Empreendedorismo e inclusão social - um estudo de caso: internet sem telefone



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Transcrição:

Empreendedorismo e inclusão social - um estudo de caso: internet sem telefone Antonio Wellington Sales Rios (FATEC Centro Paula Souza) rios@microassist.com.br José Manoel Souza das Neves (FATEC Centro Paula Souza) jmneves@fatecguaratingueta.edu.br Resumo: Acesso à Internet tem sido colocado pela sociedade e governos como fator importante no processo de inclusão digital. Entretanto a qualidade adequada e os custos ainda são obstáculos. O processo de globalização tem estabelecido um ambiente de competição bastante acirrado. Tecnologias desenvolvidas em qualquer lugar do mundo, rapidamente são difundidas e colocadas à disposição para seu emprego pelas empresas empreendedoras e com espírito inovador, resultando em competitividade. A necessidade de baixar custos e aumentar a qualidade de produtos e serviços tem empurrado empresas a um processo de modernização, onde apenas as mais adaptáveis e criativas conseguem se manter em suas áreas de atuação. O desemprego tende a aumentar dentre os menos preparados, enquanto profissionais especializados são valorizados. Este trabalho aborda três aspectos dessa problemática que estão intrinsecamente relacionados: a tecnologia wireless como um meio de acesso à Internet de baixo custo e alta qualidade; a gestão empreendedora na busca da inovação para conquistar novos mercados; e a questão do emprego sob a ótica do processo de inovação tecnológica. Apresentaremos, também, um estudo de caso, onde uma empresa nacional estabelece um esquema de acesso à Internet wireless com sucesso e grande expansão em São Paulo. Palavras Chave: Empreendedorismo; Inclusão Social; Internet 1. Introdução Não apenas o Brasil, mas também o mundo, atravessa uma fase de grandes mudanças. Nunca, no processo da evolução humana, as mudanças aconteceram de forma tão rápida e tão profunda. O entendimento desse processo, a análise dos aspectos motivacionais envolvidos e o posicionamento para tomada de decisões adequadas e oportunas são desafios que despertam o interesse de estudiosos na tentativa de modelar comportamentos que levem a padrões explicativos das causas de sucesso e fracasso dos perfis profissionais encontrados no mercado. Quais os motivadores de ações empreendedoras que levam empresas e pessoas a arriscarem em novos e incertos empreendimentos? Qual o papel e o perfil do empreendedor dentro da atual conjuntura? Que relações se estabelecem com os modelos existentes? Respostas a essas questões nos ajudam entender o ambiente atual e nos apontam alguns indicadores para o sucesso de empreendimentos dentro da conjuntura global de competição e mercado. O avanço tecnológico e o emprego dessas novas tecnologias de forma empreendedora, agressiva e rápida têm mostrado o caminho a ser seguido pelas empresas e pessoas que pretendem se manter nesse cenário globalizado irreversível. Mesmo empresas focadas no mercado nacional e que não pretendem exportar produtos e serviços, são forçadas a realizar inovações com melhoria de qualidade e redução de custo, sob pena de serem substituídas por empresas sediadas no outro lado do mundo que conseguem colocar seus produtos e serviços aqui no mercado interno com melhor qualidade e menor custo. O consumidor está cada vez ENEGEP 2004 ABEPRO 4108

