TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /05 ACÓRDÃO
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- Marco Belém Álvaro
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO JP/ET PROCESSO Nº /05 ACÓRDÃO B/P CANADÁ. Naufrágio, quando adentrava na barra do rio Mampituba, município de Torres, SC, com danos materiais, sem vítimas. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos. Consta dos autos que no dia 21/12/04 por volta de 7h30min, o B/P CANADÁ, de propriedade de Juarez Gonçalves dos Santos, conduzido pelo pescador profissional Flávio Gonçalves dos Santos, transportando 14 pessoas, duas das quais tripulantes, naufragou quando adentrava a barra do rio Mampituba, município de Torres, SC. Do acidente não resultaram vítimas, havendo notícias apenas de perda de documentos por alguns (fls. 75). Tampouco há registro de incidente de poluição ambiental resultante do evento. A ocorrência foi registrada na Delegacia de Polícia de Passo de Torres, conforme verificado do boletim de fls. 75. Laudo de exame pericial direto e indireto verificou-se que a embarcação perante a Marinha do Brasil, e que no acidente a embarcação CANADÁ emborcou e, por estar próximo a terra os tripulantes e passageiros lançaram-se ao mar, sendo auxiliados no resgate por pescadores locais e tripulantes do B/P CALIPSO IV, e conforme informações do Hospital Nossa Senhora dos Navegantes, local onde foram encaminhados os passageiros, todos foram medicados, e liberados sem constatação de gravidade. A embarcação ficou emborcada por várias horas, sendo rebocado pelo B/P VÔ PEDRO I e B/P HENRIQUE V até o estaleiro de Eduardo Espíndola Fernandes. A casaria ficou totalmente destruída e houve perda de material de navegação, comunicação e parte da rede de pesca. Concluiu, portanto que os fatores contribuintes foram: a) Fator humano: tendo em vista a imprudência por parte de Juarez Gonçalves dos Santos, ao autorizar a saída para o mar de embarcação sem documentação, e sem ser vistoriada e liberada pela Marinha no que diz respeito à segurança da navegação, e ser conduzida por pessoa de habilitação inferior a classe da referida embarcação, pois Flavio Gonçalves dos Santos, mestre no momento do acidente, possuía carteira classificada como 1/6
2 POP (Comandante de embarcações, até 10 AB NORMAM 13, Cap. 02, Anexo 2-A) e o B/P CANADÁ possuía AB 19,88, conforme declaração, notas de arqueação de embarcações e memorial descritivo assinado pelo engº Alberto Lucio Vaquero; e Fator operacional: tendo em vista, que a manobra executada pelo mestre da embarcação por ocasião da entrada na barra do rio, foi contestada por todos que, se encontravam a bordo, demonstrando a falta de qualificação do mestre do B/P CANADÁ, Flávio Gonçalves dos Santos. Concluiu, portanto, que a causa determinante do acidente, foi um conjunto de erros cometidos pelo proprietário, pelo contratante do serviço e pelo excesso de pessoas (15 pessoas), somadas a grande quantidade de redes e equipamentos a bordo, e as falhas na execução da manobra de entrada na barra pelo mestre da embarcação. Documentação de praxe anexada. No relatório o encarregado do inquérito concluiu que os possíveis responsáveis pelo acidente da navegação com o B/P CANADÁ foram Juarez Gonçalves dos Santos, proprietário do barco, Flávio Gonçalves dos Santos, mestre do barco e indiretamente Breno Xavier Neves Filho, que intermediou a viagem. Notificação formalizada. A Douta Procuradoria, ofereceu representação em face de Juarez Gonçalves dos Santos, proprietário do B/P CANADÁ e Flávio Gonçalves dos Santos, mestre do B/P CANADÁ com fulcro no art. 14, letra a (naufrágio parcial), da Lei nº 2.180/54, fundamentando. Recebida a representação e citados os representados. A defesa dos representados Flavio Gonçalves dos Santos e Juarez Gonçalves dos Santos, por I. advogado constituído, alega em resumo que: Das causas do acidente. De acordo com a narrativa dos contestantes e demais provas carreadas aos autos, o acidente ocorreu por uma casualidade, haja vista que todos os cuidados foram tomados, e segundo mestre da embarcação, o mesmo teria efetuado a manobra correta, com as devidas cautelas. Dessa forma, o sinistro há que ser considerado como uma fatalidade, passível de acontecer, ante os riscos naturais da própria atividade. Em momento algum restou caracterizada a imprudência, imperícia ou negligência, as quais não poderão ser simplesmente presumidas, e não há provas robustas capaz de conduzir a tal raciocínio. 2/6
