ESTUDO DA VIABILIDADE FINANCEIRA DE UMA INDÚSTRIA DE VEGETAIS MINIMAMENTE PROCESSADOS NA CIDADE DE GOIÂNIA/GO Mariana Ferreira Oliveira 1 ; Rafaela de Ávila 1 ; Lionora Francisca de Oliveira 1, Ricardo Caetano Rezende 2 1 discentes do Curso de Mestrado em Engenharia Agrícola, UnUCET - UEG. 2 docente do Curso de Mestrado em Engenharia Agrícola, UnUCET - UEG. RESUMO O segmento de minimamente processados está em crescimento no mercado goianiense, causado, principalmente, pela redução no tempo disponível pela população no preparo dos alimentos em casa. O presente trabalho objetivou o estudo da viabilidade financeira da implantação de uma indústria de vegetais minimamente processados em Goiânia/GO. No projeto avaliado, a área construída será de 415,16 m², sendo a produção mensal de 18 toneladas. Serão utilizados recursos próprios para a implantação do projeto. Os métodos utilizados para verificação do tempo de retorno dos investimetnos e viabilidade econômica foram: Pay back descontado (PBD), Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e Índice de Lucratividade (IL). Num prazo de análise de 10 anos foram obtidos os seguintes indicadores: VPL de R$ 352.776,66, com uma taxa mínima de atratividade (TMA) de 7% ao ano (a.a), TIR de 15,28%, IL de 1,54 e PBD de sete anos e cinco meses. A produção de vegetais minimamente processados, cujo projeto exigiu um investimento inicial de quase R$ 660 mil, constitui um investimento viável. Palavras-chave: processamento mínimo; análise econômica; rentabilidade. Introdução Vegetais minimamente processados são produtos similares aos frescos, mas que passam por etapas de processamento que tornam os produtos prontos para o consumo (Herinque & Evangelista, 2006; Roversi e Masson, 2005). Após serem alterados fisicamente, estes produtos devem apresentar atributos de qualidade, mantendo suas características nutritivas e sensoriais (Melo et al., 2005). 1
O processamento mínimo concentra-se em grandes cidades por atender adequadamente aos requisitos contemporâneos de saúde, praticidade e segurança, com redução no volume do lixo urbano (Cenci et al., 2006). Por ser um produto altamente perecível apresenta volatilidade de preços, ligado a todos os elos da cadeia produtiva, em função também de alterações climáticas e sazonalidade (Sato et al., 2007; Melo et al., 2005). Os métodos tradicionais de avaliação financeira da viabilidade de um empreendimento requerem a estimativa dos custos dos capitais fixos, dos custos operacionais e da receita. A partir destas informações, o período de retorno do investimento (payback), a taxa interna de retorno (TIR), o índice de lucratividade (IL) e o valor presente líquido (VPL) são calculados. O payback indica o tempo para retorno dos investimentos iniciais do projeto. O cálculo da TIR é importante, pois representa a rentabilidade do projeto. O IL e o VPL medem o valor presente dos retornos para cada R$ 1,00 investido no ano zero e a riqueza gerada por determinado ativo a valores, respectivamente (Nardelli & Macedo, 2008; Pagliardi et al., 2006). Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a viabilidade financeira da implantação de uma indústria de vegetais minimamente processados em Goiânia/GO. Material e Métodos Este trabalho foi realizado na Universidade Estadual de Goiás, na Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas. Para os investimentos iniciais será utilizado capital próprio e considera-se que ao final de 10 anos o capital investido será recuperado. Os clientes da indústria serão cozinhas industriais, unidades de alimentação e nutrição (UAN), restaurantes, fast food, hipermercados e empórios da cidade de Goiânia. Aos hipermercados e empórios serão destinados 20% da demanda, pois possuem variação na quantidade e na variedade consumida, sendo o restante (80%) distribuído aos demais clientes que possuem consumo menos variável. Foi obtido o valor do investimento de acordo com as características da indústria, que será construída no setor Jardim Guanabara II, nas proximidades do CEASA, de onde será obtida diariamente a matéria-prima, reduzindo custos com estoque. A área total da construção é de 415,16 m², com a produção mensal de 18 toneladas de vegetais minimamente 2
processados entre mandioca, cenoura, abobora, cebola, repolho, couve e alface em diversos formatos (cubos, rodelas, fatias e ralado). Foi realizado estudo de mercado, por meio da consulta de preços de comercialização dos vegetais minimamente processados nos hipermercados da cidade (Tabela 1). Tabela 1. Preço médio da comercialização dos vegetais minimamente processados em Goiânia/GO, 2009. Descrição Preço (R$) Mandioca à vácuo (embalagem plástica à vácuo de 500 g) 2,55 Repolho (embalagem plástica de 200 g) 2,67 Cenoura (embalagem plástica de 250 g) 2,86 Couve (embalagem plástica de 200 g) 2,67 Abóbora (embalagem plástica à vácuo de 500 g) 4,12 Cebola (embalagem plástica de 200 g) 3,67 Alface (embalagem plástica de 200 g) 2,67 O processo de produção contempla as etapas de seleção e classificação da matéria prima, operações de lavagem, sanitização, centrifugação, retirada das partes não comestíveis, cortes, pesagem, embalagem e armazenagem sob refrigeração. Os equipamentos e insumos necessários às operações de processamento foram orçados de acordo com o mercado local. Foi construído o fluxo de caixa no