EDUCAÇÃO INCLUSIVA NAS ESCOLAS: O USO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) COMO FERRAMENTA DE ENSINO AO ESTUDANTE SURDO EM PETROLINA-PE

Documentos relacionados
A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM/LIBRAS E O ALUNO SURDO: UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA

Conteúdos e Didática de Libras

SETEMBRO AZUL: INCLUSÃO EDUCACIONAL DOS SURDOS

Educador A PROFISSÃO DE TODOS OS FUTUROS. Uma instituição do grupo

ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: DEFINIÇÃO DE ETAPAS PARA A PRODUÇÃO DE TEXTO ARGUMENTATIVO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA UFU DE LIBRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA I CONALIBRAS-UFU ISSN SANTARÉM.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE EDUCAÇÃO EMENTA

Unidade I. Profa. Ana Camargo

ESCOLAS ATENDIDAS POR INTÉRPRETES DE LIBRAS NA CIDADE DE JOÃO PESSOA/PB

Desafios na formação de profissionais na área da surdez

O GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA, usando da competência

PROGRAMA DE DISCIPLINA

Curso Técnico Subsequente em Tradução e Interpretação de Libras Nome do Curso

SERLIBRAS: ESPAÇO DE FORMAÇÃO CONTINUADA. PALAVRAS - CHAVE: SERLIBRAS, surdos e formação de professores.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EDUCAÇÃO DE SURDOS

LIBRAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: CURRÍCULO, APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO DE SURDOS

Informações de Apoio ao Usuário Para a Solicitação do Trabalho de Tradução e Interpretação Libras/ Português.

A Câmara Superior de Ensino da Universidade Federal de Campina Grande, no uso de suas atribuições e,

ATENA CURSOS GREICY AEE E O DEFICIENTE AUDITIVO. Passo Fundo

SURDOS NA UNIVERSIDADE: ENEM É UMA BARREIRA? Palavras Chaves: Educação Inclusiva, Educação e Surdez, Vestibular, ENEM, Imagens na Educação.

TDAH E A LEI DA INCLUSÃO 1 ADHD AND THE INCLUSION LAW. Isabela Albarello Dahmer 2

A PROFISSIONALIZAÇÃO DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: FORMAÇÃO ACADÊMICA OU FORMAÇÃO TÉCNICA?

Palavras-chave: Educação Física. Produção Colaborativa de Práticas Corporais Inclusivas. Alunos público alvo da Educação Especial. 1.

ATUAÇÃO DO TRADUTOR INTÉRPRETE DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E LÍNGUA PORTUGUESA NO CONTEXTO EDUCACIONAL

LEI DA LIBRAS E O ENSINO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS NOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES.

TÍTULO: A EDUCAÇÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA- SURDOCEGUEIRA: UM DESAFIO EDUCACIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO.

PEDAGOGIA 2º PERÍODO MANHÃ EDUC3012 CIÊNCIAS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA I 45h EDUC3022 FUNDAMENTOS SOCIO-HISTÓRICO-FILOSÓSIFCO DA EDUCAÇÃO II 45h EDUC3001

CURSO DE CAPACITAÇÃO

NORMAL MÉDIO. Parte Diversificada. Tópicos Educacionais

Apresentação. Tem um aluno surdo em minha turma! E agora? Camila Francisco Módulo1 Vídeo 1

ANEXO I CARGO, REQUISITOS DE ESCOLARIDADE, DESCRIÇÃO SUMÁRIA, CARGA HORÁRIA e VENCIMENTO BASE.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Parte 1 Código / Área Temática. Educação Especial

MOTIVOS DE EVASÃO E RETORNO DE JOVENS E ADULTOS AO ENSINO MÉDIO EM ALEGRE-ES

TRADUÇÃO DOS INFORMATIVOS DO INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE PARA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS RESUMO

PROJETO DE EXTENSÃO: FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE ESTUDANTES SURDOS

A OFERTA DA LIBRAS NA UFMG ENQUANTO DISCIPLINA NA MODALIDADE EAD E OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O ENSINO DE SURDOS

Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN

A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL CONGÊNITA E ADQUIRIDA ATRAVÉS DE JOGOS PEDAGÓGICOS.

