SEGUNDA TURMA RECURSAL JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARANÁ



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Número do processo: /001(1)

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Transcrição:

Processo nº 200870510053441 Recorrente: Fernando dos Santos Lima Recorrido: Caixa Econômica Federal Relatora: Juíza Federal Ivanise Corrêa Rodrigues Perotoni V O T O I Relatório Trata-se de ação em que a parte autora pretende a revisão do contrato de abertura de crédito para financiamento estudantil celebrado com a CEF, sob a égide do programa FIES, buscando, em suma: i) a anulação das cláusulas abusivas do contrato; ii) a aplicação de juros simples, sem capitalização, afastando-se, inclusive, o anatocismo que seria decorrente da utilização da Tabela Price; iii) a limitação dos juros remuneratórios no patamar de 6% ao ano; e, iv) a compensação dos valores pagos a maior, devidamente corrigidos com juros e correção monetária. pedido. O recorrente busca a reforma sentença que julgou improcedente seu II - Voto Trata-se de ação revisional de Contrato de Financiamento Estudantil (FIES) ajuizada em face da Caixa Econômica Federal, a fim de obter a redução do saldo devedor e do valor das prestações mensais vincendas até o adimplemento total do sobredito contrato. Inicialmente, é de se consignar que o Código de Defesa do Consumidor não é aplicável ao presente caso, na forma como pretende a parte autora. Ressalte-se, inclusive, que este entendimento não sucumbe perante a Súmula nº. 297 do STJ ("O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras"), pois, embora o CDC seja aplicável, em regra, perante as instituições financeiras, não o é em qualquer caso, como comprova a questão do FIES, que é a exceção que valida a regra. Nesse sentido, confira-se: ADMINISTRATIVO FIES INAPLICABILIDADE DO CDC TABELA PRICE ANATOCISMO SÚMULA 7/STJ CAPITALIZAÇÃO DE JUROS AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. 1. Na relação travada com o estudante que adere ao programa do financiamento estudantil, não se identifica relação de consumo, porque o objeto do contrato é um programa de governo, em benefício do estudante, sem conotação de serviço bancário, nos termos do art. 3º, 2º, do CDC. Assim, na linha dos precedentes da Segunda Turma do STJ afasta-se a aplicação do CDC. 2. A insurgência quanto à ocorrência de capitalização de juros na Tabela Price demanda o reexame de provas e cláusulas contratuais, o que atrai o óbice constante nas Súmula 5 e 7 do STJ. Precedentes.

3. Ausente o interesse recursal na hipótese em que o Tribunal local decidiu no mesmo sentido pleiteado pelo recorrente, afastando a capitalização. 4. Recurso especial parcialmente conhecido e não provido. (REsp 1031694/RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 19/06/2009) Quanto aos juros pretende a parte autora a revisão das cláusulas que permitem sua capitalização. A questão relativa à legalidade da capitalização dos juros nos contratos bancários tem sido reiteradamente enfrentada pelo Superior Tribunal de Justiça o qual, a partir da edição da MP nº. 2.170 de 31 de março de 2000, tem entendido como admissível a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Nesse sentido veja-se: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. BANCÁRIO. RECURSO ESPECIAL.AÇÃO REVISIONAL DE CLÁUSULAS DE CONTRATO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL. POSSIBILIDADE. 1. A capitalização dos juros em periodicidade mensal é admitida para os contratos celebrados a partir de 31 de março de 2000 (MP nº 1.963-17/2000), desde que pactuada. 2. Não é aplicável aos contratos de mútuo bancário a periodicidade da capitalização prevista no art. 591 do novo Código Civil, prevalecente a regra especial do art. 5º, caput, da Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (2.170-36/2001), que admite a incidência mensal. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1005183/RS, Rel. Ministro HONILDO AMARAL DE MELLO CASTRO (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/AP), QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 23/11/2009) Bancário. Agravo no agravo de instrumento. Ação de revisão contratual. Juros remuneratórios. Limitação. Inadmissibilidade.Capitalização mensal de juros. Possibilidade. - A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade. Súmula 382/STJ. - Nos contratos bancários celebrados após à vigência da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (reeditada sob o nº 2.170/36), admite-se a capitalização mensal de juros, desde que pactuada. Agravo no agravo de instrumento não provido. (AgRg no Ag 1058094/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/11/2009, DJe 23/11/2009) Esse mesmo entendimento era o adotado por esta magistrada. Todavia, a capitalização de juros, especificamente para os contratos de crédito educativo tem sido veementemente rechaçada pelo mesmo Superior Tribunal de Justiça na medida em que o artigo 6º da Resolução nº. 2.647 do BACEN, ao prever a incidência de juros sobre juros extrapolou os limites normativos conferidos pela Lei nº. 10.260/2001, instituidora do FIES, uma vez que na referida lei não contém disposição específica autorizando a cobrança de juros capitalizados.