3 O simples fato de a embarcação não encontrar-se inscrita na CP não é suficiente para atribuir-se a culpa aos contestantes, pois que, s.m.j., isto não evitaria o acidente. Ora, a falta de inscrição é mera irregularidade administrativa e não possui o condão de influenciar na ocorrência de qualquer sinistro. Da responsabilidade dos contestantes. O contestante Juarez Gonçalves dos Santos não teve participação direta no evento danoso, pois que não encontrava-se presente naquele momento, sendo mero proprietário da embarcação. Dessa forma, deverá o mesmo responder apenas pelas irregularidades administrativas, ou seja, pela ausência de inscrição da embarcação junto à CP. É bom salientar, conforme consta de seu depoimento, que no dia dos fatos o mesmo dirigia-se à CP, no intuito de regularizar sua embarcação, o que demonstra a seriedade e responsabilidade do mesmo. O contestante Flávio Gonçalves dos Santos, na qualidade de mestre no momento do acidente, deixou claro em seu depoimento que tomou todas as cautelas necessárias ao efetuar a manobra, tendo atribuído como causa do sinistro mera fatalidade. Ademais, inexistem provas suficientes nos autos de que o mesmo foi responsável direto pelo ocorrido. Ademais, ninguém poderá ser condenado por mera presunção, pois que, no mínimo existem sérias dúvidas quanto a culpa do mestre, devendo, portanto, prevalecer o benefício da dúvida in dúbio pro reo. Assim sendo, e conforme mencionado inicialmente, os contestantes não procuram eximir-se de suas responsabilidades, porém, não poderão ser punidos por algo que não cometeram. Isto posto, requer seja recebida a presente contestação, prosseguindo-se o feito até seus ulteriores termos, pugnando, desde já, pela improcedência total da denúncia. Protestam por todos os meios de provas em direito admitidos, tais como, juntada de documentos, perícias, oitiva de testemunhas que serão arroladas oportunamente, e outros que se fizeram necessários. Na instrução nenhuma prova foi produzida. Em alegações finais falaram as partes. Analisando-se os autos, verifica-se que na tarde de 21 de dezembro de 2004, na barro da rio Mampituba, município de Torres, SC, o mar estava calmo e as condições ambientais eram boas. 3/6
4 Constata-se que o B/P CANADÁ navegava na entrada dos molhes do rio Mampituba, Torres, SC, quando ocorreu seu naufrágio e, por estar próximo a terra, os tripulantes e passageiros lançaram-se ao mar, sendo auxiliados no resgate por pescadores locais e tripulantes do B/P CALIPISO IV. Constata-se ainda, que a embarcação retornava da ilha dos Lobos e na entrada da barra as ondas arrembetavam devido a maré de vazante. Quando uma onda de um metro de altura, que pegou o barco pela popa, provocou seu adernamento para boreste, e em seguida o sem emborcamento. Em virtude desse naufrágio, as vítimas foram socorridas e levadas ao hospital Nossa Senhora dos Navegantes, em Torres, por uma guarnição do Corpo de Bombeiros. Quanto ao barco, a mesma não sofreu avarias em suas obras vivas. Todavia, teve a casaria totalmente destruída, conforme o indicado pelas fotos de fls. 14/18. É sabido que o B/P CANADÁ havia sido alugada à empresa Redley, para realização de um ensaio fotográfico publicitário, com modelos, masculinos e femininos, na ilha dos Lobos. Constatou-se também, que o MOC Breno Xavier Neves Filho, observou que a embarcação encontrava-se derrabada em virtude das redes de pesca, e que percebeu que o condutor Flavio Gonçalves dos Santos ora 2º representado, errou o canal, e que devido as fortes ondas, o barco foi jogado sobre um banco de areia, vindo a emborcar. Declarou também, que o B/P CANADÁ deveria ter adentrado a barra mais próximo do molhe sul,, onde fica situado