O Tradutor/Intérprete de Libras/Português (TILSP) no IFSP. Quem é o tradutor/intérprete de Libras/Português?

O TRABALHO DOCENTE COM CONTOS DE FADAS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A ELEVAÇÃO DA AUTOESTIMA E AUTOCONCEITO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA. Luciana Andrade Rodrigues Professor das Faculdades COC

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL BILINGUE PARA FORMAÇÃO DO PROFESSOR

LDB Lei de Diretrizes e Bases

NÚCLEO TEMÁTICO I CONCEPÇÃO E METODOLOGIA DE ESTUDOS EM EaD

CURSO DE CAPACITAÇÃO LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Área Audi*va Aula 2 Surdez no contexto da inclusão

A DEFICIÊNCIA AUDITIVA NO CONTEXTO DA INCLUSÃO ESCOLAR E O ACOLHIMENTO A DIVERSIDADE

As contribuições da EAD no aprendizado de uma língua estrangeira por alunos surdos

Professores no Brasil

LIBRAS PÓS-GRADUAÇÃO NATAL/RN TRADUÇÃO / INTERPRETAÇÃO E DOCÊNCIA

PRÁTICAS DE LETRAMENTO DE ALUNOS COM SURDEZ NA PERSPECTIVA BILÍNGUE EM ESPAÇOS DE AEE MINICURSO

O Plano Nacional de Educação. Maria Alice Setubal, educadora e presidente dos conselhos do Cenpec e da Fundação Tide Setubal

FORMAÇÃO DE DOCENTES DE LIBRAS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL E SÉRIES INICIAIS: A PEDAGOGIA BILÍNGUE

A EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS: OS INDICADORES DAS MATRÍCULAS DE ALUNOS SUJEITOS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS

CONTEÚDO ESPECÍFICO DA PROVA DA ÁREA DE LETRAS GERAL PORTARIA Nº 258, DE 2 DE JUNHO DE 2014

Seminários Enade 2016

ANEXO I. Habilitação e Escolaridade exigidas para atuação em escolas da Rede Municipal de Ensino de Mariana. Habilitação e Escolaridade

UTILIZAÇÃO DE RECURSOS VIRTUAIS NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA SURDOS: APLICATIVO PRODEAF

FACULDADE SUMARÉ PLANO DE ENSINO

Curso: PEDAGOGIA Curriculo: 0004-L DISCIPLINAS EM OFERTA 2º Semestre de NOT

EDITAL Nº 208/2016 (*) 1.4. Remuneração: Vencimento Básico 4.234,77 Retribuição por Titulação (doutor) 4.879,90 Remuneração Inicial (doutor) 9.

Palavras-chave: Salas de Recursos Multifuncionais. Alunos com Necessidades Educacionais especiais. Avaliação.

LIBRAS NO ENSINO SUPERIOR: DESAFIOS DIANTE DE UMA CARGA HORÁRIA LIMITADA

COLEGIADO DE CURSOS FACULDADE UNA DE BETIM RESOLUÇÃO 01/2016. Institui a Política de Acessibilidade e Atendimento para Estudantes com Deficiências.

