5.4 - Frutas Cítricas



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Transcrição:

93 5.4 - Frutas Cítricas Os principais países produtores de citros, segundo a FAO, são China, Brasil e Estados Unidos, seguidos por México, Espanha e Itália. Entretanto, por espécie o Brasil é destacadamente o primeiro produtor mundial de laranja, seguido pelos Estados Unidos, enquanto a China se destaca na produção de tangerinas. Na China, as áreas de plantio com tangerinas ocupam ao redor de 55% do total da área plantada com cítricos, ao passo que a produção de laranja, principalmente de variedades para consumo in natura, está aumentando aos poucos, para atender as preferências dos consumidores. Assim, a produção de suco concentrado é muito reduzida e de custos elevados, pois as fábricas só podem funcionar em curto período durante o ano e o rendimento industrial é menor (quase 30%) que no Brasil e nos Estados Unidos. Mesmo no caso das tangerinas, a maior proporção é de fruta em calda (gomos ou inteiras), destinada ao comércio exterior. De outra parte, as importações chinesas de suco concentrado de laranja estão aumentando substancialmente para atender ao rápido aumento do consumo, tendo como grande fornecedor o Brasil, o que deverá continuar a ocorrer pelo menos nos próximos anos. Para atender a seu principal mercado importador (Estados Unidos), o México, como membro do NAFTA (Acordo Norte-Americano de Livre Comércio) e, portanto, gozando de tarifas preferenciais de exportação, terá oportunidade de voltar a produzir volumes de suco concentrado da ordem de 40 mil toneladas anualmente, como ocorria ao final da década passada. É importante ressaltar que nos últimos anos, diante das baixas cotações do suco no mercado internacional, registrou-se queda na produção de suco e o número de fábricas para

94 processamento de laranja também foi reduzido (de 22 para 7). Essa perspectiva é consistente com as expectativas de que os preços de suco se manterão firmes nos próximos três a quatro anos. Nos Estados Unidos a região mais importante de plantio de laranja é a Flórida (quase 70% do total), seguida pela Califórnia e resid ualmente pelo Texas e Arizona. Nos últimos cinco anos-safra, a produção de laranja na Flórida vinha aumentando sem o correspondente acréscimo nas quantidades consumidas de suco no mercado americano (dietas de baixas calorias e desemprego), enquanto as exportações se mantiveram ao redor de 100 mil toneladas e as importações se mostravam em queda. De acordo com dados do USDA, ao final de cada ano-safra os estoques de suco vinham se acumulando desde 1995, tendo praticamente dobrado em 2003 (cerca de 500 mil tone ladas), pressionando as cotações. Em meados de 2004 ocorreram três furacões na Flórida que provocaram perdas substanciais (-38%) na produção então esperada na safra 2004/05 da ordem de 242,0 para 151,2 milhões de caixas (40,8kg) (Figura 1). Figura 1 - Estimativa de Produção de Laranja na Flórida, 2001/02 a 2005/06. Obs.: 2005 antes e depois do Furacão Wilma. Fonte: USDA.

95 Projeções de longo prazo que haviam sido feitas em 2001 pelo Departamento de Citros da Flórida estimavam para a safra 2005/06, produção da ordem de 230 a 240 milhões de caixas. Entretanto, ainda como reflexo dos danos sofridos pelos pomares mais atingidos, as primeiras estimativas de 2005 foram de 190 milhões de caixas. Mais recentemente, pelos efeitos de novo furacão (Wilma) que atingiu principalmente a região sudoeste da Flórida, a estimativa para a safra 2005/06 é agora, ao início do período de inverno sujeito à geadas, de 163 milhões de caixas. No Estado de São Paulo, a produção de laranja nos primeiros anos da década vinha se alternando entre 328,2 milhões de caixas (safra agrícola 2000/01) a 361,8 milhões (safra agrícola 2001/02). Para a safra agrícola 2004/05 (industrial 2005/06) a estimativa final (setembro de 2005) foi de 352,1 milhões de caixas, das quais 326,0 de caixas (contra 334,4 milhões na safra anterior) na região que se considera como de citricultura comercial (EDRs com mais de 5 milhões de caixas) para suprimento do mercado de fruta fresca (interno e exportação) e para processamento industrial (Tabela 1). Tabela 1 - Produção de Laranja, São Paulo, 2000 a 2005 Safra Agrícola Pés novos (milhão) Pés em produção (milhão) Produção (milhão de caixas) 1999/2000 20,0 195,2 356,3 2000/2001 20,9 184,9 328,2 2001/2002 23,8 187,8 361,8 2002/2003 25,0 187,5 327,1 2003/2004 27,2 188,2 360,8 2004/2005 31,1 183,8 352,1 Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA) / Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI). Nesse mesmo período (cinco safras), enquanto o número total de árvores aumentou 4,5%, o de plantas em produção manteve-se praticamente igual (-0,6%) quando se considera os anos extremos, porém com decréscimo da ordem de 4 milhões de pés entre os