mais exigente e menos sensível a origem dos produtos e serviços. O que define o consumo é a qualidade e o preço. As regras de competição mudaram e não mais a grande empresa engolirá a pequena, mas a rápida sufocará a lenta. Nesse ambiente de grandes mutações obrigatórias, um elo importantíssimo do sistema sofre mais: o trabalhador. Assim, assistimos a um processo mundial de desemprego que na realidade, na maioria dos casos, é mais de mutação dos postos de trabalho do que realmente de fechamento dos mesmos. As inovações tecnológicas transformam o perfil do posto de trabalho e requerem rapidamente trabalhadores mais preparados que nem sempre o ocupante do posto consegue responder com a atualização necessária no tempo exigido, sendo substituído. No passado esse problema também era observado, só que o espaço de tempo exigido pela mudança era maior, sendo possível esperar, talvez, pela próxima geração de trabalhadores que naturalmente eram mais preparados. Percebe-se uma substituição do emprego tradicional pelo auto-emprego, onde o trabalhador empreende e cria seu próprio emprego. 2. Empreendedorismo Schumpeter (1959), em seus estudos sobre empreendedorismo já chamava a atenção para o fenômeno da inovação. "A essência do empreendedorismo está na percepção e aproveitamento das novas oportunidades no âmbito dos negócios... sempre tem a ver com criar nova forma de uso dos recursos nacionais, em que eles sejam deslocados de seu emprego tradicional e sujeitos a novas combinações. Dos trabalhos de Cantillon e Say (in DRUCKER, 1987), observa-se que empreendedores são pessoas que correm riscos, investem seu próprio capital em negócios. Para Cantillon, os empreendedores compram matéria-prima por um certo preço, com o objetivo de transformá-la e revendê-la por um preço ainda incerto. Assim, poder-se-ia afirmar que empreendedores são pessoas que, assumindo riscos, aproveitam oportunidades com o objetivo principal de obterem lucros. No entanto, para Say o importante seria a ligação entre empreendedores e inovação, tornando-se agentes da mudança. Por ser um empreendedor, foi o primeiro a definir as fronteiras do empreendedor na concepção moderna do termo. Se de um lado economistas como: Knigt, 1921; Innis, 1930; Baumol, 1968; Broehl, 1978; Leff, 1978; Kent, Sexton, e col., 1982 preocupavam-se em mostrar o empreendedorismo como motor do sistema econômico, de outro, Cantillon, Say, Schumpeter e outros, focavam o aspecto da inovação que o empreendedorismo pressupõe. Os economistas deram passos importantes, entretanto, a preocupação em quantificar e mensurar ensejou dificuldades no avanço do estudo do empreendedorismo. Um maior aprofundamento do tema se dá a partir de estudos comportamentalistas. Essa visão pode ser vista em David (1962): "Ser empreendedor significa ter, acima de tudo, a necessidade de realizar coisas novas, por em prática idéias próprias, características de personalidade e comportamento que nem sempre é fácil de se encontrar. Psicologicamente, as pessoas podem ser divididas em dois grandes grupos, uma minoria que, quando desafiada por uma oportunidade, está disposta a trabalhar arduamente para conseguir algo, e uma maioria que, na realidade não se importa tanto assim. As pessoas que têm necessidade de realizar se destacam porque, independente de suas atividades, fazem com que as coisas aconteçam. ENEGEP 2004 ABEPRO 4109

Os comportamentalistas dominaram o campo do empreendedorismo e tinham como objetivo definir empreendedores e suas características. Essas características apontadas nestes estudos podem, ainda hoje, refletir o espirito do empreendedor. Dentre as características mais comuns atribuídas aos empreendedores pelos comportamentalistas estão: Inovação Otimismo Tolerância à Ambigüidade e Incerteza Liderança Orientação para resultados Iniciativa Riscos Moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem Independência Habilidade para conduzir situações Habilidade na utilização de recursos Criatividade Necessidade de realização Sensibilidade Energia Autoconsciência Agressividade Tenacidade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas Originalidade Envolvimento em longo prazo Dinheiro como medida de desempenho Fonte: Hornaday, 1892; Meredith, Nelson e col, 1982; Timmons, 1978 (in Cavalcanti, 2001) Uma das grandes diferenças entre o empreendedor e trabalhadores comuns é que o primeiro define as metas que vão determinar seu próprio futuro e com freqüência identifica oportunidades de negócios, nichos de mercado e se organiza para atingir seus