ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS EM GATOS DIAGNOSTICADOS COM PANLEUCOPENIA FELINA

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1 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS EM GATOS DIAGNOSTICADOS COM PANLEUCOPENIA FELINA Clinical and pathological aspects in cats diagnosed with feline panleukopenia Telma de Sousa LIMA¹; Erick Platiní Ferreira SOUTO²; Ismael Lira BORGES¹; Jéssica Azevedo COSTEIRA¹; Carolina Barbosa CARVALHO¹; Raquel Mota de Freitas PEREIRA³; Amanda de Carvalho GURGEL³; Antônio Flávio Medeiros DANTAS 4 ¹Aluno de especialização, Residência em Área Profissional da Saúde, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG. telmasousava@hotmail.com ²Aluno de mestrado, programa de pós graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG ³Estudante de graduação, Medicina Veterinária, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG 4 Professor, Unidade Acadêmica de Medicina Veterinária/CSTR, Universidade Federal de Campina Grande-UFCG Resumo A panleucopenia é uma doença infecciosa de grande importância na medicina felina sendo responsável por crescentes números de óbitos nos últimos anos. O objetivo do presente trabalho foi relatar três casos de panleucopenia felina diagnosticados no Laboratório de Patologia Animal do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Campina Grande- LPA/HV/UFCG/PB. Foram revisados os registros clínico e patológico de três gatos encaminhados ao LPA/HV/UFCG/PB em maio de Os animais eram provenientes da mesma residência, onde co-habitavam mais 13 animais (cães e gatos), não vacinados e com acesso à rua. A idade dos indivíduos variou de 8 meses a 2 anos de idade. No histórico clínico foi relatado apatia, anorexia, vômito, desidratação, secreção nasal e diarreia fétida. Os principais achados patológicos corresponderam a: ascite; rarefação linfoide em timo e baço; no intestino, havia necrose da mucosa, dilatação de células da cripta, atrofia de vilosidades e moderado a acentuado infiltrado inflamatório linfohistioplasmocitário. Ocasionalmente havia miríades bacterianas associadas. Os achados epidemiológicos, clínicos e patológicos observados permitiram diagnosticar panleucopenia felina, que geralmente acomete animais jovens e não-vacinados. Dada a incidência que vem assumindo nos últimos anos, a panleucopenia felina deve ser incluída no diferencial de doenças que cursem com sinais brandos ou severos de gastrenterite. Palavras-chave: gatos; enterite viral; Parvovirus felino. Anais do 38º CBA, p.0305

2 Key word: cats; viral enteritis; feline Parvovirus. Introdução A panleucopenia felina é uma doença viral que acomete felídeos domésticos e selvagens, causada pelo Parvovirus felino (FPV) e canino (CPV) (BATTILANI et al., 2013). Geralmente acomete animais com menos de um ano de idade mas pode ser observado em indivíduos entre 45 dias e 3 anos de idade (CASTRO, 2014). Animais de gatis ou aglomerados urbanos podem favorecer a transmissão e a infecção dos indivíduos (GREENE, 2006) e a heterogeneidade dos grupos associada à falta de vacinação contribuem para prevalência da enfermidade. A alta capacidade mutagênica do parvovirus também é um fator preocupante à origem de novas cepas (MUKHOPADHYAY et al., 2016) e pode ser facilitada pelo contato entre gatos e cães portadores. O parvovirus tem tropismo por células de alta taxa de renovação como órgãos linfoides e do epitélio intestinal, e provocam acentuadas pancitopenia e enterite necrótica (GELBERG, 2013). Clinicamente se caracteriza por anorexia, vômitos e diarreia (KRUSE et al., 2010) sendo estes, sinais pouco específicos. Achados comuns na necropsia são perda de condição corpórea, mucosa e serosa intestinal avermelhada além de evidenciação de placas de Peyer (GREENE, 2006; CASTRO et al., 2014) mas que por vezes não são observados (BROWN et al 2007). O diagnóstico pode ser obtido através dos achados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos (GARCIA, 2011), sendo a identificação viral por técnicas complementares como imuno-histoquímica, eficiente para comprovação do envolvimento do parvovirus (PARTHIBAN et al., 2014). Dada a importância clínica e patológica dessa enfermidade deve-se alocar a panleucopenia como uma importante causa de óbito de gatos criados no semiárido paraibano. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi relatar os achados clínicos e patológicos de três gatos diagnosticados com panleucopenia felina no LPA/HV/UFCG. Descrição do caso Os dados do presente trabalho foram obtidos de três gatos encaminhados ao Laboratório de Patologia Animal do HV/UFCG, Patos/PB. Foram colhidas informações sobre epidemiologia, sinais clínicos e achados anatomopatológicos dos registros clínico e necroscópico dos três animais estudados. Trata-se de dois gatos de oito meses de idade, machos, inteiros e uma gata de dois anos de idade. Os Anais do 38º CBA, p.0306

