INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA EM PACIENTE IDOSO E TERAPIA NUTRICIONAL: CASO CLÍNICO E AÇÃO EXTENSIONISTA Área Temática: Saúde Humana Autores: Kelly Cristiane Michalichen 1 (UNICENTRO), Nilciane Taques 2 (UNICENTRO), Dalton Luiz Schiessel 3 (Coordenador do projeto), Caryna Eurich Mazur 4 (Orientadora do projeto). RESUMO: A Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) é uma síndrome sistêmica complexa, que pode ser causada por diversos agentes etiológicos e que levam a incapacidade do miocárdio em cumprir sua função. Os cardiopatas sofrem modificações em seu padrão de vida normal, decorrente da sintomatologia da ICC, principalmente os indivíduos idosos, que possuem também como agravante as comorbidades associadas ao diagnóstico primário. Diante das interferências negativas da ICC, o profissional nutricionista e os demais da equipe multidisciplinar devem fornecer assistência, atendendo as suas as necessidades biológicas e psicossociais. Assim, esse trabalho objetiva registrar o acompanhamento clínico durante atendimento de uma paciente idosa, portadora de ICC internada em um hospital de Guarapuava-PR. PALAVRAS-CHAVE: Doenças crônicas; comorbidades; nutrição. 1. INTRODUÇÃO/CONTEXTO DA AÇÃO A Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) exige uma atenção maior dos profissionais da saúde, devido à alta prevalência de morbimortalidade, caracterizando-se como um grande problema de saúde pública sendo a primeira causa de hospitalização no país. A ICC é uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, que pode ser causada por diversos agentes etiológicos que levam a incapacidade do miocárdio em cumprir sua função, ocasionando um inadequado suprimento sanguíneo para atender as necessidades metabólicas teciduais, na presença de retorno venoso normal ou somente com elevadas pressões de ejeção. Assim ela constitui a via final comum na maioria dos pacientes cardiopatias (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2002; ARQUIVO BRASILEIRO DE CARDIOLOGIA, 2009; DIAS, 2011). Em virtude da inaptidão para realizar determinadas tarefas cotidianas, os portadores de distúrbios cardíacos sofrem modificações em seu padrão de vida normal, decorrente dos sinais e sintomas da ICC como: dor ou desconforto precordial, dispneia, ortopneia, palpitação, síncope, fadiga e edema (HURST, 2000). Além desses fatores, o tratamento com a ICC envolve gastos com medicamentos, internações contínuas, perda de produtividade, 1 Acadêmica do 3º ano do curso de Nutrição da Unicentro. kellymichalichen25@gmail.com 2 Acadêmica do 3º ano do curso de Nutrição da Unicentro. nilcianetaques@hotmail.com 3 Professor do Departamento de Nutrição da Unicentro. daltonls68@gmail.com 4 Professora do departamento de Nutrição da Unicentro. carynanutricionista@gmail.com
aposentadorias precoces, ocasionais cirurgias e, possível, transplante cardíaco. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2002). Atualmente, o que preocupa no idoso é a sua saúde global, tornando comorbidades, principalmente diabetes e hipertensão importantes durante o cuidado. O paciente idoso necessita de uma atenção reforçada, devido ás próprias características fisiológicas e as necessidades diferenciadas. Devido a isso, a preocupação com as comorbidades no idoso são importantes e, quando geridas com atenção, poderão reduzir e prevenir doenças do coração, além de oferecer uma melhor qualidade de vida. Assim, fica evidente que cuidados, enfatizando a prevenção no paciente idoso, fará com que as doenças degenerativas, principalmente, as cardiovasculares e problemas associados, poderão ser bem atenuadas, melhorando o prognóstico clínico (CLÁUDIO, 2002; ARQUIVO BRASILEIRO DE CARDIOLOGIA, 2002). Diante das interferências negativas na vida dos pacientes diagnosticados com ICC, o profissional nutricionista e os demais da equipe multidisciplinar de saúde, devem estar preparados para fornecer assistência de forma que atenda não apenas as necessidades biológicas do paciente, mas também suas necessidades psicossociais, ajudando-o a ultrapassar as limitações e criar mecanismos de enfrentamento. Neste sentido, de forma a auxiliar estes profissionais nas ações terapêuticas os exames laboratoriais visam identificar e quantificar condições clínicas associadas ao diagnostico primário (SOARES, 2008). Nesse projeto de extensão, foram