A COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DA CARNE BOVINA GAÚCHA: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DO MODELO DAS CINCO FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER



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Transcrição:

A COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DA CARNE BOVINA GAÚCHA: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DO MODELO DAS CINCO FORÇAS COMPETITIVAS DE PORTER Tamara Silvana Menuzzi Diverio José Pascoal José Marion Filho

2 RESUMO Este artigo tem como objetivo analisar a competitividade da indústria da carne bovina gaúcha a partir do modelo das cinco forças competitivas de Porter, no período de 1990 à 2000. Constatou-se na pesquisa que a rivalidade entre as empresas da indústria é forte e esta associada a baixa concentração e ao elevado número de frigoríficos; as barreiras de entradas são baixas nesta indústria, mas cresce com o porte da empresa, principalmente em função da baixa oferta de gado gordo para abate e da necessidade de capital; os supermercados possuem um alto poder de barganha junto à indústria; o poder de negociação dos fornecedores é baixo e existe alta ameaça de produtos substitutos como a carne frango. PALAVRAS-CHAVE: indústria; competitividade; carne bovina. ABSTRACT This article aims to analyze gaúcha cattle meat industry competitivity according to the Porter s five competitive forces model, during the period from 1990 to 2000. We noticed the rivalry among industry firms is strong and it is related to the low concentration and to the high number of refrigerators. Also, entrance barriers are restricted in this industries, but they increase according to the importance of the firm, due mainly to the low offer of fat cattle for slaughter and the necessity of money. Furthermore, supermarkets have a strong bargain power with the industry. To sum up, suppliers trade power is low and there is the threat of substitute products, such as chicken meat. KEY WORDS: industry, competitivy, cattle meat.

3 1 INTRODUÇÃO A pecuária de corte no Rio Grande do Sul, segundo EMATER (2001), ocupa uma extensão de aproximadamente 160 mil quilômetros quadrados da área total do Estado (cerca de 56%). Segundo dados do Sicadergs 1, o rebanho gaúcho está estimado em cerca de 13.473.250 milhões de cabeças. Os abates oficiais do Estado totalizaram em 2000, 1.341.722 milhões de cabeças, com uma produção de 604.147 mil toneladas de carne bovina. Conforme ainda dados Sicadergs, o Rio Grande do Sul possui atualmente 186 estabelecimentos com registro que abatem bovinos sob inspeção estadual e federal. Os municípios do Rio Grande do Sul que possuem o maior número de cabeças estão localizados na região oeste, centro-oeste e sudoeste, tais como Alegrete, Bagé e Santana do Livramento. O aumento da concorrência devido a abertura da economia, a globalização e a integração dos mercados, levou a indústria da carne gaúcha à se modernizar, uma vez que esta precisou se capacitar a comercializar internamente e no exterior, um mercado cada vez mais exigente. Assim sendo, a competitividade tornou-se o foco das preocupações dos empresários da indústria da carne bovina gaúcha. Para tanto, é necessário conhecer as forças competitivas, tais como: a rivalidade entre as empresas, a ameaça de novos entrantes, o poder de barganha dos compradores, o poder de barganha dos fornecedores e a disponibilidade de produtos substitutos. Este artigo tem como objetivo avaliar a competitividade da indústria da carne bovina gaúcha fazendo uma avaliação a partir do modelo das cinco forças competitivas de Porter, no período de 1990 à 2000. Este modelo fornece um instrumental básico para a análise das principais forças competitivas que atuam num determinado mercado. O trabalho está organizado em duas seções, além da introdução e da conclusão. Na primeira seção apresenta-se o referencial teórico e metodológico utilizado na análise da indústria da carne bovina gaúcha, e, na segunda seção, faz-se a avaliação das principais forças competitivas que atuam sobre a indústria. 2 REFERENCIAL TEÓRICO E METODOLÓGICO 2.1 Referencial teórico O modelo das cinco forças competitivas, ou "modelo de Porter", tornou-se uma das técnicas mais utilizadas na avaliação da competitividade e da concorrência. Para Porter (1989), a concorrência no mercado resulta de cinco forças competitivas, são elas: a rivalidade entre as empresas de uma mesma indústria, o risco de ingresso de novos competidores e poder de barganha dos compradores, o poder de barganha dos fornecedores e os riscos de produtos ou serviços substitutos. Porter (1989), destaca ainda que as empresas podem influenciar as cinco forças através de suas estratégias. Podem modificar a estrutura da indústria e a atratividade, para melhor ou pior. 1 Sindicato das indústrias de carne do Rio Grande do Sul, dados ano 2000.

