Tribunal Regional Eleitoral de Sarita Catarina

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1 Tribunal Regional Eleitoral de Sarita Catarina ACÓRDÃO N REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL'- JUÍZES AUXILIARES Relator: Juiz Julio Guilherme Berezoski Schattschneider Recorrentes: Coligação "As Pessoas em Primeiro Lugar" (PTB/PMDB/PSL/PSC/PPS/DEM/PTC/PRP/PSDB) - Majoritária,. Coligação "DEM/PMDB/PSDB/PPS/PTC/PSL/PRP/PSC) - Deputados Federais, Coligação "DEM/PMDB/PSDB/PPS/PTB/PTC/PSL/PRP/ PSC" - Deputados Estaduais Recorridas: Ideli Salvati, Coligação "A Favor de Santa Catarina" (PT/PRB/PR/PSDC/PRTB/PHS/PSB/PCdoB) - Majoritária, Coligação "A Favor de Santa Catarina" PT/PRB/PR/PSDC/PRTB/PHS/PCdoB) - Deputados Federais 'e Coligação "Em Favor de Santa Catarina" PT/PRB/PR/PSDC/PRTB/PHS/PCdoB) - Deputados Estaduais - RECURSO - ELEIÇÕES PROPAGANDA - REPRESENTAÇÃO - INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL - ERRO DE DIGITAÇÃO - NÃO-CUMPRIMENTO DA EXIGÊNCIA DO 4 o DO ARTIGO 6 o DA RESOLUÇÃO TSE N / AUSÊNCIA DE REFERÊNCIA EXPRESSA A DATAS E HORÁRIOS DE VEICULAÇÃO DAS PROPAGANDAS - DADOS CONTRADITÓRIOS EM COMPARAÇÃO COM OS RELATÓRIOS DE MÍDIA - COMPREENSÃO, AINDA ASSIM, DO TEXTO E DO ALCANCE DA PRETENSÃO - REJEIÇÃO. - HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO - INSERÇÕES - INVASÃO, PELO CANDIDATO À ELEIÇÃO MAJORITÁRIA, DO TEMPO RESERVADO AOS CANDIDATOS A DEPUTADO ESTADUAL E FEDERAL - INOCORRÊNCIA - ARTIGO 53-A DA LEI N / DESPROVIMENTO. Vistos, etc, A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em rejeitar a alegação de inépcia da petição inicial, conhecer do recurso e, no mérito, a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator, que fica fazendo parte integrante da decisão. Sala de Sessões do Tribunal Regional Eleitoral. Florianópolis, 13 de setembro de Juiz JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER Relator

2 Tribunal Regional Eleitoral.de Santa Catarina RELATÓRIO O que está em questão nestes autos são seis inserções, cujo conteúdo, constante do DVD da fl. 10, corretamente transcrito na petição inicial (fl. 3), é o seguinte: 1. DEPUTADOS ESTADUAIS Mulher: Com o trabalho do Governo Lula e dos seus deputados, Santa Catarina progrediu muito. Você vai votar em quem foi contra tudo o que o Lula fez de bom nos últimos oito anos? É claro que não. Vamos votar em. quem vai fazer Santa Catarina andar pra frente e não prá trás. 2. DEPUTADOS FEDERAIS Homem: Com o trabalho do Governo Lula e dos seus deputados, ^Santa Catarina progrediu muito. Você vai votar em quem foi contra tudo o que o Lula fez de bom nos últimos oito anos? É claro que não. Vamos votar em quem vai fazer Santa Catarina andar pra frente e não prá trás.. 3. DEPUTADOS FEDERAIS Homem: Você quer mais bolsas de estudos com o ProUni? Quem mais escolas técnicas em todas as regiões? Então vote nos nossos deputados. Eles vão aprovar leis pra continuar melhorando a vida dos catarinenses. 4. DEPUTADOS FEDERAIS Mulher: Quer mais empregos e oportunidades? Grandes portos? Duplicação de estradas? UDESC em todas as regiões? Então vote nos deputados A Favor de Santa Catarina. Eles vão aprovar leis para continuar a melhor vida dos catarinenses. 5. DEPUTADOS ESTADUAIS (PSB) Homem: Quer mais minha casa, minha vida? Mais apoio a agricultura familiar? Merenda mais saudável? Então vote nos deputados Em Favor de Santa Catarina. Eles vão aprovar leis para melhorar a vida dos catarinenses. 6. DEPUTADOS ESTADUAIS (PSB) Homem: Você quer mais bolsas de estudos com o ProUni? Quer mais escolas técnicas em todas as regiões? Então vote nos nossos deputados. Eles vão aprovar leis pra continuar melhorando a vida dos catarinenses. Há cinco argumentos, arrolados na petição inicial, que justificariam a conclusão de que houve de fato a invasão vedada pelo artigo 53-A da Lei n /1997: [a] não há qualquer vínculo entre os temas tratados nas inserções e as atividades de deputado estadual ou federal (no caso das últimas três, além disso,

