MINISTÉRIO DA FAZENDA r CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO - CRSNSI 2O9 Sessão Recurso 0 6629 Processo SUSEP n i 5414.001578/2008-54 RECORRENTE: RECORRIDA: BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S/A SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS - SUSEP EMENTA: RECURSO ADMINISTRATIVO. Denúncia. Item 1 - descumprimento do prazo para realização de junta médica, para dirimir as divergências de enquadramento da lesão e Item 2 - inclusão de segurada em apólices de seguro coletiva sem o preenchimento da proposta de adesão e Item 3 - não envio do certificado individual à segurada. Recurso conhecido e provido em parte. PENALIDADE ORIGINAL: Item 1 - multa no valor de R$ 9.000,00; Item 2 - multa no valor de R$ 18.000,00; Item 3 - multa no valor de R$ 9.000,00. BASE NORMATIVA: Item 1 - art. 88 do Decreto-Lei n 73/66, c.c. art. 6, caput, da Circular SUSEP n 302/2005; Item 2 - Art. 88 do Decreto-Lei n 73/66, c.c. art. 17, 1, da Resolução CNSP n 1 17/04; Item 3 - Art. 88 do Decreto-Lei n 73/66, c.c. art. 3 da Circular SUSEP n0 317/06. ACÓRDÃO/CRSNSP N 5175/15. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, decidem os membros do Conselho de Recursos do Sistema Nacional de Seguros Privados, de Previdência Privada Aberta e de Capitalização, por unanimidade, nos termos do Voto da Relatora: (i) dar provimento ao recurso da Bradesco Vida e Previdência S/A, quanto ao item 1 da Denúncia; (ii) negar provimento ao recurso quanto aos itens 2 e 3 da denúncia. Presente o advogado Dr. Juraí Monteiro que sustentou oralmente em favor da recorrente, intervindo nos termos do Regimento Interno deste Conselho o Senhor representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Dr. José Eduardo de Araújo Duarte.
Participaram do julgamento os Conselheiros Ana Maria Meio Netto Oliveira, Claudio Carvalho Pacheco, Carmen Diva Beltrão Monteiro, Washington Luis Bezerra da Silva e Marcelo Augusto Camacho Rocha. Presentes o Senhor Representante da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Dr. José Eduardo de Araújo Duarte, e a Secretária-Executiva, Senhora Theresa Christina Cunha Martins. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Paulo Antonio Costa de Almeida Penido e Henrique Finco Mariani. Sala das Sessões (Ri), 2 de fevereiro de 2015.,/ ÁNA MARIA MELO ~ ETTO OLIVEIRA fr ( J7 o DUARTE ional
MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO RECURSO CRSNSP N 6629 PROCESSO SUSEPN 15414.001578/2008-54 RECORRENTE: BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S/A RELATORA: ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA RELATÓRIO Trata-se de processo administrativo em que se apura (1) descumprimento do prazo para realização de junta médica, para dirimir as divergência de enquadramento da lesão e (ii) a inclusão de segurada em apólices de seguro coletiva sem o preenchimento da proposta de adesão e (iii) não envio do certificado individual à segurada, do qual resultou a condenação de BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S/A, tendo-lhe sido aplicadas penalidades de multa no valor de R$ 9.000,00, para as infrações descritas nos itens 1 e 3, e de R$ 18.000.00 para a infração descrita no item 2, majorada em virtude de reincidências, conforme decisão de fis. 266/267, de 23 de agosto de 2013. Consta dos autos que o segurado teve seu pedido de indenização por invalidez permanente e total por doença negado, pois a seguradora teria constatado durante a regulação do sinistro que a invalidez constatada era parcial e temporária (ti. 56), decorrente de LERIDORT, risco excluído da garantia de invalidez permanente e total por doença, conforme itens III. IV, e VII da Cláusula a das Condições Complementares da Apólice. Todavia, a declaração médica de fi. 26, datada de 29.06.2007, considera a invalidez do segurado como permanente e total. Ante a divergência, o segurado solicitou a realização de junta médica, que foi negada pela seguradora, sob o fundamento de que não haveria necessidade de realização da junta, por tratar-se de risco excluído, e tendo em vista que a segurada sequer tinha sido considerada inválida para a atividade laborativa (fi. 76). Após ser oficiada pela SUSEP (fl. 121), a seguradora informa que adotaria providências com vistas à realização de junta médica (fi. 128). No entanto, não houve acordo para a realização da junta, eis que o segurado não aceitou a indicação de médico assistente, por não possuir inscrição no Conselho Regional de Medicina da Bahia (fi. 125). Intimada para defesa, a seguradora apresentou petição de fls. 173/1 86, alegando que a hipótese trata de invalidez decorrente de doença ocupacional, expressamente excluída da cobertura contratada, inexistindo divergência a justificar a realização de junta médica. Ainda assim, tendo consentido na realização da junta médica, a não realização deu-se em