Caderno 2 de Prova AE02. Educação Especial. Auxiliar de Ensino de. Prefeitura Municipal de Florianópolis Secretaria Municipal de Educação

A Fonoaudiologia nos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador no Brasil

Docentes da Rede Estadual do Paraná I - Perfil do profissional em sala de aula

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL GABINETE DO DEPUTADO DELMASSO. PROJETO DE LEI Nº 1395 /2016 (Do Senhor Deputado DELMASSO PTN/DF)

INDICADORES DE ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO DOS ALUNOS NO ESNINO FUNDAMENTAL (5º. AO 9º. ANO) DE UMA ESCOLA PÚBLICA MINEIRA

PRÁTICAS DE LETRAMENTO PARA ALUNOS SURDOS A PARTIR DO MUSEU VIRTUAL DA HISTÓRIA E MEMÓRIA DA COMUNIDADE SURDA

PEDAGOGIA NO SISTEMA PRISIONAL E A QUESTÃO DA RESOCIALIZAÇÃO

Palavras-chave: Acessibilidade. Deficiência Auditiva. Surdez. LIBRAS. Língua Brasileira de Sinais. Saúde.

EDUCAÇÃO SEXUAL: UM RETRATO HISTÓRICO DO CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

O QUE PRECISO SABER DA. Lei de 24 de abril de 2002

MÉTODOS INTERDISCIPLINARES APROXIMANDO SABERES MATEMÁTICOS E GEOGRÁFICOS

PREFEITURA MUNICIPAL DE MARIANA Secretaria Municipal de Educação Rua Bom Jesus, 18A Centro

EDITAL DE EXTENSÃO Nº 07/2017. PROCESSO SELETIVO PARA O CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA EM LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais

A INTERFACE EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INDÍGENA: DESAFIO À FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM RORAIMA

A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 2007 A 2013

OFERTA DA EDUCAÇÃO EM CACHOEIRA DO SUL: UM OLHAR SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS

ESTUDO SOBRE O PLANO DE CARGOS, CARREIRA, REMUNERAÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS EM EDUCAÇÃO DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE SOSSEGO PB

TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA A COMUNICAÇÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS

Universidade Federal do Pará Instituto de Ciências Biológicas Faculdade de Biologia Licenciatura em Ciências Biológicas

Componente Curricular: LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS PLANO DE CURSO

EDUCAÇÃO SEXUAL: UMA ANÁLISE DO CONHECIMENTO DE ESTUDANTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO MUNICÍPIO DE UBERABA

O USO DE TECNOLOGIA ASSISTIVA EM SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS DO MUNICÍPIO DE DOURADOS-MS

A partir da década de 1990, no Brasil e no mundo, o paradigma tende a ser deslocado da integração para a inclusão. A Educação Inclusiva surgiu, e vem

A DISCIPLINA DE LIBRAS NO CURSO DE HISTÓRIA

FORMAÇÃO INICIAL DOS PROFESSORES E A INCLUSÃO DOS ALUNOS PÚBLICO ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE ASSUNTOS ESTUDANTIS

Pedagogia. 1º PERÍODO Carga Horária e Creditação

MÃOS QUE FALAM: RELATO DOS ALUNOS OUVINTES SOBRE O SISTEMA DE INCLUSÃO ESCOLAR

A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR) NO MUNICÍPIO DE SANTA INÊS/MA: OS DESAFIOS DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Educação das relações étnico-raciais. Educação.

CONSULTORIA JURÍDICA EM PROL DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA. Palavras-chave: Pessoa com deficiência. Inclusão Social. Direitos Fundamentais.

RELATO DE EXPERIÊNCIA. Políticas públicas de educação de surdos em Santa Catarina. Breve histórico da educação de surdos em SC

O PROCESSO DE EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: ALGUNS DADOS e

Transcrição:

