Qual o futuro do Bolsa Família? Celia Lessa Kerstenetzky CEDE e DCP-UFF



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Transcrição:

Qual o futuro do Bolsa Família? Celia Lessa Kerstenetzky CEDE e DCP-UFF

PBF: retrato em branco e preto Idade: 10 anos Tamanho: 13,8 milhões de famílias, 12 bilhões de dólares, 0,5% do PIB Elegibilidade: famílias extremamente pobres (70 reais) e pobres com crianças e adolescentes (entre 70 e 140 reais). Benefícios: básico para superar 70 reais e variável conforme o número de filhos (máx. 5) Impactos importantes: redução da pobreza extrema e da desigualdade de renda; acesso a alimentos; redução da mortalidade infantil; aumento da participação escolar; variação de renda 1,4; variação de produto 2,2; desigualdade regional caiu. Previsão falsificada: não reduziu a participação econômica do beneficiário (exceto a das mulheres), não aumentou a fecundidade.

PBF emcontexto Contexto brasileiro: entre o passado e o futuro Novidade no cenário da proteção social brasileira Protagonismo em termos de inovação institucional e de financiamento Os benefícios, os riscos e as possibilidades envolvidos nesse protagonismo Contexto internacional: entre pauperismo e universalismo EUA e América Latina (TANF e CCTs) Welfarestates desenvolvidos: outras políticas sociais são o resíduo do que não foi captado pelo mainstream. Maior protagonismo do que nos dois outros conjuntos de experiências.

Categorização das políticas sociais: OECD (SOCX) Grandes áreas: Benefícios monetários e Serviços Áreas intermediárias: Benefícios: Aposentadorias e pensões (pensions: oldage andsurvivors); Apoio de renda para a população em idade ativa; Serviços: Saúde; Todos os serviços sociais menos saúde; Benefícios e serviços: Políticas Ativas de mercado de trabalho.

Abrindo as transferências para a PIA Benefícios monetários PIA: Benefícios de incapacidade; Benefícios para as famílias; Seguro desemprego; Outras políticas sociais variam em quantidade e importância de país para país, segundo o regime de bem-estar.

PBF: o filme Gesto fundador antipauperista Avaliação em 2009: pauperismo residual Como política de redução da pobreza: ênfase em alívio à pobreza, temor ao erro de inclusão; Como política de desenvolvimento: ênfase em condicionalidades, i.e., obrigações nas costas do beneficiário. Baixa coordenação com serviços; de modo geral baixa intersetorialidade.

Avaliação em 2013: correção de rumo Mais crianças/adolescentes elegíveis Busca ativa do beneficiário X-pobre Regra de permanência e readmissão automática em até 36 meses Meta de eliminação da pobreza extrema (BSM 2011) PAMT e acesso prioritário a serviços com expansão da oferta Conexões com o MEC, MS e Mtb

Articulação com o Mais Educação, no sentido de priorizar a implantação da educação integral em escolas onde a maioria dos alunos é beneficiária do PBF. Portaria nº 17/2007 O objetivo da parceria, fixada em 2011, é que os estudantes PBF tenham, além de um alto percentual de frequência escolar, oportunidades para o fortalecimento da aprendizagem, pela experiência da educação integral. Assim, são priorizadas na expansão do Programa Mais Educação (PME) as escolas que possuem mais de 50% dos alunos beneficiários do Bolsa Família, denominadas escolas maioria PBF. É, portanto, um mecanismo de fortalecer o acesso à educação integral primeiramente entre os mais pobres. Após a parceria com o MEC, no âmbito do Plano Brasil sem Miséria, em 2012 mais da metade das escolas do Programa Mais Educação possuem maioria de estudantes PBF, em um patamar bem superior aos anos anteriores. Se for considerado o número total de escolas maioria PBF que integrou o Programa Mais Educação ao longo dos anos fica mais evidente o impacto da parceria e da articulação intersetorial. O Programa Mais Educação vem de uma trajetória de crescimento de 1.374 escolas, em 2008, para 32.422 escolas, em 2012, incluindo aquelas que já integravam o Programa em 2011 e continuaram em 2012. Do total de escolas PME, em 2008 havia 387 escolas maioria PBF, passando para 1.525 em 2009, 2.869 em 2010, 5.294 em 2011, atingindo, em 2012, 17.575 escolas. Ou seja, a quantidade de escolas do Mais Educação com maioria de estudantes PBF triplicou, saltando de pouco mais de cinco mil escolas em 2011 para mais de 17 mil em 2012. AmetadoMECéque,em2014,emtornode60milescolaspúblicas estejamcoma implantaçãodaeducaçãointegral, por meio dos incentivos do ProgramaMaisEducação,oquerepresentarámetadedasescolasdeensinofundamentaldopaís.Das60milescolas,ametaéquepelomenosmetade(50%) sejam escolas com maioria de alunos integrantes de famílias beneficiárias no PBF, o que corresponderá a aproximadamente 30 mil escolas. Esse número representa cerca de metade de escolas com maioria de alunos PBF existentes no país, que correspondem a aproximadamente 60 mil escolas. Isso significa que aproximadamente metade das escolas maioria PBF, ou seja, onde se concentra o maior número de crianças e adolescentes em situação de pobreza e extrema pobreza, estará integrada à política de educação integral.

... Ainda insuficientemente realizado: Pisar no acelerador da universalização entre os pobres Valorizar benefícios e estabelecer critérios de proteção do valor real Cancelar as condicionalidades; aumentar a intersetorialidade dentro dos programas ministeriais; Intensificar articulação com serviços sem rescindir universalização para todos os brasileiros: risco maior (prioritarismoversus universalismo). Universalização de serviços de qualidade é que tem potencial transformador Aumentar a segurança jurídica.

Dois futuros Hoje e amanhã: Expansão inevitável Depois de amanhã: Retração infalível, enquanto avançam as políticas e programas do estado do bem-estar. Intensificação dos serviços na nova era do estado do bem-estar