CONTEXTUALIZAÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL BRASILEIRO Autor: Jackson Eduardo Gonçalves (*) Endereço para correspondência: Rua Juca Escrivão, nº 60, Centro, Campo Belo-MG, CEP: 37270-000 E-mail: jedgoncalves@ig.com.br Grupo de pesquisa: 2 Forma de apresentação: Pôster (*) Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Lavras/MG. Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará. Professor e Coordenador do curso de Administração de Empresas e Administração Agroindustrial da Faculdade de Administração de Campo Belo/MG.
CONTEXTUALIZAÇÃO DO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL BRASILEIRO Resumo Este trabalho se situa no âmbito dos estudos de estruturas econômicas baseados na ótica dos complexos agroindustriais. Para que o conceito de complexo agroindustrial seja melhor compreendido, convém oferecer alguns dados que expressam, entre outros, principalmente a evolução da produção e dos investimentos do complexo, numa economia desenvolvida. A linha teórica que norteou este trabalho é a nova configuração do setor agroindustrial brasileiro, dado o surgimento dos complexos agroindustriais. A conceituação fez-se de maneira necessária como forma de entendimento como nova face da agricultura. Palavras-Chave: Complexo agroindustrial, Agroindústria, Agricultura. INTRODUÇÃO Este trabalho se situa no âmbito dos estudos de estruturas econômicas baseados na ótica dos complexos agroindustriais (CAI s). A definição de complexo agroindustrial pode ser feita considerando-o como conjunto de todas as operações que englobam a produção e distribuição dos insumos rurais, as operações em nível de exploração rural; e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e de seus subprodutos. O objetivo deste trabalho é contribuir na linha teórica, mostrando uma visão de conjunto, baseada numa análise do desempenho da agricultura nas últimas décadas, tendo em vista, especialmente, uma avaliação do impacto da formação dos CAI s. Procurou-se ao longo do texto trabalhar as análises mais atualizadas do processo de caificação da economia agrícola, fazendo um paralelo entre a sua ocorrência e o desempenho da agricultura no período analisado. A organização do presente artigo se faz da seguinte maneira, primeiro serão tratadas as amplas definições de complexos agroindustriais, conforme os diversos autores citados. Concomitantemente será abordada a nova dinâmica da agricultura brasileira, a integração e o surgimento da agroindústria. Este traz ainda uma discussão sobre o panorama do agronegócio brasileiro e na inserção da agricultura no desenvolvimento nacional. 2 DEFINIÇÃO DE COMPLEXO AGROINDUSTRIAL A parte do complexo agroindutrial, anterior à produção rural, que congrega o conjunto de setores que produzem os insumos que são adquiridos pelos produtores é chamada agregado I ou montante do complexo agroindustrial. A parte por sua vez, que recebe a produção dos produtores ( isto é, do agregado II ), para armazená-la, processá-la e distribuí-la no mercado é chamada agregado III ou jusante do complexo agroindustrial. Para que o conceito de complexo agroindustrial seja melhor compreendido, convém oferecer alguns dados que expressam, entre outros, principalmente a evolução da produção e dos investimentos do complexo, numa economia desenvolvida. A qualificação do complexo tem como único objetivo aprofundar a teoria sobre o mesmo, explicitando alguns
aspectos estruturais que orientem a reflexão. Não mostra preocupação direta com a situação atual da economia, mas procura selecionar alguns dados quantitativos, úteis para a compreensão de conceito complexo agro-industrial e de seu significado dentro do setor rural e da economia. Recomenda-se a busca de dados sobre o complexo para uma análise somente intersetorial, baseado na matriz insumo-produto que detalha todas as compras e vendas do setor. A revisão teórica do fenômeno agroindustrial não acompanhou a realidade em toda sua complexidade. O termo agricultura era aplicado indistintamente a uma agricultura de subsistência e a uma agricultura no contexto da economia desenvolvida, sem que a confusão de conceitos criasse problema especial para a teoria econômica. Foram profissionais da área administrativa que alertaram sobre a confusão de conceitos existentes ao ser utilizado o termo agricultura e criaram o termo agribusiness, que é o mesmo conceito de agricultura em uma economia de subsistência aplicado a uma economia desenvolvida. agribusiness é portanto, uma única unidade ativa, que expressa todo conjunto de operações de um agricultor de