Palavras-chave: canino, tripanossomíase, Doença de Chagas Key-words: canine, trypanosomiasis, chagas disease
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- Cláudia Santarém Domingos
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1 1 OCORRÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Trypanosoma cruzi EM CÃES DE UMA ÁREA RURAL NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO, ACRE Mirlane da Silva SANTOS 1, Carolina Couto BARQUETE 2, Michelinne Medeiros de Oliveira DANTAS 2, Alessandra Filgueiras Gonzalez Araujo SANTOS 3, Samanta Cristina das Chagas XAVIER 4, Soraia Figueiredo de SOUZA 5 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Acre 2 Discente do Mestrado em Sanidade e Produção Animal Sustentável na Amazônia Ocidental, Universidade Federal do Acre, carolvetufac@gmail.com 3 Discente do Mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Parasitária, Instituto Oswaldo Cruz 4 Pesquisadora do Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos, Instituto Oswaldo Cruz 5 Docente do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, Universidade Federal do Acre Resumo A tripanossomíase animal constitui um sério problema sanitário na maioria dos países tropicais. Ela é causada por protozoários do gênero Trypanosoma que infectam várias espécies de animais silvestres e domésticos, como é o caso do T. cruzi. Nesse contexto, devido à proximidade dos cães com o homem e a falta de registros dessa parasitose em cães no Estado do Acre, o objetivo do presente estudo foi determinar a ocorrência de tripanossomíase americana em cães provenientes da área rural do município de Rio Branco-Acre. Os proprietários dos cães responderam a um inquérito epidemiológico para avaliação da presença dos fatores de risco. Foram coletadas amostras de sangue de 138 animais, machos e fêmeas com raças e idades variadas para realização de esfregaços de sangue periférico, creme leucocitário e pesquisa de anticorpos pela reação por imunofluorescência indireta. A observação morfológica de parasitos do gênero Trypanosoma foi constatada em 0,72% dos animais (1/138) através do esfregaço sanguíneo de origem periférica. Não foram encontradas formas compatíveis do agente no creme leucocitário em nenhum dos animais avaliados. A presença de anticorpos anti-trypanosoma cruzi foi de 17,39% (24/138), enquanto 33,33% (46/138) foram considerados suspeitos no teste de reação por imunofluorescência indireta. Diante disto, foi possível concluir que a ocorrência de anticorpos anti- Trypanosoma cruzi pela técnica de imunofluorescência indireta em cães de uma área rural do município de Rio Branco, Acre foi de 17,39%. Palavras-chave: canino, tripanossomíase, Doença de Chagas Key-words: canine, trypanosomiasis, chagas disease ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0475
2 2 Introdução As tripanossomíases são causadas por espécies de protozoários do gênero Trypanosoma. A infecção causada pelo Trypanosoma cruzi possui ciclo de passagem obrigatória por vários hospedeiros mamíferos, para os quais a infecção é transmitida através de insetos vetores, chamados triatomíneos. Essa doença também pode ser considerada uma antropozoonose, infecção transmitida ao homem por um reservatório animal, resultante das alterações produzidas pelo ser humano no meio ambiente (ARGOLO et al. 2008). Os triatomíneos, conhecidos popularmente como barbeiros, não nascem portando o T. cruzi, mas se infectam ao sugar o sangue de animais contaminados, tais como marsupiais (gambás), roedores e até o próprio homem. Embora os barbeiros se alimentem desses animais, assim como de répteis e anfíbios, somente os mamíferos são infectados com o T. cruzi (TORRES E DIAS, 1982). A infecção experimental em cães teve significativa relevância para o conhecimento da patogenicidade da doença (SILVA, 2002). Nas infecções naturais os animais apresentam esplenomegalia, anemia e debilidade. Na fase aguda da doença, os cães apresentam morte súbita, depressão, letargia, intolerância ao exercício, ataxia e convulsões. Na fase crônica, ocorre insuficiência cardíaca, síncope e morte súbita (LAURICELLA et al., 1989). O cão pode se tornar somente um reservatório, não apresentando sinais clínicos no decorrer de toda sua vida, conferindo um importante potencial zoonótico (ACHA; SZYFRES, 2003). Não foram encontrados estudos relacionados a ocorrência de T. cruzi em cães no município de Rio Branco, Acre, Amazônia Ocidental, embora vetores infectados sejam frequentemente identificados pela Vigilância Epidemiológica do município. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo determinar a ocorrência de Trypanosoma cruzi em cães provenientes da área rural do município de Rio Branco-Acre. Material e Métodos O estudo foi executado na área compreendida do Km 01 ao 100 da rodovia AC-90 (Transacreana) que fica localizada na Zona Rural do município de Rio Branco-Acre. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0476