96 anos-safra 2003/04 e 2004/05. De outra parte, o número de pés novos (até 3 anos de plantio) tem aumentado sistematicamente, passando a representar 14,5% do número total, em contraposição a 10,1% no início da série, ou seja, evoluindo de 20,9 para 31,1 milhões de plantas. Esse cenário estaria revelando, à primeira vista, uma renovação de pomares até 2005 em contraposição a erradicação de árvores velhas e/ou com incidência de doenças e pragas, como aliás têm ocorrido em propriedades menos protegidas de fontes de inóculos. Outrossim, mostra-se consistente, com uma conjuntura de troca de pomares menos produtivos pela cultura de cana-de-açúcar. Ao mesmo tempo, tem-se observado um deslocamento da citricultura para as regiões sudoeste e oeste do estado, não só de terras mais baratas, mas de clima mais ameno. Todavia, não é possível avaliar com precisão se tais mudanças estão acontecendo em maiores ou menores proporções com pomares pequenos, do que em médias e grandes plantações. Ao se analisar a evolução das exportações brasileiras de suco concentrado de laranja, pode-se afirmar que desde a safra industrial 1992/93, quando foi superada a barreira de 1 milhão de toneladas, essa performance tem sido mantida anualmente, atingindo o volume recorde de 1,4 milhão de toneladas em 2004/05. Ademais, nos últimos cinco anos-safra a tendência foi crescente, da ordem de 26% entre os anos extremos da série, ou seja, um aumento médio de pouco mais de 5% ao ano (Tabela 2).

97 Tabela 2 - Exportações de Suco Concentrado de Laranja, por Destino, Brasil 2000/01 a 2005/06 (volume em 1.000 toneladas) Ano Safra 1 União Européia NAFTA Ásia Outros 3 Total 2000/01 791 208 92 33 1.124 2001/02 762 131 125 51 1.069 2002/03 867 231 126 61 1.285 2003/04 969 166 148 67 1.350 2004/05 979 213 149 70 1.411 Média de participação (cinco safras) 70% 15% 10% 5% 100% 2005/06 2 406 79 81 51 617 Porcentagem 66% 13% 13% 8% 100% 1 Ano safra - julho de um ano a junho do ano seguinte. 2 Julho a novembro de 2005 (cinco primeiros meses do ano-safra). 3 Inclui MERCOSUL. Fonte: ABECITRUS e SECEX. Numa visão de mais longo prazo (1970 a 2004) e considerando os volumes exportados anualmente, segundo a SECEX (ano-civil), é oportuno ressaltar que tais resultados ocorreram, primeiramente, com aumento no número de empresas processadoras (máximo de 17 de 1996 a 2000) e, posteriormente, mesmo com concentração decorrente de fusões, aquisições e saídas de empresas do setor (Figura 2). 30 25 20 15 10 5 0 7 1970 1975 Figura 2 - Número de Empresas na Indústria e Exportação Brasileira de Suco de Laranja, 1970 a 2004. Fonte: IEA. 9 11 12 12 1980 1985 1990 14 14 14 Número de Empresas 16 16 17 17 17 17 17 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 14 14 14 2002 2003 2004 Exportação de Suco de Laranja 8 1.300.000 1.200.000 1.100.000 1.000.000 900.000 800.000 700.000 600.000 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 quantidade

