ACÓRDÃO. Belo Horizonte, 04 de dezembro de DES. GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS
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1 Número do processo: /001(1) Relator: GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES Relator do Acordão: GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES Data do Julgamento: 04/12/2007 Data da Publicação: 17/12/2007 Inteiro Teor: EMENTA: REVISIONAL DE CONTRATO - JUROS BANCÁRIOS - LIMITAÇÃO - CAPITALIZAÇÃO - PERIODICIDADE ANUAL - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA - COBRANÇA ILEGAL. 1. Revogado o poder normativo do Conselho Monetário Nacional, por força do art. 25 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, nos termos do art. 122, do Código Civil de 2002, e do art. 4º, 3º, da Lei 1.521/51, deve ser coibida a lesão contratual e a usura pecuniária, ajustando-se os limites dos juros bancários às disposições do Decreto / Se prevista a capitalização dos juros no contrato bancário, ela é admissível, desde que anual. 3. Considerase abusiva a cláusula contratual que prevê a incidência de comissão de permanência acumulada com juros e a uma indefinida "taxa de mercado", devendo ser substituída pela correção monetária, observados os índices publicados pela E. Corregedoria-Geral de Justiça do Estado, que bem reflete a inflação ocorrida no período. APELAÇÃO CÍVEL N /001 EM CONEXÃO COM APELAÇÃO CÍVEL Nº /001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): BANCO BRASIL S/A - APELADO(A)(S): EMMANUEL ZSCHABER DE ALMEIDA MARINHO - RELATOR: EXMO. SR. DES. GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES ACÓRDÃO Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, EM NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO. Belo Horizonte, 04 de dezembro de DES. GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES - Relator NOTAS TAQUIGRÁFICAS O SR. DES. GUILHERME LUCIANO BAETA NUNES:
2 VOTO Trata-se de ação ordinária de revisão contratual ajuizada por Emmanuel Zschaber de Almeida Marinho contra o Banco do Brasil S/A. Pretendeu o autor a revisão das cláusulas constantes do contrato (cheque especial), especificamente para expurgar a cobrança de juros capitalizados, reduzir os juros remuneratórios a patamar permitido em lei, afastar a cobrança de comissão de permanência, bem como para repetir em dobro o que foi cobrado indevidamente. Pela sentença de f , o pedido foi julgado procedente para reduzir os juros remuneratórios à taxa de 2% ao mês, decotar a capitalização mensal dos juros, substituir a comissão de permanência pela correção monetária nos índices publicados pela E. Corregedoria-Geral de Justiça, fixar a multa moratória no percentual de 2% e determinar a apuração de saldo, mediante liquidação por mero cálculo aritmético. Inconformado, interpôs o Banco-réu o recurso de f , pugnando pela reforma da sentença no que diz respeito à taxa de juros, possibilidade de capitalização mensal e comissão de permanência. O recurso foi contra-arrazoado às f Conheço do recurso, posto que próprio, tempestivo e preparado (f. 279). A apelação devolve ao tribunal o exame das seguintes matérias: ausência de limitação dos juros remuneratórios; possibilidade de cobrança de juros de forma capitalizada; legalidade da cobrança de comissão de permanência. LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS. A sentença julgou procedente o pedido para fixar a taxa de juros em 2% ao mês. Com relação a essa matéria tenho ponto de vista já firmado e manifestado em inúmeros outros julgados nesta casa. Ainda que inaplicável o art. 192, 3º, da Constituição Federal, porquanto revogado pela EC 40/2003, os juros não poderiam
3 superar a taxa prevista na Lei de Usura, qual seja, de 1% ao mês. Ao Conselho Monetário Nacional, nos termos do Dec. Lei 167/67 e da Lei 4.595/64, fora imposto o poder-dever de limitar as taxas de juros nos títulos de crédito, não o de liberá-las. Sendo assim, ao deixar o Conselho Monetário Nacional que as taxas de juros fossem fixadas ao arbítrio das instituições financeiras fornecedoras de crédito, se omitiu quanto ao dever que lhe fora imposto. E uma vez inexistindo regulamentação no sentido, deve ser observado o disposto na denominada "Lei de Usura" (Dec /33), cujo art. 1º diz: "É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, artigo nº 1.062)". Ocorre, ainda, que o art. 25, I, ADCT, c/c art. 48, inc. XIII, da Constituição Federal, revogou todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que tange à ação normativa. À luz do disposto no art. 25 do ADTC - Ato das Disposições Constitucionais Transitórias -, combinado com os