A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM/LIBRAS E O ALUNO SURDO: UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA
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- Aníbal Vieira Sampaio
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1 A AQUISIÇÃO DE LINGUAGEM/LIBRAS E O ALUNO SURDO: UM ESTUDO SOBRE O IMPACTO DA ATUAÇÃO DO INTÉRPRETE EM SALA DE AULA AURÉLIO DA SILVA ALENCAR 1 MARILDA MORAES GRACIA BRUNO 2 Universidade Federal da Grande Dourados -UFGD PALAVRAS-CHAVE: Surdez. Aquisição de linguagem/libras. Intérprete Educacional. Língua Brasileira de Sinais-Libras. INTRODUÇÃO O processo de aquisição de linguagem/língua de Sinais de alunos surdos nas séries iniciais do ensino fundamental tem sido pouco estudado em nosso meio. Estudos linguísticos apontam a importância da oferta das melhores oportunidades de interação, comunicação e domínio da Língua de Sinais para acesso ao conhecimento e promoção da aprendizagem desses educandos. A Língua Brasileira de Sinais - Libras é uma língua visoespacial articulada através das mãos, das expressões faciais e do corpo e trata-se de língua natural usada pela comunidade surda brasileira. Assim, quanto mais cedo a criança surda interagir com pessoas surdas ou usuários de Libras, melhor será seu repertório linguístico. Quadros (2004) acredita que a Língua de Sinais é adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com outras pessoas que usam essa língua. 1 Mestrando em Educação pela Universidade Federal da Grande Dourados-UFGD-Dourados-MS, bacharel em Letras-Libras, Especialista em Educação Especial, Educação Especial com enfoque na Surdez e em Docência de Libras, Intérprete de Libras-Língua Brasileira de Sinais. prof-aurelio@hotmail.com 2 Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atualmente é professora associada da Universidade Federal da Grande Dourados, docente do Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Educação. Líder do GEPEI (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva). marildabruno@ufgd.edu.br
2 Para tanto, há um dispositivo de aquisição de linguagem DAL que precisa ser acionado mediante a experiência linguística positiva, visível à criança. A criança surda brasileira deve ter acesso à LIBRAS o quanto antes para acionar de forma natural esse dispositivo. A língua portuguesa não será a língua que acionará naturalmente o dispositivo devido à falta de audição da criança. Essa criança até poderá vir a adquirir essa língua, mas nunca de forma natural e espontânea, como ocorre com a LIBRAS. (QUADROS, 1997, p. 27). Nessa abordagem linguística, a legislação brasileira concebe a Língua de Sinais como a primeira língua para o surdo, a L1, e a Língua Portuguesa a segunda, a L2, as quais devem ser adquiridas na escola durante o processo da alfabetização. No Estado de Mato Grosso do Sul, como há poucos professores de Libras surdos, torna-se relevante discutir a qualificação e o papel do intérprete de Língua de Sinais-ILS no contexto educacional, bem como os modelos, as estratégias e técnicas de tradução e interpretação utilizados por este profissional em sala de aula. Desta forma, as questões norteadoras desta pesquisa foram: Qual o papel do intérprete educacional no processo de aquisição de Língua de Sinais? Qual a influência do intérprete sobre essa aquisição de linguagem? Somente a interpretação em sala de aula garante o domínio linguístico do aluno surdo? OBJETIVO GERAL Investigar o processo de aquisição da linguagem/libras dos alunos surdos dos anos iniciais do Ensino Fundamental e analisar o impacto da atuação do Intérprete de Língua de Sinais, no contexto de sala de aula das escolas da Rede Municipal de Ensino de Dourados, MS. Os objetivos específicos foram: analisar quais as estratégias utilizadas pelo profissional intérprete de Libras na atuação em sala de aula e verificar o nível linguístico do aluno surdo em Língua de Sinais ofertada na Sala de Recursos Multifuncionais-SRM e na sala de aula. METODOLOGIA A pesquisa exploratória consiste na investigação da atuação do profissional intérprete de Libras nas séries iniciais do Ensino Fundamental na interação com quatro alunos surdos em escolas da Rede Municipal de Ensino da cidade de Dourados-MS.
