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Transcrição:

Cooperativas de Consumidores 1 Os associados da Cooperativa de Consumidores de Três Cachoeiras pagam uma mensalidade para cobrir os custos operacionais da loja e comprar alimentos orgânicos a preço de custo. A construção social de mercados Coopet - Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras A fundação da Coopet, em 18 de maio de 1999, representou o coroamento de um processo iniciado quase dez anos antes na região de Torres. No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, a ideia da Agricultura Ecológica vinha sendo discutida por agricultoras e agricultores como resistência ao modelo imposto pela Revolução Verde para o meio rural. Essas questões - levantadas principalmente pela Pastoral Rural - resultaram na organização de diversos grupos de produção ecológica. Em Três Cachoeiras, a comunidade urbana, estimulada pela Pastoral Rural e algumas lideranças como professores e outros, queriam consumir esses alimentos que as famílias levavam para Porto Alegre. Diferentes estratégias para conseguir os produtos foram tentadas, como uma feira semanal e entrega de cestas a domicílio. Mas a disponibilidade limitada a um só dia na semana e a pouca variedade devido à sazonalidade e às condições climáticas da região fez que estes consumidores buscassem outro tipo de organização: uma cooperativa de consumidores de produtos ecológicos. A iniciativa uniu o princípio cooperativista ao consumo de alimentos sadios, em equilíbrio com o meio ambiente e em parceria com as organizações de agricultoras e agricultores ecologistas. Nesses 18 anos de funcionamento, a Coopet esteve sempre na mesma loja, inaugurada em 5 de junho de 1999, no Centro da sede do município. Há cerca de dois anos uma designer gráfica criou a nova logomarca e algumas melhorias no layout da loja. A Coopet recebe visitantes locais, de escolas do município, e também de outros Estados e países. Alguns números 85 associados Mensalidade de 35 reais para cobrir custos operacionais da loja Experiência de 3 meses para o consumidor avaliar se quer ser associado 150 reais é o valor da joia, que o consumidor paga se quiser continuar sendo sócio depois dos três meses de experiência

Gestão Conta com um Conselho Administrativo, composto por seis membros e Conselho fiscal, com três membros titulares e 3 suplentes. Os dois conselhos são renovados a cada dois anos. Seu ponto de vendas, localizado no centro do município, foi inaugurado em 5 de junho de 1999, Dia Internacional do Meio Ambiente. Comercializa mais de 100 produtos diferentes, oriundos de grupos e associações de agricultores ecologistas. Em outubro de 2002 a Coopet implantou um sistema muito especial de relação entre os sócios e a Cooperativa. Os associados pagam uma mensalidade e adquirem produtos a preço de custo. E o que é preço de custo? Se a funcionária compra, por exemplo, um vidro de molho de tomate dos agricultores a R$ 30 reais, ele será vendido aos sócios pelos mesmos R$ 30 reais. Esse sistema deu tão certo que gerou, na época, um aumento de pelo menos 200% nas vendas. Mas para ser reproduzido por outras cooperativas é fundamental o real comprometimento do quadro de associados. Divulgação No Facebook https://www.facebook.com/cooperativa.coopet?ref=br_rs e na Campanha Orgânicos para todos Torres - 17 a 20 de maio de 2017 Ecotorres - Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Torres No final dos anos 1990 algumas lideranças de Torres começaram a organizar uma Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos. Com o apoio do Centro Ecológico e tendo como referência a Cooperativa de Consumidores de Produtos Ecológicos de Três Cachoeiras (Coopet), esse grupo formado por professores, funcionários públicos e liberais, convidava vizinhos, amigos e conhecidos para participar das reuniões numa escola pública. Em 17 de novembro de 1999 foi fundada a cooperativa. Em janeiro de 2000 foi inaugurada a primeira e bastante modesta loja, em uma rua não muito movimentada, mas no Centro. A partir deste primeiro endereço o ponto de venda mudou seis vezes, sempre no Centro da cidade. De dezembro de 2006 a março de 2009, a loja fez parte da Casa da Economia Solidária. O objetivo deste espaço o era dar visibilidade aos empreendimentos de economia solidária do Litoral norte do RS e Sul de SC, assim como de associações e grupos de outras regiões. Então havia, na mesma casa, a loja de uma cooperativa de costureiras, eram vendidos produtos dos indígenas da tribo Mbya Guarani, havia uma biblioteca e o espaço ainda era emprestado para brechós da Associação de Proteção aos Animais. Em 2010, a loja recebeu aporte financeiro de um projeto do Centro Ecológico para ser um ponto do Açaí de Juçara da Mata Atlântica. Foi criada uma identidade visual de acordo com o produto e com o público consumidor. O atual ponto de venda o melhor que a cooperativa já teve -, foi inaugurado em novembro de 2015. Os desafios são principalmente esclarecer o consumidor do Café com A construção social de mercados 2

