TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NCF PROCESSO Nº 25.032/10 ACÓRDÃO



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Transcrição:

TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NCF PROCESSO Nº 25.032/10 ACÓRDÃO N/M TEAL ARROW. Acidente com estivador a bordo. Trabalhador que se colocou no caminho de ponte rolante denotando imprudência. Ferimentos no representado que permitem a aplicação do perdão previsto no art. 143, da LOTM. Condenação. Vistos, relatados e discutidos o presente processo. Tratam os autos de um acidente ocorrido com um estivador a bordo de um navio de bandeira estrangeira, ocorrido no dia 02 de junho de 2009, aproximadamente às 14h35min, quando o navio se encontrava atracado no Porto de Santos. A embarcação envolvida foi o N/M TEAL ARROW, de bandeira de Bahamas, com 187,05m de comprimento, 27962 AB, classificado para atividade de Carga Geral em navegação de Longo Curso, de propriedade e armação e Gearbulk Shipowning Ltd., empresa com sede na Noruega e agenciado no Porto de Santos por Transchem Agência Marítima Ltda. Foram ouvidos durante o inquérito dois tripulantes, o operador da ponte rolante e o estivador acidentado, Sr. José Cardoso de Oliveira, ora representado. Segundo relatou o representado, se encontrava a bordo exercendo a função de contramestre de porão e nessa função tinha que orientar os estivadores que estavam dentro do porão. Estava posicionado entre a tampa do porão e a ponte rolante quando esta foi movimentada. Tentou acionar o dispositivo de freio de emergência, mas este não atendeu, tendo a ponte causado fratura exposta em seu pé direito e fratura simples no pé esquerdo. Um tripulante conseguiu acionar o dispositivo de parada de emergência, os primeiros socorros foram prestados a bordo e depois foi removido para um hospital. Quando indagado por que não atendeu ao sinal sonoro emitido pela ponte rolante, disse que havia uma segunda ponte rolante se movimentando simultaneamente, emitindo o mesmo tipo de sinal, o que o confundiu. Disse em seu depoimento, também, que exercia a profissão de trabalhador portuário avulso havia quinze anos quando ocorreu o acidente. O operador da ponte, Sr. Anderson Wayne de Oliveira, disse que de seu assento não tinha visão da escada de acesso ao porão onde estava a vítima e que havia olhado rapidamente o convés antes de movimentar a ponte e, como não havia ninguém, começou a movimentação. Atribuiu o acidente a uma fatalidade, pois a vítima não teria 1/6

atendido ao sinal sonoro emitido pela ponte rolante. O encarregado do inquérito concluiu então que o acidente com o estivador José Cardoso de Oliveira foi fruto da imprudência do mesmo, por não estar atento à movimentação da ponte rolante, lembrando que a mesma fica em constante movimentação. Notificado, apresentou defesa prévia na qual aduz, em resumo, que durante o inquérito somente teriam ouvido pessoas que teriam interesse em apontar à própria vítima a responsabilidade pelo evento e que, por isso, suas conclusões seriam equivocadas. Ressaltou as palavras do operador da ponte rolante que afirmou que havia dado uma rápida olhada no convés antes de começar a movimentar a ponte rolante, denotando sua imprudência. Acrescentou, ainda, que a responsabilidade pelo acidente cabe também aos contratantes da mão de obra, pois haveria a evidência de que faltou ao operador da ponte rolante o auxílio de um sinaleiro que pudesse ser seus olhos nos pontos cegos do percurso da ponte. Pediu que fosse isentado de culpa pelo evento e que esta fosse apontada ao armador do navio e ao operador portuário. Os autos foram remetidos a este Tribunal e, depois de autuados e distribuídos, foram entregues à PEM, que ofereceu representação em face do Sr. José Cardoso de Oliveira, com fulcro no art. 15, e, da Lei nº 2.180/54. Depois de resumir os principais fatos narrados no inquérito, a PEM afirma que o acidente de trabalho seria fruto da culpa exclusiva da vítima, eis que durante a operação teria permanecido em área considerada de risco, devidamente sinalizada, sem manter a necessária atenção quanto aos procedimentos de vigilância visual e auditiva. Pede ao final que o representado seja condenado, mas que não se apliquem a ele nenhuma pena a teor do art. 143 da LOTM. 2010 por unanimidade. A representação foi recebida na Sessão Ordinária do dia 23 de novembro de Regularmente citado apresentou contestação tempestiva por meio de advogado devidamente constituído, na qual aduz, em resumo, que o acidente não se deu por culpa exclusiva da vítima, ora representada, mas pela falta de um estivador cumprindo a função de sinaleiro a bordo. Disse que o operador da ponte não tinha condições de avistar o caminho do aparelho, devendo ser alertado da existência de qualquer obstáculo por um sinaleiro, que não foi contratado pelo Operador Portuário, dizendo que a culpa do Operador Portuário, do OGMO e do armador do navio seriam objetiva, por força do que dispõe o art. 927, parágrafo único, do Código Civil e da Súmula 341 do STF. Assim, apontando a culpa do acidente a terceiro, pede seja julgada improcedente a representação. 2/6

