Anormalidades selares e justasselares: achados na ressonância magnética atípicos de doenças comuns e típicos de doenças incomuns

Documentos relacionados
Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM) Imagem 01. Ressonância Nuclear Magnética (RM) de crânio, corte axial, ponderada em T1, sem contraste.

Espessamento da haste hipofisária: relato de caso Thickening of the pituitary stalk: a case report

O PAPEL DA IMAGEM NOS MENINGIOMAS. Dr. Victor Hugo Rocha Marussi Neuroradiologista

Reunião de casos clínicos

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

Material e Métodos Relatamos o caso de uma paciente do sexo feminino, 14 anos, internada para investigação de doença reumatológica

Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM)

Caracterização de lesões Nódulos Hepá8cos. Aula Prá8ca Abdome 2

Ultra-sonografia nas Lesões Hepáticas Focais Benignas. Dr. Daniel Bekhor DDI - Radiologia do Abdome - UNIFESP

Lesões simuladoras de malignidade na RM

Caso RM. Letícia Frigo Canazaro Dr Ênio Tadashi Setogutti

Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética qual a melhor opção para cada caso?

Artigo Original TUMORES DO PALATO DURO: ANÁLISE DE 130 CASOS HARD PALATE TUMORS: ANALISYS OF 130 CASES ANTONIO AZOUBEL ANTUNES 2

Pericárdio Anatomia e principais patologias

O DESAFIO DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA ASSOCIADO A GESTAÇÃO: ENSAIO PICTÓRICO

FORMA TUMORAL DA CISTICERCOSE CEREBRAL

ESTUDO DE PAREDE VASCULAR POR RESSONÂNCIA MAGNÉTICA: INDICAÇÕES

Métodos de imagem. Radiologia do fígado. Radiologia do fígado 12/03/2012

Neoplasias. Benignas. Neoplasias. Malignas. Características macroscópicas e microscópicas permitem diferenciação.

AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA DAS NEOPLASIAS HEPÁTICAS PRIMÁRIAS

Journal Club. Setor Abdome. Apresentação: Lucas Novais Bomfim Orientação: Dr. George Rosas. Data: 10/04/2013

BAÇO O ÓRGÃO ESQUECIDO. Rodrigo Philippsen. Departamento de Radiologia Abdominal do Hospital Mãe de Deus - Porto Alegre

Métodos de diagnósticos por imagem do tumor cerebral astrocitário

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC)

Linfoma extranodal - aspectos por imagem dos principais sítios acometidos:

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC) e Ressonância Magnética (RM)

Caso Clínico. Paciente do sexo masculino, 41 anos. Clínica: Dor em FID e região lombar direita. HPP: Nefrolitíase. Solicitado TC de abdome.

CARACTERIZAÇÃO DO HEMANGIOMA HEPÁTICO ATRAVÉS DA RESSONANCIA MAGNÉTICA E TOMO- GRAFIA COMPUTADORIZADA: UMA REVISÃO NA LITERATURA

Radiologia do crânio e face

Hemangioma hepático: Diagnóstico e conduta. Orlando Jorge Martins Torres Professor Livre-Docente UFMA Núcleo de Estudos do Fígado

Diagnóstico por imagem das infecções do sistema musculoesquelético

Cistos e cavidades pulmonares

Radiologia Blog Dr. Ricardo

Nódulos e massas pulmonares

LESÕES MAMÁRIAS BENIGNAS MIMETIZADORAS DE MALIGNIDADE

Sessão de Neuro- Oncologia

MENINGIOMA VS LESÃO SECUNDÁRIA

Lesões expansivas intraventriculares à ressonância magnética: ensaio iconográfico parte 1 *

Tomografia computadorizada (TC), Ressonância magnética (RM)

03/05/2012. SNC: Métodos de Imagem. US Radiografias TC RM. Métodos Seccionais. TC e RM. severinoai

Difusão por Ressonância Magnética

Fígado Professor Alexandre

Imagem da Semana: Ressonância magnética (RM)