período de dez anos para análise de viabilidade econômica do projeto O cálculo da receita anual foi baseada na sazonalidade dos produtos, considerando a quantidade média de vendas ao longo do ano, assim como o preço médio de cada produto. Para a montagem do fluxo de caixa foi considerado o investimento inicial no ano zero de R$ 657.109,29. Para os anos seguintes (horizonte de planejamento de 10 anos) foi calculado o fluxo operacional, sendo subtraída a receita anual da despesa anual. Para a análise de viabilidade considerou-se uma taxa mínima requerida de 7%. A depreciação foi calculada com base nos itens construção civil, veículo e equipamentos. Para tal, foi considerada a depreciação da edificação de 4% ao ano, do veículo de 15% ao ano e dos equipamentos de 10% ao ano. No prazo de análise do investimento foi verificado o Pay back descontado (PBD), e foram calculados a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Índice de Lucratividade (IL) e o Valor Presente Líquido (VPL). 3
Resultados e Discussão Após a estimativa das receitas e fixação das despesas da indústria de vegetais minimamente processados, prosseguiu-se com a construção do fluxo de caixa (Tabela 2). Tabela 2. Fluxo de caixa da indústria Descrição (R$) Período Fluxo Saldo do Investimento Despesas Receitas operacional capital Ano 0 (657.109,29) (657.109,29) (657.109,29) Ano 1 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (548.330,02) Ano 2 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (446.667,14) Ano 3 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (351.655,11) Ano 4 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (262.858,82) Ano 5 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (179.871,64) Ano 6 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (102.313,52) Ano 7 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 (29.829,30) Ano 8 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 37.912,97 Ano 9 (546.819,37) 656.899,20 116.393,82 101.223,49 Ano 10 (546.819,37) 1.035.348,50 494.843,15 352.776,66 Os resultados obtidos no projeto da agroindústria demonstram que o mesmo apresenta bons indicadores de viabilidade econômica. O VPL, para 10 anos, foi de R$ 352.776,66, a uma taxa mínima de atratividade (TMA) de 7% a.a. O resultado indica que, no horizonte de planejamento considerado, a atividade recuperará os investimentos iniciais e ainda terá retorno. A TIR obtida foi maior que o dobro (15,28%) da TMA (7%), caracterizando a rentabilidade do projeto. O Pay back (prazo de retorno) indica que o tempo de retorno dos investimentos iniciais será de 7 anos e 5 meses, representando uma capacidade relativamente boa do empreendimento de gerar recursos próprios. O IL obtido (1,54) indica que a indústria terá como lucro R$0,54 para cada R$1,00 investido. O perfil do VPL está representado na Figura 1. 4
600.000,00 400.000,00 Valor em R$ 200.000,00 0,00-200.000,00-400.000,00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12-600.000,00-800.000,00 VPL 12 acumulado Figura 1. Perfil do VPL. Conclusões Pela análise dos indicadores econômicos desse projeto, e considerando uma TMA de 7,0% a.a., percebe-se que a implantação da indústria de vegetais minimamente processados é rentável, gerando um Valor Presente Líquido de R$ 352.776,66 e recuperando o investimento em sete anos e cinco meses. A TIR de 15,28% mostra que a rentabilidade do projeto é 8,28% superior à rentabilidade da aplicação de segurança para o capital (7,0%). Referências Bibliográficas CENCI, S.A.; GOMES, C.A.O; ALVARENGA, A.L.B.; JUINIOR, M. F. Boas Práticas de Processamento Mínimo de Vegetais na Agricultura Familiar. In: Fenelon do Nascimento Neto. (Org.). Recomendações Básicas para a Aplicação das Boas Práticas Agropecuárias e de Fabricação na Agricultura Familiar. 1ª. ed. Brasília: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Informação Tecnológica, 2006, p. 59-63. HENRIQUE, C.M; EVANGELISTA, R.M. Processamento mínimo de cenouras orgânicas com uso de películas biodegradáveis. Publ. UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng., Ponta Grossa, v. 12, n. 3, p. 7-14, 2006. 5
MELO, B.; SILVA, C.A.; ALVES, P.R.B. Processamento mínimo de hortaliças e frutas. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia (UFU). 2005. Disponível em: < www.fruticultura.iciag.ufu.br/pminimo.htm>. Acesso em: 23 abr. 2009. NARDELLI, P.M; MACEDO, M.A.da.S. Análise de viabilidade econômico-financeira de uma unidade de processamento de frutas. In: CONGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RURAL, XLVI, 2008, Rio Branco. Resumos Expandidos... Rio Branco: SOBER, 2008. PAGLIARDI, O.; MACIEL, A.J.da.S.; LOPES, O.C.; ALBIERO, D. Estudo de viabilidade econômica de planta piloto de biodiesel. In: CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE GERAÇÃO DISTRIBUÍDA E ENERGIA NO MEIO RURAL, 6, 2006, Campinas. Resumos Expandidos... Campinas: AGRENER, 2006. ROVERSI, R.M.; MASSON, M.L. Qualidade sensorial da alface crespa minimamente processada embalada em diferentes filmes plásticos Sob atmosfera modificada. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 29, n. 4, p. 824-832, 2005. SATO, G.S; MARTINS, V.A.; CARLOS, R.F.B. Análise exploratória do perfil do consumidor de produtos minimamente processados na cidade de São Paulo. Informações Econômicas, São Paulo, v.37, n.6, 2007. 6