objetivos, enquanto os segundos se limitam a executar suas tarefas de forma rotineira. Nos anos 80, organizações e sociedades foram forçadas a buscar novas abordagens para incorporar as rápidas mudanças tecnológicas à sua dinâmica. O mundo mudou rapidamente. O capitalismo e o socialismo não eram suficientes para explicar o fenômeno. O maior bem que uma sociedade possui são os seus recursos humanos, que devem ser mobilizados em direção a projetos de caráter empreendedor. Depois do colapso da União Soviética, a guinada em busca de desempenho, liderando ou seguindo outras economias, parece se intensificar. O empreendedorismo parece ser a força motriz que resulta de um estado de confiança entre os indivíduos de uma sociedade. No Brasil, o SEBRAE tem sido a instituição mais preocupada com a formação de novos empreendedores o tema já vem sendo debatido com mais freqüência e intensidade em vários institutos e faculdades, algumas criando disciplinas de empreendedorismo, principalmente em cursos de Administração de Empresas ou formando grupos e linhas de pesquisa. 2.1. Tipos de Empreendedores e Velocidade das Mudanças Podemos destacar dois grupos de empreendedores: os empreendedores involuntários e os voluntários. O empreendedor involuntário é produto da atual conjuntura e é composto principalmente de recém-formados e trabalhadores desempregados que, demitidos pelo fechamento ou reestruturação de corporações, não conseguem qualificação para os novos postos de trabalho e assim, são forçados a criarem os próprios empregos. Empreendedores involuntários não são empreendedores no sentido da definição apresentada, embora criem uma atividade de negócio, criando valor, não são movidos pelo espírito inovador. Enquanto inovação e crescimento são as palavras-chave para se definir o empreendedor voluntário, para o grupo dos involuntários ou auto-empregados, são ecologia pessoal e estilo de vida equilibrado. A velocidade da mudança tecnológica está diretamente relacionada às competências das pessoas e das organizações em gerenciar de forma empreendedora, ou seja, com criatividade e eficácia. O indivíduo repetidor de tarefas e a organização baseada na produção inflexível e no volume não se manterão em posição de liderança por muito mais tempo. Quanto maior a organização, mais tempo ela necessita para aprender e mudar. Além de um certo tamanho, o tempo requerido para a realização de mudanças internas é maior que a velocidade das mudanças externas. ENEGEP 2004 ABEPRO 4110

Por esse motivo estamos assistindo à crescente evolução do empreendedorismo. Quanto maior a velocidade da mudança tecnológica, maior a probabilidade do empreendedorismo ser expresso através de formas organizacionais menores. Companhias com maior probabilidade de sucesso e crescimento serão aquelas com grande flexibilidade tanto de produtos quanto de processos, tendo a inovação como principal característica para competir e diferentes formas de empreendedorismo poderão se desenvolver. 2.2. Empreendedores Tecnológicos Para o fortalecimento das economias nacionais, hoje, a agricultura, a indústria e o comércio estão sofrendo transformações tecnológicas profundas. A alta produtividade não mais é garantia de sucesso, mas sim o quanto se produz com melhor qualidade e menor custo, utilizando para isso tecnologia de ponta. Estamos assistindo a uma verdadeira revolução na agricultura e pecuária, através da biotecnologia e engenharia genética, embora os aspectos éticos e de segurança estejam ainda em amadurecimento. A ciência está atropelando as discussões éticas e a própria legislação ou a falta dela. Para Formica (1999), os governos devem encorajar a criação e o crescimento de empresas de base tecnológica pela promoção dos empreendedores tecnológicos. Os traços mais importantes dessa personalidade são: Proximidade com o mundo acadêmico; Buscar oportunidades de negócios na economia digital e no conhecimento, sobretudo nos campos da eletrônica, computação e