subsistência que hoje são realizados por diversos setores especializados. Segundo Araújo, Wedekin, Pinazza (1990), a propriedade agrícola mudou sua atividade de subsistência para uma operação comercial, em que os agricultores consomem, cada vez menos, o que produzem. O moderno agricultor é um especialista, confinado às operações de cultivo e criação. Por outro lado, as funções de armazenar, processar e distribuir alimento e fibra vão se transferindo, em larga escala, para organizações além da fazenda. Essas organizações transformaram-se em operações altamente especializadas. Criou-se um novo arranjo de funções fora, e a montante, da fazenda: a produção de insumos agrícolas e fatores de produção, incluindo máquinas e implementos, tratores, combustíveis, fertilizantes, suplementos para ração, vacinas e medicamentos, sementes melhoradas, inseticidas, herbicidas, fungicidas e muitos itens mais, além de serviços bancários, técnicos de pesquisa e informação. A jusante da fazenda formou-se complexas estruturas e armazenamento, transporte, processamento, industrialização e distribuição ainda mais formidáveis. Atualmente os complexos agro-industriais brasileiros desempenham uma significativa importância na economia do país, referindo-se a todas as instituições que desenvolvem atividades, no processo de produção, elaboração e distribuição dos produtos da agricultura e pecuária, envolvendo desde a produção e fornecimento de recursos, até que o produto final chegue nas mãos dos consumidores. Entre as instituições que constituem o CAI, incluem-se, além daquelas diretamente envolvidas no processo, aquelas de apoio indireto à realização das atividades na tomada de decisões, como o governo e suas políticas e o sistema financeiro e de crédito. Muller (1982) afirma que em face da massa de necessidades e interesses de corte industrial que perpassa todos os setores do complexo agro-industrial, pode-se asseverar que a industrialização dos mesmos é a tendência predominante. Esta, evidencia que as características dessa industrialização regularão a expansão ou o bloqueio dos setores industriais e agrícolas. Szmrecsányi (1983) sugere um esquema de análise do setor agropecuário que permite melhor captar suas transformações estruturais e qualitativas. Nas palavras desse autor, o setor deixa de constituir um compartimento semi autônomo e fechado, para tornar-se um sistema aberto e integrado aos setores que lhes são complementares no contexto da encomia como um todo. Desse modo, o complexo agro-industrial é formado pelos seguintes setores (figura 1): produção agropecuária: engloba os vários tipos de cultivo e criações.
instituições: envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário (crédito, assistência técnica, extensão, pesquisa, etc.). indústria de insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para o atendimento das necessidades produtivas agropecuárias (corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos, etc.). comercialização: diz respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos produtos agropecuários (cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de comercialização, etc.). indústria de processamento: inclui os ramos industriais com produção predominantemente baseada em matérias-primas de origem agropecuária. Instituições Indústria de insumos Produção Agropecuária Comercializações Indústria de Processamento C o n s u m i d o r Figura 1: Esquema do Complexo Agro-industrial Fonte: SZMRECSÁNYI, 1983 Cabe ressaltar que as articulações mostradas no esquema não se aplicam igualmente para os vários produtos agropecuários. No caso do feijão no Brasil, por exemplo, o produto não sofre nenhum processamento industrial, sendo encaminhado diretamente para os canais de comercialização. Por outro lado, é bom lembrar que a inserção de um particular produto dentro do complexo agro-industrial pode se alterar com o decorrer do tempo. Utilizando-se o mesmo produto como exemplo e ainda para o caso brasileiro, se o consumidor se habituar (ou for habituado) em algum momento a fazer uso de feijão enlatado, a inserção desse produto no complexo agro-industrial será outra. Ainda mais, um produto como tomate, que atualmente apresenta dois caminhos dentro do esquema, conforme seja processado ou não, talvez, no futuro, seja consumido fundamentalmente como produto transformado, deslocando a produção do tomate de mesa. Ao centrar-se à análise na relação entre a agricultura e a indústria de transformação ou agroindústria, nota-se que as formas de relacionamento podem adquirir diferentes conotações, conforme o produto considerado e o tipo de produtor agrícola envolvido. Guimarães (1979) enfatiza que os setores a jusante da agricultura impõe, à sua maneira, as quantidades e tipos de produtos mais conformes às exigências de transformação industrial. Sorj (1980) caracteriza essa necessidade da agroindústria de garantir o seu processo produtivo, quando afirma que a indústria de processamento apóia a modernização da agricultura pela necessidade de assegurar uma oferta estável e crescente de produtos com qualidade homogênea. Aponta dois fatores básicos para o funcionamento do processo