Prostatic Stromal Neoplasms: Differential Diagnosis of Cystic and Solid Prostatic and Periprostatic Masses

Radiologia do crânio

Malformações Arteriovenosas Cerebrais O que é importante para a tomada de decisão. Ricardo Pessini Paganin

Ultrassonografia na miomatose uterina: atualização

AVALIAÇÃO DOS ACHADOS MAMOGRÁFICOS CLASSIFICADOS CONFORME SISTEMA BI RADS¹. Beatriz Silva Souza², Eliangela Saraiva Oliveira Pinto³

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

Indicações, vantagens e desvantagens da TC e RM.

TC e RM DOS SEIOS DA FACE

Tomografia Computadorizada (TC), Arteriografia Cerebral e Angioressonância

radiologia do TCE

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.

Mauricio Zapparoli Departamento de Clínica Médica Hospital de Clínicas Universidade Federal do Paraná. DAPI Diagnóstico Avançado por Imagem

Padrão acinar Gustavo de Souza Portes Meirelles 1. 1 Doutor em Radiologia pela Escola Paulista de Medicina UNIFESP. 1 Terminologia

Hemangiomas: Quando operar e quando observar Orlando Jorge M.Torres Nucleo de Estudos do Fígado F - UFMA

PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS MÉDICO RADIOLOGISTA

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

XIV Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

Teoria do ACR BI-RADS : Ultrassonografia com exemplos práticos Rodrigo Hoffmeister, MD

Protocolos de hipófise e órbitas

Tiago Freitas Lins Pimentel

Teoria do ACR BI-RADS : Ultrassonografia Rodrigo Hoffmeister, MD

NÓDULO PULMONAR SOLITÁRIO

IMAGIOLOGIA NOS TUMORES DE CÉLULAS RENAIS

PATOLOGIA VASCULAR DA ÓRBITA Diagnóstico Diferencial Clínico e Imagiológico

MIELOMA MÚLTIPLO. Dr. Glauco José Pauka Mello ONCOLOGIA ORTOPÉDICA

Linfoma do sistema nervoso central: ensaio iconográfico *

NEURORRADIOLOGIA. Cristina Moura Neurorradiologia, HUC CHUC

Espondiloartropatias: critérios de ressonância magnética na detecção da sacroileíte

AUTORIA E COLABORAÇÃO. Autores. Assessoria didática. Luís Antônio Tobaru Tibana. Marcos Costenaro. Paulo Aguiar Kuriki

RESOLUÇÃO Nº 26, DE 22 DE ABRIL DE 2019

14 de Setembro de Professor Ewerton. Prova confirmada dia 28 de Setembro. 1:30 da tarde.

GERMINOMA LOCALIZADO NOS NÚCLEOS DA BASE E TÁLAMO COM INVASÃO DO TRONCO CEREBRAL

Avaliação Por Imagem do Abdome Introdução

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada (TC)

Imagenologia das Lesões Hepáticas

Aparelho urinário. Meios de estudo Principais aplicações clínicas. Estudo dos rins Estudo da bexiga A patologia traumática

FRATURA POR ESTRESSE CUNEIFORME LATERAL UMA FRATURA RARA

Tomografia computadorizada. Análise das Imagens

AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA DO CÉREBRO PEDIÁTRICO: QUAL EXAME DEVO PEDIR?

E MUDOU PARA MELHOR TUDO EM IMAGENS POR IMAGEM DE POR IMAGEM MUDOU A MEDICINA DE DIAGNÓSTICOS A MEDICINA DE DIAGNÓSTICOS E NÓS VAMOS REGISTRAR

Área acadêmica. Diagnostico por imagem. Estudo por imagem do cranio maio 2018

COMO IDENTIFICAR UMA CEFALÉIA SECUNDÁRIA NA EMERGÊNCIA

Dr. Bruno Pinto Ribeiro Residente em Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantídio

XXIV Reunião Clínico Radiológica. Dr. Rosalino Dalasen.