Mistura, de que nem sempre todos os produtos serão iguais ou estarão disponíveis, e também na loja identificar muito bem o que é orgânico e o que não é. A decisão de oferecer integrais não orgânicos se deve ao próprio histórico de consumo de alguns associados, para quem a porta de entrada para os orgânicos foram os integrais não orgânicos. Alguns números 120 associados 5 funcionários 30 a 60 anos é a faixa etária dos clientes em geral, mais mulheres 75 reais é o preço do título para associar-se. O Conselho avalia e é responsável pela admissão. Gestão Tem um Conselho Administrativo, composto por seis membros e Conselho Fiscal, com três membros titulares e três suplentes. Os dois conselhos são renovados a cada dois anos. Cooperativas de consumidores são mais que pontos de venda de orgânicos Representantes de mais de 30 países (Estados Unidos, Canadá, México, Cuba, Costa Rica, Peru, Colômbia, Etiópia, Quênia, Uganda, Suécia, Espanha, Inglaterra, Alemanha, Nova Zelândia) já visitaram as cooperativas a fim conhecer esse modelo de comercialização; As cooperativas de consumidores, assim como as feiras orgânicas, são pontos de econtro de ideias e ideais para uma sociedade mais equilibrada e solidária. Seminários nacionais e internacionais foram organizados na região, em parte devido à experiência das cooperativas de consumidores; Contribem para promover o desenvolvimento das comunidades rurais, os benefícios ambientais da agricultura orgânica, divulgar informações sobre alimentação, ambiente, transgênicos, etc; Em Torres, a cooperativa é um diferencial para turistas de outras cidades e estados que visitam o município e durante o veraneio, podem continuar a alimentação orgânica que adotam em suas cidades de origem; Geram riqueza dentro do município; Inserem os município de Três Cachoeiras e Torres entre os poucos que podem afirmar que disponibilizam produtos orgânicos, sem transgênicos e no conceito km Zero. 3 A construção social de mercados

Cooperativa de Produtores Torres - 17 a 20 de maio de 2017 Econativa - Cooperativa Regional de Produtores Ecologistas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul e Sul de Santa Catarina A fundação da Econativa iniciou um novo capítulo na história da Agroecologia na região. Se nos anos 1990 a rebeldia dos jovens que não queriam usar veneno motivou o surgimento dos grupos e associações de agricultura ecológica, em 2005 foi a experiência desses mesmos agricultores e agricultoras, que, assessorados pelo Centro Ecológico, perceberam a necessidade de criar uma instituição que os representasse. Por meio da Econativa, a produção ecológica que antes abastecia as cooperativas de consumidores, feiras ecológicas de Porto Alegre, Região Metropolitana e Caxias do Sul, alcançou as escolas do Litoral Norte e do Estado de Santa Catarina. Além de melhorar a nutrição dos estudantes, o consumo de produtos locais - muitas vezes desconhecidos ou negligenciados - passaram a ser mais valorizados e até mesmo utilizados para estimular a consciência socioambiental em sala de aula. Assim, a geração de renda que viabiliza a vida em pequenas comunidades rurais é também a energia das crianças e jovens que estão aprendendo a amar e cuidar do planeta, começando pelo alimento. Como qualquer empreendimento, a Econativa já atravessou momentos difíceis, em que poucos associados acreditavam nessa venda institucional. Só que para essa venda acontecer, é preciso ter estabilidade na entrega, em quantidades e datas certas e, para atender esses requisitos, é preciso ter produtos. Depois de um processo de reestruturação e de uma consultoria externa, a cooperativa conseguiu superar os obstáculos. Hoje, além de fornecer os produtos, a Econativa atua também esclarecendo nutricionistas, diretoras, merendeiras e professoras de escolas públicas do Litoral Norte, sobre os benefícios do consumo de alimentos orgânicos. A participação nas licitações das prefeituras demandam bastante atenção e energia de um membro da equipe do Centro Ecológico para organizar a documentação exigida. Mais que financeiramente, esse esforço é recompensado pelo fato de saber que produtos de primeira linha estão contribuindo para a saúde de uma geração ameaçada pelo consumo de produtos que não são alimentos. Mais recentemente, a Econativa abriga uma câmara fria que possibilita que frutas e hortaliças da Serra Gaúcha cheguem até os consumidores da Feira Ecológica de Torres e das Cooperativas Coopet e Ecotorres. Proposta é avançar sempre na ecologização das propriedades A produção é em propriedades com menos de 15 hectares. A proposta é avançar sempre na ecologização e diversidade do agroecossistema local. A base de todo trabalho é a Trofobiose. Segundo esse conceito, insetos, fungos e doenças não conseguem atacar uma planta equilibrada. Somente plantas fracas são atacadas. Grande parte da produção, especialmente de banana, é em agroflorestas, que imitam a recuperam fragmentos da Mata Atlântica. A construção social de mercados 4