CRSNSP RECURSO N 6629 virtude exclusivamente de resistência do segurado que não acatou a designação dos médicos apresentados pela seguradora, em virtude de não possuírem registro no CRM/BA, o que não constituiria óbice à atuação na perícia. Alega que não houve preenchimento do cartão proposta porque à época em que entrou em vigor a apólice o denunciante se encontrava afastado de sua atividade profissional, sem retorno ao trabalho. Ademais, a nova apólice apenas teria dado continuidade à cobertura prevista em apólices anteriores, trazendo somente adaptações à nova regulação vigente, sem ônus ou deveres adicionais aos segurados. Quanto ao não envio do certificado, argumenta que o certificado foi devidamenle emitido (ti. 186), e que, nos seguros de vida em grupo, as apólices e endossos ficariam em poder da estipulante. Questiona a aplicação das reincidências, por ausência de fundamentação. Ante o questionamento da seguradora quanto à inespecificidade das reincidências apontadas, foram extraídos novos relatórios de lis. 195/197, que apontou a existência de processo paradigma referente à infração caracterizada como ausência de proposta de seguro, proposta de adesão ou proposta de inscrição". Houve nova intimação da acusada (ti. 199/201). Em nova defesa de lis. 215/232, a acusada reitera seus argumentos anteriores, acrescentando que haveria duplicidade entre o presente processo e os de número 15414.001578/2008/78 e 15414.000316/2008-72, requerendo seja reconhecida a continuidade da conduta, sob pena de incorrer-se em vedado bis in idem. Requer, ainda, a suspensão do processo, para aguardar a conclusão dos demais que tratam da mesma matéria, e que lhe seriam conexos, ou a anulação das condenações referentes aos itens 2 e 3, por litispendência. Requer concessão da atenuante quanto ao item 3. O parecer técnico de lis. 252/256, acolhido pelo parecer jurídico de fis. 257/260, opina pela procedência da denúncia, consignando que: 12. Tendo em vista que a seguradora deveria ter proposto a junta médica à segurada até o dia 3010812011 (/1. 152-150 dia após tomar ciência nos autos da divergência/contesta ção apresentada pela segurada à fi. 26 por intermédio da cópia integral do processo). Gonzo não apresentou qualquer comprovante de proposta e suas razões de de /sa não a justificam, concluímos que ficou caracterizada a sua responsabilidade na infração. (..) 14. Adiciona/mente, ainda que a segurada realmente estivesse aflistada de suas atividades à época. a Proposta de Adesão poderia ter sido colhida Clii sua residência ou em local pré-determinado. Como a Proposta de Adesão é obri,gatória na contratação (nos termos do Ar!. 65 cc o 2 do ar!. 17 da Res. C'VSP n 117/2004) e a mesma reconhecidamente não foi colhida, entendemos que restou caracterizada a infração. (..) 2
CRSNSP RECURSO N 6629 16. Como a seguradora não apresentou comprovante de envio do certuicado à época, associado à reclamação da seguradora à.fi. 01 de não recebimento nesmo após reiteradas solicitações, entendemos que restou caracterizada sua responsabilidade no cometimento da infração. (..) 18. Em relação à atenuante solicitada àfl. 231 para o 3 item, considerados o seguinte:o certtficado individual (1) deve ser enviado ao se.urado (ii,) durante a vigência do seguro (para fins de segurança jurídica) e (iii) apresentar as datas de início e término de vi.ência da cobertura individual (inciso 1 do 2 do Ar!. 3 da Circular SUSEP n 317/2006). Como o documento às fls. 168/169 não atendeu a nenhum desses requisitos, entendemos que a Cia. não faz jus à atenuante." 1- O Despacho da Subprocuradora Chefe da Subprocuradoria de Contencioso Administrativo de 11. 261, consigna que "não há que seflilar na hipótese de ocorrência de bis in idein, como alega a sociedade, pois os tipos infracionais descrilos nos itens 02 e 03 da intimação acostada, às fis. se materializam em relação a cada segurado que é aceito sem apresentação de proposta de adesão e/ou não receba o certificado individual. Assim, considerando que as condutas infracionais apontadas nos processos nomeados pela de,fèndente são refrrentes a segurados distintos, não resta configurado o instituto em questão". Intimada da decisão condenatória em 06/09/2013, a seguradora recorreu tempestivamente ao CRSNSP, reiterando, em razões recursais de lis. 304/3 1 7, seus argumentos anteriores. Requer a concessão de atenuante quanto ao item 3 e exclusão de reincidência quanto ao item 2. Em parecer de lis. 323/325, a Representação da PGFN junto ao CRSNSP manifesta-se pelo conhecimento do recurso e, no mérito, pelo não provimento. É o relatório. a ANA JAIRI"IA MELO NETTO OLIVEIRA Relatora Representante do Ministério da Fazenda Brasília, 18 de novembro de 2014. 3