Acerca do tema, são os recentes julgados proferidos pelo STJ que abaixo transcrevo, os quais demonstram o posicionamento da corte no sentido de que a cobrança cumulativa de juros somente é permitida nas hipóteses expressamente autorizadas por norma específica, isto é, mútuo rural, comercial, ou industrial: ADMINISTRATIVO CRÉDITO EDUCATIVO VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO (SÚMULA 284/STF) JUROS VEDADA A CAPITALIZAÇÃO SÚMULA 121/STF. 1. Incide a Súmula 284/STF, por deficiência na fundamentação, quando a recorrente não apresenta, com clareza e objetividade, quais razões amparam a alegada violação do dispositivo legal apontado, limitando-se a tecer alegações genéricas. 2. O STJ sedimentou o entendimento de que a capitalização de juros somente é permitida nas hipóteses expressamente autorizadas por norma específica, qual seja, mútuo rural, comercial, ou industrial. Assim, tratando-se de contrato de crédito educativo, à míngua de norma específica que expressamente autorize a capitalização dos juros, aplica-se o disposto na Súmula nº 121 do STF. 3. Recurso especial conhecido em parte e, nessa parte, não provido. (REsp 1135006/PR, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/10/2009, DJe 19/10/2009) PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. CONTRATO DE CRÉDITO EDUCATIVO. CAPITALIZAÇÃO ANUAL DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 121/STF. 1. É entendimento sedimentado o de não haver omissão no acórdão que, com fundamentação suficiente, ainda que não exatamente a invocada pelas partes, decide de modo integral a controvérsia posta. 2. Aplica-se ao caso o enunciado da Súmula 121 do Supremo Tribunal Federal: "é vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". 3. Recurso especial a que se nega provimento. (REsp 1058334/RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 19/06/2008, DJe 30/06/2008) PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CRÉDITO EDUCATIVO. PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 83/STJ. 1. Ausência de prequestionamento no tocante à suposta negativa de vigência aos artigos 82 do Código Civil de 1916; 4º, VI e IX, e 9º da Lei nº 4.595/64. Incidência das Súmulas 282 e 356 do STF. 2. Somente nos casos expressamente autorizados por norma específica, como no mútuo rural, comercial ou industrial, é que se admite sejam os juros capitalizados. Súmula 83/STJ. 3. Recurso especial não conhecido. (REsp 1011048/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 04/06/2008) ADMINISTRATIVO. CONTRATO DE CRÉDITO EDUCATIVO. FINANCIAMENTO ESTUDANTIL (FIES). AÇÃO REVISIONAL. CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. SÚMULA Nº 121/STF. 1. A capitalização de juros somente é permitida nas hipóteses expressamente autorizadas por norma específica, qual seja, mútuo rural, comercial, ou industrial. 2. A fortiori, nos contratos de crédito educativo, à míngua de norma específica que expressamente autorize a capitalização dos juros, aplica-se a ratio essendi da Súmula