EDUCAÇÃO INCLUSIVA NAS ESCOLAS: O USO DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS (LIBRAS) COMO FERRAMENTA DE ENSINO AO ESTUDANTE SURDO EM PETROLINA-PE Erika Carolina Fernandes Lima. Universidade de São Paulo, Doutoranda em Enfermagem.Osasco, São Paulo, Brasil.erikacarollima@usp.br. (11) 96670-0652. Rua Eugênio Pacelli, 147, Santa Maria, Osasco, SP, CEP: 06.149-214. Ebbe Humberta Fernandes Lima. Universidade Federal do Vale do São Francisco, Graduação em Ciências Sociais.Petrolina, Pernambuco, Brasil.ebbelima@hotmail.com (87)98825-2106. Rua Praça Sete de Setembro, 2108, apto, Centro, Petrolina, Pernambuco, CEP: 56.302-060; Maria Aridian Freire, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Graduação em Ciências Sociais, Petrolina, Pernambuco, Brasil, dianfreire@hotmail.com. Rua Washington Luiz, 86, Maria Auxiliadora, Petrolina, Pernambuco, CEP: 56330-360.Rosicleide Araújo de Melo, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Docente do Curso de Ciências Sociais, Juazeiro, Bahia, Brasil. rosicleide.melo@univasf.edu.br. (87) 96660-9496. Rua Aristarco Lopes, 950, apto 103, Centro, Petrolina, Pernambuco, Brasil. Eixo temático: Currículo, metodologias e práticas de ensino Resumo O presente trabalho se propôs a verificar se há benefícios no uso da Língua Brasileira de Sinais na formação educacional do estudante surdo nas escolas regulares do município de Petrolina-PE e como tem sido desenvolvido os trabalhos educacionais de inclusão na escola. A pesquisa possui um caráter qualitativo e os métodos utilizados foram o exploratório e o descritivo realizado a partir de pesquisas bibliográficas e entrevistas com os estudantes surdos. Os estudantes foram selecionados por acessibilidade e disposição em participar da pesquisa. Nas escolas há a presença do intérprete na sala de aula para realizar a tradução das disciplinas e seu auxílio também foi fundamental no decorrer das entrevistas. Foi possível perceber benefícios valiosos no uso da LIBRAS para os estudantes surdos, como o desenvolvimento na comunicação, na educação e na vida social. A língua é fundamental na construção intelectual e social do ser surdo. Portanto, deve-se pensar na valorização dessa língua, não apenas como uma proposta política educacional, mas como marca linguística e cultural pertencente ao povo surdo. Palavras-chave: LIBRAS. Estudante surdo. Inclusão. Introdução A política pública da educação propõe a inserção do surdo na escola regular com o auxílio da sua língua natural, a Língua de Sinais Brasileira (LIBRAS) e a presença do Tradutor e Intérprete da Língua de Sinais (ILS) como tradutor dos conteúdos, proporcionando aos estudantes com surdez acesso à educação formal. Conforme Meletti e Bueno (2010), nos últimos anos o número de alunos surdos matriculados em classes de ouvintes nas escolas regulares tem sido crescente, sendo a LIBRAS a principal ferramenta de ensino para os estudantes 1