implementadas medidas de educação, atenção e avaliação nutricional, objetivando á promoção da saúde e tratamento de doenças comuns em pacientes de hospitais de Guarapuava-PR. Para a realização do estudo, levou-se em conta a inserção dos alunos do terceiro ano do curso de Nutrição da Universidade Estadual do Centro- Oeste, em disciplinas referentes á área de Nutrição Clínica (Patologia, Dietoterapia, Farmacologia e Exames Laboratoriais em Nutrição), como forma de melhorar o processo ensino aprendizagem. Assim, esse trabalho tem como objetivo registrar o acompanhamento durante atendimento clínico de uma paciente idosa, portadora de ICC internada em um hospital de Guarapuava-PR, visando observar a relação dos exames laboratoriais, físicos, antropométricos e dietéticos com o quadro clínico da paciente. 2. DETALHAMENTO DAS ATIVIDADES E/OU DA METODOLOGIA Foi realizado um atendimento nutricional com uma paciente idosa portadora de ICC internada em um hospital de Guarapuava- PR, por acadêmicas do terceiro ano de nutrição da Universidade Estadual do Centro-Oeste, sob supervisão, de docente responsável pela disciplina optativa de Exames Laboratoriais em Nutrição. Nesse atendimento foram realizadas aferições antropométricas (circunferência e dobras cutâneas) e aplicou-se também o recordatório alimentar de 24 horas. As demais informações que caracterizam o quadro geral da paciente foram retiradas do prontuário médico. Esta atividade fez parte do projeto de extensão: Ações de Educação, Atenção e Avaliação Nutricional: para pacientes e funcionário de hospitais de Guarapuava/PR, aprovado pelo COMEP/UNICENTRO com o parecer número 1.593.833/2016, a qual proporcionou complementar os conhecimentos teóricos de disciplinas da área de nutrição clínica, principalmente dando enfoque na disciplina de Exames Laboratoriais em Nutrição.
3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO O diagnóstico clínico primário da paciente era a insuficiência cardíaca congestiva (ICC), a qual estava associada ao diabetes descompensada e a hipertensão arterial, além de apresentar, morbidades associadas. A paciente encontrava-se acamada, pouco comunicativa e sem queixas para aquele momento. Os medicamentos em uso pela paciente eram todos administrados por via oral os quais estão dispostos na tabela 1. Tabela 1 - Medicamentos utilizados pelo paciente D. S.C Fármaco Azitromicina Bisoprolol Maleato de enalapril Digoxina Acetilcisteína Prescrição 500 mg 5 mg 10 mg 0,25 mg 200 mg granulado Quando medicamentos são administrados juntamente com o alimento existe a possibilidade de ocorrer algumas alterações na farmacodinâmica ou na farmacocinética da droga ou do nutriente, alterando o estado nutricional ou a resposta terapêutica, sendo então definida a interação de fármaco-nutriente (GENSER, 2008). Dados da literatura demonstram que a azitromicina e o maleato de enalapril, quando são administrados por via oral, na forma de comprimido a interação com alimentos não acorre (MARTINS et al., 2003; SILVA et al., 2007). Com relação á administração de digoxina, seu uso segundo Peixoto et al. (2012), o consumo de muitas fibras pode diminuir a absorção do fármaco em até 25%. Quanto ao uso da espirolactona, segundo Lopes et al. (2010), por ser um fármaco diurético, a sua administração pode desenvolver no paciente uma retenção de potássio (K), sendo necessário evitar sua administração juntamente com alimentos ricos em (K) como leite e carnes. Os demais fármacos utilizados pela paciente, bistoprolol e acetilcisteína ainda não se tem relatos de suas possíveis interações com nutrientes. Na tabela 2 são apresentados os exames laboratoriais da paciente, com destaque na ureia (o valor de referência é de 10 a 40 mg/dl) e na Proteína C-reativa PCR (maior que 6 mg/dl) que pode ser indicio de inflamação. Na parcial de urina observou-se uma coloração amarelo citrino, aspecto límpido, apresentando um ph 6, sendo que na urocultura notou-se a presença de bacilos gram-negativos. Tabela 2 - Exames laboratoriais da paciente D.S.C. coletados em 22/07/2016 Exame Valor obtido Interpretação Creatinina 0,83 mg/dl Glicose Ureia Potássio Sódio PCR 92 mg/dl 85 mg/dl 3,6 meq/l 138 OMEq/1 48 mg/dl