software, biotecnologia, tecnologia voltada para o meio ambiente; Possuir cultura predominantemente técnica; Atração por desafios, investindo em nichos de mercado onde a taxa de sobrevivência é baixa; Visão dos negócios e conhecimento adequado das forças competitivas do mercado. O ambiente empresarial impõe pressões sobre as organizações, traduzidas em ameaças e oportunidades. As empresas deverão responder a essas demandas, acompanhando a evolução ambiental e modificando seus sistemas para se adequarem às novas mudanças, ao mesmo tempo em que criam sistemas com fins específicos para lidar com tais mudanças, transformando ameaças em oportunidades. No caso brasileiro, há um complicador adicional, os segmentos político e econômico são tão mutáveis que é impossível a qualquer empresa sobreviver sem que o empreendedor dê uma atenção toda especial à questão financeira. Competir globalmente com taxas de juros e carga tributária brasileiras é tarefa bastante árdua. Formica (1999) afirma sobre o empreendedor tecnológico:... este deve mudar de atitude para ajudar seus clientes a aproveitarem as vantagens acarretadas pelas mudanças tecnológicas. Ao contrário do que se pensa, a criatividade em tecnologia está longe de habituá-lo a aproveitar as oportunidades que mudam o presente. A visão tecnológica precisa ser enriquecida com criatividade tanto no planejamento da produção quanto no marketing. Possivelmente, a grande mortalidade de empresas no Brasil na fase inicial tenha como um dos fatores a pouca importância dada pelos empreendedores aos aspectos financeiros como capital de giro, reservas financeiras, provisões e outros necessários às operações normais da empresa. 3. O Emprego e a Inovação Tecnológica Há uma corrente de pensamento defensora da idéia de que a inovação tecnológica e a automatização promoverão um grande desemprego nos países de economias emergentes e até ENEGEP 2004 ABEPRO 4111

mesmo nos mais desenvolvidos. Baseiam-se no fato de que com a automatização dos processos industriais os trabalhadores serão substituídos e colocados à margem do mercado. Uma outra corrente defende a idéia de que a inovação tecnológica proporcionada pela nova tecnologia da informação e comunicação - ICT (Information and Communication Technology), como processo irreversível, promoverá um deslocamento do emprego, ou seja, enquanto postos de trabalho com perfis repetitivos serão fechados, outros, com maior ênfase na criação e valores humanos, serão abertos. Freeman (1997) afirma que: Se o balanço líquido desses efeitos no emprego direto ou indireto será no final positivo ou negativo não pode ser avaliado pela simples contagem dos novos empregos ganhos e dos velhos destruídos. Tem-se que reconhecer que os efeitos expansionários da sociedade da informação em qualquer economia nacional ou na economia mundial como um todo, dependerá paradoxalmente da maneira pela qual a ICT criará as bases para o círculo virtuoso de crescimento, onde o investimento é alto, a produtividade da mão-de-obra cresce rápido, mas as perdas também crescem rápido, assim sobrando um crescimento liquido no emprego. Percebe-se, então, que a solução dessa questão do emprego não é uma tarefa muito simples, uma vez que envolve toda a sociedade e governos. O trabalhador da era da informação precisa ter uma formação básica mais sólida, que o permita transitar entre postos de trabalho com desenvoltura, e não dispensa o conhecimento dos processos de transmissão de informações. O simples treinamento na função não mais garante a permanência do trabalhador no posto. Outra vertente bastante forte é a criação do ambiente propício ao empreendedorismo. As empresas com maiores chances de sucesso nesse novo cenário são as pequenas e ágeis empresas, utilizando alta tecnologia e que optam por terceirizações que acabam por criar uma rede de fornecedores alicerçados, basicamente, na Inovação e empreendedorismo. Portanto, a sociedade e governos precisam perceber com antecedência essa tendência de mudança, tomando de medidas proativas no sentido de se anteciparem ao processo de adaptação do perfil do trabalhador para que não sejamos atropelados e vencidos pelos concorrentes. 