4 Neste sentido, Souza (1998) comenta que o objetivo estratégico da empresa é encontrar uma posição onde possa se defender dessas forças ou influenciá-las a seu favor. Se essas forças forem fracas, melhor poderá ser o desempenho das firmas. Comentando cada força individualmente, Porter(1986) destaca na ameaça de entrada, que se novas empresas entram na indústria trazem nova capacidade, tentam ganhar parcela de mercado e ainda trazem mais recursos, com isto os preços podem cair e reduzir a rentabilidade. O autor menciona ainda que existem seis fontes de barreiras à entrada, as quais são: economias de escala, diferenciação do produto, necessidade de capital, desvantagens de custos independentes do porte, acesso aos canais de distribuição e política governamental. A economia de escala é o declínio nos custos unitário de um produto, a medida que o volume aumenta. É uma barreira de entrada porque é necessário que os novos entrantes tenham uma escala grande e adequada ou podem conviver com a desvantagem no custo. A diferenciação do produto é quando as empresas já estabelecidas possuem uma marca e a lealdade dos clientes, isto dificulta a entrada de novos concorrentes, pois estes teriam gastos muito grandes com publicidade e serviços com clientes. A necessidade de capital, exige do novo entrante grandes investimentos, recursos financeiros, para que possa competir. Torna-se uma barreira de entrada, principalmente se a entrada representa um uso arriscado desse capital. As desvantagens de custos independentes do porte é quando as empresas já estabelecidas têm vantagens de custos como: tecnologia patenteada, acesso favorável às matérias-primas, localizações favoráveis e subsídios oficiais. Isto forma uma barreira de entrada para as novas empresas que querem se estabelecer no mercado. No acesso aos canais de distribuição, a empresa entrante precisa assegurar a distribuição de seu produto, necessitando persuadir os canais de distribuição para aceitar o seu produto. Quando esse tipo de barreira é muito alta, como observa Porter (1986), muitas vezes a empresa entrante precisa criar seus próprios canais para distribuição de seus produtos. Quanto à política governamental, o governo pode limitar a entrada de alguns setores através de requisitos de licenciamentos e limitações a acesso a matérias-primas, pode criar barreiras como o controle de padrões ambientais e maior fiscalização. Outra força que afeta a concorrência na indústria é a pressão dos produtos substitutos. Na concepção de Porter (1986), todas as empresas de uma indústria estão competindo com empresas que produzem um produto substituto. O autor observa que "os substitutos não apenas limitam os lucros em tempos normais, como também reduzem as fontes de riqueza que uma indústria pode obter em tempos de prosperidade" (Porter, 1986, p.40). Quanto ao poder de negociação dos compradores, Porter (1986) comenta que os compradores forçam os preços para baixo, negociando por melhor qualidade e confrontando os concorrentes uns contra os outros. O poder de cada grupo de compradores depende da situação deles no mercado. Do mesmo modo, Thompson (1998, p.273) salienta que essas são "forças competitivas que se originam do exercício do poder de barganha e de mercado por parte dos compradores".

