GRUPO 6.1 MÓDULO 4
Índice 1. Metodologia na Educação de Jovens e Adultos...3 1.1. Desenvolvimento e Aprendizagem de Jovens e Adultos... 4 1.1.1. Educar na Diversidade... 5 1.2. Os Efeitos da Escolarização/Alfabetização no Processo de Desenvolvimento Cognitivo... 5 1.3. Organização de Atividades em Projetos... 7 2
1. METODOLOGIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A discussão sobre as práticas educativas da educação de jovens e adultos apresenta uma história enriquecida no tempo e no espaço, às vezes influenciada pelo Poder Público e outras pelos movimentos sociais com experiências as mais variadas e que podem ser descontínuas ou significativas. Podemos afirmar que os diferentes caminhos tomados deram uma identidade a educação de jovens e adultos analfabetos e que nunca tinham sido prioridade na educação brasileira. O movimento de educação popular que mais se destacou nessa área foi o de Paulo Freire. Fonte inspiradora que levou a muitas experiências formais de escolarização de jovens e adultos grandes campanhas alfabetizadoras. No entanto, devido à desvalorização social desses programas, o aparato teórico é reduzido e não conta com instituições encarregadas pela produção de conhecimentos que possam auxiliar os educadores de jovens e adultos na condução de suas práticas pedagógicas. Os trabalhos apresentados que visam a alimentar o campo teórico e metodológico estão fundamentados na tradição freiriana, que parte do universo cultural dos alunos, reconhecendo suas experiências e histórias de vida e associando-as ao sentido político e social da educação. Além de todos os avanços teóricos dos diferentes campos de conhecimento que tem influenciado o sistema regular de ensino, a psicologia, na abordagem sóciointeracionista, a linguística, a antropologia, a sociologia, entre outros, são campos que contribuem para compor o trabalho técnico-pedagógico da educação de jovens e adultos. A educação de jovens e adultos é um campo complexo, pois envolve outras questões além da educacional. A desigualdade sócio-econômica, também diz respeito à necessária mudança da qualidade de vida dos jovens e adultos que a educação de qualidade pode contribuir por meio da formação de cidadãos autônomos e críticos. A metodologia volta-se à discussão do desenvolvimento e da aprendizagem de jovens e adultos, da organização das atividades em projetos e do papel do professor na organização e direção das situações de aprendizagem e na progressão da aprendizagem dos alunos. A metodologia da língua portuguesa, por exemplo, será discutida tendo os textos de uso social, considerados como prática social e localizada culturalmente, como os condutores do processo de alfabetização de jovens e adultos.. Comprometida com o uso social da leitura e escrita, a metodologia pretende romper com a aprendizagem de técnicas de leitura e escrita e com a dicotomia das formas mecânicas de ler e escrever. Já a metodologia de matemática, vai articular os conteúdos com questões da realidade e evitar a fragmentação por meio do trabalho em torno de eixos ou núcleos centrais que possibilitem a análise dos fenômenos. As habilidades de leitura, interpretação e produção de textos matemáticos, a utilização de conceitos matemáticos na resolução de situações-problema, a leitura, a interpretação e a construção de tabelas e gráficos, o reconhecimento das relações espaciais e a análise de propriedades geométricas serão organizadas em situações de aprendizagem significativa e que ampliem os recursos cognitivos dos alunos frente a realidade. 3
1.1. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS Na abordagem sócio-interacionista ou sócio-histórica de Vygotsky encontramos, na discussão da relação entre desenvolvimento e aprendizagem, o papel das funções psicológicas superiores e da relação mediada do homem com o mundo por meio de instrumentos e signos. Defende que os mecanismos psicológicos mais sofisticados não são inatos, originam-se e desenvolvem-se na relação dos indivíduos em um contexto sócio-histórico. Segundo Vygotsky, desde quando nasce, o ser humano está em interação com seu grupo social, numa determinada cultura. Essa interação está carregada de instrumentos e signos que o indivíduo vai se apropriando por meio do processo de internalização. Os instrumentos têm a função de mediar a ação social do homem