produtivo na agroindústria: regularidade e qualidade adequada da matéria-prima de origem agropecuária. Contudo, não qualifica as condições em que se dá ou não a modernização. Não é à partir do simples apoio ou imposição que se pode inferir uma casualidade linear entre a existência de relação com indústria de processamento e a modernização tecnológica do produtor agropecuário. Provavelmente, o tamanho do setor agro-industrial particular é fator importante na atualização do nível tecnológico efetuado pelo produtor agropecuário. Por outro lado, qual a vantagem do agricultor em se desenvolver tecnologicamente? Basicamente, um grau maior de desenvolvimento tecnológico implica aumento de produtividade que levaria a custos mais baixos. A redução da incerteza também seria uma decorrência do desenvolvimento tecnológico na medida em que o agricultor teria efetivamente maior controle sobre o processo produtivo. Vários autores discutem como os preços do produto agrícola e dos insumos são afetados pela estrutura de mercado a jusante e a montante da agricultura. Sorj (1980) destaca que a relação entre produtores agropecuários e as indústrias de processamento ou firmas comercializadoras apresenta uma tensão básica. Quanto menor for o preço pago ao produtor maior serão os lucros e competitividade no mercado. Para Guimarães (1979) o mais importante dos efeitos da integração agro-industrial é a supressão da livre concorrência com repercussão direta no mecanismo de preços, que passa a ser ditado pelas indústrias a montante e a jusante da produção agrícola e em bases tendencialmente monopolistas, dado o domínio incontestável que essas indústrias exercem sobre o mercado. Kageyama (1987) destaca que as indústrias processadoras tem uma forte capacidade de exercer influência sobre a agricultura, dada a alta percentagem de produção agrícola que consomem, mas os dois pólos industriais exercem essa influência e a principal modalidade se dá através do mecanismo de preços. Sorj e Wilkinson (1983) destacam a conseqüência do poder das agroindústrias, de determinarem o preço, para o produtor agrícola, quando afirma que o complexo agroindustrial se transforma no beneficiário principal do sobre-trabalho dos produtores agrícolas. 2.1 - Complexo agro-industrial no Brasil Segundo Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), nas últimas décadas, houve profundas mudanças estruturais na agricultura brasileira. As mais significativas se operaram na produção. O chamado setor de subsistência perdeu muito em grandeza e significado; a agricultura de mercado se expandiu. Integrou-se progressivamente com os demais setores da economia. Da indústria passou a demandar fertilizantes químicos, máquinas e implementos e os serviços daí decorrentes. Também a sua produção orientou-se cada vez mais, ao mercado além da fronteira da fazenda. Os produtos da agropecuária passaram a ter uma demanda crescente por parte dos demais setores da economia, principalmente da agroindústria, antes de atingir o consumidor final. Excluídas algumas regiões ainda de extrema pobreza em que se pratica uma agricultura de subsistência, a agropecuária brasileira está hoje integrada com os demais setores da economia brasileira. Os setores da agropecuária e da agroindústria tem grande importância na geração de emprego no país. O emprego do CAI está dividido nas atividades antes da agricultura (nas indústrias mecânicas, químicas, de transporte, etc.), no setor rural e nos setores de processamento e distribuição de produtos agropecuários e seus derivados. O país ocupa posições importantes no ranking mundial de produção e exportação de mercadorias elaboradas pelo CAI. Na economia nacional, a agropecuária é o setor mais aberto e competitivo no cenário internacional. O market-share do Brasil no mercado mundial de alimentos e fibras permanece artificialmente limitado por dois conjuntos