3 todo o conteúdo da narração é voltado para a atividade exercida pelo Poder Executivo); [b] há expressa referência a mensagem largamente utilizada na campanha de Ideli Salvatti (vamos votar em quem vai fazer Santa Catarina andar pra frente e não pra trás); [c] os apresentadores das inserções são os mesmos que apresentam as suas propagandas eleitorais; e, [d] durante toda a exibição há ao fundo o seu nome enumero (13). Com base nestes fatos e fundamentos, foi formulada a pretensão que consta da fl. 9, no sentido da suspensão da veiculação daquelas inserções e da aplicação da sanção prevista no 3 o do artigo 53-A da Lei n /1997 (O partido político ou a coligação que não observar a regra contida neste artigo perderá, em seu horário de propaganda gratuita, tempo equivalente no horário reservado à propaganda da eleição disputada pelo candidato beneficiado) As representadas contestaram (fls. 51 a 60), aduzindo a inépcia da petição inicial, visto que: [a] à fl. 8 foi requerida a aplicação da penalidade "em desfavor da 'candidata Ângela Amin e de sua coligação', e não dos representados"; [b] as informações que dela constam acerca das xlatas e blocos em que as inserções "supostamente foram veiculadas" estão em contradição com os relatórios das fls. 12 a 26; [c] na sua fl. 4 é citado o PDT, partido que apoia Ângela Amin, "não compreendendo os representados se a insurgência das representantes é contra ela ou efetivamente, Ideli Salvatti"; [d] não foram citados no seu próprio corpo os horários em que-as inserções foram veiculadas; e, finalmente, [e] não foi cumprido o 4 o do artigo 6 o - e não 5 o, como consta da contestação - da Resolução TSE n /2009 (A mídia de áudio e/ou vídeo que instruir a petição deverá vir obrigatoriamente acompanhada da respectiva degravação em 2 vias, observado o formato mp3 para as mídias de áudio; wmv, mpg, mpeg ou avi para as de vídeo digital e VHS para fitas de vídeo). No mérito, alegou-se a decadência em relação à inserção veiculada às 18h02 do dia (fl. 20), visto que a petição inicial foi protocolada no dia , às 18hÓ4. Ao contrário do que constou da petição inicial, as inserções 3 a 6 não foram veiculadas nos dias 31-8 ou E as inserções 1 e 2 não o foram no primeiro bloco do dia No mais, em linhas gerais, defendeu-se a legalidade do conteúdo de todas elas, especialmente se comparadas. com as veiculadas pelas próprias coligações autoras, nas quais, ao contrário das impugnadas nesta demanda, há a exibição ostensiva da imagem em vídeo do candidato Raimundo Colombo. O Ministério Público Eleitoral, mediante parecer do Procurador Cláudio Dutra Fontella (fls. 77 a 80), opinou pela rejeição da pretensão. Proferi então a sentença da fl. 81: O objeto desta representação são seis inserções, cujo conteúdo, constante do DVD da fl. 10, está corretamente transcrito na petição inicial (fl t 3). Em