Tratamento e Processamento. Digitais: PROFESSOR: CARLOS EDUARDO

Osteoma Osteoide versus Abcesso de Brodie - Aspectos Radiológicos

Lesões expansivas intraventriculares à ressonância magnética: ensaio iconográfico parte 2 *

USG intra-op necessária mesmo com boa Tomografia e Ressonância?

MEDULOBLASTOMAS NO ADULTO Aspectos Imagiológicos em Oito Casos

Fratura do processo anterior do osso calcâneo uma fratura incomum e comumente esquecida


Sumário. Pâncreas Aparelho urinário

Imagem da Semana: Tomografia Computadorizada

Anatomia Radiológica para Aplicação na Física Médica

CASO CLÍNICO DOENÇA ARTERIAL OBSTRUTIVA NÃO ATEROSCLERÓTICA

Artigo Original: Gustavo de Souza Portes Meirelles; Dario Ariel Tifares; Giuseppe D Ippolito

Lipoma Arborescens: relato de caso

Transcrição:

Ensaio Iconográfico Eduardo DS et al. / Anormalidades selares e justasselares Anormalidades selares e justasselares: achados na ressonância magnética atípicos de doenças comuns e típicos de doenças incomuns Magnetic resonance imaging of sellar and juxtasellar abnormalities: atypical findings of common diseases and typical findings of rare diseases Denislene da Silva Eduardo 1, Suyane Benevides Franco 2, José Daniel Vieira de Castro 3 Eduardo DS, Castro JDV, Franco SB. Anormalidades selares e justasselares: achados na ressonância magnética atípicos de doenças comuns e típicos de doenças incomuns. Radiol Bras. 2018 Jan/Fev;51(1):45-51. Resumo Abstract A região selar/justasselar abrange o componente ósseo da sela turca, a glândula hipofisária, o seio cavernoso e a cisterna suprasselar. As alterações dessa região podem se manifestar por consequência de hipoprodução ou hiperprodução hormonal ou por sinais e sintomas neurológicos decorrentes da compressão de estruturas adjacentes. A ressonância magnética (RM) é, atualmente, o método de avaliação por imagem de eleição para o estudo dessa região, tendo suplantado a tomografia computadorizada. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar aspectos comuns e incomuns de imagem dessas alterações selares/justasselares que auxiliem no diagnóstico diferencial. Avaliamos, retrospectivamente, as imagens de RM de 70 pacientes com anormalidades selares/justasselares do arquivo didático e relatamos os casos com alterações mais incomuns, em que a RM teve papel importante no diagnóstico. Todos os casos foram confirmados histopatologicamente ou clinicolaboratorialmente. Unitermos: Sela turca; Ressonância magnética; Hipófise. The sellar/juxtasellar region comprises the bone component of the sella turcica, pituitary gland, cavernous sinus, and suprasellar cistern. Abnormalities in this region can be attributed to underproduction or overproduction of hormones or to the neurological signs and symptoms resulting from the compression of adjacent structures. Magnetic resonance imaging (MRI) is currently the imaging method of choice, having supplanted computed tomography. The aim of this study was to demonstrate the common and uncommon imaging aspects of sellar and juxtasellar changes, which could facilitate the differential diagnosis. We retrospectively evaluated the MRI scans of 70 patients with sellar/juxtasellar abnormalities from didactic files, and report those with more unusual changes, where MRI played an important role in diagnosis. All cases were confirmed histologically or clinical laboratory. Keywords: Sella turcica; Magnetic resonance imaging; Pituitary gland. INTRODUÇÃO A região selar, apesar de pequena, abrange uma série de estruturas importantes que incluem o componente ósseo da sela turca, a glândula hipofisária, o seio cavernoso e a cisterna suprasselar. As alterações dessa região podem se manifestar por consequência de hipoprodução ou hiperprodução hormonal ou por sinais e sintomas neurológicos decorrentes da compressão de estruturas adjacentes. Praticamente, qualquer um destes componentes pode originar doenças que variam de inócuas a graves (1,2). Trabalho realizado no Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil. 1. Médica Radiologista da São Carlos Imagem, Fortaleza, CE, Brasil. 2. Médica Residente de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil. 3. Doutor, Médico Neurorradiologista, Professor Associado de Radiologia do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE, Brasil. Endereço para correspondência: Dra. Denislene da Silva Eduardo. Avenida Beira Mar, 3960, ap. 1508, Mucuripe. Fortaleza, CE, Brasil, 60165-121. E-mail: denislene. se@gmail.com. Recebido para publicação em 29/2/2016. Aceito, após revisão, em 24/7/2016. A ressonância magnética (RM) é, atualmente, o método de avaliação por imagem de eleição, tendo suplantado a tomografia computadorizada (TC) na avaliação da região selar/justasselar (3). Os adenomas hipofisários são as lesões mais frequentes nessa região, porém, várias outras lesões com origem em outras estruturas podem acometer essa mesma localização, às vezes gerando dificuldades diagnósticas. Avaliamos, retrospectivamente, 70 casos de anormalidades selares/justasselares comprovados histopatologicamente ou clinicolaboratorialmente, com o objetivo de demonstrar aspectos comuns e incomuns dessas alterações que auxiliem no diagnóstico diferencial. ADENOMA Adenomas pituitários representam as lesões intrasselares mais comuns. Classificam-se, quanto à dimensão, em macroadenomas ( 10 mm) e microadenomas (< 10 mm), e quanto à produção hormonal, em secretores e não secretores (4 6). Tipicamente, os adenomas são hipointensos nas sequências ponderadas em T1 e têm sinal variável em T2. 45 0100-3984 Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem http://dx.doi.org/10.1590/0100-3984.2016.0039

