1/6 TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NC PROCESSO Nº /08 ACÓRDÃO
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- Salvador Esteves Regueira
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1 TRIBUNAL MARÍTIMO FC/NC PROCESSO Nº /08 ACÓRDÃO B/P SANTA ROSA R x baleeira MARAJÁ II. Abalroamento com perda total da última. Embriaguez confessada do condutor. Imperícia e imprudência provadas. Condenação. Vistos, relatados e discutidos os presentes Autos. Cuidam os autos de um abalroamento ocorrido em 06 de outubro de 2006, na praia de Governador Celso Ramos, em Florianópolis, SC, quando o B/P SANTA ROSA R, nº de inscrição , com 19,20m de comprimento, 4,98m de boca e AB 31, embarcação de pesca classificada para navegação em mar aberto, de propriedade do Sr. Ewaldo Reiser Filho, qualificado no Título de Inscrição de Embarcação nº /2000 constante de fls. 15, tripulada no momento do acidente pelo contramestre João Manoel Costa, representado, qualificado nos autos no intróito de seu depoimento à Capitania dos Portos de Santa Catarina à fl. 46, abalroou a Baleeira MARAJA II, nº de inscrição , com 9,0m de comprimento, 3,0m de boca e AB 2,8, embarcação de pesca classificada para navegação Interior, de propriedade do Sr. Alcidemar de Oliveira Sagas, qualificado no Título de Inscrição de Embarcação nº /2004 constante de fl. 21. O Relatório do Inquérito conduzido pela Capitania dos Portos de Santa Catarina informa que o B/P SANTA ROSA R, que estava fundeado em frente à praia de Governador Celso Ramos, começou a girar em torno de sua amarra, vindo a abalroar a Baleeira MARAJA II, que estava fundeado nas proximidades, provocando seu naufrágio. O B/P SANTA ROSA R estava tripulado pelo Contramestre João Manoel da Costa declarou em depoimento prestado na fase de inquérito que: deu partida normal e subiu para navegação, engatou o reversor atrás para soltar o nó da amarra, mas quando tentou desengatar para ficar em ponto morto o reversor travou e não quis desengatar, ficando com a máquina a ré travada, e como estava com o ferro na água e embarcação com máquinas a ré a tendência da mesma era girar em torno da amarra, batendo na embarcação MARAJA II. Destaca-se que o Representado respondeu afirmativamente quando indagado se havia ingerido bebida alcoólica antes de manobrar a embarcação no período em que estava em terra. Na fase de Inquérito haviam inicialmente ouvido apenas o proprietário da embarcação abalroada e seu filho (fls. 10 e 12), o que motivou a determinação de descida dos autos do inquérito para sanar a referida discrepância, que poderia ocasionar a nulidade de 1/6
2 todo o processo (Restituição de Autos de Inquérito às fls. 02/03). Atendida a determinação deste E. Tribunal foram ouvidos uma testemunha ocular do acidente, Sr. Mário José Costa (fl. 41) e o próprio Sr. João Manoel da Costa, tripulante que causou o acidente (fl. 46). Concluiu o Inquérito que a causa determinante do acidente foi a imperícia do contramestre da embarcação SANTA ROSA R, Sr. João Manoel da Costa. Diz que o fator operacional contribuiu pela manobra mal executada, que o fator humano contribuiu pois o representado permitiu que sua embarcação fizesse giro sem levar em consideração a distância que havia entre ela e a embarcação MARAJÁ II. Encerrada a fase de Inquérito o Representado foi instado a apresentar Defesa Prévia no prazo apontado, deixando, entretanto, de apresentá-la (fls. 58/59). Recebido e distribuído estes autos ao Exmo. Juiz Dr. Everaldo, este o encaminhou a D. PEM que representou em face do Sr. João Manoel da Costa com fulcro no art. 14, alínea a, ressaltando na peça a imperícia do Representado e o fato de que o mesmo estava embriagado no momento do acidente. Pede a condenação nas penas da Lei nº 2.180/54 e condenação ao pagamento das custas. Este E. Tribunal recebeu a Representação na 6.379ª Sessão Ordinária do dia 12 de junho de 2008, à unanimidade. A tentativa de citação por AR do Representado no endereço que forneceu em seu depoimento foi frustrada, tendo o documento de recebimento sido assinado por pessoa estranha ao processo (fl. 74). Diante