4. Acesso à Internet A Internet representa um avanço tecnológico muito importante para o desenvolvimento das pessoas e empresas, sendo uma rede mundial de computadores com todas as qualidades e defeitos que um meio de comunicação tão abrangente e democrático como este possui. A inclusão digital tem sido apontada como uma das principais formas de inclusão social. Sem dúvidas a Internet é um forte aliado na consecução dos objetivos educacionais de massa. Como a Internet é uma grande rede de computadores, para que se possa utilizá-la é necessário que façamos parte dessa rede, ou seja, precisamos de alguma forma nos conectarmos. As possibilidades de conexão com a Internet, disponíveis hoje no Brasil, são: conexão discada via modem de 56Kbps, utilizando linha telefônica analógica comum; conexão via cable modem de 128, 256 Kbps ou mais, utilizando a infra-estrutura de TV a cabo; conexão via modem digital ISDN (Integrated Services Digital Network) ou DSL (Digital Subscriber Line) com velocidades de 128, 256 Kbps ou mais, utilizando linhas digitais; e por fim conexão via rádio com velocidades até 11Mbps, utilizando antenas e equipamentos de rádio-transmissão. O acesso a Internet através de linhas telefônicas analógicas comuns têm baixa velocidade, custo relativamente alto, qualidade de conexão razoável e o inconveniente de indisponibilizar o telefone enquanto se esta conectado. Portanto é uma solução que tende a desaparecer. ENEGEP 2004 ABEPRO 4112

O acesso via cable modem, e modem digital ISDN ou DSL tem boa qualidade, boa velocidade, custo relativamente alto e pouca disponibilidade, uma vez que a infra-estrutura de TV a cabo e linhas digitais atinge poucas regiões do país. O acesso via rádio tem boa qualidade, boa velocidade, custo relativamente baixo e, em combinação com cabos de fibras óticas e de pares trançados, pode ser disponibilizado em qualquer região. Os custos dos equipamentos de rádio estão cada dia mais baixos, ensejando uma ótima solução para acesso a Internet no futuro próximo. 5. Estudo de Caso A empresa estudada é uma provedora de acesso à Internet que inovou ao utilizar ondas de rádio para oferecer acesso de alta velocidade em substituição ao acesso discado via linha telefônica tradicional. Trata-se de uma empresa com capital limitado (Ltda) com matriz em São José dos Campos e com mais de 200 funcionários. Sua rede de computadores conta com mais de 1.500 prédios interligados em 10 cidades e possuem mais de 88.000 assinantes. Segundo o ranking da Revista INFO 200 da EXAME, é uma das cinco empresas de tecnologia que mais cresceram no último ano no Brasil. A empresa experimenta um crescimento sustentado desde sua entrada em operação em 1999, tendo se expandido para outras localidades como, Campinas, Guarulhos, Jacareí, Ribeirão Preto, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Sorocaba, e para vários bairros da capital paulista como Tatuapé, Santana e outros. Sua missão é oferecer acesso à Internet com qualidade, baixo custo e performance (bom, barato e confiável). Seu departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) conta com um núcleo reduzido de pessoas atentas e preocupadas com inovações que transformam, significativamente, seus produtos e serviços. É uma constante, no Brasil, dificuldades na obtenção de dados mercadológicos confiáveis, assim a empresa criou um departamento de marketing especializado em tecnologia da informação, que realiza levantamentos e pesquisas de modo a prover a administração com dados de mercado confiáveis para embasar ações de planejamento. 