MINISTÉRIO DA FAZENDA CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS, DE PREVIDÊNCIA PRIVADA ABERTA E DE CAPITALIZAÇÃO RECURSO CRSNSP N 6629 PROCESSO SUSEP N 15414.001578/2008-54 RECORRENTE: BRADESCO VIDA E PREVIDÊNCIA S/A RELATORA: ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA VOTO 1. O recurso é tempestivo e atende aos critérios de admissibilidade, pelo que dele conheço. 2. Impende-se examinar, antes de mais, a alegação de que as condutas apuradas no presente processo guardam correspondência com condutas investigadas em outros processos administrativos pela SUSEP, alertadas pela recorrente convocando diferentes institutos como bis in idem, litispendência, continuidade delitiva e conexão. 3. Sem pretender fazer uma relação exaustiva, recordo que o Conselho já teve oportunidade de examinar as condutas objeto do presente processo, consubstanciadas no descumprimento do prazo para realização de junta médica, na ausência de proposta de seguro ou de cartão proposta e no não envio de certificado individual ao segurado, quando da migração da apólice 7900 para a de número 850688, em diversas outras oportunidades, a saber: Recursos 6022, 6079, 6271 e 6432, julgados na 200 Sessão do CRSNSP; Recursos 6268 e 6664,julgados na 202' Sessão do CRSNSP; Recurso 6258,julgado na 204 Sessão do CRSNSP; e Recursos 6363 e 6425, julgados na 205 Sessão do CRSNSP. 4. O Conselho, naquelas oportunidades, entendeu que restara caracterizada a infração consistente no não preenchimento de cartão proposta, afastando a tese da conexão. litispendência ou bis in idem, prevalecendo a autonomia das infrações, em que pesem refiram-se a segurados incluídos em uma mesma apólice. Confira-se, a respeito, o o voto do Conselheiro Relator André Faoro quando do julgamento do Recurso 6363: "1-Já, ainda, a alegação de que as práticas objeto do presente processo seriam infrações continuadas. De falo existem outros processos em que são apontadas os mesmos procedimentos. Porém, para que fosse considerada a existência de infrações continuadas, seria, a meu ver, necessário que os cartões proposta não tenham sido enviados a todos ou a uni grande núinem de participantes da apólice, o mesmo ocorrendo como não envio dos cer/ulcados. A flua de cartões proposta e dos certificados individuais em
CRSNSP RECURSO N 6629 relação a uma meia dúzia de participantes não representa, a meu ver, infração continuada, nem bis in idem." Adentrando a análise de mérito, em todos os precedentes, ao examinar a infração por descumprimento do prazo para realização de junta médica, o Conselho entendeu por afastar a irregularidade da conduta, tendo em vista que a realização da junta foi frustrada em vista de objeções opostas pelo segurado, que recusou-se a aceitar a indicação de médico não inscrito no CRM/BA. Essa é exatamente a situação fática que se apresenta nesse caso, conforme demonstra o documento de ti. 125. Dessa forma, quanto ao item 1, dou provimento ao recurso. Quanto ao item 2, a infração encontra-se materializada e é admitida pela própria recorrente, que limita-se a justificar razões pelas quais seria prescindível a coleta de proposta. Nos precedentes acima citados, o Conselho tem reiteradamente entendido caracterizada a infração, atribuindo à seguradora a responsabilidade pela observância ao art. P da Circular SUSEP n 251/2004. Dessa forma, quanto ao item 2, nego provimento ao recurso. Quanto ao item 3. entendo, também com suporte em precedentes deste Conselho, que não há na norma especificação sobre a forma como deve ocorrer o envio do certificado ao segurado, não havendo comando que prescreva o envio por AR do que deva a seguradora se valer para demonstrar o efetivo envio. Acrescente-se que, em determinados casos, tem o Conselho decidido que a obrigação de envio do certificado ao segurado, nos seguros coletivos, recai sobre o estipulante, nos termos do art. 3 da Resolução CNSP n. 107/2004, competindo à seguradora demonstrar a emissão do certificado individual. Ocorre que, no presente caso, não se trata de estipulante autêntico, pois à toda evidência o Top Clube Bradesco é entidade vinculada à seguradora Bradesco. Ademais, o não cumprimento da obrigação de emissão do certificado está demonstrado, tendo em vista que o certificado juntado à fl. 188/189, referente à apólice 8506888, cuja vigência teve início em 01/12/2006, foi emitido apenas em 08/08/2011. Dessa forma, entendo que não houve cumprimento da disposição do Art. 3 da Circular SUSEP n 317/2006, que determina a emissão e envio do certificado no início do seguro, pelo que nego provimento ao recurso quanto ao item 3. Entendendo, ademais, que não é cabível a aplicação de atenuante para o 3 item, tendo em vista que o certificado individual deve ser emitido e enviado no início do contrato de seguro, durante sua vigência, e deve apresentar, inclusive, a data de término da vigência, requisitos que não foram observados pelo documento de fis. 188/189. É o voto. (V\ )/J 1X eá Ct iï 'ANA MARIA MELO NETTO OLIVEIRA Relatora Representante do Ministério da Fazenda Em 02 de fevereiro de 2015.