disso foi determinada a citação via Capitania dos Portos (fl. 75), também frustrada, por encontrar-se o Representado em local incerto e não sabido (fl. 77). Por fim foi efetuada a citação por meio de edital próprio (fl. 83), publicado em 19, 20 e 21 de abril de 2008, conforme certidão de fl. 84. Decorrido o prazo de resposta sem a apresentação de defesa, foi declarada a revelia do representado, tendo sido ao mesmo indicado defensor dativo. A Defensoria Pública da União apresentou defesa às fls. 86/88 (repetida às fls. 89/91) que, em síntese, pretende exculpar o Representado em razão de o mesmo se encontrar ao tempo do ocorrido em estado de embriaguez. Fundamenta tal tese no art. 28 do Código Penal Brasileiro, que isenta de culpa o agente de crime que o comete em estado de completa embriaguez, de modo que ao tempo da ação não possa entender o caráter ilícito do fato. suas peças. Na fase de instrução as partes não produziram provas. Igualmente, instadas a se manifestarem em razões finais, ambas se reportaram às O naufrágio da baleeira MARAJÁ II em razão de ter sido a mesma 2/5
3 atropelada pelo B/P SANTA ROSA R enquanto estava amarrada em local de fundeio entre outras embarcações é fato incontroverso. É incontroverso também que o SANTA ROSA R estava tripulado somente pelo representado, Sr. João Manoel da Costa, no momento do abalroamento. Assim, temos nos autos prova da autoria e a materialidade, motivos suficientes para a condenação por este E. Tribunal e aplicação das sanções administrativas pertinentes. A defesa não nega nem a autoria nem a materialidade. Baseia-se apenas na excludente de punibilidade prevista no 1º, do art. 28, do Código Penal vazado nos seguintes termos: 1º É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com seu entendimento. Há a não aplicação de pena criminal, portanto, aos agentes que estiverem completamente embriagados por caso fortuito ou força maior e, ainda, que neste estado estivessem inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito de sua ação ou de se auto determinarem. É um conjunto de elementos que devem estar presentes no momento do fato delituoso para que se aplique ao caso a exceção prevista pelo 1º, do art. 28, do CPB. A regra é a do caput do art. 28, onde o legislador brasileiro entendeu que não excluem a imputabilidade penal, (inc. II) a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeito análogo. O 1º é a exceção. E sendo excepcional, deve ser provada por quem a alega em seu favor. A embriaguez pode ser conceituada como a intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool ou substância de efeitos análogos que privam o sujeito da capacidade normal de entendimento. É classificada pelo Código Penal em voluntária, culposa e fortuita. Será voluntária quando o agente procura intencionalmente o estado de ebriedade. Pode, inclusive, ser preordenada se o agente bebe para melhor cometer o crime. A embriaguez culposa ocorre quando o agente, não pretendendo embriagar-se, bebe demais, imprudentemente, chegando assim ao estado etílico. A embriaguez fortuita (ou acidental) decorre de caso fortuito ou força maior, situações em que o sujeito não quer embriagar-se nem fica embriagado por culpa sua, como, por exemplo, quando ingere bebida sem saber de seu teor alcoólico e assim fica embriagado. A inimputabilidade por exceção aplica-se apenas aos casos de embriaguez fortuita, sendo imputável o agente nas demais modalidades. Caberia à defesa a prova da exculpabilidade, que somente poderia ser reconhecida: a) se a embriaguez fosse provocada por caso fortuito ou força maior; b) se a 3/5
