TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO N ( ) RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N CLASSE 22 a GROSSO (Cuiabá).

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1 PUBLICADO EM SESSÃO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL ACÓRDÃO N ( ) RECURSO ESPECIAL ELEITORAL N CLASSE 22 a GROSSO (Cuiabá). - MATO Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Recorrente: Coligação Frente Alternativa Popular (PSDC/PSC/PRTB/PSD/ PTN/PV/PRP/PT do B/P AN). Advogado: Dr. Giuliano Bertucini e outro. RECURSO ESPECIAL RECEBIDO COMO ORDINÁRIO. SERVIDOR PÚBLICO. DESINCOMPATIBILIZACÃO (LC 64/90, ART. 1 9, II, /). AFASTAMENTO DE FATO. OCORRÊNCIA. Protocolado o afastamento no dia , segunda-feira, quando o período limite para desincompatibilizacão encerrara-se no sábado anterior, , tem-se por atendida a exigência legal se não se controverte que a candidata efetivamente não exerceu as suas funções desde o termo final do prazo. Vistos, etc, Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em conhecer do recurso como ordinário e dar-lhe provimento, nos termos das notas taquigráficas, que ficam fazendo parte integrante desta decisão. Sala de Sessões do Tribunal Superior Eleitoral. Brasília,10 de setembro de /MLP

2 REspe n g MT. 2 RELATÓRIO O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE: Sr. Presidente, a Coligação Frente Alternativa Popular, do Mato Grosso, requereu o registro da candidatura de Maria Aparecida da Silva a deputada estadual. O Ministério Público Eleitoral manifestou-se pelo indeferimento do pedido, por ausência de desincompatibilização no prazo de três meses antes das eleições (art. 1-, II, /, da LC 64/90). O TRE/MT indeferiu o pedido (fs ). Acórdão assim ementado: "PEDIDO DE REGISTRO DE CANDIDATURA. Merece indeferimento o pedido de registro de candidato servidor, cujo requerimento visando afastamento do cargo ou função foi feito em data posterior a de 06/07/2002". Em recurso especial (fs ), alega a recorrente que cumpriu o exigido prazo de desincompatibilização, pois "o fato de a comunicação à prefeitura de Cuiabá ter-se realizado apenas no dia 08/07/2002 não deve ser tido como prejudicial ao deferimento da candidatura'* (f. 60). Em contra-razões (fs ), o Ministério Público Eleitoral sustenta que "A Recorrente não só não observou o referido prazo, como ainda, tenta induzir a erro, alegando uma situação de fato (da qual não faz prova), que dentro da administração pública é inaceitável, tendo em vista que nesta só é permitido fazer o que a lei autoriza" (f. 68). A Procuradoria Geral opinou pelo provimento do recurso, recebido como ordinário. É o relatório.

3 REspe n MT. 3 VOTO O SENHOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE (relator): Sr. Presidente, por se tratar de hipótese de inelegibilidade, recebo o recurso como ordinário (CF, art. 121, 4 2, III). O TRE/MT indeferiu o registro pelos seguintes fundamentos: "O prazo máximo para desincompatibilização de servidor público que pretende concorrer é o de três meses anteriores ao pleito eleitoral, o que nestas eleições significa o dia 06/07/2002. Até tal data o servidor deve se desincompatibiiizar, protocolando se requerimento de afastamento, não tendo validade meras alegações de que, na realidade (sic), o servidor estaria afastado antes da data do referido protocolo. No Direito Administrativo não existe ato informal, de modo que a única forma válida de se desincompatibiiizar é, como já dito, protocolar o requerimento para afastamento. A declaração da Prefeitura de Cuiabá juntada às fls. 38 mostra que só em 08/07/2002 a Requerente protocolou seu requerimento, fogo, não se pode ter por atendida esta condição de elegibiiidade". A jurisprudência do TSE, no entanto, firmou-se no sentido de que a desincompatibilização se considera efetivada com o afastamento de fato do exercício do cargo (Acórdão , de , Diniz de Andrada; Acórdão , de , Francisco Rezek; Acórdão , de , Alckmin). Como bem observou a Procuradoria, em parecer da lavra do em. Vice-Procurador-Geral Eleitoral, Paulo da Rocha Campos: "No presente caso, não há incerteza quanto ao fato de que a certidão a comprovar o referido afastamento da servidora/candidata, apresentada às ffs. 38, fora protocolizada no dia , segunda-feira, primeiro dia útil subseqüente à data limite para a desincompatibilização,