3 animais são provenientes da mesma residência de onde são criados aproximadamente 15 animais, dentre eles um cão, no município de Patos-PB. Esses animais nunca receberam vacinação ou vermifugação, tinham ectoparasitas e escore corporal magro (CC 1,5). Deram entrada no HV/UFCG em dias diferentes mas sob histórico similar, de que, há um dia antes da consulta, exibiam perda de apetite, cansaço e vômitos e, em dois animais, diarreia fétida. Ao exame clínico os animais apresentavam-se apáticos e em decúbito lateral, magros, desidratados (5%- 8%), com mucosas hipocoradas além de resquícios de secreção nasal. Todos os animais morreram após insucesso na terapia ambulatorial de suporte e medicamentosa. No exame anatomopatológico, pode-se verificar animais com escore corporal ruim, mucosas oral e oculares acentuadamente pálidas e resíduos de secreção mucosa e esbranquiçada nas narinas e presença de fezes amareladas e pastosas na região perianal. Os principais órgãos afetados foram estômago e intestino delgado (três animais) e baço e timo (dois animais). O estômago exibia área focalmente extensa e avermelhada na região fúndica e, o intestino, áreas puntiformes avermelhadas multifocais a coalescentes nas porções inicial e média do jejuno. Quanto aos achados histopatológicos, observou-se, no estômago: hiperemia dos vasos mais superficiais da lâmina própria da mucosa; no intestino delgado, havia necrose acentuada e difusa das células epiteliais da mucosa, associada a fusão e atrofia das vilosidades, dilatação das criptas e moderado infiltrado inflamatório mononuclear na lâmina própria. Na superfície da mucosa observa-se material granular basofílico em aglomerados (miríades bacterianas). No timo verificou-se moderada depleção linfoide com perda da diferenciação entre região cortical e medular, maior espaçamento entre os lóbulos que se encontram pouco demarcados, preservação e maior evidência dos corpúsculos de Hassal e congestão difusa acentuada. No baço, evidenciou-se acentuada rarefação linfoide difusa e congestão difusa acentuada. Discussão Este relato aborda os achados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos de gatos com panleucopenia felina diagnosticados no LPA/HV/UFCG/PB. Quanto aos parâmetros epidemiológicos, os animais encontram-se numa faixa etária (entre 8 meses e 2 anos) susceptível à infecção, como relatado por Castro et al. (2014), que observaram animais de 45 dias a 3 anos de idade infectados pelo parvovirus felino- Anais do 38º CBA, p.0307