surdos utilizada nas escolas. A LIBRAS foi regulamentada conforme o Decreto de nº 5.626 de Dezembro de 2005 regulamentada pela Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002, que dispõe sobre a LIBRAS, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de Dezembro de 2000, capítulo IV que fala do uso dessa língua para o acesso das pessoas surdas à educação, desde a educação infantil até à superior. Há também o tradutor e intérprete da língua de sinais (ILS) como mediador do saber entre o professor e o aluno surdo. Conforme consta na Lei 12.319, de 1º de Setembro de 2010, art. 2º, o tradutor e intérprete realiza a interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva tendo proficiência em tradução e interpretação da LIBRAS. Segundo o censo do IBGE (2010), há aproximadamente 9.722,163 de pessoas com dificuldades de audição, sendo 347.481 com maior grau de dificuldade de audição, 1.799.855 de pessoas com um grau médio de dificuldade e 7,574 com alguns pequenos sinais de dificuldade auditiva. Segundo um estudo realizado por Poker e Milanez (2012) a região Nordeste tem 66,8% de surdos matriculados na escola regular, o Sudeste tem 63,0%, o Sul com 75,0% e a região Centro-Oeste com 100%. Os demais surdos ou estão matriculados em escolas especiais ou fora da escola, na região sudeste 19% dos surdos permanecem fora da escola. O objetivo desta pesquisa foi verificar os benefícios do uso da LIBRAS na formação educacional do estudante surdo no ensino regular e compreender os processos de inclusão nas escolas do município de Petrolina, Pernambuco. Desenvolvimento A educação para as pessoas com surdezé marcada por discursos históricos de exclusão e processos educacionais prejudiciais ao desenvolvimento do mesmo. Isso demonstra uma constante contradição entre o educador e o educando. O primeiro cumpre a função de interpretar o mundo e transmiti-lo, ao passo que o outro vive uma situação silenciadora que o impede de dizer palavras próprias que nomeiem a sua compreensão do mundo (FREIRE, 1987). No Brasil, essa prática educacional é composta por um conjunto de sinais extraídos da LIBRAS que representam a língua portuguesa, que nesse caso, é a língua majoritária. Esse tipo de método inferioriza a linguagem, modificando os sinais e incentivando a leitura labial, podendo ser caracterizada como um tipo de bimodalismo. Para Sá (2010), a abordagem que não considera a língua de sinais como primeira língua, que é a língua utilizada pelos surdos, é uma mera conveniência para os profissionais ouvintes que trabalham com a pessoa surda. O estudo, descritivo de caráter qualitativo, foi realizado a partir de entrevistas semiestruturadas aplicadas a estudantes surdos de duas escolas localizadas no Município de Petrolina, Pernambuco. As duas escolas somavam 33 alunos surdos matriculados e participaram deste 12 estudantes. A participação era voluntária e alguns não puderam participar e outros optaram por não participar. O estudo foi realizado entre setembro e dezembro de 2015 e os resultados analisados a partir da análise de conteúdo. As escolas visitadas são adeptas à política da educação inclusiva. Em todas as séries há a presença dos quatro personagens essenciais na construção dessa educação: o professor ouvinte, o intérprete para auxiliar na tradução dos conteúdos, os estudantes surdos inseridos na sala de aula regular e os estudantes ouvintes. A partir das entrevistas foi traçado um perfil de cada um deles. Alguns quesitos foram adotados, como a idade, a série, o estado civil, entre outros, conforme consta no quadro abaixo: 2

Quadro 1 Perfil dos estudantes surdos entrevistados Entrevistados Idade Sexo Série Mora com a família Estado Civil Idade que aprendeu LIBRAS S 1 17 M 1º ano Sim Solteiro 11 S 2 17 M 1º ano Sim Solteiro Não lembra S 3 17 F 1º ano Sim Solteira 6 S 4 19 M 2º ano Sim Solteiro 10 S 5 18 M 1º ano Sim Solteiro 5 S 6 16 F 2º ano Sim Solteira 14 S 7 18 M 1º ano Sim Solteiro 6 S 8 17 M 1º ano Sim Solteiro 6 S 9 24 F 2º ano Não Casada 7 S 10 18 F 3º ano Sim Solteira 7 S 11 21 M 3º ano Sim Solteiro 9 S 12 30 F 2º ano Sim Solteira 13 Fonte: Coleta de dados (2015) De acordo com o quadro, os estudantes entrevistados têm idade que variam de 17 a 30 anos,sendo 7 do sexo masculino e 5 do sexo feminino. Todos são alunos do ensino médio. Sobre com quem residiam e o estado civil, a maioria dos entrevistados afirmaram residir com pais e irmãos e serem solteiros. Ainda de acordo com o quadro 1, a idade em que os estudantes surdos aprenderam a língua no município variou de 5 a 14 anos de idade. Quanto mais cedo a pessoa com surdez conhecer a língua de sinais e interagir com seus pares, melhor será o seu desenvolvimento educacional e social, poisa convivência tardia com a língua implica no comprometimento da constituição do surdo por estar a criança necessariamente imersa num mundo de língua oral e assim se aproximar mais tarde das possibilidades de interação com surdos que dialogam efetivamente na língua de sinais (GÓES, 2000). S 10 aprendeu LIBRAS aos 13 anos e apresentava muita dificuldade na comunicação, até mesmo com outros surdos só após a sua vinda para a escola é que pode desenvolver melhor a língua de sinais.s 5 afirmou que os professores não sabem LIBRAS e que, consequentemente, não há conversação entre eles. A intérprete, que auxiliava nas traduções, revelou que alguns professores tratam o aluno surdo como uma pessoa invisível, que alguns deles nem ao menos cumprimentam esse aluno ao entrar em sala. Um dos estudantes afirmou que às vezes consegue se comunicar com o seu professor, mas na maioria das vezes não é possível e se sente um pouco desconfortável com essa situação. Foi possível acompanhar um pouco da dinâmica em sala de aula e essas interações. O que mais chamou atenção foram algumas situações relacionadas à postura do professor diante do estudante surdo. Em uma aula realizada pela manhã na escola Adelina Almeida na sala do 1º ano, a professora de matemática inicia a aula com a leitura de texto, uma atividade na qual o a estudante surdo automaticamente não pode participar. Enquanto os outros estudantes liam, em rodízio, a intérprete traduzia o texto para os dois 3