5 Quanto ao poder de negociação dos fornecedores, Thompson (1998) cita que se o suprimento for uma mercadoria disponível no mercado e tiver um grande número de fornecedores com ampla capacidade de atender todos os pedidos, neste caso o poder de mercado dos fornecedores será baixo. Por outro lado, quando o produto que os fornecedores ofertam for diferenciado e não concorrem com outros produtos substitutos para venda no setor, e se o setor não representar uma clientela importante para o grupo fornecedor, neste caso o poder dos fornecedores será alto. No que se refere à intensidade da rivalidade entre os concorrentes existentes, essas são forças competitivas que se originam da disputa entre as firmas rivais por uma melhor posição de mercado e para a obtenção de uma vantagem competitiva. A concentração industrial é um dos determinantes estruturais mais relevantes da competição. Quanto mais concentrada for uma indústria, menos competitiva ela será, e quanto menos concentrada, ou seja, maior o número de firmas atuantes no mercado, mais competitiva ela será. 2.2 A metodologia e a fonte de dados A seguir, identificam-se as variáveis que servem de guia na análise da competitividade da indústria da carne bovina gaúcha através do modelo das cinco forças competitivas de Porter. A Rivalidade entre as empresas da indústria é avaliada através da razão de concentração das 4 e 8 maiores empresas gaúchas produtoras de carne bovina, nos anos de 1992,1996 e 2000. Razão de concentração é a proporção do mercado dominada pelas 4 ou 8 maiores empresas e foi calculada a partir do número de abates de bovinos das quatro e oito maiores empresas da indústria da carne bovina gaúcha, sendo os dados relativizados com o total de abates no Estado. Os novos entrantes em potencial, são avaliados pelas variáveis, economia de escala, diferenciação dos produtos, necessidades de capital, acesso aos canais de distribuição e políticas governamentais. O Poder de barganha dos compradores é avaliado através do poder de barganha dos supermercados, que são os principais canais de distribuição da carne bovina gaúcha. O poder de barganha dos supermercados é definido pela concentração no setor. O Poder de barganha dos fornecedores é avaliado a partir da oferta de gado gordo para abate. A presença de Produtos substitutos da carne bovina é avaliado com base na evolução da carne de frango e da carne suína. Os dados utilizados na análise foram obtidos a partir das seguintes fontes bibliográficas: indicadores econômicos da FEE, anuários estatísticos do Rio Grande do Sul, dados do SICADERGS (Sindicato das Indústrias de Carnes do Rio Grande do Sul, Ministério da Agricultura, bem como consultas à revistas e jornais especializados na indústria de carnes, em especial na indústria da carne bovina gaúcha, e não especializados, bem como artigos científicos, dissertações e teses.

6 3 A COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA DA CARNE BOVINA GAÚCHA A competitividade da indústria da carne bovina é avaliada a partir da rivalidade entre as empresas da indústria (subítem 3.1), da ameaça de novos entrantes potenciais (subítem 3.2), do poder de barganha dos compradores (subítem 3.3), do poder de barganha dos fornecedores (subítem 3.4) e dos riscos de produtos substitutos (subítem 3.5). 3.1 A rivalidade entre as empresas da indústria Porter (1986) observa que a concorrência entre as empresas de uma mesma indústria é definida pela disputa por posição em um mesmo mercado. A concentração é um indicador de rivalidade, pois, quanto menor a concentração maior a disputa. A concentração da indústria de carnes bovina gaúcha pode ser verificada na Tabela 1. Nela constata-se que em 1992, 25,11% dos abates de gado bovino sob inspeção federal e estadual estavam sob o controle de quatro grupos industriais, e os oito maiores controlavam 37,22% do mercado. Já em 1996, a concentração do oito maiores aumentou, ficou em 45,06% dos abates. Em 2000, a parcela de mercado dos oito maiores caiu para 38,87% dos abates realizados no Estado. Os resultados obtidos caracterizam uma indústria pouco concentrada. Se atentarmos ao fato de que no Estado as estimativas para o abate clandestino está em torno de 50%, neste caso, a razão de concentração cai pela metade. Ainda, em 2000, 186 estabelecimentos estavam abatendo animais no Rio Grande do Sul sob inspeção federal e estadual. Mesmo se não houvesse abate clandestino, esse número e a concentração são suficientes para indicar que na indústria há forte rivalidade. Tabela 1 - A razão de concentração das 4 e 8 maiores empresas gaúchas da carne bovina, nos anos de 1992,1996 e 2000. 2 EMPRESAS 1992 1996 2000 4 Maiores 25,11 31,88 25,81 8 Maiores 37,22 45,06 38,87 Fonte: Dados Ministério da Agricultura. Segundo Agribusiness (1997), devido ao endividamento e a paralisação das grandes plantas industriais gaúchas na década de 90, houveram mudanças no ranking de empresas de abates de bovinos no Estado, ou seja, começou a ocorrer uma desconcentração, como verificado no ano de 2000, fortalecendo a participação de médias e pequenas unidades de abates. 3.2 Ameaça de novos entrantes potenciais No caso da indústria da carne bovina gaúcha as variáveis destacadas para verificar se ocorrem barreiras à entrada nesta indústria são: economias de escala, diferenciação dos produtos, necessidades de capital, acesso aos canais de distribuição e políticas governamentais. 2 Segundo participação no número de cabeças abatidas, frigoríficos sob inspeção federal e estadual.