Hemácias Hemoglobina Hematócrito Leucócitos Contagem de Plaquetas 5,56 milhões 16,3 g/dl 51% 6,810/mm³ 256,000/mm³ Alto Em relação á avaliação antropométrica e física, a altura, que foi aferida pelo método de semi-envergadura, medida preditiva da altura, bastante utilizada prática clínica, principalmente em pacientes que não deambulam, a qual foi de 80 cm; a circunferência da panturrilha (CP) é aquela que fornece a medida mais sensível da massa muscular nos idosos, sendo extremamente importante na avaliação nutricional dos mesmos, na paciente foi de 36 cm, sem risco para depleção muscular (NAJAS, et al., 2005); a circunferência do braço (CB) é utilizada como indicador de reserva calórica e proteica, e a paciente apresentou 32,8cm (SIZER, 1996); O músculo adutor do polegar permite a medida direta da espessura do musculo, refletindo a troficidade muscular e da espessura, por conta da doença base, a paciente apresentou 12 mm, portanto sem depleção (ANDRADE, et al., 2007). A paciente ainda apresentou turgor da pele diminuído e edema nos membros superiores. A aceitação da dieta de D.S.E. era boa, entretanto ela relatou alteração de peso pregressa, e de acordo com o recordatório alimentar de 24 horas (tabela 3), pode-se notar que a ingestão da paciente é bastante deficitária, não atendendo aspectos qualitativos e quantitativos nas refeições, não possuindo assim, uma ingestão alimentar diária adequada. Alguns dias depois, a paciente do presente estudo clínico, foi a óbito. Tabela 3 - Recordatório alimentar de 24 horas Café da manhã Lanche Almoço da manhã Pão integral (1 fatia) - Arroz, feijão, Café carne moída e (¹/² xícara) repolho (¹/² prato com ¹/² colher de servir) Lanche da tarde Chá (1 xícara) Jantar Sopa de macarrão e carne de galinha (1 prato) Ceia Bolacha (¹/²unidade) Alguns dias depois, a paciente do presente estudo clínico evoluiu a óbito. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A paciente do presente estudo clínico, após seis dias da coleta de dados, evoluiu á óbito, por apresentar uma série de complicações associadas á sua faixa-etária e a própria doença de base. Neste sentido, o desenvolvimento deste trabalho mostra a importância de projetos de extensão que desenvolvam a prática clínica dos acadêmicos, para que desde cedo possam vivenciar e praticar ações dentro da área hospitalar, e assim buscar alternativas nutricionais para auxiliar no tratamento e prevenção das doenças.
REFERÊNCIAS ANDRADE, P.V. B, et al. Espessura do músculo adutor do polegar: um novo índice prognóstico em pacientes clínicos. Revista Brasileira de Nutrição Clínica, Rio de Janeiro, v. 22 n.1, p.28-35, 2007. Arquivo Brasileiro de Cardiologia. III Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, São Paulo, v. 93, n.1, s.1, 2009. CLÁUDIO Z. I. G. Idoso: doença cardíaca e comorbidades. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, Porto Alegre, v. 79, n. 6, p. 635-9, 2002. DIAS, I.A, et al. Avaliação funcional de pacientes com insuficiência Cardíaca congestiva através de escalas padronizadas. Revista de Saúde.com., Brasília, v.7, n.2, p. 116-126, 2011. HURST, J. W. Exame inicial para o diagnóstico cardiovascular. Revinter, Rio de Janeiro, p. 29-30, 2000. LOPES, E. M, et al. Análise das possíveis interações entre medicamentos e alimento/nutrientes em pacientes hospitalizados. Piauí, Einstein, v.8, n.3 Pt 1, p.298-302, 2010. MARTINS, C, et al. Interações Droga Nutriente. Curitiba: 2 ed., 2003. NAJAS, M.S, et al. Avaliação Nutricional In: RAMOS, L.R, et al. Geriatria e Geontologia, Barueri: Manole; 1ª ed. p 299, 2005. PEIXOTO, J.S, et al. Riscos da interação droga-nutriente em idosos de instituição de longa permanência. Revista Gaúcha de Enfermagem, Maringá, v.33, n.3 p.156-164, 2012. SILVA, S. M. C. S, et al. Tratado de Alimentação, Nutrição & Dietoterapia. São Paulo: Roca Ltda, p. 115-127, 2007. SIZER, R. Standards and guidelines for nutritional support of patients in hospitals. Woreestershire: British Association for Parenteral and Enteral Nutrition, 1996. SOARES, D. A, et al. Qualidade de vida de portadores de insuficiência cardíaca. Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v.21, n.2, p. 243-8, 2008. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA (SBC); Grupo de Estudos de Insuficiência Cardíaca (GEIC); Departamento de Cardiologia Clínica da SBC (SBC/DCC). II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o Diagnóstico e Tratamento da Insuficiência Cardíaca. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, São Paulo, v 79, s.4, 2002.