Um aspecto importante é que a maioria, por serem hipointensos em T1, pode ser detectada nesta sequência, o que a torna a mais importante do protocolo de avaliação por RM dessa alteração, pois permite o diagnóstico mesmo sem realização de contraste. Outro aspecto importante é que a maioria deles apresenta realce pós-contraste mais lento que o parênquima normal, tornando importante a realização de sequências com injeção dinâmica do meio de contraste para detecção de microadenomas (Figura 1) (7 9). Dentre os adenomas secretores, os mais comuns são os produtores de prolactina (prolactinomas). Esses podem ser, na maioria das vezes, tratados exclusivamente farmacologicamente com agonistas dopaminérgicos, os quais podem provocar alterações na imagem que devem ser reconhecidas pelo radiologista (Figura 2) (6). Macroadenomas, às vezes, estendem-se além dos limites da sela, podendo invadir o seio cavernoso, o seio esfenoidal ou o clivo, bem como comprimir o quiasma óptico e envolver a artéria carótida interna (Figura 3). Na RM considera-se invasão do seio cavernoso quando pelo menos dois terços da circunferência do segmento cavernoso da artéria carótida interna são englobados pela lesão. Assim, eventualmente, seu diagnóstico diferencial com outras lesões dessa região, como meningiomas e até aneurismas, é necessário (4,5). Grandes lesões costumam ser heterogêneas, com áreas císticas em permeio decorrentes de degeneração cística e/ou necrose e, eventualmente, podem desenvolver infarto ou hemorragia, por deficiente suprimento vascular (3,8). CRANIOFARINGIOMA Craniofaringiomas são neoplasias epiteliais originadas do remanescente do ducto faríngeo que crescem lentamente e responsáveis por 3% a 5% das neoplasias intracranianas. Há dois picos de incidência, o primeiro ocorrendo entre 10 e 14 anos de idade e o segundo entre a quarta e sexta década da vida. A despeito de a origem ser suprasselar, cerca de 50% estendem-se para a sela turca. A aparência típica consiste em componentes sólido-císticos e calcificações (3,5,9). O tipo clássico, adamantimatoso, geralmente consiste em aspecto cístico e nódulos heterogêneos. O menos comum, o tipo escamoso-papilar, apresenta componente sólido predominante. Nas imagens em T2, o componente Figura 1. Sequências pós-contraste dinâmicas coronais ponderadas em T1 mostrando realce mais lento que o parênquima hipofisário de microadenoma na asa esquerda da adeno-hipófise (setas). Figura 2. Sequência coronal ponderada em T1, sem contraste paramagnético. Prolactinoma com sinal heterogêneo predominantemente hiperintenso após manejo terapêutico, devido à presença de hemorragia intralesional. Figura 3. Sequência T1 pós-contraste axial. Macroadenoma com invasão do seio cavernoso, observando-se preservação do calibre da artéria carótida esquerda. 46