4 suma, alega-se ofensa ao artigo 53rA da Lei n /1997, visto que, ainda que de forma dissimulada, pretendeu-se realizar propaganda da candidata Ideli Salvati ao invésdos candidatos às eleições proporcionais das coligações representadas. O caput daquele dispositivo iegal expressamente prevê que "[é] vedado aos partidos políticos e às coligações incluir no horário destinado aos candidatos às eleições proporcionais propaganda das candidaturas a eleições majoritárias, ou vice-versa, ressalvada a utilização, durante a exibição do programa, de legendas com referência aos candidatos majoritários, ou, ao fundo, de cartazes ou fotografias desses candidatos" (grifei). De acordo com o que consta da mídia apresentada, esta norma não foi descumprida, pois ela não veda que o partido ou coligação utilize as suas inserções para fazer campanha indistintamente a todos os seus candidatos a deputado estadual ou federal. E também não é defeso que elas sejam apresentadas por quem não seja. candidato (um ator, por exemplo). Irregularidade haveria apenas se o conteúdo das mensagens fossem absolutamente dissociadas da atividade parlamentar. Na realidade, em linhas gerais as três maiores coligações em Santa x Catarina têm veiculado inserções semelhantes. Ante o exposto, rejeito a pretensão. Remetam-se os autos à CRIP para que proceda às intimações necessárias. Vista ao Ministério Público Eleitoral. Se não houver recurso, arquivem-se. Houve recurso (fls. 8.5 a 92) e resposta (fls. 97 a 105), mediante os quais foram reiterados os argumentos já constantes das demais petições do processo. É o relatório. VOTO O SENHOR JUIZ JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER (Relator): O processo judicial eleitoral, ao contrário do comum, é extremamente dinâmico. Os próprios Juízes, embora bem assessorados, subscrevem relatórios, decisões ou votos que, pela urgência dos prazos, eventualmente contém erros materiais ou de digitação. Pelo visto, este é o problema da petição inicial. Provavelmente o advogado utilizou como modelo petição relativa a demanda diversa, cujos representados eram outros candidatos, partidos ou coligações. Obviamente, isto não a torna inepta, pois da sua leitura não há qualquer dificuldade em compreender o seu objetivo. Não é necessário que da própria petição inicial conste a identificação clara e precisa do dia, hora e emissora em que foram veiculadas as inserções.y^s representantes (fls. 12 a 26) juntaram relatório pormenorizado, relativo à st

5 veiculação em todas as emissoras. Porém, se aquele documento não corresponde à realidade, trata-se de questão de prova e, portanto, integra o mérito da questão. ^ Por fim, aparentemente não foi cumprido o 4 a do artigo 6 o. da Resolução TSE n r /2009. Porém, apesar disto, o direito de defesa, ar meu ver, foi exercido de forma plena e não havia razão para que as questões de mérito não fossem conhecidas. Quanto a elas, então, o meu voto é pelo desprovimento do recurso. A Lei não obriga os partidos a veicular a imagem dos seus candidatos durante as inserções da propaganda política destinada às eleições proporcionais. Não há ilegalidade, portanto, se houver pedido de voto indistintamente a todos e a apresentação do programa for realizada por quem não seja candidato (um ator ou atriz, por exemplo), exatamente como ocorreu no caso dos autos. O fato de a mesma pessoa apresentar os programas da candidata à eleição majoritária e dos candidatos à proporcional é absolutamente irrelevante, porque a prática não é vedada e, principalmente, não é incomum que a empresa de marketing político contratada pela coligação produza os programas de todos os seus 1 integrantes., Sequer foi utilizada a faculdade prevista no 1 o do artigo 53-A da Lei n /1997, que admite "a inserção de depoimento de candidatos a eleições proporcionais no horário da propaganda das candidaturas majoritárias e vice-versa, registrados sob o mesmo partido ou coligação, desde que o depoimento consista exclusivamente em pedido de voto ao candidato que cedeu o tempo". Além disso, o caputúo dispositivo prevê a possibilidade de "utilização, durante a exibição do programa, de legendas com referência aos candidatos majoritários, ou, ao fundo, de cartazes ou fotografias desses candidatos". Isto foi levado a efeito apenas parcialmente nas inserções impugnadas, visto que a imagem de ídeli Salvatti (exceto na primeira) não é exibida. Do seu jingle de campanha consta de fato o verso "Santa Catarina não pode andar pra trás" (e é possível que da sua propaganda em bloco a expressão também tenha sido utilizada). Porém, não se trata de um slogan. Este, de acordo com o que se observa no sítio, da candidata na internet ( é "Santa Catarina vai ganhar com Ideli". É preciso reconhecer que os candidatos a deputado das coligações representadas naturalmente comungam das mesmas idéias e objetivos. Estranho seria que as suas propagandas e as da candidata ao pleito majoritário f3ssem absolutamente diferentes., \