de restrições, um de ordem externa e outro de ordem interna. O primeiro está associado às variadas formas de reserva de mercado com que as nações desenvolvidas defendem os interesses do setor produtivo rural doméstico, apesar dos elevados custos imputados a consumidores e contribuintes. A restrição de ordem interna deriva dos altos custos totais de distribuição de mercadorias agrícolas exportáveis bem como das vendidas no mercado interno. 2.1.1 O setor de insumos e bens de produção para a agricultura De acordo com Araújo, Wedekin e Pinazza (1990), os investimentos aplicados em pesquisa e experimentação nas áreas vegetal e animal visam levar ao mercado rural novos processos e produtos, que modernizem e aumentem a produtividade da atividade agropecuária. Os benefícios do aumento da produtividade de terra, dos insumos e da mão-deobra, contribuem para a redução dos riscos da atividade e adequam o tempo absorvido na consecução de cada etapa do ciclo de produção. Isso possibilita a obtenção de produtos com características técnicas compatíveis com o melhor rendimento nas atividades de processamento, de acordo com as preferências dos consumidores. 2.1.2 A indústria de sementes O setor de sementes seleciona plantas com características específicas e atributos desejáveis com base na teoria da evolução e nas descobertas das leis da hereditariedade. A semente melhorada é o principal fator da produtividade e é o vetor da eficiência dos chamados insumos modernos. 2.1.3 A indústria de fertilizantes O uso de fertilizantes está associado às técnicas que visam a melhorar qualitativamente o solo, servindo, portanto, como poupança quantitativa do fator terra. A qualidade do solo determina as necessidades de fertilizantes para sua correção e recomposição. 2.1.4 A indústria de defensivos agrícolas O defensivo contribui para evitar a queda da produtividade de todos insumos e fatores de produção. Os defensivos agrícolas são produtos químicos que, quando aplicados em épocas próprias, em caráter regular ou em situações de emergência, servem para combater, controlar e evitar a incidência de doenças e pragas. 2.1.5 A indústria de máquinas agrícolas Tanto na indústria de tratores como na de colheitadeiras, a constante necessidade de inovar coloca o trabalho de pesquisa e desenvolvimento como ponto estratégico para manter a capacidade competitiva. Nesse sentido, a garantia de participação em partes representativas do mercado, resulta da possibilidade de acesso direto ou indireto à tecnologia externa. Além dos tratores e colheitadeiras, o setor de bens da capital é composto por outras indústrias de máquinas, equipamentos e implementos. (Araújo, Wedekin e Pinazza, 1990). 2.1.6 A produção agropecuária
O Brasil se enquadra na concepção clássica a respeito do papel que o setor agrícola desempenha no processo de desenvolvimento econômico de uma nação, através do cumprimento de quatro funções básicas: Aumento da oferta de alimentos e matérias-primas para suprir o crescente setor urbanoindustrial; Geração de divisas, via exportação de produtos; Liberação de recursos humanos, suprindo mão-de-obra para expansão dos outros setoresda economia; Transferência de renda para suporte aos investimentos necessários ao processo de urbanização e industrialização do país. A estratégia de desenvolvimento esboçada no final do século passado, quando começou a crescer no país a idéia da industrialização, foi consolidando-se, ao longo da década de trinta, por deliberação e como política do estado. A tese modernizadora do país, defendida pelos tenentes de 1922, foi fundamental nesse processo. Com a recessão mundial detonada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, a cafeicultura nacional, sofreu um duro golpe, pois a receita cambial do país caiu cerca de 66% nos dois anos seguintes. Este período marcou o ponto de inflexão no comando políticoeconômico do país, já que, a partir de então, passaram a predominar as forças econômicas e sociais oriundas da urbanização e da industrialização. No período do pós-guerra, ganhou corpo a ideologia desenvolvimentista na formulação das políticas econômicas. A legitimidade dessa estratégia estava alicerçada nos anseios do governo Juscelino Kubstichek, que foi eleito tendo como bandeira eleitoral a industrialização do país. O slogan 50 anos em 5, tão propalado na década de cinqüenta, refletia o espírito reinante, demarcando a ponte entre o velho e o novo Brasil Afirma Araújo, Wedekin e Pinazza (1990) que a perda da importância da agricultura na economia brasileira está associada à transferência de renda do setor rural para o urbano, principalmente a partir da década de 50. Tal transferência foi realizada com o