4 FPV. A superpolulação possibilita, além da infecção pelo FPV, transmissão de outras doenças como é o caso de Peritonite Infecciosa Felina-PIF (GREENE, 2006). Isso aliado à ausência de vacinação pode explicar, por exemplo, animais maiores que um ano de idade estarem sendo infectados pelo FPV (CASTRO et al., 2014). O parvovirus é altamente passível de mutações e, o contato não somente com gatos mas com cães pode possibilitar infecções cruzadas bem como criação de novas estirpes virais como observados (ARTHIBAN et al., 2014). Quanto à apresentação clínica, os achados do presente relato corroboram o observado por Castro et al. (2014), que constataram desde apatia, anorexia, perda de peso progressiva quanto vômitos e diarreia, sendo estes característicos da enfermidade (KRUSE et al., 2014). A evidenciação de secreção nasal sugere presença de infecção secundária no trato respiratório e reflete provável imunossupressão, dado o estado geral dos mesmos. Não foi possível obter parâmetros bioquímicos e hematológicos dada a progressão da enfermidade. Os achados anatomopatológicos do presente relato condizem com os observados por Castro et al. (2014) e Greene (2006), e são caracterizados por perda de condição corpórea, mucosa e serosa intestinal avermelhadas, desidratação, fezes pastosas e fétidas no interior do intestino (GREENE, 2006; CASTRO et al., 2014). A observação de atrofia e fusão de vilosidades, infiltrado linfohistiocitário moderado a acentuado e rarefação linfoide em baço, tal qual verificado no corrente relato, são suficientes para diagnóstico da panleucopenia felina (GREENE, 2006; CASTRO et al., 2014). Como diagnostico diferencial, podese citar Peritonite Infecciosa Felina (CASTRO et al., 2014), imunossupressão pelo vírus da leucemia felina e pelo vírus da imunodeficiência felina, dados os sinais similares e por vezes inespecíficos bem como faixa etária de animais acometidos. Conclusão Os achados epidemiológicos clínicos e patológicos permitiram diagnosticar três casos de panleucopenia felina em animais enviados ao LPA/HV/UFCG/PB. A panleucopenia é uma importante causa de morte em gatos domiciliados ou de rua e por vezes é subdiagnosticada em virtude dos sinais clínicos por vezes inespecíficos. Isso reflete a importância de alocar essa enfermidade no rol das principais doenças infecciosas de gatos. Referências Anais do 38º CBA, p.0308

5 BATTILANI, M; BALBONI, A; GIUNTI, M. & PROSPERI, S. Co-infection with feline and canine parvovirus in cat. Veterinaria Italiana. V.49, n.1, p , BROWN, C.C.; BAKER, D.C. & BARKER I.K. Alimentary system. In: MAXIE, M.G. (ed). Jubb, Kennedy & Palmer s, Pathology of domestic animals. Vol.1. 5ª ed. Saunder Elsevier, Philadelphia p CASTRO, N.B.; ROLIM, V.M; HESSE, K.L.; OLIVEIRA, E.C.; ALMEIDA, P.R.; WOUTERS, A.T.B.; DRIEMEIER, D.; SONNE, L. Achados histológicos e imunohistoquímicos em felinos domésticos com panleucopenia felina. Pesquisa Veterinária Brasileira. V.34, n.8, p , GARCIA, R.C.N.C.; CASTRO, T.X.; MIRANDA, S.C.; LOPES JUNIOR, G.; LIMA, M.; LABARTHE, N.V.; LEITE, J.P.G. Characterization of parvoviruses from domestic cats in Brazil. Journal of veterinary Diagnostic Investigation. V.23, n.5, p , GELBERG, H. B. Sistema digestório. In: McGAVIN, M.D. & ZACHARY, J.F. (Eds), Bases da patologia veterinária. 5ª ed. Rio de Janeiro, p GREENE, C.E. & ADDIE, D.D. Feline parvovirus infections. In: GREENE, C.E. (Ed), infectious diseases of dog and cat. 3ª ed. Elsevier saunders, Missouri p KRUSE, B. D.; UNTERER, S.; HORLACHER, K.; SAUTER-LOUIS, C.; HARTMANN, K. Prognostic factors in cat with feline panleukopenia. Journal of veterinary Internal Medicine, v.24, n.6, p , MUKHOPADHYAY, H.K.; NOOKALA, M.; THANGAMANI, N.R.K.; SIVAPRAKASAM, A.; ANTONY, P.X.; THANISLASS, J.; SRINIVAS, M.V.; PILLAI, R.M. Molecular characterisation of parvoviruses from domestics cats reveals emergence od newer variants in India. Jornal of feline medicine and surgery. Índia, p.1-7, PARTHIBAN, M.; AARTHI, K.S.; BALAGANGATHARATHILAGAR, M.; KUMANAN, K. Evidence of panleukopenia infections in cats in India. VirusDis. Índia, v.25, n.4, p , Anais do 38º CBA, p.0309