o canal, e, não manobrado em meio as ondas, visto que, a vazante na barra era muito forte, anormal para aquele horário. O condutor do barco pesqueiro Flávio Gonçalves dos Santos, declarou às fls. 36/37, que estava ciente que sua habilitação não lhe permitia comandar uma embarcação com AB, e que também sabia que a mesma não estava classificada para realizar o transporte de passageiros, e que, mesmo assim, se fez ao mar por burrice, atendendo ao pedido de seu irmão, proprietário da embarcação, Juarez Gonçalves dos Santos, ora 1º representado. O inquérito apurou as circunstâncias que envolveram o acidente, concluindo, que a causa determinante do naufrágio foi o erro de navegação do condutor inabilitado ora 2º representado, Flavio Gonçalves dos Santos, na condução do barco pesqueiro, uma vez que deixou de observar as medidas necessárias para se fazer ao mar com todas aqueles passageiros a bordo, e demonstrou ainda total falta de habilidade e cuidado nas manobras, por ocasião da entrada na barra do canal, que por suas características requer atenção redobrada. 4/6
5 Demais disso, restou apurada a imprudência e a negligência do proprietário do barco Juarez Gonçalves dos Santos, ora 1º representado, o qual liberou a embarcação, sem a mesma estar autorizada para navegar, sem documentação, sem ser vistoriada e liberada pela Autoridade Marítima, no que diz respeito a segurança da navegação para ser utilizada em atividade diferente da qual seria classificada para exercer, e ser conduzida por pessoa de habilitação inferior a classe da mesma. Nessas condições, considerando o erro de navegação do 2º representado, aliado ao excesso de peso, somando-se a imprudência e negligência do proprietário do barco, comprometeram decisivamente a navegação da embarcação, deixando-a vulnerável para o acidente, o qual acabou se materializando. Considerando ainda que o proprietário, ora representado, infringiu o que manda os artigos 11 (contratação de tripulante sem habilitação) e 16, inciso I (falta de inscrição da embarcação), ambos do RLESTA e a Lei nº 8.374/91 (falta de seguro obrigatório DPEM), o que prejudicou sobre maneira o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a da Lei nº /54, caracterizado como naufrágio de embarcação ocorrido na barra do rio Mampituba, município de Passo de Torres, SC. Diante do exposto, procedem os termos da representação ofertada pela Douta Procuradoria., condenando os representados Juarez Gonçalves dos Santos proprietário do B/P CANADÁ por imprudência e negligência, condenando à pena de multa de R$ 1.000,00 (mil reais) e o 2º representado Flavio Gonçalves dos Santos, condutor inabilitado para exercer a função de Mestre do B/P CANADÁ, por imprudência e imperícia à pena de multa de R$ 300,00 (trezentos reais) e custas proporcionais para ambos os representados. Oficiar à Diretoria de Portos e Costas (DPC) a falta do seguro DPEM, a ser atribuída ao proprietário do B/P CANADÁ Juarez Gonçalves dos Santos. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente: naufrágio de embarcação, quando navegava na entrada da barra do rio Mampituba, Passo da Torre, SC, com danos materiais sem vítimas; b) quanto à causa determinante: erro de navegação de condutor inabilitado e uso impróprio de embarcação; c) decisão: julgar o acidente da navegação, tipificado no art. 14, letra a, da Lei nº /54, como decorrente de imprudência e negligência do 1º representado Juarez Gonçalves dos Santos, proprietário do BP CANADÁ, condenando-o à pena de multa de R$ 1.000,00 (mil reais), e o 2º representado, condutor inabilitado BP CANADÁ Flávio Gonçalves dos Santos, por imprudência e imperícia à pena de multa 5/6
6 de R$ 300,00 (trezentos reais), e custas proporcionais para ambos os representados. Oficiar à Diretoria de Portos e Costas falta do seguro obrigatório DPEM, a ser atribuída ao proprietário do BP CANADÁ. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 17 de julho de EVERALDO SÉRGIO HOURCADES TORRES Juiz-Relator LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente 6/6
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