roridum resistentes aos fungicidas utilizados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHITARRA, L.G. Qualidade ameaçada. Revista Cultivar Grandes Culturas. Caderno Técnico. ano VII, n.73, p
5 CHITARRA, L.G.; MEYER, M.C. Nova ameaça novo fungo, causador da mancha de Myrothecium no algodão preocupa produtores e pesquisadores. Revista Cultivar Grandes Culturas. Ano VI. n.62, p COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB). Sétimo levantamento de avaliação da safra 2006/2007. Abril/2007, 20p. JULIATTI, F.C.; TAKATSU, A.; FRANCO, G.V. Surtos epidêmicos de manchas foliares em variedades de algodão recém introduzidas no cerrado mineiro. Fitopatologia Brasileira. v.24, Suplemento, p KOBAYASTI, L. ; CHITARRA, L.G.; MEIRA, S.A.; CORASSA, J.; CORDENONZI, P. Efeito de diferentes fungicidas in vitro no crescimento micelial de Myrothecium roridum. Fitopatologia brasileira, Brasília, v. 31, p (Suplemento). MEDEIROS, A.R.; PAZ LIMA, M.L.; REIS, A.; QUEZADO-DUVAL, A.M. Efeito de fungicidas sobre o crescimento in vitro de Myrothecium roridum. Fitopatologia Brasileira, Brasilia Suplemento, p MIRANDA, B.E.; PAZ LIMA, M.L.; QUEZADO-DUVAL, A.M; REIS, A. Infecção cruzada de isolados de Myrothecium sobre espécies ornamentais e hortaliças. Fitopatologia Brasileira, Brasília Suplemento, p OLIVEIRA, J.A. Efeito do tratamento fungicida em sementes e no controle de tombamento de plântulas de pepino (Cucumis sativus L.) e pimentão (Capsicum annum L.). Dissertação (Mestrado em Agronomia / Fitossanidade) - Universidade Federal de Lavras, Lavras p. SILVA, J.C.; MEYER, M.C.; COUTINHO, W.M.; SUASSUNA, N.D. Fungitoxicidade de grupos químicos sobre Myrothecium roridum in vitro e sobre a mancha-de-mirotécio em algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 41, n.5, p , SUASSUNA, N.D.; CHITARRA, L.G.; ASMUS, G.L.; INOMOTO, M.M. Manejo de doenças do algodoeiro. Campina Grande: Embrapa Algodão, p. (Embrapa Algodão. Circular Técnica, 97).
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