TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /08 ACÓRDÃO
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- Maria de Belem Rocha Viveiros
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /08 ACÓRDÃO Embarcação sem nome. Colisão com banhista na praia Mar de Minas, represa de Três Marias, no município de Três Marias, MG, com vítima. Arquivamento. Vistos, relatados e discutidos os presentes Autos. Consta dos Autos que no dia 18 de fevereiro de 2007, cerca de 16h45min, ocorreu a colisão da embarcação de duralumínio, tipo chata, sem nome, não inscrita, com propulsão a motor de popa de 15 HP, conduzida pelo Bombeiro Militar Célio Alves Costa, de propriedade do 3º Batalhão de Bombeiros Militar de Minas Gerais, com o banhista Ivan Gomes dos Santos, na represa de Três Marias, município de mesmo nome, MG. Do acidente o banhista sofreu ferimentos no ombro direito e no couro cabeludo ao ser atingido pelo hélice da embarcação, o banhista perdeu os sentidos, sendo imediatamente recolhido pelos dois bombeiros militares que guarneciam o barco, os quais lhe prestaram os primeiros socorros e o conduziram a uma enfermaria que fora montada na praia para apoiar o evento carnavalesco que ocorria na represa, sendo em seguida encaminhado ao hospital do município. O Laudo de Exame Pericial concluiu que a causa determinante do acidente, não foi possível apurar, uma vez que ocorreu de forma imprevisível e sem que os tripulantes da embarcação do Corpo de Bombeiros e Ivan Gomes dos Santos pudessem ter tomado quaisquer ações no sentido de evitá-lo, já que a presença de um era ignorada pelo outro. Documentação de praxe anexada, principalmente o Inquérito Policial Militar nº 007/2007, instaurado pelo Corpo de Bombeiros Militar à fl. 5. No Relatório o Encarregado do Inquérito, concluiu que não foi possível apurar a causa determinante do acidente, tendo em vista que o acidente tratou-se de um exemplo de caso fortuito. A Douta Procuradoria Especial da Marinha ofereceu Representação em face de Célio Alves Costa, na qualidade de condutor da embarcação envolvida no acidente, por entendê-lo responsável pelo acidente da navegação, capitulado no art. 14, letra a (colisão) da Lei nº 2.180/54, fundamentando à fl. 52 que discorda do posicionamento do Encarregado do Inquérito, pois houve imprudência do representado em movimentar motor propulsor naquele local, onde havia risco de acidente com banhistas, risco este que se materializou já 1/5
2 que a colisão da embarcação com o banhista de fato ocorreu, não havendo dúvidas a esse respeito. Agindo o Representado em desacordo com a prescrição de caráter geral da NORMAM-03, que estabelece em seu item 0403, alínea b, que não é permitido movimentar propulsores havendo perigo de acidentes com pessoas que estejam na água. Recebida a Representação citado o representado Célio Alves Costa, o qual foi defendido por I. Advogado constituído, que requereu preliminarmente o benefício da Gratuidade de Justiça, que foi deferida por este Relator, à fl. 73. No mérito alegou em resumo que no dia 18/02/2007, data da ocorrência dos fatos que deram origem ao presente processo, foi feito pela guarnição dos Bombeiros Militares a demarcação da área para banhistas, alertando-os de que não deveriam ultrapassar os limites, o que foi prontamente obedecido por cerca de 90% dos banhistas. Certo grupo de pessoas não deram qualquer atenção ao que estava sendo alertado, sendo certo que, a todo o momento, estavam sendo advertidas para respeitar o limite demarcado. A suposta vítima, Sr. Ivan, encontrava-se fora da área delimitada, tendo pleno conhecimento de que estava desrespeitando as regras ali impostas, uma vez que do local onde se encontrava no momento do acidente tinha ele plena visão do cordão de isolamento, já que em ambas as extremidades havia sinalização de bóias, tendo inclusive um Bombeiro sinalizando e orientando aos banhistas quanto ao limite. A suposta vítima tinha evidentes sinais de embriaguez, porém em razão de sua função pública e influência na região do acidente, a mesma não foi submetida a exame toxicológico ou alcoólico. Importa esclarecer, que a suposta vítima é um ex-militar, excluído das fileiras da corporação da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais, em razão do comportamento inadequado e desequilibrado. Frise-se, ainda, que o Representado foi enviado para a missão que lhe foi confiada sem que fosse assegurado o mínimo de condições estruturais para sua execução na íntegra, sem ter apoio da Prefeitura local que dispõe de meios de sinalização mais eficientes, alertas escritos, alertas sonoros, entre outros, porém por amor a farda e a função de Bombeiro Militar, a guarnição de 7 Bombeiros para a fiel execução dos trabalhos de prevenção aquática a um público de aproximadamente pessoas dentro d água. Durante todo o evento, inclusive no momento do acidente, o Representado navegava em área previamente determinada pela Marinha que ali se fez presente, inclusive navegando em toda área durante a fiscalização. 2/5