estudantes surdos presentes, ao observar as posições de cada profissional pode-se constatar o professor sempre direcionado aos estudantes ouvintes e o intérprete aos estudantes surdos, uma fragmentação nas funções e nas próprias relações sociais postas ali. Atividades como essa se repetiram na maioria das outras aulas. As formas de avaliação percebidas pelas observações foram as aplicações de provas escritas tanto para os surdos quanto para os ouvintes, não foi percebida nenhuma diferenciação na forma avaliativa entre os estudantes. Conclusão O estudo mostra tanto a importância da LIBRAS como ferramenta de ensino quanto a necessidade de melhorias nas técnicas, nas práticas e na efetiva comunicação, pois deve ser utilizada não apenas para traduzir palavras, mas para realizar um elo comunicativo e inclusivo. A educação para os surdos ainda é um desafio. O processo deve ser assumido por todos que compõem o sistema educacional aceitando a surdez como uma diferença, não apenas como uma deficiência, eencarando que a língua de sinais representa um povo, uma identidade, uma cultura. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Organização do texto por Juarez de Oliveira.4. ed, São Paulo: SARAIVA, 1990. 168 p. (Série Legislação Brasileira).. Lei 10.436, 24 de Abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e dá outras providências.. Decreto n. 5. 626 de 22 de Dezembro de 2005. Regulamenta a Lei n. 10.436, 24 de Abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).. Lei 5.692/71. Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/ l5692_71.htm.. Decreto nº 6.571, de 17 de setembro de 2008. Dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto nº 6.253, de 13 de novembro de 2007. Brasília, 2008a.. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Brasília, DF. 2006.. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva. Prorrogada pela portaria nº 948, 09 de Outubro de 2007. MEC/SEESP. 2007.. Lei nº 12.319, de 01 de setembro de 2010. Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02 set. 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm. 4

FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. GEDE, Gerência de Políticas Públicas de Educação Especial. Secretária Executiva de Desenvolvimento da Educação. Dados colhidos junto a GRE, Gerência Regional de Educação Sertão São Francisco, Petrolina, Pernambuco, 2014. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos. 2010. INEP- Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Censo Escolar do INEP 2005. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/basica/censo/escolar/sinopse/sinopse. MELETTI, S. M. F. e BUENO, J. G. S. Escolarização de alunos com deficiência: uma análise dos indicadores sociais no Brasil. In: Anais da 33ª Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG. 2010. PETROLINA. Lei municipal Nº 1.249 de 05 de maio de 2003 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais Libras no ensino escolar aos surdos, em todos os níveis, da educação infantil ao superior e outras providências. 5