4 REspe n MT. 4 qual seja , cingindo-se a discussão acerca da viabilidade do referido documento para fins de comprovação do tempestivo distanciamento do cargo público por ela ocupado, exigido pela Lei Complementar 64/90. Com efeito, posta assim a questão, é de se entender que o indeferimento do pedido de registro da candidata da coligação da recorrente, em razão de ter sido o requerimento de afastamento protocolado na segunda-feira, dia , quando o período limite para desincompatibilização encerrara-se no sábado anterior, , seria inflexibilidade não condizente com a pacífica jurisprudência dessa Corte Maior Eleitoral, no sentido de que o afastamento do servidor deve ocorrer no plano fático, devendo-se considerar, ademais, não existir nos autos qualquer indício de que a servidora da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social de Cuiabá teria efetivamente exercido suas funções no final de semana dos dias 06 e 07 de julho. Acerca da questão, por sinal, vale destacar ementa e trecho do voto, proferido pelo eminente Relator Eduardo Alckmin, quando do julgamento do Recurso Especial Eleitoral n , aprovado por unanimidade por essa Corte Maior Eleitoral: 'DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO. AFASTAMENTO DE FATO, DENTRO DO PRAZO. COMUNICAÇÃO FEITA À REPARTIÇÃO, JÁ APÓS A DATA LIMITE. IRRELEVÂNCIA. O afastamento do servidor de suas funções, para efeito de desincompatibilização, deve se operar no plano fático, sendo a comunicação relevante tão somente para garantir a percepção de seus vencimentos. (...) Como, no caso em exame, a comunicação de afastamento somente foi apresentada aos 11 de julho do corrente ano, entende o recorrente que estaria desatendido o prazo previsto no art. 1 2, II, "I" da Lei n 2 64/90. Cabe considerar, inicialmente, que a Lei Complementar alude à inelegibilidade dos que, sendo servidores públicos, não se afastarem até três meses do pleito. Não disciplinou, contudo, a lei, a forma pela qual o afastamento haveria de se verificar. Certo é que a lei quer [que o] candidato se afaste de suas funções públicas, de modo a garantir maior lisura do processo

5 REspe n a MT. 5 eleitora[i], evitando o uso dessas funções em prol da candidatura do servidor. Sendo este o escopo da norma em comento, importa, na realidade, que do ponto de vista tático tenha o servidor se afastado de suas funções. A formalização do afastamento tem conseqüências outras, como de permitir que o servidor continue percebendo seus vencimentos, como alude a parte final da alínea T do art. 1 a, II, da LC 64/90"'. Em certas hipóteses, tenho oposto reservas à jurisprudência da "desincompatibilização de fato", quando sequer o pedido de exoneração da licença se haja protocolado no prazo. Na espécie, contudo, o final desse prazo recaiu no fim de semana, o que protraiu o seu vencimento para a segunda-feira, quando protocolizado o pedido, sem que se estabeleça controvérsia sobre não ter a candidata exercido suas funções desde a data da vedação. Demais, incumbe ao impugnante provar que a desincompatibilização não ocorreu de fato ou só se deu fora do prazo estabelecido pela LC 64/90, o que não ocorreu na hipótese (C.Pr.Civ., art. 333, I). Dou provimento ao recurso: é o meu voto.

6 REspe n MT. 6 EXTRATO DA ATA REspe n MT. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Recorrente: Coligação Frente Alternativa Popular (PSDC/PSC/PRTB/PSD/PTN/PV/PRP/PT do B/PAN) (Adv.: Dr. Giuliano Bertucini e outro). Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu do recurso como ordinário e lhe deu provimento, nos termos do voto do relator. Presidência do Exmo. Sr. Ministro Nelson Jobim. Presentes os Srs. Ministros Sepúlveda Pertence, Ellen Gracie, Sálvio de Figueiredo, Barros Monteiro, Fernando Neves, Luiz Carlos Madeira e o Dr. Paulo da Rocha Campos, vice-procurador-geral eleitoral. SESSÃO DE /aocb