5.1. Histórico A idéia do empreendimento surgiu em 1996, quando dois empreendedores, proprietários de uma empresa especializada em redes de computadores de São José dos Campos SP, que deu origem ao provedor, vislumbraram um nicho de mercado não explorado, representado pelo acesso à Internet através de rede Ethernet a longas distâncias, utilizando tecnologia wireless com alta performance (10Mbps). Esta rede deveria ser confiável e de baixo custo. Tendo essa idéia sido tirada de plantas de fábrica, onde pequenas redes wireless eram utilizadas com sucesso. O desafio era transportar a tecnologia que funcionava em pequenas plantas para as dimensões metropolitanas. A empresa iniciou suas operações em junho de 1999, quando todos provedores de São José dos Campos utilizavam linhas telefônicas. Em pouco mais de dois anos consolidou a tecnologia wireless e passou a ser o principal provedor de acesso à Internet da cidade. O modelo utilizado no empreendimento considerou incubar o provedor em uma empresa especializada em redes de computadores até que a tecnologia, já disponível no mercado mas não testada nessas dimensões, fosse consolidada. Inicialmente, foram utilizadas as instalações físicas, equipamentos e recursos humanos da própria empresa hospedeira. Desde a idéia até a ENEGEP 2004 ABEPRO 4113

maturação da tecnologia e entrada em operação, o empreendimento levou dois anos e seis meses. 5.2. A Tecnologia Empregada A grande inovação promovida foi a substituição da tecnologia de acesso à Internet via modem, através de linha discada, por acesso via rádio com velocidade maior (no mínimo quatro vezes mais), com a vantagem da liberação da linha telefônica, a um custo sensivelmente menor. Assim, houve uma melhoria no serviço do ponto de vista da qualidade do acesso, da maior velocidade e da não limitação do tempo de uso. Há, ainda, um ganho adicional referente à segurança, pois o sistema wireless é menos sensível a descargas eletromagnéticas que os sistemas a cabos de cobre. Assim, danos são evitados aos computadores e às placas de fax/modem que normalmente sofrem com as altas voltagens geradas nos cabos de cobre da rede telefônica por ocasião de tempestades. O provedor arca com todo o investimento necessário para instalação do sistema nos prédios, incluindo equipamentos de rádio, hubs, switches, antenas, etc, e o cabeamento de rede local de todo o condomínio, além de levar os pontos de rede até o escritório de cada morador que adquire o serviço. Em cada prédio é instalada uma antena de rádio-freqüência que se comunica com outras antenas, levando assim, os sinais até o Datacenter do provedor que por sua vez se conecta ao backbone Internet através da EMBRATEL. Os equipamentos de rádio utilizados pelo provedor trabalham na freqüência 2,4 Ghz (similar a de fornos de microondas) testados e homologados pela FCC (Estados Unidos) e pela ANATEL (Brasil). Além disso, eles trabalham num sistema de espalhamento de freqüência ( frequence hope ), o que reduz drasticamente a possibilidade de interferências, garantindo a qualidade do sinal e a integridade das informações. 5.3. Ganhos Obtidos O serviço de acesso à Internet, prestado pela empresa em estudo, tem como principais vantagens: Economia, pois é mais barato que o sistema via telefone; Melhor qualidade do sinal, com tecnologia 100% digital; Instalação grátis sem taxa e nem adesão; Acesso sem telefone, mantendo a linha desocupada sem custo de pulso telefônico; Maior velocidade, pelo menos 4 vezes mais que o sistema discado; Não é necessário ter telefone nem ser assinante de TV a cabo; Não necessita alugar qualquer equipamento (cable modem, por exemplo); Conexão automática e contínua, 24 horas por dia, 7 dias por semana; Compatível com PC e Macintosh, Sistemas operacionais Windows 95/98/NT/Me e Linux. 6. Conclusão No estudo de caso apresentado podemos observar alguns pontos importantes e de interesse. Em primeiro lugar, verifica-se um fator essencial para o empreendedorismo e inovação que é a existência da infra-estrutura de Ciência e Tecnologia, que possibilita o aparecimento de empresas de alta tecnologia. No caso em estudo, o provedor de acesso surgiu em São José dos Campos, onde há um dos maiores pólos de tecnologia do país, formado por escolas, institutos de pesquisa e empresas como: CTA (Centro Técnico Aeroespacial), ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), EMBRAER (Empresa Brasileira de Aeronáutica), que embora, com nítida vocação para o setor ENEGEP 2004 ABEPRO 4114