3 3 Foram coletados 10 ml de sangue periférico através de venopunção das veias jugular ou cefálica de 138 cães com idade a partir de 6 meses, de sexo e raças variadas, dividido em tubos contendo EDTA e tubos sem anticoagulante. Logo após a coleta, foram confeccionados dois esfregaços sanguíneos de cada animal a partir do sangue com EDTA e outro esfregaço de origem capilar ponta de orelha. As amostras foram conservadas em caixas de isopor e encaminhadas até o Laboratório de Patologia Clínica da Unidade de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária da Universidade Federal do Acre. Os esfregaços foram corados com panótico rápido e observados através de microscópio óptico em aumento de X. Para a obtenção do creme leucocitário, foram centrifugados a 4000 rpm por 10 minutos dois capilares contendo sangue de cada animal. Os capilares foram quebrados na porção abaixo do creme leucocitário, na porção que se encontram os eritrócitos e o material foi examinado entre lâmina e lamínula. Os tubos sem anticoagulante foram centrifugados durante 10 minutos e o soro obtido transferido para tubos do tipo Eppendorf e imediatamente congelados a 20ºC. O soro foi adequadamente armazenado e transportado até o Laboratório de Biologia de Tripanosomatídeos do Instituto Oswaldo Cruz para a realização do teste de Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) através de pesquisa de anticorpos séricos (IgG ant-t. cruzi), segundo Camargo (1966). Foram realizadas diluições com o soro obtido (1:10-1:320) e testados com antígenos totais de Trypanosoma cruzi conjugados com Isothiocinato de Fluoresceína da Sigma. O ponto de corte para os títulos sorológicos foi de 1:40, conforme Xavier et al. (2012). Em cada propriedade amostrada, além das coletas de sangue foi aplicado um inquérito epidemiológico, elaborado para se obter informações dos entrevistados sobre fatores de risco que podem favorecer a disseminação da doença, tais como indicadores sociais e econômicos (condições do domicílio e saneamento, escolaridade e renda familiar) e indicadores dos fatores de risco da doença de Chagas (variáveis ambientais, presença de vetores, contato com outros animais e aspectos relacionados a saúde do cão). Os procedimentos foram previamente autorizados pelos proprietários através do preenchimento de uma ficha de autorização e o trabalho teve parecer favorável no comitê de ética no uso de animais da Universidade Federal do Acre (CEUA). ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0477
4 4 Resultados e Discussão A observação morfológica do gênero Trypanosoma foi constatada em 0,72% dos animais (1/138) através do esfregaço sanguíneo de origem periférica. Não foram encontradas formas compatíveis do agente no creme leucocitário de nenhum dos animais avaliados. A soropositividade infecção por T. cruzi nos cães, obtida pela avaliação de anticorpos IgG anti-t. cruzi nesta pesquisa foi de 17,39% (24/138), enquanto 33,33% (46/138) foram considerados suspeitos neste método diagnóstico, com titulação de 1:40. Este resultado foi semelhante ao de Saldaña et al. (2015) com a prevalência de 17,6% (9/51) de cães em área rural do Panamá e, acima da prevalência obtida por Silva (2002) 0,3% e Mendes et al. (2013) 4,08%, em estudo realizado em zona urbana na cidade de Porto Alegre/RS e na zona rural de Patos/Paraíba, respectivamente. Índices bem superiores ao deste estudo foram obtidos por Souza (2009) 45,3% (34/75) e Montenegro et al. (2002) 27,7% em pesquisa sobre a prevalência de cães infectados por T. cruzi em áreas rurais do Mato Grosso do Sul e da Costa Rica, respectivamente. De acordo com Mendes et al. (2013) é necessário o uso de técnicas diagnósticas combinadas, para melhorar a sensibilidade do teste em pesquisas de natureza epidemiológica. Em relação aos fatores de risco, as variáveis mais associadas à ocorrência sorológica para T. cruzi em cães foram contato com animais domésticos e silvestres, presença de insetos, presença de palheiras e galinheiros. Conclusão Diante dos resultados encontrados foi possível verificar que a ocorrência de anticorpos IgG anti-trypanosoma cruzi pela técnica de reação de imunofluorescência indireta foi de 17,39% em cães de uma área rural do município de Rio Branco, Acre, Amazônia Ocidental. Mais estudos relacionados a prevalência de T. cruzi com a associação de outras técnicas sorológicas são necessários para a confirmação dos resultados obtidos. Referências ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0478
5 5 ACHA, P. N.; SZYFRES B. Enfermidad de Chagas. In:. Zoonosis Y Enfermedades Transmisibles Comunes Al Hombre Y A Los Animales. 3ª Ed. Washington DC: Organización Panamericana de la Salud. vol.3, p.27-38, ARGOLO, A.M.; et al. Doença de Chagas e seus Principais Vetores no Brasil. 1ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio Gráfica e Editora Ltda, 2008, 63p. CAMARGO M. E. Fluorescent antibody test for the serodiagnosis of American trypanosomiasis: technical modification employing preserved culture forms of Trypanosoma cruzi in a slide test. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v.8, n.5, p , LAURICELLA, M. A. et al. Natural Trypanosoma cruzi infection in dogs of endemic areas of the Argentine Republic. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v.32, p , MENDES, R. S. et al. Aspectos epidemiológicos da Doença de Chagas canina no semiárido paraibano. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.33 n.12, p , MONTENEGRO V.M., et al. Chagas disease in dogs from endemic areas of Costa Rica. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.97, p , SALDAÑA A. et al. Risk factors associated with Trypanosoma cruzi exposure in domestic dogs from a rural community in Panama. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v.110, n.7, p , SILVA L. S. Prevalência de soropositivos para doença de chagas em uma amostra da população de cães domiciliados da cidade de Porto Alegre p. Dissertação de Mestrado em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. SOUZA A.I., et al. Soroprevalência da infecção por Trypanosoma cruzi em cães de uma área rural do Estado de Mato Grosso do Sul. Pesquisa Veterinária Brasileira, v. 29, n.2, p , TORRES, L.D.; DIAS, J.C.P. Triatomíneos e Doença de Chagas: Manual prático para identificação e manejo em laboratório. 1ed. Belo Horizonte: Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais/ Fundação Oswaldo Cruz, p. XAVIER, S. C. C.; et al. Lower richness of small wild mammal species and Chagas Disease risk. PLoS Neglected Tropical Diseases, v.6, p.1-11, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0479
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