6 Corno o julgamento, no mérito, é favorável às representadas, não há efeito prático no reconhecimento da decadência. Então, apenas declaro que, de fato, a inserção veiculada às 18h02 do dia (fl: 20), de fato, não poderia ser objeto de julgamento, visto que a petição inicial foi protocolada no dia , * às 18h04. - ' Ante o exposto, rejeito a alegação de inépcia da petição inicial e, no mérito, nego provimento ao recurso. i 4 6

7 EXTRATO DE ATA RECURSO CONTRA DECISÃO DE JUIZ AUXILIAR NA REPRESENTAÇÃO N REPRESENTAÇÃO - PROPAGANDA ELEITORAL - HORÁRIO ELEITORAL GRATUITO / INSERÇÕES DE PROPAGANDA - TELEVISÃO - INVASÃO DE HORÁRIO DESTINADO A OUTRO CARGO / PARTIDO / COLIGAÇÃO - LIMINAR RELATOR: JUIZ JULIO GUILHERME BEREZOSKI SCHATTSCHNEIDER RECORRENTE(S): COLIGAÇÃO AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR (PMDB/DEM/PSDB/PTB/PSC/PTC/PSL/PRP/PPS); COLIGAÇÃO DEM/PMDB/PSDB/PPS/PTC/PSL/PRP/PSC; COLIGAÇÃO DEM/PMDB/PSDB/PTB/PTC/PSL/PRP/PSC ADVOGADO(S): ROGÉRIO REIS OLSEN DA VEIGA; CHRISTIAN SIEBERICHS; NAMOR SOUZA SERAFIN; CHRISTIANE SIEBER TEIVE; BRUNO NORONHA BERGONSE; ANDRÉ AGUSTINI MORENO RECORRIDO(S): COLIGAÇÃO A FAVOR DE SANTA CATARINA (PRB/PT/PR/PSDC/PRTB/PHS/PSB/PCdoB); COLIGAÇÃO EM FAVOR DE SANTA CATARINA (PRB/PT/PR/PSDC/PRTB/PHS/PCdoB); IDELI SALVATTI ADVOGADO(S): MAURO ANTÔNIO PREZOTTO; ANTÔNIO DERLI GREGÓRIO; ANDRÉ RUPOLO GOMES; MÁRCIO CIARINI; CASSIANO RICARDO STARCK; EDINÉIA CRISTIANI PEDROTTI PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ NEWTON TRISOTTO PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: CLÁUDIO DUTRA FONTELLA Decisão: à unanimidade, rejeitar a alegação de inépcia da petição inicial, conhecer do recurso e, no mérito, a ele negar provimento, nos termos do voto do Relator. A Juíza Eliana Paggiarin Marinho não participou deste julgamento em razão do disposto no art. 7 o da Resolução TRESC n /2010. Apresentaram sustentação oral os advogados Rogério Reis Olsen da Veiga e Mauro Antônio Prezotto. Foi assinado e publicado em sessão, às 18h05min, o Acórdão n Presentes os Juízes Sérgio Torres Paladino, Julio Guilherme Berezoski Schattschneider, Carlos Vicente da Rosa Góes, Oscar Juvêncio Borges Neto, Cláudia Lambert de Faria e Leopoldo Augusto Brüggemann. SESSÃO DE EM SESSÃO