objetivo de dar suporte à industrialização do país, como parte do programa de substituição de importações. O enfoque do problema da agricultura sob a ótica dos fluxos de renda revela a camisa-de-força a que o setor foi submetido no pós-guerra. Daí pode-se entender a ampliação dos subsídios na taxa de juros do crédito rural, principalmente na década de 70, com mero mecanismo de compensação às penalizações impostas ao setor. Porém os benefícios dessa política não ficaram circunscritos dentro da porteira das propriedade rurais. Os segmentos antes e depois da porteira foram beneficiados de forma direta e indireta. As indústrias de insumos e fatores de produção contaram com um mercado consumidor crescente, enquanto as de processamento e distribuição dispunham de acesso a crédito para aquisição de matériasprimas agropecuárias. A liberação da mão-de-obra foi outra contribuição do setor rural para o desenvolvimento urbano-industrial do país, permitindo a manutenção de baixos salários nas cidades. As décadas de 70 e 80 mostraram profundas transformações no CAI brasileiro. No transcorrer da década de oitenta, além da retirada dos subsídios na taxa de juros, o crédito rural teve abrupta redução nos recursos concedidos. Diante das dificuldades macroeconômicas dos anos 80, o sistema de comercialização agropecuária sofreu distorções estruturais. Desse modo, cresceu a importância da Política de Garantia de Preços Mínimos - PGPM - como instrumento de proteção da renda do agricultor, o que provocou, inclusive, uma virtual estatização da comercialização.
2.1.7 Processamento e distribuição No Complexo Agro-industrial, as atividades ligadas ao segmento de processamento, transformação e distribuição tendem a ter maior velocidade de crescimento em relação às demais, em termos econômicos e de geração de emprego. 2.1.8 Características da agroindústria O sistema de integração é uma das formas de relação entre a agroindústria alimentar e os produtores, com reflexo na organização da produção " dentro da porteira". Junto com o estabelecimento de preços, são definidos os insumos utilizados, as técnicas adotadas, as épocas de colheita e entrega do produto à indústria. Nesse sistema, normalmente, as agroindústrias responsabilizam-se pelo transporte e armazenamento do produto da agropecuária. Para administrar todo o processo, do suprimento de matéria-prima à comercialização do produto final, de forma a ganhar mercado e marcar posições sólidas, é bastante comum as empresas investirem em atividades que possibilitam a integração vertical e horizontal. Essa estratégia, de fato, aumenta o poder c competitivo da empresa, porém requer maior capital em pelo menos quatro pontos: primeiro, para formação de ativo fixo que viabilize escalas econômicas de produção; segundo, para bancar o lento giro dos estoques pois a sazonalidade da produção resulta em compras de matéria-prima concentradas em curto período e processamento ao longo de todo o ano; terceiro, para acompanhar a evolução tecnológica dos processos produtivos, na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos; quarto, para desenvolver os serviços de promoção, pesquisa de mercado e propaganda. No âmbito das estratégias comerciais, são aspectos chaves o lançamento de produtos, fortalecimento de marca, embalagens, dentre outros (Araújo, Wedekin e Pinazza, 1990). 2.1.9 A indústria da alimentação O conceito de "agribusiness" sedimenta o vínculo existente entre a produção e o consumo ao longo da cadeia alimentar, ao envolver as atividades ligadas à manipulação, processamento, preservação, armazenamento e distribuição dos produtos. Para que todo esse sistema opere com eficácia, o papel da tecnologia é fundamental, já que associa os métodos e processos da pesquisa e produção agropecuária e do processamento industrial com os princípios e requisitos da nutrição humana. O uso crescente de alimentos industrializados prontos ou semi-prontos representa novos padrões de vida e consumo. 2.1.10 Distribuição Na distribuição de alimentos no Brasil, mais precisamente nas atividades de fornecimento de comadas preparadas à população, o negócio de "fast-food" merece especial atenção dada sua rápida expansão nos últimos anos. 2.1.11 A adição de valor no sistema agro-alimentar Na cadeia do Complexo Agro-industrial, a atividade econômica envolve um importante processo de adição de valor sobre as matérias-primas de origem agropecuárias. As mudanças de matéria-prima original buscam atender às demandas variadas dos consumidores e se dão ao longo do processo de produção, comercialização e consumo.
