ACÓRDÃON. 27483 EM BLOCO - TELEVISÃO - 12 A ZONA ELEITORAL - FLORIANÓPOLIS Relator: Juiz Luiz Henrique Martins Portelinha Recorrente: Coligação Avança Florianópolis (PCdoB-PT-PTdoB-PRP-PR-PRB) Recorridos: César Souza Júnior e Coligação Por Uma Cidade Mais Humana (PSD/PP/PSDB/DEM/PSB/PSC/PSDC) - ELEIÇÕES 2012 - RECURSO - REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL - TELEVISÃO - HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO - ALEGAÇÃO DE UTILIZAÇÃO DE MEIO PUBLICITÁRIO CAPAZ DE CRIAR NA OPINIÃO PÚBLICA, ARTIFICIALMENTE, ESTADOS MENTAIS, EMOCIONAIS OU PASSIONAIS NÃO DEMONSTRADA - AUSÊNCIA DE OFENSA ÀS NORMAS DISCIPLINATÓRIAS DA PROPAGANDA ELEITORAL - PEDIDO IMPROCEDENTE - SENTENÇA MANTIDA DESPROVIMENTO. Vistos etc. ACORDAM os Juizes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator, que integra a decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.
RELATÓRIO Trata-se de recurso interposto pela Coligação Avança Florianópolis (PCdoB-PT-PTdoB-PRP-PR-PRB) contra a sentença do Juízo Eleitoral da 12 a Zona Eleitoral de Florianópolis, que julgou improcedente o pedido formulado na representação ajuizada contra César Souza Júnior e a Coligação Por Uma Cidade Mais Humana (PSD/PP/PSDB/DEM/PSB/PSC/PSDC) (fls. 28-29). Em suas razões (fls. 31-37), argumenta que: - houve a veiculação de propaganda irregular na televisão durante o horário eleitoral gratuito das 20h30min do dia 24.8.2012; - "[...] verifica-se entre os minutos 04:00 e 05:36, que o recorrido, outrora representado, utilizou-se de cenas, com forte apelo emocional, extraídas do programa 'Boa Tarde Santa Catarina' apresentado pelo seu pai, César Souza, na TV Barriga Verde, Band Santa Catarina, de Florianópolis (conforme degravação em anexo)" (fls. 32-33 - grifou-se); - esse apelo ao assistencialismo, aceitável para um programa televisivo, é de uso bastante questionável em se tratando de propaganda eleitoral; - a livre manifestação do pensamento, assegurada pelo art. 5 o, IV, da Constituição Federal de 1988, deve observar os limites impostos pela legislação eleitoral de regência (art. 5 o da Resolução TSE n. 23.370/2011 e art. 242 do Código Eleitoral), que veda a veiculação de toda propaganda tendente a criar na opinião pública, artificialmente, estados mentais, emocionais ou passionais em favor de determinado candidato; - "[...] a veiculação das imagens do referido programa levariam o eleitorado a entender que se o recorrido vencer as eleições e chegar à prefeitura levará o mesmo espírito assistencialista de seu pai a todas as pessoas necessitadas, situação esta tendente a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais em benefício de candidato" (fl. 34 - grifou-se); - há precedente na jurisprudência a amparar sua tese; - a propaganda eleitoral deve ser utilizada para a apresentação das propostas de governo pelos candidatos, e não para, mediante recursos artificiais, induzir a erro o eleitor com visões equivocadas de suas características. Requer, ao final, o recebimento e provimento do recurso,"[...] para que os recorridos se abstenham de veicutór a prof^aganda ora impugnada, bem como, qualquer outra que pretenda fazer\u$ó do^ mesmos^artifícios vedados pela legislação eleitoral" (fl. 37).
