Anais do 38º CBA, p.1478

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1 1 HEMOPARASITOSES EM CÃES DOMICILIADOS ATENDIDOS EM HOSPITAL VETERINÁRIO NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN, BRASIL HEMOPARASITOSES IN DOMICILED DOGS TAKEN IN A VETERINARY HOSPITAL IN THE CITY OF MOSSORÓ-RN, BRASIL Érikca Natália BESSA 1 ; Ivana Cristina Nunes GADELHA LELIS 2 ; Maria Vanuza Nunes de MEIRELES 3 ; Yannara Barbosa Nogueira FREITAS 4 ; Higina Moreira MELO 5 e Erinaldo Freire de AMORIM 6. 1 Médica Veterinária, Residente de Patologia Clínica, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, enbessa86@hotmail.com 2 Médica Veterinária, Doutora em Ciência Animal 3 Médica Veterinária, Especialista em Patologia Clínica Veterinária 4 Médica Veterinária, Mestre em Ambiente, Tecnologia e Sociedade, Residente de Patologia Clínica, Universidade Federal Rural do Semi-Árido 5 Médica Veterinária, Mestre em Ciências Fisiológicas 6 Técnico de Laboratório, Universidade Federal Rural do Semi-Árido Resumo: Hemoparasitoses são enfermidades de alta prevalência na clínica de pequenos animais, transmitidas por vetores artrópodes, como o carrapato marrom, o Riphicephalus sanguineus, que frequentemente infestam cães. Entre os hemoparasitas mais comumente transmitidos pelo carrapato tem-se Anaplasma platys, Ehrlichia canis, Babesia sp. e Hepatozoon sp. Dada a sua importância clínica, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência de hemoparasitoses em cães domiciliados, atendidos em um hospital veterinário na cidade de Mossoró-RN, durante o ano de Verificou-se que 40,59% das amostras foram positivas para hemoparasitas, sendo 990 (36,40% do total) positivos para um único agente etiológico e 114 (4,19% da amostra total) apresentaram coinfecções. Encontrou-se A. platys, em 813 (29,90%) cães, E. canis em 83 (3,05%), Hepatozoon sp. em 79 (2,90%) e Babesia sp. em 15 (0,55%). Quanto aos casos de coinfecção, a maior prevalência foi de A. platys e Hepatozoon sp. em 91 (3,35%) cães. Acredita-se que a alta prevalência de hemoparasitoses na cidade de Mossoró-RN deve-se ao grande parasitismo por carrapatos (R. sanguineus), pois o clima da região favorece o desenvolvimento destes ectoparasitas. A ocorrência de parasitas na clínica medica de pequenos animais é significativa, tendo sido verificada que o Anaplasma sp. foi o hemoparasita com maior prevalência e que a Babesia sp. ocorreu em menor frequência quando comparada a Hepatozoon sp. e Ehrlichia canis. A coinfecção foi pouco frequente na região estudada. Palavras-chave: Epidemiologia. Caninos. Hematologia. Hemoparasitose. Anais do 38º CBA, p.1478