98 Outras observações importantes são constatar que: a) as exportações para a Comunidade Econômica Européia representaram 70% em média nos anos-safra 2000/01 a 2004/05, contra 56% no período 1990/91 a 1994/95 e tem aumentado em volumes absolutos; b) situação oposta ocorreu com os mercados do NAFTA (principalmente Estados Unidos) que, de 32% em média no primeiro qüinqüênio da década de noventa, passaram a absorver apenas 15% de 2000/01 a 2004/05; c) para os países asiáticos, enquanto os volumes absolutos vinham aumentando nos últimos cinco anos, a participação em relação ao total exportado pelo Brasil, mostrava-se praticamente igual em 10%; d) de outra parte, dobrou a participação de outros mercados (incluindo os do MERCOSUL); e) esse cenário mostra o esforço de diversificação de mercados que vem sendo feito pelas empresas exportadoras de suco. Nos primeiros cinco meses (julho a novembro) da safra 2005/06, o volume de suco embarcado aumentou no total 6%, em relação ao mesmo período na safra anterior com participação igual entre os mercados da Ásia e do NAFTA (13% cada), ao passo que para a Europa houve um recuo para 66%. Os demais mercados continuaram a absorver 8% do total. Embora o mercado americano tenha perdido a expressão comercial que representava para as exportações de suco brasileiro, as cotações na Bolsa de Nova Iorque representam ainda um parâmetro importante (ou talvez o único disponível) para acompanhamento da evolução de preços no mercado internacional. Em um mercado livre, particularmente de commodities, é justamente a colocação abrupta de estoques que torna o mercado volátil e instável, pois uma vez consumidos, os preços tendem a subir de novo, reiniciando-se um novo ciclo. Para evitar bruscas oscilações de preços, entre uma safra e outra, a indústria e os citricultores paulistas têm procurado fazer contratos por 2 ou 3 anos (alguns até 5) em

99 dólar/caixa. Outras parcelas da produção têm sido negociadas com as indústrias por meio de contratos anuais ou mercado spot. Os custos de carregamento de estoques de suco são sistematicamente suportados pelas indústrias, em função da variável taxa de juros e acoplados à pratica de hedge na Bolsa de Nova Iorque. No período 1995 a 2004 (ano civil), as cotações de suco concentrado atingiram em média US$930,00/ton., com dois períodos bem distintos, ou sejam, média de US$ 1.058,00/t de 1995 a 1999 e de US$ 802,00/t. de 2000 a 2004. Nos primeiros 6 meses de 2005, registrou-se uma diminuição passando a US$741,00/t (Tabela 3 ). Tabela 3 - Preços Médios Recebidos pelos Citricultores e de Exportação de Suco Concentrado Ano Recebido pelo Citricultor Suco Concentrado (FOB-Santos) (US$/caixa) 1 (US$/t) 1995 1,90 1.150,00 1996 2,40 1.179,00 1997 2,60 850,00 1998 2,90 1.053,00 1999 2,10 1.057,00 2000 2,00 832,00 2001 3,20 667,00 2002 3,40 867,00 2003 3,00 864,00 2004 2,50/3,20 782,00 2005 2 3,20/3,40 741,00 1 Fruta posta-fábrica. 2 2005 - janeiro a junho - dados provisórios. Fonte: SECEX e IEA. Em novembro e dezembro de 2005 as cotações internacionais, refletindo a escassez de suco no mercado, aumentaram significativamente atingindo ao redor de US$ 1.450 por toneladas posto portos europeus e US$ 1.790 na Bolsa de Nova Iorque. Como as indústrias trabalham com contratos de fornecimento de suco com prazos mais longos (três a seis meses e até um ano), na média os valores praticados no Bras il (FOB-Santos) não refletiram de imediato essa nova situação.