com o meio e o controle de suas ações. Os signos, que podem ser símbolos, representações, ou marcas externas, são instrumentos psicológicos que auxiliam os processos internos. Por outro lado, o homem cria instrumentos e signos em sua ação sobre a natureza e sobre si mesmo, construindo cultura. O desenvolvimento das funções ti pica mente humanas está pautado no processo de interação do indivíduo com o meio social e histórico através dos sistemas simbólicos construídos social e historicamente e que são mediadores, sejam eles signos ou instrumentos construídos pelo homem. O processo de mediação é a maneira pela qual o indivíduo se aproxima da cultura, transformando-a tanto quanto o ambiente social. A aprendizagem se dá por meio de interações com o meio social, histórico e físico, e essas interações permitem o desenvolvimento dos processos internos. Dessa maneira, os diferentes contextos sociais e as interações são os fatores que possibilitam processos diferenciados de aprendizagem, conhecimento e formas de pensamento. A aprendizagem e o desenvolvimento são processos distintos que interagem, pois a aprendizagem surge da interação social que organiza e internaliza os conhecimentos adquiridos e influencia o desenvolvimento. Vygotsky defende que o aprendizado puxa o desenvolvimento, pois o processo de desenvolvimento se dá a partir do aprendizado. O desenvolvimento cognitivo, para Vygotsky, é decorrente do aprendizado do indivíduo, fruto da interação proporcionada pelo processo de interação com o meio social, histórico e cultural. Do ponto de vista dessa abordagem, o processo de interação é condição básica para o funcionamento da sociedade. É aqui que podemos abordar o desenvolvimento do indivíduo na fase adulta. A psicologia do desenvolvimento tem-se preocupado, até recentemente, com o estudo dos processos psicológicos da infância até a adolescência. Segundo Palacios (1995), a fase adulta só preocupou os estudiosos a partir da década de 70, que, contrariamente das concepções que a compreendiam como uma fase de estabilidade psicológica e caracterizada pela ausência de mudanças e já em decadência, foi percebida como uma etapa também passível de mudanças. A compreensão do processo de desenvolvimento psicológico para além da adolescência, dá-se a partir do entendimento das mudanças e processos de adaptação ocorridos na fase adulta e que não podem ser classificados como níveis fechados e estáveis de desenvolvimento psicológico. 4
Para Palácios (1995), os processos de desenvolvimento estão relacionados a três grandes fatores: etapa da vida, história de vida de cada um e ambiente sócio-histórico e cultural. Para a educação de jovens e adultos essas informações são de suma importância para o desenvolvimento do processo educativo. Assim, a história de vida de cada um, suas experiências, as circunstâncias sociais, culturais e históricas em que vive propiciam processos de interação, com a mediação de instrumentos e signos de sua cultura e de sua época histórica. Ao considerar a idade adulta como uma continuidade no desenvolvimento psicológico, as experiências vividas e as circunstâncias culturais propiciam situações de aprendizagem e promovem esse desenvolvimento psicológico. O desenvolvimento é entendido como fruto da aprendizagem que se dá num processo de interação do indivíduo com seu contexto social. O desenvolvimento não é um processo inato e universal decorrente da maturação e da escolarização. O conhecimento do indivíduo é construído por meio de processos de interação em diversos contextos sociais e não devido a diferentes potenciais cog nitivos. Dessa forma, o homem não é só um produto de seu meio, mas o cria e o transforma, gerando, transmitindo e transformando sua cultura. A importância do coletivo se destaca quando Vygotsky relaciona o desenvolvimento e a aprendizagem como sendo possíveis pela interação com instrumentos e signos que são sociais, históricos e culturais. O saber de um grupo social decorre da atividade cognitiva das gerações precedentes e da possibilidade de interação com o mundo construído. O que se destaca como imprescindível para o processo educativo de jovens e adultos é a qualidade de interação que deve ser proporcionada pela escola, por meio do contato com os conteúdos e com o meio escolar, e também da relação aluno-aluno e professor aluno. 