7 Quanto à economia de escala, na indústria da carne bovina gaúcha há elevado nível de ociosidade, mas existe a possibilidade de abates em pequenas plantas de produção. O elevado nível de ociosidade pode tornar-se uma barreira à entrada para grandes empresas que querem ingressar no setor. Agribusiness (1997) cita que o nível de atividade no segmento industrial gaúcho perfaz cerca de 41% da capacidade instalada dos frigoríficos. Portanto, a ociosidade média no Estado fica em torno de 59% com relação ao total abatido no ano. Conforme Hagemeister (1996, p.25) apud Diverio & Marion Filho (2000, p.12): "um dos problemas da industrialização da carne bovina no Brasil é a oferta insuficiente de matéria-prima (gado gordo), o que pode ser considerado uma barreira à entrada para o grande produtor, especialmente na entressafra, quando deixa a indústria com elevada capacidade ociosa". O mesmo se verifica para o Rio Grande do Sul, segundo ANUALPEC (2000), o problema do Estado também é a ociosidade de sua capacidade instalada, devido ao superdimensionamento das unidades de abates e o reduzido número de matéria-prima (gado gordo). No que se refere à diferenciação dos produtos, observou-se que também não é um fator de impedimento de novos concorrentes, pois os produtos da indústria da carne bovina gaúcha são pouco diferenciados e não há realização de grandes investimentos na diferenciação do produto. Nesta indústria não há uma marca identificada, que possa criar uma barreira à entrada. Diverio & Marion Filho (2000) observam que o produto é pouco diferenciado porque a diferenciação se baseia no reconhecimento das marcas das empresas estabelecidas e no sentimento de lealdade em relação a elas, e isso praticamente não ocorre com a carne comercializada in natura ou congelada. Quanto a necessidades de capital, Diverio & Marion Filho (2000) salientam que a necessidade de capital para entrar na indústria de carne bovina gaúcha, com plantas de produção de grande capacidade de abate, é relativamente elevada, podendo tornar-se uma barreira à entrada no setor. Entretanto, existe a possibilidade de abate em pequenas plantas de produção, que não exigem muito capital. Nesta indústria, trabalha-se com produtos perecíveis, necessitando que sejam armazenados em equipamentos de baixíssimas temperaturas, que tem preços muito elevados, criando-se assim uma barreira para grandes empresas que queiram entrar na indústria. Entretanto, não há exigências de grandes investimentos na área de marketing ou em pesquisa e desenvolvimento. Quanto ao acesso aos canais de distribuição, conforme Nogueira (1998), o setor de comercialização, principalmente os supermercados possuem importância crescente, pois, acompanhando outros setores, acabaram se expandindo, resultando num elevado grau de concentração, passando a dominar o mercado varejista e dificultando o acesso dos pequenos frigoríficos. Os supermercados são o principal segmento de distribuição dos produtos da indústria da carne bovina gaúcha, principalmente para os grandes centros urbanos, mas os açougues ainda têm importância, principalmente nas pequenas cidades. Também existem aquelas empresas (pequenas e médias) que escoam os produtos em mercearias, feiras e mercados. São produtos com qualidade inferior e destinados a consumidores de baixa renda. A possibilidade de vendas dos pequenos frigoríficos