3 O fato é que o Representado cumpriu com as ordens emanadas pela Marinha, tanto em relação a utilização da embarcação, como em relação aos limites da área de navegação, merecendo que este juízo não acolha a Representação ofertada pela Procuradoria da União. Requer, ainda, prazo de 10 dias para regularizar sua Representação, visto que esta subscritora vem encontrando dificuldades de comunicação com o Representando, já que este reside fora do Estado do Rio de Janeiro, o que ocasiona certo embaraço na obtenção da procuração e declaração de hipossuficiente devidamente assinada. Na instrução nenhuma prova foi produzida. Em Alegações Finais falaram as partes. Decide-se. De tudo o que consta nos presentes Autos, conclui-se que o acidente da navegação tipificado no art.14, letra a da Lei nº 2.180/54, ficou caracterizado como colisão de embarcação com banhista, durante evento carnavalesco na praia do Mar de Minas, na represa de Três Marias, MG. A colisão ocasionou ferimentos no ombro direito e no couro cabeludo do banhista Ivan Gomes dos Santos, o qual foi socorrido imediatamente pelos dois bombeiros militares que se encontravam na embarcação, os quais lhe prestaram os primeiros socorros, e em seguida foi levado para o hospital do município de Três Marias, MG. Célio Alves Costa, ora Representado declarou que o acidente aconteceu em virtude da vítima estar mergulhando fora da área demarcada para os banhistas. Declarou, ainda, que a embarcação encontrava-se a cerca de 200 metros de distância da margem a uma velocidade de cerca de 5 km/h, com o motor destravado. As condições de visibilidade eram muito boas, mais a água estava muito barrenta, impossibilitando a visualização do banhista acidentado. Ivan Gomes dos Santos, a vítima declarou que se encontrava na área que presumia ser de segurança para os banhistas, pois havia outras pessoas ao seu lado na água; que entrou na água para tomar banho com água no peito, mergulhou no sentido praia e quando acordou já estava na praia pois havia desmaiado ao ser atingido pelo hélice do motor do barco do Corpo de Bombeiros, que só soube que havia sido atropelado por um barco após acordar já na praia. Declarou ainda, que não havia isolamento para banhistas no local, que o dia estava claro, não chovia e nem ventava, porém a água estava muito turva, mais não poderia ter dificuldade a visibilidade do condutor da embarcação. 3/5
4 Declarou também, que não saberia informar com precisão a que distância ele estava da margem quando foi atingido pela embarcação. O Laudo de Exame Pericial realizado pela Capitania Fluvial de São Francisco concluiu que não foi possível apontar a causa determinante do acidente, que ocorreu de forma imprevisível e sem que os tripulantes da embarcação pudessem tomar qualquer ação para evitá-la. O Encarregado do Inquérito concluiu que o acidente foi decorrente de caso fortuito. Por fim, constatou-se que não restou apurada com precisão a distância exata que o banhista se encontrava da praia. Demais disso, a unanimidade da prova testemunhal, ouvidas durante o inquérito, confirmou que as águas da represa estavam turvas, o que dificultava a visualização de banhistas que sem encontravam mergulhando. Diante de tais premissas, permanece ainda no campo das dúvidas, a real distância em que o banhista acidentado se encontrava da praia, visto que o mesmo declarou que se encontrava na ocasião do acidente na área que presumia ser de segurança para banhistas e que mergulhou em direção a praia, que não recorda como ocorreu o acidente, pois havia desmaiado, e que só soube que havia sido atropelado por um barco após acordar na praia, e que não saberia informar com precisão a que distância se encontrava da margem quando foi atingido. Na hipótese de se considerar que o banhista estava em local não permitido, não se pode afirmar que a distância da lancha do Corpo de Bombeiros tenha guardado relação de causa efeito com o acidente. Por outro lado, se ao contrário, o mesmo estivesse mergulhando em local permitido, teria então havido falta de vigilância por parte do condutor da lancha dos Bombeiros. Entretanto, como tais fatores não foram apurados devidamente, visto que todos os envolvidos no acidente, condutor, testemunhas e a própria vítima não se preocuparam em observar a real posição da lancha, objetivando tão somente em socorrer a vítima, o qual encontrava-se desmaiado. Diante do exposto, conclui-se que não procedem os termos da Representação da Douta Procuradoria Especial da Marinha, tendo em vista que o acidente da navegação que provocou lesões corporais em banhista não teve suas circunstâncias determinantes apuradas acima de qualquer dúvida, razão pela qual esculpo o ora Representado Célio Alves Costa, condutor da embarcação do Corpo de Bombeiros, mandando arquivar ao Autos. Assim, 4/5
5 A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: colisão com banhista na praia de Mar de Minas, represa de Três Marias, MG, ocasionando ferimentos em banhista; b) quanto à causa determinante: não apurada acima de qualquer dúvida; c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº 2.180/54, como de origem indeterminada, exculpando Célio Alves Costa, condutor da lancha do Corpo de Bombeiros, mandando arquivar os autos. Oficiar à Diretoria de Portos e Costas quanto à infração ao art. 11 do RLESTA (contratar tripulante sem habilitação), cometida pelo proprietário da lancha, 3º Batalhão de Bombeiros Militares de Minas Gerais. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 24 de agosto de EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA Diretora da Divisão Judiciária AUTENTICADO DIGITALMENTE 5/5
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