4 embriaguez fosse completa; e c) se o agente estivesse inteiramente incapaz de entendimento ou de se autodeterminar no momento da conduta (ação ou omissão). Tratando-se de embriaguez incompleta há imputabilidade pela existência, ainda, da faculdade psíquica de entender e querer do agente. Em seu depoimento o representado afirma que fundeou o SANTA ROSA R na praia dos Ganchos, local do acidente, buscando abrigo contra o mau tempo. Baixou a terra para dar uma volta e depois retornou para bordo, deu partida no motor, engatou o reversor para tentar safar a amarra. E como a embarcação estava com o ferro n água tendeu a girar em torno da amarra. Disse, ademais, que tentou desengatar o reversor para colocá-lo em ponto morto, mas o mesmo travou. Observa-se que o Representado estava agindo conscientemente na tentativa sair com a embarcação do local. Foi imperito e, por ter ingerido bebida alcoólica conforme afirmou em seu depoimento, foi também imprudente. Mas não denotou atos de alguém que estivesse em completa embriaguez a ponto de ser considerado um inimputável. E ao invés de obter a benesse da inimputabilidade, sua confissão durante a perícia e reafirmada na defesa, de que ingerira bebida alcoólica antes do acidente, é agravante que deve ser considerada. A NORMAM 07 estabelece no item 0310 os parâmetros a seguir no caso de condução de embarcação em estado de embriaguez. A normativa estabelece duas situações possíveis: 1) Quando for apurado que o teor alcoólico do condutor é de até 3 (três) décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões, aplica-se ao mesmo as medidas administrativas de retenção da habilitação (CIR ou CHA) e apreensão da embarcação e, ao encerramento do procedimento administrativo, o infrator poderá ser penalizado com a suspensão ou o cancelamento da habilitação; e 2) Quando for constatado que o teor alcoólico do condutor é superior a 3 (três) décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões, este será conduzido até a autoridade policial, para que seja enquadrado no crime de Atentado Contra a Segurança do Transporte Marítimo, Fluvial e Aéreo (CP, art. 261), com penas que variam de reclusão de 2 (dois) anos a 12 (doze) anos, se do fato resultar naufrágio, como ocorreu neste caso. Não foi possível se fazer a aferição de alcoolemia do Representado durante a inspeção que se seguiu ao naufrágio da baleeira MARAJÁ II, tendo em vista que o fato somente chegou ao conhecimento da autoridade três dias depois do acidente. Mas pode-se presumir a favor do réu que a embriaguez era de menor grau, impondo, assim, apenas as sanções administrativas mais brandas previstas na norma. Pesa a favor do Representado apenas o fato de o proprietário da embarcação 4/5
5 abalroada ter sido ressarcido do prejuízo, conforme consta dos depoimentos de fls. 10 e 12, fato, inclusive, que passou despercebido pela defesa, que procurou o caminho mais espinhoso da exculpabilidade pela embriaguez completa sem ter feito prova que dessa validade à sua tese. Sendo assim, Diante da imperícia do Representado ao tentar safar o ferro dando com motor atrás da embarcação sozinho a bordo e da sua imprudência por conduzir a embarcação sob efeito de bebida alcoólica e, ainda, diante da gravidade do resultado de seu ato, decide-se julgar procedente a Representação apresentada pela D. PEM, considerando o Sr. João Manoel da Costa responsável pelo abalroamento havido entre a embarcação de pesca por ele conduzida, SANTA ROSA R e o barco de pesca MARAJÁ II. Assim, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à natureza e extensão do acidente da navegação: abalroamento seguido de naufrágio com perda total de embarcação menor atingida por outra de maior porte. Sem danos pessoais ou poluição marinha; b) quanto à causa determinante: manobra inadequada do Representado quando tentava safar o ferro da sua embarcação, em razão de estar sob efeito de bebida alcoólica; c) decisão: julgar o acidente da navegação capitulado no art. 14, letra a, condenando o Sr. João Manoel da Costa à pena de suspensão por 30 (trinta) dias, cumulada com multa arbitrada em R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), com fulcro nos art. 121, inc. II e VII, cumulados com os art. 124, inc. I e IX, 135, inc. IX e 139, inc. IV, letras a e d, todos da Lei nº 2.180/54, observado o ditame também do art. 140 da mesma Lei. Custas na forma da lei. Publique-se. Comunique-se. Registre-se. Rio de Janeiro, RJ, em 26 de abril de NELSON CAVALCANTE E SILVA FILHO Juiz-Relator 5/5 LUIZ AUGUSTO CORREIA Vice-Almirante (RM1) Juiz-Presidente DINÉIA DA SILVA
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