Aberta a instrução a PEM não pleiteou novas provas e o representado ouviu três testemunhas na Capitania dos Portos de São Paulo. As testemunhas confirmaram que não havia um sinaleiro no terno, que havia duas pontes rolantes se movimentando simultaneamente e que a contratação deste sinaleiro caberia ao Operador Portuário. Encerrada a instrução a PEM se reportou aos elementos da representação em alegações finais e o representado ressaltou que a prova testemunhal produzida por ele demonstrou a culpa do operador da ponte rolante pelo acidente, pois teria movimentado o aparelho sem se assegurar que o trilho estava livre, ressaltando que as testemunhas disseram que o representado não estava posicionado em local impróprio, pois seria ali que deveria exercer sua função e, assim, não contribuiu para o evento. Apontou a culpa pelo evento, ademais, aos contratantes da mão de obra avulsa, armador, operador portuário e Órgão Gestor de Mão de Obra, por força no que dispõe a Lei nº 8.630/93, uma vez que caberia a eles dar a segurança necessária para a conclusão segura dos trabalhos a bordo e não contrataram um sinaleiro que orientasse o operador da ponte rolante. Decide-se: A acusação que pesa sobre o representado é a de que agira com imprudência, ao permanecer ao alcance da ponte rolante durante sua movimentação e negligência, ao não atender os sinais sonoros emitidos por essa, colocando-se desta maneira em risco. A defesa segue a linha da culpa de terceiro, ora indicando que o guindasteiro teria sido imprudente ao movimentar a ponte rolante sem certificar-se que o caminho estaria livre, ora indicando que o Operador Portuário, o OGMO e o Armador do Navio teriam sido negligentes, por não contratarem um sinaleiro, que pudesse suprir a visão do operador da ponte rolante. Aponta, ainda, responsabilidade objetiva dos contratantes da mão de obra avulsa pelo acidente. A defesa segue também a excludente de culpabilidade relacionada ao infortúnio da própria vítima, dizendo que o movimento de duas pontes rolantes simultaneamente, ambas emitindo sinais sonoros, o teria confundido. Produziu prova testemunhal durante a instrução do processo, na qual confirmou que duas pontes rolantes eram movimentadas simultaneamente no dia do acidente e que no terno de trabalhadores avulsos não havia um sinaleiro auxiliando os operadores das pontes rolantes. Inicialmente, deve-se frisar que nos processos julgados pelo Tribunal Marítimo apura-se a responsabilidade por acidentes e fatos da navegação, cabendo ao julgador apontar a culpa, ou, eventualmente, o dolo, do causador do dano, a teor do art. 17, a, da LOTM. Nesse aspecto, a tese da culpa objetiva dos tomadores da mão de obra 3/6