cístico apresenta hipersinal, enquanto os componentes sólidos têm sinal heterogêneo. Após a administração de contraste, as porções sólidas apresentam intenso realce heterogêneo, além de realce das paredes císticas (Figura 4) (3,8). Macroadenomas com apoplexia (Figura 5) e bolsas de Rathke podem ter aspectos muito parecidos aos craniofaringiomas, porém, um aspecto importante dos craniofaringiomas é a presença de calcificações. Assim, quando não for possível a confirmação de calcificações na RM, recomenda-se a realização de TC sem contraste para se certificar de sua presença, o que praticamente corrobora o diagnóstico (Figura 6). CISTO DA BOLSA DE RATHKE Os cistos da bolsa de Rathke são lesões selares benignas frequentemente assintomáticas, sendo na maior parte das vezes intrasselares. Geralmente são hiperintensas nas sequências ponderadas em T2, e em T1 podem ser hiperintensas ou hipointensas a depender da quantidade de proteína contida no cisto (Figura 7). O diagnóstico diferencial que se impõe com essas lesões é sempre o craniofaringioma. A ausência de calcificações reforça a possibilidade diagnóstica de cisto da bolsa de Rathke (6). Figura 4. Craniofaringioma adamantimatoso. RM demonstrando componente cístico (seta longa) e componente sólido (setas curtas), o qual exibe realce pelo meio de contraste. Figura 6. Craniofaringioma. TC sem contraste demonstrando calcificações (setas) no interior da lesão, o que é um importante achado para diagnóstico por imagem. Figura 5. Macroadenoma com apoplexia. RM em corte sagital ponderado em T2 demonstrando lesão expansiva selar com extensão suprasselar, tendo nível líquido-líquido no interior e sinais de hemorragia intralesional. Figura 7. Cisto da bolsa de Rathke. RM em sequência ponderada em T1 no plano coronal demonstrando lesão expansiva cística selar com extensão suprasselar, de contornos regulares e paredes finas (seta). 47

MENINGIOMA Meningiomas da região selar representam 20% a 30% dos meningiomas intracranianos. Na RM apresentam sinal isointenso em T1 e isointenso/hiperintenso em T2, além de realce precoce, geralmente se associando cauda dural (Figura 8). Quando invadem o seio cavernoso, tendem a causar constrição da artéria carótida, o que usualmente não ocorre com adenomas (Figura 9). Podem também apresentar calcificações e ocasionar hiperostose (5 8). ANEURISMA Aneurismas da região selar geralmente se originam das porções cavernosas ou supraclinóideas da artéria carótida interna, sendo responsáveis por até 10% de todos os aneurismas cerebrais. A RM faz esse diagnóstico mais facilmente que a TC, pois demonstra ausência de sinal por fluxo (flow void), determinada pelo rápido fluxo no lúmen e sinal heterogêneo nas áreas com fluxo lento e turbulento (Figura 10). Eventualmente, aneurismas trombosados podem causar dificuldades diagnósticas (Figura 11) (3,5). Figura 8. Meningioma suprasselar em imagem de RM em sequência ponderada em T1, plano sagital. Observar a hiperostose do osso esfenoidal (seta) e a nítida separação com a sela pelo diafragma selar, achados que reforçam a hipótese de meningioma. Figura 10. Aneurisma intrasselar identificado pela ausência de sinal (flow void) indicada por seta, devido à alta velocidade de fluxo na sequência pesada em T1. Figura 9. Grande meningioma com invasão do seio cavernoso esquerdo. Sequência T1 pós-gadolínio coronal demonstrando realce homogêneo e envolvimento circunferencial do seio cavernoso esquerdo. Notar a redução do calibre da luz do segmento cavernoso da artéria carótida interna esquerda (seta), achado que é muito sugestivo de meningioma. Figura 11. Aneurisma (seta) do segmento cavernoso da artéria carótida interna direita protruindo para o interior da sela turca. A presença de trombose parcial gerou confusão diagnóstica com adenoma com hemorragia, porém, a angio-rm foi capaz de fazer o diagnóstico. 48