Os recorridos, em contrarrazões (fls. 41-44), sustentam que: - a regra do art. 242 do Código Eleitoral objetiva coibir que a propaganda eleitoral, seja qual for a modalidade, crie estado de preocupação geral na população, o que não se verifica na espécie; - "É fato incontroverso que as imagens utilizadas são realmente de programa do pai do candidato Recorrido, veiculadas na TV Barriga Verde, não se tratando, de algo criado (artificialmente) para gerar estados mentais, emocionais ou passionais no eleitor" (fl. 43 - grifou-se); - a Coligação recorrente tem se utilizado em sua campanha do mesmo expediente que, de forma infundada, objetiva censurar na propaganda atacada, conforme destacou o Magistrado em sua sentença. Pugnam, derradeiramente, pela manutenção da decisão recorrida. O Ministério Público Eleitoral (fls. 46-47) opina pelo conhecimento e desprovimento do recurso. (fls. 50-52). Também nesse sentido manifesta-se a Procuradoria Regional Eleitoral É o relatório. VOTO O SENHOR JUIZ LUIZ HENRIQUE MARTINS PORTELINHA (Relator): Senhor Presidente, conheço do recurso por ser tempestivo e preencher os demais pressupostos de admissibilidade. Segundo a Coligação recorrente, a peça publicitária deve ser censurada porque vai de encontro ao disposto no art. 242 do Código Eleitoral, verbis: Art. 242. A propaganda, qualquer que seja a sua forma ou modalidade, mencionará sempre a legenda partidária e só poderá ser feita em língua nacional, não devendo empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais. A degravação da mídia que acompanha a inicial, juntada às fls. 10-11, possui o seguinte teor: Locutora: Uma cidade mais hum^n^éassim, cheia de heróis anônimos, de pessoas do bem, sempre pron a/^ aguoles que mais precisam de >f ajuda. - c ^ { ^
César Souza: A primeira lembrança que eu tenho é do Estúdio da TV Barriga Verde, na época do Boa Tarde, Santa Catarina e aquilo me encantava, ficar por trás da câmara olhando, vendo aquela movimentação, as pessoas, era meio assustador ver a dimensão que meu pai tinha, né? Tantas pessoas que iam atrás dele procurando ajuda. Ele fazia da saúde, educação. Pessoal tinha uma casa que pegou fogo, ele fazia um apelo para que as outras pessoas ajudassem. A pessoa precisava de uma cirurgia urgente que o Estado não concedia, fazia também uma denúncia daquela situação e, ao mesmo tempo não ficava apenas na denúncia, tentava resolver o problema. Então isso sempre mexeu muito comigo. Não ficar apenas: "olha, isso está errado", mas também se envolver com aquele caso humano, particular, a ponto de resolver de maneira prática e objetiva a situação da pessoa. César Souza (pai): quero ver você de volta aqui no programa, sã e salvo, com o braço movimentando, quero ver você voltar aqui ao nosso programa, ok? César Souza: Quando o ser humano se dispõe a se expor, ir na televisão, contar o seu drama pessoal, ele não está pedindo ajuda, ele está implorando por uma ajuda e ajudar alguém nessa situação não é vergonha para ninguém, pelo contrário. O que me orgulha, como filho, é em cada caminhada que eu faço política, quase em cada reunião, há alguém que me pára e fala: César, o teu pai me ajudou. Locutor: Graças ao seu trabalho na TV, César é eleito deputado e logo mostra trabalho. Para a Coligação recorrente, há na peça publicitária demasiado apelo ao assistencialismo, que, muito embora seja aceitável para um programa televisivo, é de uso bastante questionável em se tratando de propaganda eleitoral, na qual é vedada toda veiculação tendente a criar na opinião pública, artificialmente, estados mentais, emocionais ou passionais em favor de determinado candidato. A meu juízo, contudo, a peça publicitária se mostra dentro dos limites impostos à propaganda eleitoral pela legislação de regência, não se distanciando do que é usualmente observado nas campanhas eleitorais em geral. A referência ao passado, representado nas pessoa dos pais ou avós, é permitida, e seu conteúdo dependerá invariavelmente do contexto em que desenvolvida essa relação familiar. No caso do recorrido, filho de conhecido apresentador de televisão cujo programa revestia-se, de certa forma, de conteúdo assistencialista, é natural que leve ao espectador as experiências vividas ao acompanhar de perto as ações desenvolvidas pelo seu pai. Assim como o seria, permito-me, fosse o caso de um filho de agricultor, que destacasse em seu programa eleitoral a influência exercida pelo trabalho de seu pai nos mais variadps-^spectos de sua formação pessoal, que, por certo, poderiam repercutir em sua popostàdejjoyemür- 4