100 Essa conjuntura ascendente deverá se observar ao longo dos próximos meses, até início da próxima safra industrial 2006/07, quando então haverá uma avaliação melhor da produção esperada, cujas floradas em São Paulo ocorreram de maneira desuniforme de setembro a novembro de 2005. Conquanto, por conta da bienalidade da produtividade, 2006 pudesse ser considerado um ano bom, a produção deverá aumentar menos do que se poderia esperar, devido a uma série de fatores, particularmente por chuvas pouco abundantes em certas regiões; menos tratos culturais ao longo da safra 2004/05; incidência de doenças e saída de produtores da citricultura. Outro ponto, a ser ainda melhor investigado, é que tem se registrado, no geral, uma diminuição no tamanho médio dos frutos, portanto na necessidade de maior número por caixa, dificultando avaliações antecipadas de produção. Porém, para os estoques de suco no Brasil em junho de 2006 deverá ser registrado o menor nível dos últimos anos e não se pode esquecer que será um ano de copa do mundo de futebol na Alemanha, quando a demanda por suco tenderá a aumentar na Europa. Quanto à exportação de laranja fresca pode-se observar, como já assinalado no item geral sobre fruticultura, que de 2000 a 2004 os preços médios FOB-Santos sofreram poucas alterações, enquanto os volumes tiveram um pico em 2001 e, após caírem significativamente em 2002, voltaram a aumentar por dois anos seguidos. Já em 2005 (janeiro a outubro) registrou-se outra queda nos embarques e uma elevação de 26% das cotações resultando numa performance abaixo dos dez milhões de dólares. Situação semelhante ocorreu com a exportação de tangerinas, ao passo que no caso do limão (tahity) foi possível manter-se o volume exportado, com acréscimo de 18% no preço médio, resultando em valor total recorde de US$21,4 milhões. Todavia, esse panorama deverá ser visto com cautela diante da expectativa de maior pressão dos países

101 importadores sob a alegação da presença de pinta preta e outras doenças em plantios de citros no Brasil. No mercado interno brasileiro, considerando-se os preços médios mensais de laranja pagos pelos consumidores na cidade de São Paulo, divulgados pelo IEA, pode-se considerar que nos últimos três anos vinha se configurando um cenário de relativa estabilidade, com acentuada queda no segundo semestre de 2004. A partir de agosto de 2005, como o mercado de fruta fresca é bastante sensível e reflete de imediato as condições de suprimento no mercado atacadista da capital, as cotações passaram a se elevar também no varejo. Contribuem, também, para essa situação a maior proporção de fruta selecionada nos packing-houses que passou a ser enviada para processamento, aproveitando a elevação das cotações de fruta posta-fábrica (condição spot) (Figura 3). 2,60 2,40 2,20 2,00 Preço (R$) 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00 jan/00 jul/00 jan/01 jul/01 jan/02 jul/02 jan/03 jul/03 jan/04 jul/04 jan/05 jul/05 Mês Figura 3 - Evolução do Preço Médio Mensal da Laranja (R$/dz.), Estado de São Paulo, Janeiro de 2000 a Outubro de 2005. Fonte: IEA.

102 Para a safra agrícola 2004/05 o custo operacional total (COT) de produção de laranja, em São Paulo, tendo por base matrizes de coeficientes técnicos de uso de fatores de insumos agrícolas, a preços de setembro de 2005, e adotando-se a metodologia desenvolvida pelo IEA, que engloba os custos variáveis de produção (custeio agrícola) adicionados aos custos indiretos de depreciação de máquinas/implementos e do pomar, foi estimado em R$3.754,29 por hectare, para um sistema de produção com 300 pés/ha e produtividade de 600 caixas (40,8kg), significando um custo por caixa de R$6,26, com colheita por empreitada. É ainda oportuno registrar que os preços dos insumos (particularmente defensivos) pagos pelos citricultores em reais não acompanharam a queda de valor do dólar, e que os cutos estimados constituem-se apenas num referencial, lembrando que há muitos outros sistemas de produção com diferentes níveis de produtividade e, portanto, com outros custos. Ademais, a metodologia adotada não remunera os fatores fixos de produção, como o capital investido em máquinas, terra e o trabalho dos empresários. Na participação dos principais itens de custos da cultura destacam-se os gastos com defensivos (29%), colheita (21%) e adubação (17%), seguidos por operação de máquinas e depreciações (Figura 4). Cabe observar que para essa safra os números de caixas necessárias para aquisição de uma cesta de 10 defensivos comumente aplicados na citricultura atingiam em agosto (108 caixas) e em outubro (113 caixas) contra uma média de 78 caixas no período compreendido entre as safras agrícolas 2001/02 e 2004/05.