avulsa contida na defesa não tem respaldo nessa esfera jurisdicional. A excludente de culpabilidade baseada na culpa do guindasteiro ou do tomador da mão de obra não podem ser aceitas neste caso. Os tomadores da mão de obra, Operador Portuário, Armador e OGMO, formam os ternos de trabalho de trabalhadores portuários avulsos cumprindo as diretrizes contidas em Convenções, Acordos ou Contratos Coletivos de Trabalho, que, por sua vez, são resultado de extensas negociações entre sindicatos. Não há nos autos prova de que para aquele tipo específico de carregamento haveria a previsão de o terno ser composto também com um sinaleiro e que o Operador Portuário, não obstante a falta desse trabalhador, determinou o prosseguimento da faina. Somente depois do acidente, quando foi confeccionada a defesa, é que se pensou na hipótese de que a movimentação das pontes rolantes seria mais segura se houvesse um sinaleiro orientando o guindasteiro e, eventualmente, retirando de seu caminho algum trabalhador. Deve-se levar essa boa ideia em consideração quando se fizer nova negociação coletiva, de modo a tornar a faina mais segura. Mas no caso em tela, por falta de previsão em norma ou em Convenção, Acordo ou Contrato, não se pode dizer que os tomadores da mão de obra avulsa tenham agido negligentemente ao não escalar um homem a mais, com a finalidade de orientar o guindasteiro. O guindasteiro, por sua vez, de sua posição não conseguia enxergar o representado como ficou provado nos autos. Por tal motivo a defesa apontou-o como culpado pelo acidente, dizendo que o mesmo teria sido imprudente por movimentar a ponte rolante sem se certificar que nada havia em seu caminho. Tal tese não pode ser aceita. Há a bordo uma série de trabalhos executados com pontos cegos, como o içamento de cargas por guindastes ou por meio de pontes rolantes, por exemplo. Por tal motivo os trabalhadores devem ter atenção redobrada durante a permanência nas proximidades desse tipo de equipamento. Também por tal motivo há sinais sonoros, faixas pintadas no chão delimitando a passagem e uma série de outros indicativos de segurança a bordo. Não pode ser o guindasteiro culpado por movimentar uma ponte rolante se um trabalhador se coloca no caminho, mormente se o equipamento emite sinais sonoros enquanto se movimenta. Por fim, a defesa do representado apresenta a tese do infortúnio, dizendo que havia duas pontes rolantes operando simultaneamente emitindo sinais sonoros, o que o confundiu. Essa tese tampouco pode ser aceita. Durante a instrução do processo as testemunhas confirmaram que havia de fato essa redundância de sinais sonoros, o que poderia mesmo causar confusão entre os 4/6

trabalhadores. Porém, pelas razões já antes expostas, devem ser redobrados os cuidados durante a movimentação de um equipamento deste tamanho, não podendo o trabalhador deduzir que o risco inexiste, devendo, ao contrário, sempre imaginar que este é presente e tomar cuidados além do esperado, de modo a preservar sua segurança e a segurança dos demais trabalhadores ao redor. As operações no porto estão entre as mais perigosas sob o ponto de vista da segurança do trabalho. Cabe a todos os envolvidos, indistintamente, a busca permanente por uma operação sem acidentes. A prova dos autos demonstrou que o representado se feriu durante a movimentação de uma ponte rolante, pois ele estava parado sobre o trilho por onde esta se movimenta, passando orientações aos estivadores que estavam dentro do porão. Ora, um estivador com quinze anos de experiência de trabalho a bordo tem conhecimento de que as pontes rolantes trabalham sobre trilhos e que esses devem estar livres, sob o risco de haver algum acidente. Sua experiência também é suficiente para que tenha consciência que da posição do guindasteiro não é possível se visualizar todo o percurso da ponte rolante, havendo pontos cegos. Deveria o representado manter-se afastado do trilho da ponte rolante ou, em eventual premente necessidade de se manter ali, ficar ainda mais atento à movimentação do equipamento, para dele afastar-se quando necessário. O representado foi evidentemente imprudente ao se colocar sobre o trilho da ponte rolante e negligente na sua obrigação de tomar atitudes seguras durante o trabalho e atender aos sinais sonoros emitidos pelo equipamento e por isso deve ser condenado. Dessa forma, o acidente de trabalho ocorrido a bordo do N/M TEAL ARROW caracterizou o fato da navegação constante do art. 15, e, da Lei nº 2.180/54 exposição a risco das vidas de bordo - e provocou ferimentos de natureza grave no próprio representado. Este fato da navegação teve por causa determinante a infelicidade da própria vítima de ignorar os sinais sonoros que indicavam a aproximação de uma ponte rolante, por pensar que os mesmos eram emitidos pela outra ponte rolante de bordo, permanecendo, assim, em seu caminho. Devem ser por tais motivos, julgados procedentes os argumentos lançados na representação pela PEM. Na aplicação da pena, porém, deve-se levar em conta que por consequência da infração o representado teve ferimentos de natureza grave, sendo aplicável, no caso, o perdão previsto no art. 143, da LOTM. Assim, 5/6

ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do fato da navegação: exposição a risco das vidas de bordo caracterizada pelo acidente de trabalho ocorrido com estivador, que lhe causou ferimentos de natureza grave; b) quanto à causa determinante: permanência da vítima no percurso de uma ponte rolante, por ter se confundido com os sinais sonoros emitidos por outra ponte rolante; e c) decisão: julgar o fato da navegação constante do art. 15, alínea e, como decorrente da imprudência do representado, Sr. José Cardoso de Oliveira, deixando de lhe aplicar penalidade por força do art. 143, da Lei nº 2.180/54, condenandoo, entretanto, ao pagamento das custas processuais. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 18 de setembro de 2012. Cumpra-se o Acórdão: Aos 31 de outubro de 2012. NELSON CAVALCANTE E SILVA FILHO Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA Diretora da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 6/6