Fls. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina Ao negar a liminar, consignou o Magistrado de primeiro grau que: Os argumentos do representante ficam muito aquém de qualquer dúvida razoável; não possuem a menos verossimilhança, o que se conclui perfunctoriamente com o exame da mídia. O representante não pode administrar a propaganda de seu adversário, mas tão somente expurgá-la de conteúdo que a legislação vede. O propósito da representação está bem expresso na inicial, ou seja, impedir que o candidato apresente-se "com a imagem de bom moço" (fl. 03). Aproveitar-se o candidato de seu parentesco não é criar estado emocional artificial, pois tal importaria em negar o valor humano dos laços de sangue, amizade, afinidade cultural, etc. Em nenhum momento vejo a criação de estados, mas tão somente o uso do espaço político para transmitir uma mensagem objetiva com recursos lícitos [fl. 17]. Por outro lado, as imagens veiculadas são reais, não havendo, por conseguinte, qualquer artificialidade capaz de infundir, "na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais", o que se mostra indispensável para a proibição da propaganda sob a perspectiva do art. 242 do Código Eleitoral. Outro não foi o entendimento do Procurador Regional consoante se depara, verbis: Eleitoral, Ocorre que um dos requisitos expressamente previsto no artigo acima transcrito é que a propaganda eleitoral impugnada diga respeito ao emprego de "meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais". Assim, o que se vê na propaganda eleitoral impugnada não se enquadra no mencionado dispositivo legal de regência, ao contrário, nesta há depoimento pessoal do candidato recorrido sobre sua infância e impressões positivas sobre a atividade profissional que seu pai exercia naquela ocasião, sendo mostrados diversos detalhes sobre o histórico do citado candidato, o que não viola o apontado dispositivo legal de regência, uma vez que se trata de recurso legítimo ligado às campanhas eleitorais, bastando que se dê uma mera espiada na referida mídia para que assim se conclua [fl. 51 - grifouse]. Nesse contexto, a manutenção da sentença revela-se impositiva. 5
EXTRATO DE ATA RECURSO ELEITORAL N 89-92.2012.6.24.0012 - RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA POLÍTICA - PROPAGANDA ELEITORAL - HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO I PROGRAMA EM BLOCO - TELEVISÃO - 12 a ZONA ELEITORAL - FLORIANÓPOLIS RELATOR: JUIZ LUIZ HENRIQUE MARTINS PORTELINHA RECORRENTE(S): COLIGAÇÃO AVANÇA FLORIANÓPOLIS (PCdoB-PT-PTdoB-PRP-PR- PRB) ADVOGADO(S): MAURO ANTONIO PREZOTTO; ANTÔNIO DERLI GREGÓRIO; CASSIANO RICARDO STARCK; JANAINA GUESSER PRAZERES; IGOR PRADO KONESKI; MÁRCIO CIARINI; JAIRO ANTONIO KOHL; IG HENRIQUE QUEIROZ GONÇALVES; ELISANGELA SETTER; DERLI IVETE KLAGENBERG; ELIZIANE VEZINTANA RECORRIDO(S): CÉSAR SOUZA JÚNIOR; COLIGAÇÃO POR UMA CIDADE MAIS HUMANA (PSD-PP-PSDB-DEM-PSB-PSC-PSDC) ADVOGADO(S): ROGÉRIO REIS OLSEN DA VEIGA; CHRISTIAN SIEBERICHS; NAMOR SOUZA SERAFIN; CHRISTIANE SIEBER TEIVE; BRUNO NORONHA BERGONSE; LUIZ HENRIQUE MARTINS RIBEIRO; ALESSANDRO BALBI ABREU PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ ELÁDIO TORRET ROCHA PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: ANDRÉ STEFANI BERTUOL Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator. O Juiz Marcelo Ramos Peregrino Ferreira declarou-se suspeito e não participou do julgamento. Os advogados Mauro Antonio Prezotto e Rogério Reis Olsen da Veiga declinaram do pedido de sustentação oral. Foi assinado e publicado em sessão, às 20h08min, com a intimação pessoal do Procurador Regional Eleitoral, o Acórdão n. 27483. Presentes os Juizes Eládio Torret Rocha, Nelson Juliano Schaefer Martins, Júlio Guilherme Berezoski Schattschneider, Luiz Antônio Zanini Fornerolli e Luiz Henrique Martins Portelinha. SESSÃO DE 17.09.2012.