HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA EM GATOS: ACHADOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS Diaphragmatic hernia in cats: clinical-pathological findings

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Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.

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Transcrição:

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA EM GATOS: ACHADOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS Diaphragmatic hernia in cats: clinical-pathological findings Telma de Sousa LIMA¹; Erick Platiní Ferreira SOUTO²; Roana Cecília dos Santos RIBEIRO¹; Leonardo de Barros SILVA¹; Angélica da Silva Oliveira DINIZ¹; Rodrigo Cruz ALVES¹; Carolina Barbosa CARVALHO¹; Antônio Flávio Medeiros DANTAS³ ¹Aluno de especialização, Residência em Área Profissional da Saúde, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG. telmasousava@hotmail.com ²Aluno de mestrado, programa de pós graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG 3 Professor, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária/CSTR, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG Resumo Hérnias diafragmáticas são caracterizadas pela passagem de vísceras abdominais à cavidade torácica e constam como importantes causas de óbito em cães e gatos. O objetivo deste trabalho é relatar três casos de hérnia diafragmática em gatos, diagnosticados no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande-HV/UFCG, destacando os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos. Dois gatos (3 e 24 meses, respectivamente), sem raça definida e com histórico de trauma por atropelamente e uma gata (8 meses) com histórico de dificuldade respiratória, foram encaminhados ao HV/UFCG. O prognóstico em todos os casos foi considerado reservado e os animais vieram a óbito durante o exame clínico ou pós-cirúrgico. Na necropsia, pode-se verificar fígado e/ou intestino/omento na cavidade torácica, pulmão atelectásico e fígado com áreas multifocais esbranquiçadas. O diagnóstico de hérnia diafragmática é clínico, sendo necessários suporte radiográfico e cirúrgico, mas poucos são os relatos destacando também os aspectos patológicos em animais que vêm a óbito. O prognóstico nem sempre se faz favorável em animais acometidos e isso se dá devido severo envolvimento respiratório, assumindo importância no diagnóstico clinico de enfermidades respiratórias de felinos atendidos no HV/UFCG. Palavras-chave: gatos; distúrbios respiratórios; fatores de risco. Key word: cats; respiratory disorders; risk factors Anais do 38º CBA, 2017 - p.0310

Introdução Hérnias diafragmáticas ou pleuroperitoniais podem ser definidas como uma solução de continuidade existente no diafragma que age permitindo passagem de vísceras da cavidade abdominal para torácica (CABRAL, 2014) podendo ser congênitas ou adquiridas (McLARAM, 2013). A maioria das hérnias diafragmáticas que acometem cães e gatos são adquiridas, sequentes a traumas automobilísticos (FOSSUM, 2012). Em geral são facilmente diagnosticadas na rotina hospitalar (PRADO et al., 2013) e requerem correção cirúrgica como tratamento (MAZZANTI et al., 2001). Geralmente, idade, sexo e raça não são fatores predisponentes às hérnias, apesar de que para Johnson (1998), cães machos com um a três anos de idade são mais predispostos à ocorrência de hérnia diafragmática traumática. Conforme Schwarts (1990), os órgãos abdominais que passam para a cavidade torácica e se encarceram possuem variáveis graus de congestão venosa, e a isso podem seguir as complicações patológicas. Em geral o diagnóstico é clínico e, poucos são os relatos abordando também os aspectos patológicos em gatos que morrem em decorrência dessa enfermidade. O objetivo do presente trabalho foi relatar três casos de hérnia diafragmática em gatos destacando os aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos. Descrição do caso Os dados do presente trabalho foram obtidos de três gatos encaminhados ao Laboratório de Patologia Animal- LPA/HV/UFCG, entre os meses de maio a novembro de 2016. Foram colhidas informações sobre epidemiologia, sinais clínicos e achados anatomopatológicos dos registros clínico e necroscópico de todos os indivíduos. O primeiro animal é uma gata de 8 meses, SRD, com histórico de dificuldade respiratória e de se alimentar. No exame clínico o animal encontrava-se ativo, alerta, em bom estado geral e dispneia mista taquipneica e predominantemente abdominal. O diagnóstico clínico presuntivo foi confirmado por exame radiográfico onde constatou-se aumento de radiopacidade intratorácica com perda de definição do contorno diafragmático e silhueta cardíaca, com deslocamento de fígado e alças intestinais para o interior do tórax. Em seguida foi submetido a uma herniorrafia diafragmática e, após procedimento cirúrgico, veio a óbito e foi Anais do 38º CBA, 2017 - p.0311