8 nos grandes supermercados é muitas vezes inviabilizada pelos grandes frigoríficos. Portanto, os açougues são o canal de distribuição das pequenas empresas. Quanto às políticas governamentais, esta pode se tornar uma barreira à entrada, pois, conforme salienta a Revista Amanhã (2001), o setor da carne bovina gaúcha é onerado em cerca de 30% entre impostos e taxas federais e estaduais, sendo que dois terços são impostos assumidos exclusivamente pelos frigoríficos. Conforme Diverio & Marion Filho (2000), a incidência de impostos sobre a produção de carne bovina e os programas governamentais voltados para o setor, afetam a competitividade da indústria. A Revista Amanhã (2001, p. 50), salienta que: "O próprio governo estadual reconhece a desorganização tributária, que acaba comprometendo a competitividade." Segundo Diverio & Marion Filho (2000), o governo estadual implantou em 1995, o Programa Carne de Qualidade, com a finalidade de incentivar a melhoria na produção da carne bovina. Organizou, ainda, a Câmara Setorial da Carne e o Comitê do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade da pecuária de corte, visando orientar e incentivar o setor. Conforme ENGEVIX (1997), as principais metas do Programa Carne de Qualidade são: fornecer ao consumidor um produto com mais qualidade, elevar a renda do produtor rural, melhorar a situação dos frigoríficos, fortalecer o controle sanitário nos abates de animais, combater o abigeato na regiões produtoras de carne e estimular o abate de novilhos precoces. Todas estas medidas dificultaram a entrada de novos concorrentes na indústria, uma vez que as exigências governamentais se tornaram maiores. 3.3 Poder de barganha dos compradores Na indústria de carne bovina gaúcha, o poder de barganha dos compradores é avaliado pelos tipos de estabelecimentos que demandam os seus produtos. Wedekin & Neves (1995) apud Nogueira (1998) ressaltam que os supermercados passaram a dominar o mercado varejista de alimentos, o que se justifica pela estabilização econômica, melhorias de gerenciamento financeiro, ofertas adicionais de serviços aos consumidores e pela conveniência oferecida pela proximidade. Segundo Agribusiness (1998, p. 58): O mercado varejista de carnes está fortemente concentrado. As redes de supermercados e alguns estabelecimentos que integram o grande varejo do setor detêm cerca de 80% da distribuição final do produto e exercem, portanto, elevado poder de barganha sobre o segmento industrial. Agribusiness (1998) aponta que os pequenos varejistas, ou seja, redes de açougues e casas de carnes, detêm apenas 20% da distribuição final e apenas complementam o abastecimento nos bairros residenciais e na periferia, principalmente em pequenas cidades. Os supermercados são os principais distribuidores da carne bovina gaúcha junto aos consumidores, e por serem mais concentrados, exercem um poder de barganha junto à indústria. Estes grupos podem barganhar preços e influenciar os consumidores.

9 Segundo Saling (2000), é crescente a concentração no setor supermercadista brasileiro na década de 90. Em 1991, o Cr4 era de 21,67% e em 1999 chegou a 38,27%. O mesmo vem acontecendo no Rio Grande do Sul. Portanto, os supermercados competem com a indústria ao barganhar por menores preços ou por melhor qualidade e influenciam nos resultados econômicos ou na rentabilidade da indústria. A medida que aumenta a concentração no setor supermercadista, cresce o poder de barganha deles, como clientes. 3.4 Poder de barganha dos fornecedores Hagemeister (1996) salienta que o problema mais relevante da industrialização da carne bovina atualmente é a insuficiência de gado gordo para abate, pois a pecuária é extensiva, tornando a alimentação animal dependente das intempéries, como é o caso das geadas no Rio Grande do Sul. Dessa maneira ocorrem períodos de safra e entressafra, que causam oscilações no peso do boi. Essa sazonalidade faz com que os frigoríficos operem com altos índices de ociosidade, que se acentua na entressafra. Conforme ANUALPEC (2000), a grande maioria dos produtores de gado não dispõe de infra-estrutura que possa facilitar o desenvolvimento de suas atividades. O setor é pouco dinâmico e o pecuarista convive com baixos indicadores de produção, a rentabilidade e a capacidade de investimento no setor é baixo. A maior parte da matéria-prima utilizada pelos frigoríficos da indústria da carne bovina gaúcha provém de produtores da região. Entretanto, não existe uma integração nesta indústria. A grande maioria dos frigoríficos não tem qualquer tipo de integração com os pecuaristas. Não existe poder de barganha por parte dos fornecedores, pois a produção é realizada por um grande números de fornecedores, diminuindo assim o seu poder. Os fornecedores não são concentrados, portanto, não conseguem comprometer a rentabilidade da indústria. 3.5 Risco de produtos substitutos Nogueira (1998) salienta que os produtos substitutos não apenas limitam os lucros, mas reduzem a prosperidade. As empresas devem tomar cuidado com os produtos substitutos que estão sujeitos a melhorias de seu preço/desempenho ou os que estão sendo produzidos por setores com altos lucros. A oferta de carne alternativas, principalmente a de frango, tem crescido nos últimos anos. A carne bovina enfrenta uma concorrência forte com a carne de frango, que possui uma cadeia bem organizada, possui produtos diferenciados e preços competitivos. Carvalho Júnior & Gelinski Neto (1998, p.5) salientam que a relação de preço entre a carne de frango e a carne bovina auxilia na explicação do crescimento do consumo da primeira. No período de 1989 à 1994, ocorreu uma diminuição no preço do frango em relação ao preço do acém no varejo, fato que provavelmente também ocorreu em períodos anteriores, e que teria conduzido os consumidores de carne a ampliarem o consumo da carne de frango. Para Engevix (1997), a carne bovina detinha na década de 70, 71,4% do mercado consumidor das três principais carnes no Brasil. A carne de frango tinha 11,4% e a carne suína possuía 17,2% do consumo. Essas parcelas de mercado alteraram-se