artigos 22 e 48, XIII, da Constituição Federal, não tem mais o Conselho Monetário Nacional ou o Banco Central do Brasil legitimidade para o exercício de qualquer função delegada, porquanto, vencido o prazo de 180 dias sem que fosse editada lei de prorrogação, restou revogado o poder normativo de legislar em nome do Congresso Nacional, criando-se novo índice de correção sem força de lei. E não há dizer que foram editadas Medidas Provisórias e posteriormente Lei prorrogando o prazo previsto no art. 25 do ADCT, porque elas foram editadas muito depois de vencido o prazo de 180 dias, não mais se constituindo em prorrogação, mas em novas medidas. Acontece que nenhuma delas pode surtir efeito, porque infraconstitucionais. Se o ADCT foi elaborado e promulgado por uma Assembléia Nacional Constituinte, somente por esta pode ser modificado. Não mais existe, portanto, a executoriedade compulsória do art. 4º,
4 IX, da Lei 4.595/64, norma especial, que restringia o campo de aplicação do Decreto /33, regulador das demais avenças, que não envolvessem as instituições financeiras. Passou a prevalecer, na íntegra, a norma geral limitadora dos juros, contida no art. 1º da Lei de Usura, pela aplicação do princípio da isonomia, caindo por terra o privilégio antes concedido às instituições financeiras, de estipular livremente suas taxas de remuneração e encargos, ou de exigi-las de acordo com determinações do Conselho Monetário Nacional, o qual se mostrou, em todo esse tempo, interessado na manutenção da penúria daqueles que com tais instituições contratavam. Nesse sentido: "V.V.P.: REVISÃO CONTRATUAL - BANCO - CDC - APLICAÇÃO PARA PESSOAS FÍSICAS - JUROS - LIMITAÇÃO A 12% AO ANO - POSSIBILIDADE - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. As atividades bancárias devem ser consideradas como inseridas no conceito de relação de consumo, nos termos do art. 3º, 2º, do CDC, sendo aplicáveis para pessoas físicas. Constatada a abusividade na cobrança de juros às pessoas físicas, impõe-se a o decote aos limites legais, notadamente o previsto no art. 406 do Novo Código Civil, com remissão ao 1º do artigo 161 do Código Tributário Nacional, sendo devido a limitação de juros de 12% ao ano. (Desembargadora Hilda Teixeira da Costa)." (TJMG - Ap /001 - J DJ ); "REVISÃO CONTRATUAL - COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - SFH - CORREÇÃO MONETÁRIA - TR - ILEGALIDADE - JUROS - LIMITE LEGAL - CAPITALIZAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - O índice que remunera a caderneta de poupança abrange a correção monetária e juros remuneratórios, não podendo ser utilizado para simples atualização monetária de débito, devendo ser substituído pelo índice oficial - INPC. Inexistindo norma regulamentadora do art. 192, 3º da CF/88, por força do disposto nos artigos 25, do ADCT, 1º inciso III, 3º, inciso I a V, 49, inciso V e XI, 68, 1º e 173, 4º, da Constituição Federal, não pode ser admitida a cobrança de juros abusivos e, durante a injustificável omissão do poder legiferante, cabe a aplicação da velha lei de usura, que é compatível com a nova ordem constitucional e não permite a estipulação de juros remuneratórios superiores ao dobro da taxa legal. A teor da Súmula n 121, do STF, é vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada. (TAMG - Ap Rel. Juiz Edilson Fernandes - 3ª C. Cív. - J );
5 "CONTRATOS BANCÁRIOS. LEI DE USURA. INCIDÊNCIA NOS CONTRATOS BANCÁRIOS. REVOGAÇÃO DA LEI 4595/64 ATRIBUTIVA DE PODER NORMATIVO AO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL EM MATÉRIA DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DO CONGRESSO NACIONAL. Com o advento da Constituição Federal de 1988, por força do art. 25 do ADCT, revogadas ficaram todas as instruções normativas e, de resto, o próprio poder normativo, em matéria de competência legislativa do Congresso Nacional. Por conseguinte, o poder normativo a respeito de juros bancários que a Lei 4595/64 concedia ao Conselho Monetário Nacional restou revogado. A única lei federal limitativa de juros é a Lei de Usura que hoje regra os contratos de toda a sociedade, inclusive, os bancários" (TARGS - Ap. Cível nº Rel. Juiz Márcio Oliveira Puggina - J JUIS nº 8); Entretanto, no caso dos autos, a sentença recorrida fixou a taxa em 2% ao mês e não houve recurso do autor, ora apelado, devendo prevalecer, portanto, o percentual fixado pelo juízo monocrático. CAPITALIZAÇÃO DE JUROS. O nosso ordenamento jurídico não permite o anatocismo, a não ser nos casos expressos em lei. A matéria está pacificada no STJ: "A capitalização de juros é admitida apenas nas hipóteses reguladas em leis especiais, que a prevêem expressamente, tal sucede com as que cuidam das cédulas de crédito rural, comercial e industrial." (REsp RS - Rel. Min. Eduardo Ribeiro - DJ p ); "Somente nas hipóteses em que expressamente autorizada por lei específica, a capitalização de juros se mostra admissível."(resp RJ - Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira). Assim, correta a sentença que afastou a capitalização mensal dos juros. Também coaduno com o entendimento do douto sentenciante, que admitiu a capitalização anual. Com efeito, diz o art. 4º do Dec /33: "É proibido contar juros dos juros; esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta-