encaminhado ao LPA/HV/UFCG. Na necropsia observou-se fígado com superfície irregular, áreas branco-amareladas multifocais e pulmão difusamente avermelhado e macio. O segundo animal é um gato de três meses de idade, SRD. Era um animal de rua, atropelado e com dificuldade para se locomover com os membros pélvicos. No exame clínico encontrava-se ofegante, apático e em decúbito esternal. No exame radiográfico, havia aumento de radiopacidade intratorácica com perda de definição do contorno diafragmático e silhueta cardíaca, com deslocamento do fígado para o interior do tórax. Este animal veio a óbito durante exame clínico e, na necropsia, observou-se dentro da cavidade torácica, o lobo caudado do fígado, que encontravase difusamente pálido. O pulmão estava colapsado, avermelhado e macio, e havia líquido livre nas cavidades abdominal e torácica. O terceiro animal é uma gata adulta, com histórico de atropelamento e parição há três dias. Ao exame clínico apresentava-se acentuada dispneia, hipotermia, desidratação (8%) e sangramento vaginal, vindo a óbito durante consulta e encaminhada, em seguida, ao LPA/HV/UFCG. Na necropsia observou-se escore corporal ruim, abdome abaulado e resíduos de secreção sanguinolenta na região vulvar. Os pulmões apresentavam-se difusamente avermelhados, colapsados e macios; à cavidade torácica eventrava omento e fígado (exceto lobo lateral esquerdo). Além disso, o baço estava deslocado para o antímero direito. DISCUSSÃO O presente trabalho aborda três casos de hérnia diafragmática de origem traumática quanto aos aspectos epidemiológicos, clínicos e patológicos em gatos atendidos no HV/UFCG e encaminhados ao Laboratório de Patologia Animal- LPA/HV/UFCG. A ocorrência de hérnias diafragmáticas de origem traumática não estão diretamente ligadas a sexo, idade ou raça, embora para Johnson (1998), cães machos com um a três anos de idade estejam mais predispostos. O trauma é o fator determinante para sua ocorrência correspondendo a mais de 80% dos casos, sendo em geral produzidas por veículos motorizados (HUNT e JOHNSON, 2003). Nesse contexto, o regime de criação peridomiciliar, tal qual observado nos animais deste relato, pode contribuir para ocorrência de traumas. Quanto aos sinais clínicos, todos os animais aqui estudados exibiram sinais respiratórios moderados a severos. Em geral, são relatados sinais como choque, estresse respiratório, mucosas cianóticas, taquipneia, efusão torácica (CABRAL, 2014) e até vômitos (FOSSUM, 2012). Isso corrobora o Anais do 38º CBA, 2017 - p.0312

observado neste relato e, pode ser explicado pela hipoxemia secundária à rotura do diafragma e presença de órgãos herniados no espaço pleural (CABRAL, 2014). Prado et al. (2013) afirmam que o diagnóstico definitivo requer exame radiográfico. Tal ferramenta foi utilizada em dois animais, dada a condição clínica desfavorável de um dos pacientes, e os achados corroboram o descrito por Raiser (1994). Quanto ao tratamento recomendado, em apenas um indivíduo pode-se realizar correção cirúrgica, vindo a óbito logo em seguida à herniorrafia diafragmática. Para Hunt e Johnson (2012) a cirurgia deve realizada tão logo os animais sejam estabilizados após o trauma e devem ser considerados pacientes de alto risco. O quadro clínico geral complicado pela evolução da hérnia pode explicar o motivo de óbito mesmo no animal submetido à herniorrafia diafragmática. Quanto aos aspectos patológicos, em todos os casos avaliados observou-se acentuada atelectasia pulmonar, efusão torácica e pulmonar e, em apenas um caso, deslocamento de baço. Em apenas dois casos se evidenciou a presença de órgãos na cavidade torácica como fígado (em dois casos) e intestino/omento (em um caso), em virtude do terceiro animal ter sido submetido à cirurgia. O fígado é, em geral, o órgão mais comumente deslocado nos animais com rupturas diafragmáticas (CABRAL, 2014), seguidos de omento, baço e intestino (FOSSUM, 2012). Atelectasia pode ser explicada pela presença de órgãos herniados para cavidade torácica (CABRAL, 2014) e, quanto mais severa essa condição, maiores os danos pulmonares, impedindo a expansão pulmonar e, em alguns casos gerando edema por reexpansão pulmonar (FOSSUM, 2012). A despeito das hérnias agudas serem mais graves, a forma crônica assume também risco clínico, principalmente quando gera severa atelectasia (CABRAL, 2014) e descompensação cárdio-respiratória. CONCLUSÃO Hérnias diafragmáticas traumáticas constituem uma importante causa de óbito em gatos e, devido o desconhecimento da evolução clínica precisa, devem ser incluídas como principal diagnóstico diferencial em animais traumatizados e com distúrbios respiratórios, recorrendo à rápida correção cirúrgica. REFERÊNCIAS Anais do 38º CBA, 2017 - p.0313

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SCHWARTS, A.; SCHUNK, C. J. M. The thorax. In: HARVEY, C.; NEWTON, C. D.; SCHWARTS A.; LIPPINCOTT J. B. Small Animal Surgery. Philadelphia. 1990. p. 243-248. Anais do 38º CBA, 2017 - p.0315