O sub-setor de comercialização está mais relacionado com as instituições e organizações empenhadas na transferência do produto agrícola "in natura", desde o ponto de produção inicial até o consumidor final. Trata-se de um processo de agregação de valor resultante do processamento e/ou incorporação de serviços, desenvolvidos em três níveis principais, chamados de utilidades na teoria econômica clássica: Utilidade de tempo (armazenamento e perecibilidade) O processo de armazenagem está associado à natureza estacional de produção agropecuária e é fundamental à formação de preços e ao processo físico da comercialização. Utilidade de lugar (transporte e distribuição). O setor de transportes interno de cargas é composto por cinco modalidade principais: rodoviário, ferroviário, aquaviário, aéreo e dutoviário. O suprimento de insumos para as regiões produtoras e escoamento dos excedentes da produção agrícola para as zonas de consumo são concentrados nas rodovias, que recebem o apoio dos sistemas ferroviário e hidroviário; Utilidade de forma (processamento e embalagem). Os alimentos processados vem ganhando espaço no complexo agro-industrial brasileiro e mundial, em detrimento dos produtos comercializados "in natura". Atendendo ao conceito de utilidade, o processamento possibilita uma oferta mais homogênea durante o ano todo, atuando a favor da estabilização dos na safra e escassez na entressafra. Utilidade de Troca e Posse. Está diretamente ligada à possibilidade de acesso a um determinado bem ou serviço. A comercialização também possui caráter social, pois envolve interações entre seres humanos através de instituições apropriadas. A mais importante delas é o mercado, "local onde operam as forças de oferta e demanda, através de vendedores e compradores, de tal forma que ocorra a transferência de propriedade das mercadorias". È justamente nessa transferência que resulta a criação de uma outra utilidade, a de troca. consumo consiste na utilização dos bens e serviços para satisfação das necessidades e desejos pessoais. A eficácia do CAI pode ser julgada na sua capacidade de criação de utilidades de forma, tempo, espaço e troca para atender o consumidor. A utilidade de posse está relacionada aos esforços mercadológicos realizados pelas empresas para potencializar o interesse do consumidor na aquisição de determinado bem (Araújo, Wedekin e Pinazza, 1990). 2.1.12 Cadeias de produção A análise de cadeias de produção é uma das ferramentas privilegiadas da escola francesa de economia industrial. Apesar dos esforços de conceituação empreendidos pelos economistas industriais francesas, a noção de cadeia de produção continua vaga quanto ao seu enunciado. Uma rápida passagem pela bibliografia sobre o assunto permite encontrar grande variedade de definições. Batalha (1977), procurando sintetizar estas idéias, enumerou três séries de elementos que estariam implicitamente ligados a uma visão em termos de cadeia de produção: a cadeia de produção é uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico; a cadeia de produção é também um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes; a cadeia de produção é um conjunto de ações econômicas que presidem a valorização dos meios de produção e asseguram a articulação das operações.