2 2 Keywords: Epidemiology. Canines. Hematology. Hemoparasitosis. Introdução: As hemoparasitoses são causadas por parasitos intracelulares obrigatórios transmitidos biologicamente e/ou mecanicamente por artrópodes hematófagos, como o Riphicephalus sanguineus (carrapato marrom) ou por transfusão sanguínea (ETTINGER e FELDMAN, 1997). Essas enfermidades são de grande relevância na clínica médica veterinária devido sua prevalência, alta morbidade e, se não tratadas, podem ocasionar o óbito do hospedeiro (ETTINGER e FELDMAN, 1997; BERNARDINO et al., 2016). Entre os hemoparasitas mais comumente transmitidos pelos carrapatos tem-se Anaplasma platys, Ehrlichia canis, Babesia sp. e Hepatozoon sp. (BERNARDINO et al., 2016). A anaplasmose canina é causada por uma rickettsia, a A.platys, que parasita plaquetas levando a um quadro clínico de trombocitopenia (ETTINGER e FELDMAN, 1997). A erliquiose é causada por bactérias intracelulares obrigatórias do gênero Ehrlichia, que parasita leucócitos (BENIGNO et al., 2011), consistindo em uma infecção potencialmente mortal caracterizada por manifestações clínicas como vasculite e anemia progressiva em razão da destruição e supressão da produção eritrocitária e acomete cães de qualquer idade (ETTINGER e FELDMAN, 1997; BORIN et al., 2009; UENO et al., 2009). A babesiose tem como agente etiológico o protozoário intracelular do gênero Babesia, sendo clinicamente caracterizada por manifestações clínicas variáveis e inespecíficas, com redução dos elementos figurados do sangue (MIRANDA et al., 2011). O protozoário do genêro Hepatozoon provoca infecção denominada hepatozoonose, com manifestações clínicas pouco esclarecidas, sendo comumente intercorrente a outras doenças (LASTA et al., 2009) e apresenta maior prevalência nas zonas rurais do Brasil (DEMONER et al., 2013). Tendo em vista a importância das hemoparasitoses na clínica de pequenos animais, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência de hemoparasitoses em cães domiciliados atendidos em um hospital veterinário na cidade de Mossoró-RN, durante o ano de Metodologia e Métodos: Foi realizado um estudo retrospectivo em que foram analisadas fichas laboratoriais de hemogramas de cães atendidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) no período de janeiro a dezembro de O sangue foi obtido através de venopunção jugular ou cefálica, armazenado em tubo contendo EDTA a 10%. A pesquisa por hemoparasitas foi Anais do 38º CBA, p.1479

3 3 realizada por miscroscopia óptica (objetiva de 100X) em extensões sanguíneas coradas com kit Panótico rápido (Renilab, Brasil). Os dados foram tabulados e analisados com auxílio de programa computadorizado (Excel 2013, Microsoft Inc.). Resultados e Discussão: Das fichas analisadas, 1104 (40,59%) foram positivas para hemoparasitas, sendo 990 (36,40% do total) positivos para um único agente etiológico e 114 (4,19% da amostra total) apresentaram coinfecções. O vetor de maior importância na transmissão dessas hemoparasitoses é o carrapato da espécie Rhipicephalus sanguineus, que está bastante adaptado às regiões urbanas e tem como principal hospedeiro o cão (LABRUNA e PEREIRA, 2001), de modo que a alta prevalência das doenças transmitidas por esse carrapato é responsável pela morbidade e mortalidade de muitos cães (OLICHESKI, 2003). Portanto, a geração de dados científicos sobre o assunto é de extrema importância para o controle do vetor e para a conscientização dos proprietários de cães. Acredita-se que a alta prevalência de hemoparasitoses na cidade de Mossoró-RN é devida ao grande parasitismo de carrapatos, pois na cidade a temperatura é elevada, favorecendo o surgimento e o desenvolvimento destes ectoparasitas, além de existir uma grande concentração de cães errantes. Neste estudo, entre os cães que apresentaram infecção única, a maior positividade encontrada foi para A. platys, em 813 cães (29,90%), seguido de E. canis em 83 (3,05%), Hepatozoon sp. em 79 (2,90%) e Babesia sp. em 15 (0,55%). Já os casos de coinfecção, foram registrados maior prevalência de A. platys e Hepatozoon sp. em 91 (3,35%) cães, uma vez que a hepatozoonose é uma infecção de caráter crônico e debilitante, que contribui para infecções simultâneas. As demais coinfecções ocorreram entre E. canis e Hepatozoon sp. em 8 (0,29%) cães, A. platys e E. canis em 7 (0,26%), A. platys e Babesia sp. em 4 (0,15%), E. canis e Babesia sp. em 2 (0,07%) cães e esta mesma porcentagem ocorreu entre Hepatozoon sp., A. platys e E. canis. A maioria dos animais diagnosticados com hemoparasitoses neste estudo apresentou infecção por A. platys, resultado que difere daquele achado por Diniz (2006) que encontrou, na região sudeste do país, infecções únicas por E. canis em 57,5% das amostras, infecção por A. platys em apenas 5% e por B. canis em 2%, enquanto que coinfecções corresponderam 21% das amostras. Em outro estudo, realizado na região centro-oeste do país por Salgado (2006), não foi encontrada Anais do 38º CBA, p.1480