HAMARTOMA HIPOTALÂMICO Hamartomas hipotalâmicos consistem em focos de tecido neuronal (substância cinzenta) ectópicos localizados mais frequentemente no túber cinéreo e corpos mamilares. Caracteristicamente, apresentam-se como uma expansão do túber cinéreo, com isossinal à substância cinzenta em T1 e iso/hipersinal em T2, sem realce pelo meio de contraste ou calcificação (Figura 12). Podem ser parahipotalâmicos ou intra-hipotalâmicos (Figura 13), estes últimos mais associados clinicamente a epilepsia com crises do tipo gelásticas e os demais mais associados a puberdade precoce. A estabilidade da lesão ao longo do tempo auxilia no diagnóstico diferencial com outras lesões dessa região, como os gliomas (3,5,6,9). HEMANGIOMA Hemangiomas são malformações vasculares encontradas em diversos órgãos, incluindo o sistema nervoso central. Quando extracerebrais, podem se originar do seio cavernoso ou de tecidos vizinhos. Assim como no fígado, apresentam-se na RM como massas bem definidas de baixo a isossinal em T1 e marcado hipersinal em T2 (Figura 14), tendo realce pós-contraste periférico inicialmente, com progressão centrípeta, tornando-se homogêneos tardiamente. A realização da injeção dinâmica (Figura 15) é imprescindível para a caracterização da lesão (10). HIPOFISITE Inflamação da glândula hipofisária compreende um grupo complexo de doenças, havendo duas formas histológicas principais: linfocítica (mais comum, autoimune) e não linfocítica (secundária a infecção, sarcoidose ou histiocitose de células de Langerhans). Como a diferenciação radiológica entre ambas é praticamente impossível, a história clínica tem grande valor no diagnóstico diferencial. A RM mostra espessamento da haste hipofisária em combinação com realce intenso pelo contraste (Figura 16) (1,5,11,12). NEURO-HIPÓFISE ECTÓPICA A neuro-hipófise normal situa-se no interior da sela turca em situação posterior à adeno-hipófise. É composta de prolongamento de neurônios hipotalâmicos diferenciados para armazenar os hormônios ocitocina e antidiurético. Pode-se encontrá-la em localização ectópica em Figura 12. RM em sequência ponderada em T1 pós-contraste no plano sagital mostrando hamartoma para-hipotalâmico em criança com puberdade precoce, entre a haste infundibular e os corpos mamilares (seta). Figura 13. Imagem ponderada em T1 no plano sagital demonstrando hamartoma intra-hipotalâmico (seta) em criança com convulsões tipo gelásticas. Figura 14. Hemangioma. Ponderação em T2 no plano coronal mostrando lesão parasselar esquerda homogeneamente e fortemente hiperintensa. 49