10 muito na década de 90, o mercado da carne bovina caiu para 43% do consumo, enquanto que a carne de frango aumentou para 41,5% e a carne suína foi para 15,5% do mercado consumidor. Esse fato ocorreu em nível mundial, devido, principalmente, a expansão tecnológica e produtiva do setor avícola. Portanto, verificou-se que carne de frango é um risco de substituto para a carne bovina, porque possui, uma cadeia bem organizada, que possibilita produtos diferenciados e preços mais baixos. 4 CONCLUSÕES Neste trabalho foi analisado a competitividade da indústria da carne bovina gaúcha, através do modelo das cinco forças competitivas de Porter. Verificou-se que existe uma forte competição entre as empresas da indústria, devido, principalmente, a baixa concentração e o elevado número de produtores. A concentração é baixa, mesmo sem levar em consideração o abate clandestino, que é estimado em 50%. Constatou-se que as barreiras à entrada são baixas nesta indústria, mas cresce com o porte da empresa, principalmente em função da baixa oferta de gado gordo para abate e da necessidade de capital. A falta de matéria-prima, resulta em ociosidade nas plantas industriais e também se tornam uma barreira à entrada, já que inibe a entrada de novos produtores. Observou-se que os supermercados são os principais compradores dos produtos da indústria, e devido a sua crescente concentração aumentam o poder de barganha junto às empresas da indústria da carne bovina gaúcha. Quanto à ameaça de produtos substitutos, verificou-se que a carne de frango é o principal substituto para a carne bovina, devido principalmente ao preço mais atraente, o que torna a carne de frango mais competitiva do que a carne bovina. Constatou-se também que, o poder de barganha dos fornecedores de gado gordo para abate é baixo, já que existe um grande número de produtores de gado gordo que ofertam em pequenas quantidades. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANUALPEC 2000. Anuário Estatístico da pecuária de Corte. FNP - Consultoria e Comércio. São Paulo, 2000. CARVALHO JÚNIOR.L.C. & GELINSKI NETO.G. F. Análise da estrutura da indústria avícola brasileira. In: 36º CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL,1998, Minas Gerais. DIVERIO.T.S.M. & MARION FILHO. P.J A organização da indústria de carne bovina gaúcha a partir de 1980. Revista Economia e Desenvolvimento, nº12, nov.2000. ENGEVIX LTDA. Plano de Reestruturação Econômica para a Metade Sul do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, mai. 1997. HAGEMEISTER, W.R. A política fiscal do governo do Estado do Rio Grande do Sul em relação às carnes a partir de 1980. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1996.

11 NOGUEIRA, A.S. Padrão de Concorrência e estrutura competitiva da indústria suinícola catarinense. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). UFSC, Santa Catarina, 1998. Disponível em http://www.eps.ufsc.br/disserta98/nogueira/>. Acesso em : 16 out.2001. PORTER, M. E. Estratégia Competitiva: Técnicas para análise de Indústrias e da Concorrência. 18ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1986.. Vantagem Competitiva: Criando e sustentando um desempenho superior. 17ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. REVISTA AMANHÃ ECONOMIA E NEGÓCIOS. Ano XVI nº 169. Ago. 2001. Informe especial. REVISTA AGRIBUSINESS. Agroindústrias de carnes no Rio Grande do Sul. Ago./Set. 1997. Número especial. SALING. M. L. O setor supermercadista brasileiro na década de 90: uma avaliação a partir do modelo ECD. 2000. Monografia (Graduação em Ciências Econômicas) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria,2000. SOUZA, J. P. As estratégias competitivas da indústria brasileira de carnes: a ótica do distribuidor. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). UFSC, Santa Catarina, 1998. Disponível em <http://www.eps.ufsc.br/disserta99/souza/>. Acesso em : 20 out.2001. THOMPSON, A. Jr. & FORMBY, J. P. Microeconomia da Firma: Teoria e Prática. 6ªed. Rio De Janeiro: Prentice-Hall Do Brasil, 1998.