Agroindústrias ecológicas As agroindústrias familiares abrem um leque de oportunidades para que os jovens possam continuar trabalhando com a família na propriedade. Família Fernandes A Família Fernandes vive na comunidade de Raposa, no município de Três Cachoeiras e foi uma das primeiras a participar da Feira do Agricultor Ecologista (Fae) em Porto Alegre, em setembro de 1989. Eles fazem parte da Associação dos Colonos Ecologistas da Região de Torres (Acert), núcleo Raposa. O agricultor Tobias Fernandes, marido da Luzia e pai do Natan, lembra que nessa feira não venderam uma penca de banana sequer: Não sabíamos que os consumidores não compravam banana verde e só levamos banana verde. Também não entendíamos nada sobre como maturar e fizemos várias experiências loucas, sem sucesso, até a gente conseguir aprender a maturação da banana. Em 2003, parte da família começou a fazer a Feira Ecológica em Torres e a outra continuou na banca que há muitos anos os consumidores da feira convencional já conheciam como sendo de orgânicos. Eles não vão mais para Porto Alegre e preferem assim, porque a viagem para vender na Capital é bem mais cansativa que levantar às 5 horas da manhã para ir até Torres. Para ir a Porto Alegre tem que sair às 2 horas da manhã. Em compensação, viajaram muito mais horas para chegar até a Suécia, num intercâmbio promovido hea alguns anos pela Rede Terra do Futuro, e ver que, apesar das técnicas em cultivo protegido, lá é impossível produzir banana. Aqui, os Fernandes produzem mais ou menos 150 quilos por semana em 1,5 hectare de agrofloresta avançada. A agrofloresta produz também produz açaí juçara, abacate, laranja, lima e bergamota. Nas hortas a família cultiva hortaliças, inhame, gengibre, açafrão, taioba, entre outros produtos. Na pequena agroindústria produz passa e chips de banana, melado, molho de tomate, doces de banana, goiaba, abóbora, biscoitos de milho e pães integrais difíceis de encontrar na feira, porque todo mundo compra antes. São os únicos totalmente orgânicos da região. Um cálculo de 2006 apontou que cada hectare desse Saf dos Fernandes havia capturado da atmosfera 21 toneladas de CO2. E ainda serve 5 A construção social de mercados

de casa para espécies animais da Mata Atlântica. Tobias diz que antes, os animais viviam por si, mas que hoje precisam de nós para sobreviver. Em 2014 A Fundação Zoobotânica (FZB) coordenou a elaboração de uma lista onde constavam 280 animais ameaçados ou já em fase de extinção no Rio Grande do Sul, com destaque para as aves. Conforme a dissertação de mestrado da bióloga Clarissa Britz Hassdenteufel, diversos estudos apontam maior diversidade de animais e plantas em áreas cultivadas com sistemas agroflorestais, quando comparadas a áreas de cultivos convencionais. Nas pesquisas de campo realizadas na região de Torres, a bióloga também identificou maior diversidade de aves e outros animais nas áreas de Safs, comparativamente às áreas de manejadas de forma convencional. Há ainda dois fatos interessantes sobre a Família Fernandes. A Luzia, esposa do Tobias é irmã da Teresinha, esposa do Paulo, que é irmão do Tobias. Teresinha e Paulo são pais de Raquel, Ana Paula e João Luiz. Raquel estuda Agronomia, trabalha na propriedade e na feira. Ana Paula e João Luiz às vezes também trabalham na feira e Ana Paula atua na Pastoral da Juventude Rural. Natan, filho de Tobias e Luzia, já decidiu que quer ser agricultor ecologista. Num contexto de dificuldade na sucessão rural, esse é certamente um índice de uma história que está dando certo. Morro Azul Quando a Agroindústria familiar e ecológica Morro Azul foi fundada em junho 2002, Anelise, filha de Rosimere e Izaías Becker, era ainda uma menina. Hoje é ela que, junto com o marido, Marcelo Vieira, toca grande parte do empreendimento. Mestre em Desenvolvimento Rural pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Anelise estuda e defende meios para que os jovens possam, assim como ela, permanecer em suas propriedades. E a agroindústria numa propriedade oferece mais essa possibilidade. Inicialmente a Morro Azul foi viabilizada por um financiamento de R$ 40 mil do governo estadual do Rio Grande do Sul, com carência de 10 anos, para a Associação dos Colonos Ecologistas da Região de Torres (Acert). Mais tarde a família Becker assumiu totalmente os custos e decisões do negócio. A agroindústria produz doces em pasta (chimia) e tabletes (mariolas, goiabadas), polpas e sucos de frutas, molho de tomate e passa de banana, que, junto com o açaí juçara, responde pela maior parte das vendas do empreendimento. A matéria-prima é produzida pela própria família ou comprada de agricultores da região. Há uma câmara fria para guardar açaí de juçara e garantir à Econativa atender as escolas que comprarem via licitação, o produto. A pesquisa de novos produtos, como farinha de banana verde, classificada como alimento funcional, e chips de banana, é feita de forma paralela à produção. Em 2014 a agroindústria forneceu 20 mil saquinhos de 100 gramas de passa de banana ecológica para os kits lanche dos voluntários da Copa do Mundo. A seleção ocorreu por meio de chamada pública do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), como uma das ações do Programa Brasil Orgânico e Sustentável. Conforme Marcelo Nunes Vieira, que também é tecnólogo em Agroecologia, a agroindústria se inscreveu, Torres - 17 a 20 de maio de 2017 A construção social de mercados 6