Aeroespacial gera subprodutos importantes, utilizados em vários outros campos, principalmente na área de Tecnologia da Informação. Os dois empreendedores do Provedor de acesso têm formação no ITA e passagem em empresas como a AVIBRAS e EMBRAER. As inovações tecnológicas podem ser classificadas, pelo tamanho do passo, em: inovação incremental ou inovação descontínua. No caso do provedor de acesso a inovação foi incremental, ou seja, inovou-se nos meios de como prestar o serviço. Antes usava-se o telefone como meio de transmissão de dados e com a inovação passou-se a utilizar rede local Ethernet com ligações entre prédios via rádio. Quanto à abrangência do Processo de Inovação Tecnológica (PIT), podemos verificar que houve uma pesquisa sobre redes locais de computadores para aplicação específica em acesso a Internet que resultou em uma nova tecnologia de acesso e que possibilitou o desenvolvimento de um novo serviço de acesso a Internet, que por fim resultou em vantagem econômica para os empreendedores inovadores. Observamos, também, que os caminhos da Informação em C&T podem seguir dois rumos: um para a Ciência e outro para a Tecnologia. A pesquisa pode ser dividida em pesquisa industrial, orientada para o avanço da tecnologia e a pesquisa básica ou universitária que enfatiza o avanço científico ou de tecnologias genéricas. No caso em estudo, verificamos que a pesquisa foi industrial e a vertente nitidamente tecnológica, onde observamos os passos: P&D industrial e projetos de pesquisa, embora não formalmente estabelecidos, realizados de 1996 a 1999; projeto de desenvolvimento realizado enquanto o provedor de acesso estava incubado na empresa hospedeira; produção piloto, que no caso foi a implementação dos primeiros prédios para certificação e consolidação da tecnologia; e por fim, o passo de marketing e vendas que continua em desenvolvimento até hoje. Na questão do emprego, é nítido o deslocamento, de parte dos trabalhadores, que antes mantinham as redes telefônicas e que com a inovação passaram a dar manutenção em redes de computadores. É difícil mensurar se houve o fechamento de postos de trabalho, pois a empresa experimentou um crescimento bastante acentuado nesse período, mas o deslocamento com o aumento da especialização é visível. Finalmente, podemos concluir que o empreendimento obteve sucesso, que teve sua base de conhecimento proveniente de um polo de alta tecnologia (São José dos Campos) e que com o espírito empreendedor de seus idealizadores inovou a tecnologia de acesso a Internet, e em pouco mais de dois anos passou a ser o principal provedor de acesso na Cidade de São José dos Campos, expandindo rapidamente para outras cidades do país. Conclui-se, também, que esta inovação tecnológica pode ser útil na colaboração para o atendimento dos objetivos de inclusão digital e social, por apresentar custo, qualidade e viabilidade bastante interessantes para serviços de acesso à Internet. Referências Bibliográficas CAVALCANTI, M., Et al. Gestão Estratégica de Negócios Evolução, Cenários, Diagnósticos e Ação, São Paulo, Pioneira, 2001. DAVID, C. Business Drive and National Achivemente, Harvard Business Review, jul.ago, 1962. DRUCKER, P. F. Inovação e Espírito Empreendedor, 5º ed., São Paulo, Pioneira, 1987. FORMICA, P. Inovação e Empreendedorismo, Palestra no Seminário Universidade Formando Empreendedores, Brasília, mai.1999. FREEMAN, C. The Economics of Industrial Innovation, 3rd ed., Great Britain, MIT Press, 1997. SCHUMPETER, J. Managers and Entrepreneurs: A Usefull Distinction. Adminstrative Science Quaterly, 3, pp 429-451, in: Hartmann, H. 1959. ENEGEP 2004 ABEPRO 4115