1.1.1. Educar na Diversidade A importância do ensino na diversidade é um princípio a ser discutido e considerado no processo educacional de jovens e adultos. Podemos indicar como os ingredientes básicos para educar na diversidade, o desenvolvimento de atividades significativas, atividades motivadoras e funcionais, trabalhos em grupo, avaliações formativas e personalizadas. No processo educativo é preciso estar atento para fazer com que as diferenças presentes na sala de aula, não influenciem no desenvolvimento, na aquisição da linguagem escrita, nem na formação de produtores e leitores de textos que compreendam e interpretem o que leram. A desigualdade presente deve ser considerada como um desafio a ser usado a favor de um trabalho pedagógico significativo e enriquecedor de projetos educativos. Nesse sentido, educar na diversidade e aprendizagem significativa são duas faces da mesma moeda. É preciso não escolarizar a aprendizagem. 1.2. OS EFEITOS DA ESCOLARIZAÇÃO/ALFABETIZAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Os estudos sobre escolarização e desenvolvimento cognitivo têm início na década de 30 com Luria e colaboradores. Os estudos analisaram os 5
efeitos da escolarização e da aquisição da escrita no desenvolvimento cognitivo. Os pesquisadores, no entanto, apresentam diferentes posições teóricas a esse respeito. Um grupo de pesquisadores que relaciona desenvolvimento e aprendizagem defende a escolarização formal como a condição necessária para o desenvolvimento de formas mais elaboradas de pensamento, o que muitas vezes leva ao entendimento de que aqueles que não tiveram acesso à escolarização formal são inferiores intelectualmente. Outros pesquisadores já afirmam que o desenvolvimento é que determina a aprendizagem e que o desenvolvimento cognitivo é universal e nada tem a ver com a escolarização formal. Ainda outro grupo defende que a alfabetização é condição para o desenvolvimento do pensamento lógico-formal e abstrato. Essa postura teórica levou ao mito da alfabetização como diferencial entre os indivíduos, determinando que o grupo de indivíduos iletrados seria deficitário no desenvolvimento de formas mais elaboradas de pensamento. Há ainda aqueles pesquisadores que entendem que a aquisição da leitura e da escrita desenvolve habilidades específicas que não influenciam no desenvolvimento cognitivo. Os resultados dos estudos de Luria, pesquisados no Uzbequistão e Khirgisia, cujo objetivo era identificar a influência da mudança social e tecnológica no processo de pensamento em adultos, apontaram que os indivíduos que tinham passado por algum processo de instrução e trabalhado nas fazendas coletivas utilizavam categorias abstratas na resolução das tarefas, independente da experiência do seu contexto concreto. Ao contrário, indivíduos não escolarizados que continuaram trabalhando na agricultura tradicional tendiam a resolver as tarefas segundo suas experiências de vida e relações vividas no cotidiano. Nessa investigação estão envolvidos o processo de instrução, o contexto de vida dos indivíduos e a transformação social, política e econômica decorrente da Revolução de 1917. Os indivíduos que usaram estratégias categoriais na resolução das tarefas propostas, passaram pelo contexto escolar e participaram das discussões coletivas sobre assuntos sociais vitais para sua época. Não foi o processo de escolarização/alfabetização que determinou, exclusivamente, mudanças nos conteúdos e formas de pensamento desses adultos envolvidos na pesquisa. Tolchinsky (1995) afirma que são as possibilidades que a escrita proporciona que se constituem nos fatores e condições do desenvolvimento cognitivo. A aprendizagem da escrita por si só não representa a possibilidade de ampliação de novas formas de pensamento. É a prática e a multiplicidade de usos e funções sociais dos textos e os processos de leitura que envolvem a interpretação, discussão e produção de textos, que afetam nossa maneira de pensar. Oliveira (1992) acrescenta a essa discussão o papel da escola que tem como objeto privilegiado de sua ação o conhecimento. É na escola que o indivíduo aprende a pensar sobre o próprio conhecimento e a relacioná-lo com aquele conhecimento descontextualizado e independente de sua vida cotidiana. Kleiman (1995) apresenta o conceito de letramento para aprofundar a análise da prática social da escrita, separando a alfabetização dos estudos sobre o impacto social da escrita. Para a autora, letramento significa o conjunto de práticas sociais que a escrita possibilita, enquanto tecnologia e 6