3 O critério de seleção dos participantes pautou-se em diferentes situações encontradas passíveis de análises: dois alunos surdos que frequentam a SRM e dois alunos surdos que têm acesso à Libras somente na interação com o ILS na sala de aula. As etapas do estudo foram: (a) caracterização dos profissionais e entrevista semiestruturada com três intérpretes de LS com objetivo de colher dados sobre o perfil e a atuação em sala de aula; (b) a experiência no exercício da profissão; (c) levantamento junto aos professores das Salas de Recursos Multifuncionais sobre o atendimento ofertado ao aluno: o tempo de aquisição da LS, frequência na SRMs, as necessidades específicas do aluno e (d) observação sobre o nível linguístico dos alunos na sala de aula quanto ao nível de desenvolvimento linguístico por meio das interações realizadas com o tradutor intérprete. As análises dos dados serão fundamentadas nos Estudos Surdos e em alguns conceitos da teoria do Desenvolvimento Humano Ecológico de Bronfenbrenner (1996), os quais permitem compreender o processo de interação, comunicação e as relações da tríade em interação (aluno surdo, intérprete e professor de Libras). Esses fundamentos teóricos permitem analisar os diferentes contextos: os mais alargados como as políticas linguísticas, o micro contexto (familiar- na aquisição da língua) e o meso contexto (a interpretação na sala de aula e a instrução de Libras nas SRMs). RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos últimos anos, a matrícula de alunos surdos tem aumentado na Rede Municipal de Dourados (Censo Escolar SEMED, 2013/2015), porém se observa que as crianças estão chegando à escola sem nenhum conhecimento da Libras. A análise dos documentos oficiais mostra certo silenciamento quanto ao processo de aquisição de Linguagem das pessoas surdas, apontando a Libras como língua oficial para o surdo e, no caso de matrícula desse aluno, a lei garante o atendimento do intérprete de Libras em sala de aula (BRASIL 2005). O estado do conhecimento sobre a temática (Lacerda, 2006; Quadros, 2007) revela que o ensino da Libras enfrenta obstáculos: mesmo sendo oferecido o AEE Bilíngue, no contraturno, este ainda não é acessível a todos os alunos, dificultando ainda mais o processo de aquisição da linguagem/língua de sinais, que deve ser feito na mais tenra idade, como apontaram os autores.
4 Os dados apontam que os participantes do estudo, com idades de 07 e 11 anos, com grau de perda auditiva severa e/ou profunda, sendo dois meninos e duas meninas, matriculados no 1º, 3º, e 4º ano do ensino fundamental não dominam a Libras. Os intérpretes possuem nível superior de graduação com especialização na área de Libras e mais de cinco anos de atuação. Os relatos dos profissionais indicam que nenhum dos familiares dos alunos surdos sabe ou usa a Língua de Sinais na interação com o filho, limitando-os a ter acesso a Libras somente com o intérprete (dois alunos) e com a professora surda da Sala de Recursos Multifuncional (dois alunos). Os dois alunos que não frequentam a SRM, não o fazem por morarem em bairro distante da escola polo de Libras. Os dois outros alunos que foram observados frequentam a SRM no turno contrário ao da escolarização, duas vezes por semana, uma hora por atendimento, o que é muito pouco para aprendizagem de uma língua. Para os ILS, não se observa ainda avanços significativos na aquisição de linguagem/libras desses alunos, mas já têm apresentado um avanço, ainda que discreto, em relação ao início do atendimento. Os resultados preliminares deste estudo mostram nos relatos dos intérpretes que a atuação dos mesmos ultrapassa a tradução e interpretação das atividades trabalhadas em sala de aula, pois os alunos ainda têm pouca fluência em Libras. Os intérpretes acabam atuando como professores instrutores, ensinando Libras dentro da sala de aula ao mesmo tempo que fazem o repasse do conteúdo acadêmico. A finalização desta pesquisa, ainda em fase de análise, mostrará se os alunos que frequentam o AEE têm maior desenvolvimento de Linguagem e aprendizagem de Libras em relação aos estudantes que recebem apenas o atendimento do ILS em sala de aula, e qual o impacto da atuação desses profissionais na aquisição da linguagem e da Língua de Sinais. CONCLUSÃO Os achados deste estudo pouco diferem dos resultados das pesquisas mapeadas quanto ao processo de aquisição de linguagem/libras dos alunos surdos no espaço escolar, em relação à proficiência em Libras e quanto a frequência às SRMs para a aprendizagem da língua.
5 As análises preliminares desta pesquisa apontam que nas Escolas Municipais de Dourados, MS, a oferta do AEE no contra turno com professores surdos instrutores de Libras ainda é pequena, pois se restringe a apenas uma professora surda atuando em uma escola polo com SRM. Assim, conclui-se que os alunos surdos passam mais tempo aprendendo Libras com os intérpretes educacionais do que com a professora de SRM, já que o tempo de exposição à Libras com o ILS é bem maior. Constatou-se ainda que os alunos não recebem atendimento bilíngue têm menores chances de aquisição da linguagem efetiva, uma vez que estão expostos à Língua de Sinais apenas nos momentos de interação com o ILS, em sala de aula, e não têm contato com outro surdo adulto usuário dessa língua. Os intérpretes de Libras, ao traduzirem os conteúdos acadêmicos, criam estratégias e dão significados a muitos termos que os alunos desconhecem e acabam, assim, por ensinar a Libras em sala de aula. Espera-se que este estudo possa trazer inovações para a política linguística e a prática do ensino de Libras no espaço escolar. REFERÊNCIAS BRASIL. DECRETO 5626/2005. Disponível em: Acesso em 03 de dezembro de BRONFENBRENNER, Urie A Ecologia do Desenvolvimento Humano: Experimentos naturais e Planejados/ Urie Bronfenbrenner. Maria Adriana Verissimo Veronese (trad.) Porto Alegre: Artes Médicas, LACERDA. C. B. F. A inclusão escolar de alunos surdos: O que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Disponível em: Acesso em 06 de novembro de 2015 QUADROS, R. M. Educação de Surdos: A aquisição da Linguagem Porto Alegre: Artmed, 1997.
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