nº 121/STF, que dispõe: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada." Precedentes do STJ: REsp 630404/RS, DJ 26.02.2007; REsp 769531/RS, DJ 03.10.2005; REsp 761172/RS, DJ 03.10.2005; REsp 557537/RS, DJ 15.08.2005 e REsp 638130/PR, DJ 28.03.2005. 3. Recurso especial desprovido. (REsp 880.360/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/03/2008, DJe 05/05/2008) Desse modo, tratando-se de contrato de crédito educativo, à míngua de norma específica que expressamente autorize a capitalização dos juros, deve-se aplicar o disposto na Súmula nº 121 do STF, que assim estabelece: "É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada". Conclui-se, portanto, que o Superior Tribunal de Justiça não admite, nos contratos de crédito educativo, a capitalização mensal de juros, ao contrário do que ocorre com outras espécies de contratos celebrados por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional posteriormente à edição da MP nº 1.963-17/00 (reeditada sob o nº 2.170-36/01), nos quais aquela Corte Superior admite a capitalização mensal de juros, desde que expressamente prevista. Outrossim, muito embora se entenda como sendo possível a capitalização mensal de juros nas outras espécies de contratos, tendo em vista a orientação conferida pelo Superior Tribunal de Justiça referente à vedação da capitalização de juros especificamente para os contratos de crédito educativo, curvo-me ao referido entendimento devendo, portanto, ser afastada a incidência de juros capitalizados para a apuração do saldo devedor decorrente do contrato de crédito educativo posto em juízo. Quanto à pretensão de que deve ser aplicada a limitação dos juros em 6% ao ano prevista na legislação do CREDUC (Lei nº. 8.436/92), não vislumbro base legal para tanto. Isso porque, a Lei n. 9.288, de 01/07/96 suprimiu a referida limitação, que era prevista no art. 7º da Lei n. 8.436/92 e pela Resolução BACEN n. 2.282, de 26/02/1993. Assim, tendo sido a tratativa firmada em 2001, a norma que impunha a limitação pretendida já havia sido revogada, já que o contrato foi celebrado sob a égide da legislação que rege o FIES (Lei nº. 10.260/2001). Ademais, considerando que o financiamento é espécie de empréstimo, o mutuante tem o legítimo direito de ser remunerado pelo mútuo, seja ente público ou privado. O dever do Estado de proporcionar o acesso à educação não é violado pela cobrança de juros em programa de financiamento educacional. Assim, não vislumbro qualquer vício na estipulação de juros anuais no percentual de 9% ao ano. Nesse mesmo sentido confira-se: TRF4, AC 2007.72.00.002308-6, Terceira Turma, Relatora Maria Lúcia Luz Leiria, D.E. 11/11/2009.