sistema simbólico, para atingir objetivos específicos e em contextos singulares. Apresenta duas concepções de letramento, baseadas em Street: modelo autônomo de letramento e modelo ideológico de letramento. O modelo autônomo de letramento trata a escrita como produto completo em si mesmo. É a lógica que rege a relação entre aprendizagem da escrita e desenvolvimento cognitivo, assim quem não possui a escrita é incapaz de desenvolver formas superiores de pensamento. O modelo ideológico de letramento concebe a escrita, seus usos sociais e as práticas que possibilita. Os significados da escrita estão contextualizados social e culturalmente pelo grupo social que a vive. Muitos autores acrescentam que, mesmo não alfabetizado e nem escolarizado, o trabalhador realiza práticas de letrado ao usar a língua, ao vivenciar no trabalho práticas discursivas e utilizar modelos de outros, incorporando em sua oralidade a estrutura formal de texto escrito, para fins específicos. Essa prática oral da linguagem escrita, propiciada pela interação com o meio, e a função que a língua desempenha, leva ao desenvolvimento e à transformação do indivíduo em sua capacidade linguística e à conscientização de seu papel político na sociedade. Durante (1998), partindo das discussões colocadas acima, aponta a importância da aprendizagem da escrita e da leitura e de suas funções e usos em contextos diversificados que, neste sentido, propicia o desenvolvimento cognitivo. O uso da linguagem permite o acesso do indivíduo aos sentidos e significados sociais e culturais, permitindo a participação crítica e transformadora do mesmo na sociedade letrada. A alfabetização e a escolarização são tipos de práticas de letramento, por isso a importância do processo de interação com o contexto social, fator predominante para o processo de desenvolvimento, aprendizagem e letramento. 1.3. ORGANIZAÇÃO DE ATIVIDADES EM PROJETOS O que são projetos? Há muitos autores que abordam os projetos como resposta a um trabalho pedagógico significativo e participativo. Podemos conceituar o que são projetos no ensino de diferentes maneiras, entre elas: 3 uma maneira de organizar as tarefas escolares; 3 uma forma de articular as situações de aprendizagem em situações-problema; 3 uma forma de trabalhar o conhecimento da realidade em que os alunos se desenvolvem e se interessam, com curiosidade e desejo de conhecimento. Como são organizados os trabalhos com projetos? Podem ser organizados por temas, áreas do conhecimento, conceitos: 3 aparecem em toda sua complexidade; 3 integram diversas perspectivas, intenções e finalidades; 3 permitem o manejo de informações de diferentes fontes e meios de expressão; 3 não incluem todas as disciplinas; 7
3 incluem linguagem escrita e oral, meio natural e social, expressão artística; 3 há outros espaços para trabalhar as disciplinas que não estão incluídas nos projetos, como a matemática; 3 há o desenvolvimento de diferentes projetos ao mesmo tempo e com durações diferentes, como projetos de uma aula, outros de seis meses de duração; 3 há o desenvolvimento de conteúdos em aulas, e de projetos com o grupo classe. As experiências desenvolvidas com esse tipo de atividade nas escolas apresentam as seguintes conclusões: 1. É o próprio tema, área do conhecimento ou conceito escolhido que define: 3 diferentes situações de duração temporal; 3 organização do horário; 3 organização da aula; 3 organização do espaço. 2. Os traços característicos do projeto o diferencia de outra proposta globalizadora, possibilitando: 3 protagonismo dos alunos na decisão e gestão da tarefa; 3 confiança na espontaneidade dos alunos; 3 criação de uma situação que force e estimule os alunos a tomar decisões, analisar, refletir, debater, arriscar hipóteses, buscar informação e pensar guiados pelo professor. 3. A participação dos alunos na decisão e na realização do projeto, desde o início até seu encerramento, é a base do projeto. 4. Parte do projeto envolve atividades diferenciadas como: recolher informações, trazer material e elaborá-los, ou seja, atividades nas quais os alunos e suas famílias podem se envolver. 8