6 corrente de ano a ano". Há que se dizer que até o novo Código Civil, em seu art. 591, contém dispositivo semelhante: "Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual". Sobre o tema, a jurisprudência tem entendido que: "PROCESSO CIVIL - RECURSO ESPECIAL - NEGATIVA DE PROVIMENTO - AGRAVO REGIMENTAL - CONTRATO BANCÁRIO - CAPITALIZAÇÃO MENSAL - CASOS ESPECÍFICOS PREVISTOS EM LEI - DEC /33 - DESPROVIMENTO. 1 - O recorrente não trouxe fundamentação suficiente para ultrapassar a jurisprudência antiga deste Tribunal e adotada pelo v. acórdão recorrido, em que se entendia ser admitida a capitalização mensal de juros (anatocismo) apenas em casos específicos, previstos em lei (cédulas de crédito rural, comercial e industrial), conforme Súmula 93 do STJ. Incidindo, portanto, o art. 4º do Decreto /33, bem como a Súmula 121 do STF, sendo permitida, entretanto, na periodicidade anual, consoante entendimento desta Corte. 2 - Agravo regimental desprovido." (STJ - AgRg no REsp RS - Rel. Min. Jorge Scartezzini -4ª T. - J DJ p. 259) (Destaquei) Dessa forma, nada a modificar na sentença quanto à capitalização de juros. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. A cobrança da comissão de permanência se revela injusta, pois onera excessivamente o consumidor, principalmente quando se sabe tratar-se de um fator com percentual de correção desconhecido na época da transação. O art. 51 do Código de Defesa do Consumidor, no inciso IV, norma de ordem pública, assim determina: "São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
7 coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade". A referida comissão de permanência nada mais é que um instrumento destinado a mascarar a abusiva cobrança cumulada com outros encargos de mora, conforme se deflui da seguinte cláusula contratual (f. 77): "25.2. Sobre o saldo devedor incidirão juros de mora, na forma da legislação em vigor e comissão de permanência à taxa de mercado do dia do pagamento - cujos índices poderão ser obtidos junto às agencias do BANCO - além do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários, contabilizados desde a data da ocorrência do saldo devedor, até a data do seu pagamento." Diante dessa realidade, a cobrança da comissão de permanência há de ser praticada nos exatos limites dos índices da correção monetária, e não mais que isso, pois, se assim não for, sua cobrança, cumulada com outros encargos de mora, se faz ilegal. A propósito: "AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CONTRATO BANCÁRIO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. AUSÊNCIA DE INTERESSE RECURSAL. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. CUMULAÇÃO COM OUTROS ENCARGOS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO CONHECIDO. (...). 2. Conforme decidido pela 2ª Seção desta Corte, no julgamento do AgRg nº /RS, Ministra Nancy Andrighi, a comissão de permanência é admitida durante o período de inadimplemento contratual, não podendo, contudo, ser cumulada com a correção monetária (Súmula 30/STJ), com os juros remuneratórios (Súmula 296/STJ) e moratórios, nem com a multa contratual. Assim, não é cabível, na espécie, a cobrança de comissão de permanência, diante da cumulação com outros encargos. (...)." (STJ - AgRg no REsp /SC - Rel. Ministro Hélio Quaglia Barbosa - 4ª T. - J DJ p. 522). Assim, correta a sentença que afastou a comissão de permanência, por ilegal e abusiva, e em seu lugar, determinou a incidência da correção monetária nos índices publicados pela Corregedoria-Geral de Justiça do Estado, por entendê-la mais justa e aceitável para recompor o valor do capital emprestado.
8 Com base no exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO. Custas recursais pelo apelante. Votaram de acordo com o(a) Relator(a) os Desembargador(es): UNIAS SILVA e D. VIÇOSO RODRIGUES. SÚMULA : NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS APELAÇÃO CÍVEL Nº /001
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