No que respeita à utilização da Tabela Price dos reiterados julgados do e. TRF4, tem-se que a simples aplicação do referido sistema não implica a vedada incidência de juros sobre juros. Nesse sentido: FIES. TABELA PRICE. LEGALIDADE. CAPITALIZAÇÃO E LIMITAÇÃO DOS JUROS. RESPEITO AO LIMITE DA TAXA EFETIVA ANUAL, SOB PENA DE RECONHECIMENTO DE CAPITALIZAÇÃO INDEVIDA E ANATOCISMO. MORA DEBENDI. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. 1. A Tabela Price, espécie do gênero do Sistema Francês de Amortização, dele se diferencia por especificar percentual anual de juros, a serem pagos mensalmente. Tal montante não é encontrado mediante simples aplicação de cálculo aritmético, mas através de fórmula prévia e específica. Neste cenário, a 'taxa nominal' (9%), que serve para calcular a 'taxa efetiva' (0,7207%), torna extremamente difícil a possibilidade da 'taxa cotada anual' (9%) ultrapassar a 'taxa anual de retorno'. 2. Quanto à forma de pagamento, a Tabela Price indica, com base em sua fórmula matemática, parcelas periódicas, iguais e sucessivas, em que o valor da prestação é composto por uma parcela de juros que decresce ao longo do período e outra de amortização, que cresce de forma exponencial. 3. Cabe à CEF apurar anualmente o respeito ao limite da 'taxa cotada anual' prevista no contrato, evitando a composição de juros e o anatocismo. 4. Nos contratos do FIES, a manutenção da Tabela Price não viola as Súmulas 121 e 596 do STF, respeitados os limites contratuais. (...). (TRF4, AC 2006.71.10.005218-1, Terceira Turma, Relatora Maria Lúcia Luz Leiria, D.E. 14/01/2009 - destaquei) Saliente-se também que não se mostra incongruente a decisão que estabelece como válida a utilização da Tabela Price determinando apenas a exclusão dos juros capitalizados. Isso porque, a simples aplicação do referido sistema de amortização não implica a vedada incidência de juros sobre juros, sendo essa, verdadeiramente, resultado da quitação insuficiente do saldo principal e dos juros incidentes sobre o valor da parcela a partir da estipulação. Os juros remanescentes, dessa forma, incorporam-se ao débito principal, de forma que novos juros incidem sobre o novo total. Ainda que verificada a indevida capitalização, não deve a utilização da tabela ser afastada. Deve, efetivamente, ser restabelecida a amortização mensal de acordo com a tabela, sendo os juros não quitados computados em conta apartada, incidindo sobre esses valores somente a correção monetária, afastando-se a capitalização mensal dos juros, na forma acima determinada. Sobre o tema confira-se a seguinte ementa de julgado: CONTRATOS BANCÁRIOS. FINANCIAMENTO ESTUDANTIL. REVISIONAL. PRELIMINAR. TAXA DE JUROS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DOS JUROS. MULTA CONTRATUAL. PREQUESTIONAMENTO. Inviável a análise do pedido de cobrança dos juros moratórios, uma vez que inexiste qualquer previsão contratual permitindo a sua cobrança. A capitalização no Contrato de Abertura de Crédito para Financiamento Estudantil - FIES está legal e contratualmente prevista na taxa anual efetiva de 9%, não se tratando da capitalização vedada pela Súmula nº 121 do STF. Não há ilegalidade na utilização do Sistema de Amortização Francês, mais conhecido como Tabela Price, quando ela não importa em elevação da taxa de juros efetiva firmada no contrato.. Estando a multa moratória estabelecida no contrato no percentual de 2% e havendo mora é

plenamente viável a sua cobrança. Prequestionamento reconhecido para fins de acesso às instâncias superiores. Apelação parcialmente conhecida e provida. (TRF4, AC 2004.71.00.012834-8, Terceira Turma, Relatora Silvia Maria Gonçalves Goraieb, D.E. 02/12/2009) Ante o exposto, voto por DAR PARCIAL PROVIMENTO ao recurso para o fim de determinar que a Caixa Econômica Federal revise o contrato de financiamento estudantil aqui tratado para o fim de: i) afastar a capitalização mensal dos juros; e, ii) determinar que a amortização mensal se dê de acordo com a Tabela Price, observando-se, todavia, que os eventuais juros não quitados num mês sejam computados em conta separada, incidindo sobre eles apenas correção monetária. Uma vez realizada a revisão do contrato, as diferenças pagas a maior, devem ser computadas, desde a data do efetivo pagamento, na amortização das prestações pendentes. Sem honorários (art. 1º da Lei 10.259/2001 c/c o art. 55 da Lei 9.099/95). Tenho por prequestionados desde logo e a fim de evitar embargos de declaração protelatórios todos os dispositivos legais e constitucionais mencionados no feito, uma vez que a Turma Recursal não fica obrigada a examinar todos os artigos invocados no recurso, desde que decida a matéria questionada sob fundamento suficiente para sustentar a manifestação jurisdicional. IVANISE CORREA RODRIGUES PEROTONI Juíza Federal Relatora