4 4 infecção por A. platys, apesar do alto índice de positividade geral para hemoparasitos (62,28%), com maior prevalência de E. canis que foi identificada em 60,48% dos animais, seguido por Babesia canis que foi encontrada em 10,78% dos cães examinados, enquanto o Hepatozoon canis foi diagnosticado em 2,40% associado a E. canis em todos os casos. Em estudo realizado por Souza Mundim et al. (2008) em Anápolis-GO, foram encontradas 33,96% de amostras positivas para hemoparasitas, havendo maior incidência de Anaplasma sp. (50% dos positivos ou 17% da população total) e menor incidência de Babesia sp. (11,1% dos positivos ou 2% do total), Erlichia sp. e Hepatozoon sp. (5,6% dos positivos ou 2% do total, cada). A dissonância entre os resultados deste estudo e daqueles anteriormente citados pode ser devida a região do país onde foi realizada a pesquisa. Conclusões: Foi verificada uma alta prevalência de hemoparasitoses na população investigada, causadas por Anaplasma platys, Ehrlichia canis, Hepatozoon sp. e Babesia sp., em ordem decrescente de prevalência. A coinfecção foi pouco frequente na região estudada. Referências: BENIGNO, R. N. M. et al. Avaliação das infecções por Babesia e Ehrlichia em cães e das infecções humanas por carrapatos oriundos desses cães no município de Campinas, Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, v. 33, n. 4, p , out.-dez BERNARDINO, M. G. S. et al. Prevalência de hepatozoonose canina no município de Areia, Paraíba, Brasil. Biotemas, v. 29, n. 1, p , mar BORIN, S. et al. Aspectos epidemiológicos, clínicos e hematológicos de 251 cães portadores de mórula de Ehrlichia spp. naturalmente infectados. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.61, n.3, p , DEMONER, L. C. et al. Hepatozoonose canina no Brasil: aspectos da biologia e transmissão. Revista Veterinária e Zootecnia, v. 20, n. 2, p , jun DINIZ, P. P. V. P. Miocardite em cães com Erliquiosemonocítica Tese (Doutorado) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, São Paulo, ETTINGER S. J.; FELDMAN E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 4. ed. São Paulo: Manole, p ; LABRUNA, M.; PEREIRA, M. Carrapato em cães no Brasil. Clínica Veterinária, n. Anais do 38º CBA, p.1481

5 5 30, p , LASTA, C. S. et al. Infecção por Hepatozoon canis em canino doméstico na região Sul do Brasil confirmada por técnicas moleculares. Ciência Rural, v. 39, n. 7, p , out MIRANDA, F. J. B. et. al. Infecção simultânea por Ehrlichia canis, Babesia canis e vírus da cinomose canina. Jornal Brasileiro de Ciência Animal, v. 3, p , SALGADO, F. P. Identificação de hemoparasitos e carrapatos de cães procedentes do Centro de Controle de Zoonoses de Campo Grande, estado de Mato Grosso do Sul, Brasil. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, MS, SOUZA MUNDIM, E. C. et al. Incidência de hemoparasitoses em cães (Canis familiares) de rua capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da cidade de Anápolis-GO. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, v. 12, n. 2, 2008, p OLICHESKI, A. T. Comparação entre os métodos de coloração Panótico rápido e Giemsa para o diagnóstico de protozoários do gênero Babesia (Starcovici, 1893) e de riquétsias do gênero Ehrlichia (Ehrlich, 1888) em cães no município de Porto Alegre, RS, Brasil Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de Veterinária. Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias. Porto Alegre, UENO, T. E. H. et al. Ehrlichia canis em cães atendidos em hospital veterinário de Botucatu, Estado de São Paulo, Brasil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, Jaboticabal, v. 18, n. 3, p , jul.-set Anais do 38º CBA, p.1482