103 3,36% 14,36% 28,86% 17,33% 4,25% 11,02% 20,77% Mão de obra Operações maq. Adubos/corretivos Colheita empreitada Depreciação do Pomar Depreci. Maq e impl. Defensivos Figura 4 - Participação dos Principais Ítens no Custo de Produção de Laranja, Safra 2004/05. Fonte: IEA. No início da nova safra (2005/06) as informações disponíveis mostravam uma queda relativa para cerca de 85 caixas, que, no entanto, pode ser atrib uída ao aumento de preços médios mensais recebidos pelos produtores de laranja (Figura 5). Numa simples análise considerando todas as dezessete observações disponíveis desde outubro de 2001 a outubro de 2005, pode-se notar uma tendências nitidamente ascendente desde outubro de 2002, o que é consistente com o potencial de mercado representado pela citricultura paulista e pela maior necessidade de defensivos diante da incidência grave de doenças e pragas. Outrossim, de certa forma contribuíam para explicar o desânimo dos citricultores em permanecerem na atividade (Figura 6). Finalmente, estudo referente à produção potencial de laranja a ser obtida em São Paulo, elaborado em 2001, considerando uma projeção do número de pés e sua distribuição em quatro faixas de idade e estimativa de produtividade média por árvore, indicou que da safra industrial 2002/03 a 2007/08 que a colheita poderia estar entre 357 e 367 milhões de caixas ao final desse período (Tabela 4).

104 Caixas 110 100 102 90 85 80 76 média período 70 71 60 63 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 Figura 5 - Relação de Preços de Laranja e Defensivos, Média por Safra, 2001/02 a 2004/05. Fonte: IEA. índice 150 140 130 120 110 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 100 90 80 70 60 out jan abr ago out jan abr ago out jan abr ago out jan abr ago out Obs.: Média geral do período 79 caixas igual a 100. Figura 6 - Índices da Relação de Preços de Laranja e Defensivos, 2001/02 a 2004/05. Fonte: IEA.

105 Tabela 4 - Projeções de Produção de Laranja, São Paulo e Flórida, 2002/03 a 2007/08 Flórida (USDA) Safra 1 A B C D Estimativa observada (USDA) E São Paulo (Brasil) Estimativa F observada Observações (IEA) 2002/03 250-284 256 231-246 - 203 368 366-384 362 2003/04 252-290 260 227-244 - 242 353 348-383 327*** *** Seca 2004/05 254-295 264 227-242 - 150* 350 342-376 361 * Furacões 2005/06 256-300 268 230-240 205 163** 356 349-384 352 ** Furacão 2006/07 258-304 272 234-240 200-358 350-385 - 2007/08 259-308 274 238-240 196-356 351-386 - 1 Safra industrial. A - Departamento de Citrus da Flórida, em 1999. B - Departamento de Citros da Flórida, em 2001. C - Departamento de Citros da Flórida, em 2001, com incidência de tristeza nos pomares. D - Consultores particulares, outubro de 2005. E - Instituto de Economia Agrícola, em 2001, com produtividade por faixa etária das plantas. F - Instituto de Economia Agrícola, em 2001, com produtividade média de plantas adultas. Outrossim, observou-se que, partindo de mudas mais sadias, acréscimos mais significativos poderiam ocorrer caso a produtividade média por planta em fase de produção viesse a aumentar 10% no decorrer desses anos, atingindo 2,1 caixas. De outra parte, não foi possível nesse trabalho antecipar o surgimento do greening nos pomares paulistas e tampouco avaliar a recente pressão exercida pelo plantio de cana-de-açúcar. Cabe ressaltar, mais uma vez, que tais resultados devem ser vistos como tendências (ou projeções) e não estimativas de produção, porque a produtividade por planta pode variar de ano para ano em função principalmente de tratos culturais que os produtores dedicarão aos pomares, dos resultados financeiros, bem como do clima durante a safra, em especial na época de floradas (setembro a novembro). A título de comparação procura-se mostrar as projeções de produção em São Paulo e na Flórida, valendo-se de estudos semelhantes divulgados pelo Departamento de Citros da Flórida (Tabela 4). Mais recentemente, novos estudos estão sendo divulgados na Flórida, após a passagem de quatro furacões em dois anos, indicando a princípio que, nos próximos anos, a

106 produção dificilmente atingirá mais que 195 milhões de caixas, tendo em vista que, segundo o censo do FASS (Florida Agriculture Statistic Service) a estimativa do número total de árvores em 2006 é de 71,7 milhões, contra 83,0 milhões em 2000 (Figura 7). Figura 7 - Número de Pés de Laranja, Flórida 1966-2006. Fonte: FASS.