A grosso modo, uma cadeia de produção agro-industrial pode ser segmentada, de jusante a montante, em três macro-segmentos. Em muitos casos práticos, os limites desta divisão não são facilmente identificáveis. Além disso, esta divisão pode variar muito segundo o tipo de produto ou segundo objetivo da análise. Os três macro-segmentos propostos são: Comercialização. Representa as empresas que estão em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, restaurantes, mercearias, cantinas etc.). Podem ser incluídas neste macrosegmento as empresas responsáveis somente pela logística de distribuição. Industrialização. Representa as firmas responsáveis pela transformação das matérias primas em produtos finais destinados aos consumidores. O consumidor pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria. Produção de matérias-primas. Reúne as firmas que fornecem as matérias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura etc.). 2.1.13 Sistema agro-industrial Sistema agro-industrial pode ser considerado o conjunto de atividades que ocorrem para a produção de produtos agro-industriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas etc.) até a chegada do produto final (queijo, biscoito, massas etc.) ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma matéria-prima agropecuária ou produto final específico. O SAI, aproxima-se bastante da definição inicial de agribusiness proposta por Batalha (1977). Na verdade, o SAI, quando apresentado desta forma, revela-se de pouca utilidade prática como ferramenta de gestão e de apoio à tomada de decisão. O SAI pode ser visto como sendo composto pelos conjuntos de atores: agricultura, pecuária e pesca; indústrias agro-alimentares (IAA); distribuição agrícola e alimentar; comércio internacional; consumidor; indústrias e serviços de apoio. 3 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS A linha teórica que norteou este trabalho é a nova configuração do setor agroindustrial brasileiro, dado o surgimento dos complexos agroindustriais. A conceituação fez-se de maneira necessária como forma de entendimento como nova face da agricultura. Assim, neste contexto de constituição dos CAI s o desempenho da atividade agrícola tem sido acompanhado atentamente dada a importância de seus resultados para vários segmentos da sociedade. Dela depende a alimentação, ela fornece matérias primas para várias indústrias, é responsável por parte substancial da receita das exportações, é mercado para os segmentos que lhe fornecem insumos. Tem-se observado portanto, que a agricultura e o seu mercado são determinantes de grande importância para o funcionamento geral da economia. Os processos de desenvolvimento do setor ocorridos nas últimas décadas esteve na maior parte dos casos vinculado a uma estratégia governamental, as quais viabilizaram a industrialização da agricultura e o desenvolvimento dos setores industriais conectados a ela.
Baseado neste fato pode-se concluir que a participações do governo através das políticas públicas direcionadas ao setor, é de singular importância. Cabe a ele promover um ambiente interno de desenvolvimento, de forma que o país se insira nos rígido padrões de competitividade mundial. A inserção do mercado Agronegócio brasileiro num padrão de competitividade internacional ainda não é satisfatório, o país tem vários dos seus produtos agrícolas restringidos no mercado externo, o que demonstram a inexistência ou ineficiência das políticas públicas direcionadas ao setor. O complexo agroindustrial brasileiro apresenta-se ainda pouco desenvolvido, demonstrando uma falta de interligação entre os diferentes setores. Neste contexto não se consegue competir, tão pouco crescer. O CAI da soja é uma das poucas exceções. Conforme demonstrado no trabalho o complexo agroindustrial brasileiro, possui excelente competitividade no mercado externo e representa a geração de grandes volumes de divisas para o país. A tecnologia pode ser ilustrada pelos avanços na pesquisa e desenvolvimento de novos insumos, novos produtos para o consumidor, que pode se dar através do processamento das matérias primas pelas agroindústrias. Na tecnologia repousam as maiores oportunidades para o aumento da qualidade e a redução dos custos dos produtos vendidos pelas empresas do agronegócio brasileiro. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, NB; WEDEKIN, I; PINAZZA, L. A Complexo Agroindustrial - o "Agribusiness Brasileiro", Agroceres, São Paulo, 1990, 238 p KAGEYMA, A. (Coord.). O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos agroindustriais. Campinas: Unicamp/IE, 1987. MÜLER, G. O complexo agroindustrial brasileiro. Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 1982. PINAZZA, L. A. O Brasil ante o Agronegócio internacional. Agroanalysis, Rio de Janeiro, v.17, n.2, 15 maio 1997. P.16. SILVA, J.G. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: UNICAMP/IE, 1996. GUIMARÃES, A. P. A crise agrária. 2 ed. Rio de Janeiro: Paz a Terra, 1979. 362 p. SZMRECSANYI, T. Nota sobre o complexo agroindustrial e a industrialização da agricultura no Brasil. Revista de Economia Política. São Paulo, 3(2): 141-144, abril-junho de 1983. SORJ, B. Estado e Classes Sociais na Agricultura Brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. 152 p. SORJ, B. & WILKINSON, J. A tecnologia moderna de alimentos: rumo a uma industrialização da natureza. Ensaios FEE. Porto Alegre, 9 (2): 1983.