Figura 15. Hemangioma. Ponderações em T1 em planos coronais, dinâmicas após o uso do contraste, mostrando realce inicial predominantemente periférico, com subsequente preenchimento centrípeto. Figura 16. Ponderação em T1 sem contraste no plano coronal, em paciente com histiocitose de células de Langerhans, demonstrando espessamento da haste e realce (seta). três situações: por compressão da haste hipofisária por lesão expansiva (Figura 17), por trauma, lesando a haste hipofisária, ou congênita (Figura 18). Esta última situação está relacionada a déficit idiopático de hormônio de crescimento (11,13,14). CONCLUSÃO A grande quantidade de lesões que podem acometer a região selar e parasselar impõe ao radiologista, além do Figura 17. Ponderação em T1 com saturação de gordura em plano sagital mostrando neuro-hipófise ectópica (seta contínua), secundariamente à presença de macroadenoma (seta tracejada). conhecimento da anatomia e do conteúdo dessa região, a familiarização com os diversos aspectos possíveis dessas alterações, levando, na maioria das vezes, a um diagnóstico etiológico preciso. REFERÊNCIAS 1. Osborn AG. Neoplasias selares e lesões semelhantes a tumores. In: Osborn AG, editor. Encéfalo de Osborn: imagem, patologia e anatomia. 1ª ed. Porto Alegre, RS: Artmed; 2014. p. 687 732. 2. García-Garrigós E, Arenas-Jiménez JJ, Monjas-Cánovas I, et al. 50

Figura 18. Ponderação em T1 no plano sagital identificando neuro-hipófise ectópica (seta) em paciente com déficit idiopático de hormônio de crescimento. Transsphenoidal approach in endoscopic endonasal surgery for skull base lesions: what radiologists and surgeons need to know. Radiographics. 2015;35:1170 85. 3. Johnsen DE, Woodruff WW, Allen IS, et al. MR imaging of the sellar and juxtasellar regions. Radiographics. 1991;11:727 58. 4. Pierallini A, Caramia F, Falcone C, et al. Pituitary macroadenomas: preoperative evaluation of consistency with diffusion-weighted MR imaging initial experience. Radiology. 2006;239:223 31. 5. Doerfler A, Richter G. Lesions within and around the pituitary: much more than adenomas. Clin Neuroradiol. 2008;18:5 18. 6. Rodrigues JA. Avaliação radiológica da hipófise e hipotálamo. In: Rodrigues JA, editor. Neuroendocrinologia básica e aplicada. 1ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan; 2005. p. 495 514. 7. Ginat DT, Meyers SP. Intracranial lesions with high signal intensity on T1-weighted MR images: differential diagnosis. Radiographics. 2012;32:499 516. 8. Bladowska J, Sasiadek M. Diagnostic imaging of the pituitary and parasellar region. In: Rahimi-Movaghar V, editor. Pituitary adenomas. Rijeka, Croatia: InTech Europe; 2012. p. 13 32. 9. Saleem SN, Said AH, Lee DH. Lesions of the hypothalamus: MR imaging diagnostic features. Radiographics. 2007;27:1087 108. 10. Salanitri GC, Stuckey SL, Murphy M. Extracerebral cavernous hemangioma of the cavernous sinus: diagnosis with MR imaging and labeled red cell blood pool scintigraphy. AJNR Am J Neuroradiol. 2004;25:280 4. 11. Bonneville F, Cattin F, Marsot-Dupuch K, et al. T1 signal hyperintensity in the sellar region: spectrum of findings. Radiographics. 2006;26:93 113. 12. Zaveri J, La Q, Yarmish G, et al. More than just Langerhans cell histiocytosis: a radiologic review of histiocytic disorders. Radiographics. 2014;34:2008 24. 13. van der Linden ASA, van Es HW. Case 112: Pituitary stalk transection syndrome with ectopic posterior pituitary gland. Radiology. 2007;243:594 7. 14. Wang CY, Chung HW, Cho NY, et al. Idiopathic growth hormone deficiency in the morphologically normal pituitary gland is associated with perfusion delay. Radiology. 2011;258:213 21. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License. 51