ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO MÓDULO 7 O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO



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Transcrição:

ECONOMIA E GESTÃO DO SETOR PÚBLICO MÓDULO 7 O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

Índice 1. O Sistema Tributário Brasileiro...3 1.1. Breve histórico do sistema tributário brasileiro... 3 1.1.1. A reforma dos anos 1960... 4 2

1. O SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO O sistema tributário brasileiro tem características interessantes, pois sempre houve a discussão sobre o objetivo da busca por um sistema tributário ideal, porém, poucos avanços foram realizados, e hoje temos a tão solicitada reforma tributária. Entretanto, nosso objetivo aqui é ver os principais conceitos de um sistema tributário e sua característica no Brasil, sendo esse um país industrializado e que possui várias classes sociais e estratos de renda, constituindo a famosa pirâmide social. Para sistematizar o que estamos falando, é importante sabermos como se dá a divisão da renda, cujas formas são: a) funcional, que é a quantidade da renda privada que assumirá a forma de salários, lucros, juros e aluguéis; b) pessoal, que é o percentual da renda (%Y) que ficará com cada percentil 1 da população; c) regional, que sistematiza a forma como se distribuem os recursos orçamentários entre as unidades federativas (UF) e municípios; d) pública e privada, em que temos o governo tributando o setor privado para sabermos qual parte será do governo; e) federal, isto é, o corte federativo que sistematiza como a tributação se distribui entre a União, o Estado e os municípios, na questão contribuição e necessidades locais. Lembrete: o sistema tributário é relevante para determinar a competitividade interna do país. 1.1. BREVE HISTÓRICO DO SISTEMA TRIBUTÁRIO BRASILEIRO Segundo Giambiagi (2001), no império, dois terços das receitas públicas vinham dos impostos sobre a importação. A partir da Constituição de 1891, introduziu-se o regime de separação de fontes tributárias. Com a Constituição de 1934, passaram a predominar os impostos sobre produtos. Os estados dotados de competência limitavam as alíquotas interestaduais em 10%. A maior fonte de receitas estaduais vinha do imposto de vendas e consignações. Nos municípios havia os impostos sobre a indústria e as profissões, e o imposto predial. Já na esfera federal, havia o imposto de importação, e, a partir dos anos 1930, o imposto sobre o consumo. 1 Percentil: é uma posição relativa de uma observação quando comparada com outros valores; por exemplo, se um estudante acerta 65% de um teste, mas cuja nota é o 20º percentil, significa que somente 20% tiveram nota pior e 80% foram melhor. 3

No período 1946 a 1966, as bases da tributação passaram a ser domésticas devido ao Processo de Substituição de Importações, PSI ou MSI, pois os municípios passaram a ter mais dois impostos, como o selo municipal e sobre a indústria e as profissões. Em segundo lugar, institucionalizou-se um sistema de transferência de imposto. Lembrete: em 1956, a criação do imposto sobre o consumo representou os primeiros passos em direção à tributação sobre o valor adicionado (IVA). 1.1.1. A reforma dos anos 1960 A economia brasileira iniciou seu processo de industrialização de forma tardia. Sabe-se que todo processo de industrialização é seguido por um processo de urbanização e construção do mercado interno, dando início ao movimento do fluxo circular. Antes da industrialização, a economia brasileira dependia da atividade de produtor e exportador de café, cuja base de tributação eram as exportações e a importação. Com o processo de industrialização em andamento e a criação de vários setores, além da agricultura e do comércio, como serviços e os subsetores derivados da industrialização, a economia interna foi ganhando uma matriz produtiva complexa e, junto a ela, a crescente urbanização também é acompanhada de várias demandas sociais, como educação, saúde, habitação, segurança, entre outras, além de uma infraestrutura para dar condições de investimento ao setor privado, como telecomunicações, transportes, energia, entre outros. Portanto, a reforma tributária nos anos de 1960 tinha o objetivo de aumentar a receita do Estado diante de tal complexidade, solucionar o problema do déficit fiscal gerado até aquele momento e possibilitar a continuidade do estímulo ao crescimento econômico interno. Observação: em 1967, o Brasil já tinha um dos sistemas mais modernos devido a priorizar o IVA e não o imposto em cascata. Foram criados o IPI (federal) e o ICM (estadual), depois ICMS. Esses impostos tinham o caráter não-cumulativo. Conforme Giambiagi (2001, p. 243), O ICM foi definido como um imposto de alíquota uniforme, não interferindo, portanto, na alocação de recursos e investimento, favorecendo a desoneração das exportações e dificultando a competição entre estados da federação. No caso do IPI, a diferenciação de alíquotas foi estabelecida segundo critérios inversos à essencialidade dos bens, permitindo uma maior utilização do imposto como instrumento de política econômica e social. A reformulação do sistema tributário brasileiro foi dividida em 5 pontos, sendo 4 categorias de impostos e um meio de receita extra: 1) a tributação sobre o comércio exterior: a tributação estadual passou para a esfera federal devido ao seu caráter de política econômica; 4

2) a tributação sobre o patrimônio e a renda: o somatório do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) como municipal, o Imposto de Transferência de Bens Imóveis (ITBI) como estadual e o Imposto Territorial Rural (ITR) e o Imposto de Renda (IR) como federais; 3) a tributação sobre a produção e a circulação: além do IPI e do ICMS, o Imposto sobre Serviço de Transportes e Comunicação (ISTC) e o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), ambos federais, e o Imposto sobre Serviços (ISS), que é municipal, todos em substituição aos impostos sobre indústrias e profissões; 4) impostos únicos: Imposto sobre Energia Elétrica (IUEE), sobre combustíveis e lubrificantes (IUCL) e sobre minerais (IUM), todos federais; 5) receitas extraorçamentárias: criação de fundos para implantar ações pontuais, como as contribuições do empregador para o FGTS e as contribuições para a Previdência Social. Os impostos centralizam-se no governo central devido a essa instância de governo ser responsável pelo crescimento econômico. O Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM) tiveram o papel de compensar a perda de capacidade tributária das esferas subnacionais, principalmente das regiões norte e nordeste do país. O IR, além de não ser usado na sua plenitude e potencial de receita, apresentava distorções, como: a) inexistência da tributação antecipada dos rendimentos dos profissionais liberais e locadores de imóveis, o que configurava um tratamento desigual relativamente aos assalariados; e b) a defasagem entre o período base de imposto e o momento de seu pagamento, ou de sua restituição, em que há inflação elevada. A criação do PIS 2 /PASEP 3 em 1975 significou uma saída da deterioração da receita devido aos incentivos fiscais e uma ampliação de recursos para financiamento extraorçamentários. Sendo assim, o PIS/PASEP passou a ser fonte de recursos para investimentos de longo prazo canalizados via BNDES, cujo problema foi estender a sua arrecadação ao faturamento das instituições produtivas (fator gerador), representando um retrocesso do sistema devido a caracterizar uma tributação em cascata e não via imposto sobre o valor adicionado (IVA). 2 PIS: Programa de Integração Social. 3 PASEP: fundo único do programa de formação do patrimônio do servidor público. 5