enviou as amostras e foram selecionados. Alimentar.org AAlimentar Produtos Orgânicos Ltda., em Torres, é a única agroindústria ecológica da região que não é de base familiar. A relação é entre proprietários e funcionários O principal fornecedor é a Cooperativa Agrícola Santo Anjo (Coopergesa), na comunidade de Santo Anjo da Guarda, em Três Cachoeiras, a cerca de 26 quilômetros da agroindústria. A Alimentar compra da Coopergesa perto de 5 mil quilos de banana orgânica por mês. A Coopergesa por sua vez, compra de diversos grupos de agricultoras e agricultores integrantes do Núcleo Litoral Solidário da Rede Ecovida de Agroecologia e têm a produção certificada pelo Sistema de Certificação Participativa (SPG) da Rede. Isso porque a banana, verde ou madura, é a base de quase todos os produtos da marca Alimentar.org: balas de açaí juçara e de banana, farinha de banana verde, barrinha de banana com açaí, banana com açaí e castanha e barrinha de banana zero açúcar, a estrela em vendas. Na onda dos alimentos funcionais, recentemente a empresa lançou, além da biomassa de banana pronta para consumir, o ganache de chocolate e o doce de açaí com biomassa de banana. De acordo com o administrador Natan Cardoso, a empresa está sempre procurando e testando novas receitas, mas nem sempre consegue produzir em escala por limitações de matéria-prima orgânica. As pesquisas são desenvolvidas a partir de ideias próprias e produtos já existentes no mercado, que a empresa busca fazer na versão orgânica. Esses produtos encontraram mercado em casas de produtos naturais, empórios, padarias chiques, restaurantes e já conta com clientes em diversas regiões do país, porém ainda tem muito mercado para se abrir, avalia Natan. O trabalho da Escola Baréa foi fundamental na história das lutas ambientais da região,. 7 A construção social de mercados

Torres - 17 a 20 de maio de 2017 Educação Ambiental Escola Baréa Poucos quilômetros antes de chegar na sede do município de Três Cachoeiras, no sentido Norte-Sul, há uma escola estadual que, assim como a Associação dos Colonos Ecologistas da Região de Torres (Acert) e a Cooperativa de Consumidores Coopet, foi pioneira em perceber a necessidade de agir para preservar o ambiente e a saúde da comunidade. É a Escola Estadual de Ensino Fundamental Dom José Baréa, ou simplesmente, Baréa, onde desde os anos 1990 professoras e professores buscam trabalhar os conteúdos das disciplinas com atividades que incluem responsabilidade ambiental e justiça social. Com este foco, a Baréa irradiou e provocou a mesma responsabilidade em educadoras de outras escolas, de outros municípios. Na Baréa foram pensados e executados projetos relativos à reciclagem de lixo, hortas, alimentação, biodiversidade. A última novidade foram as cisternas, num projeto preocupado com o uso da água. A ideia das cisternas foi difundida na 16ª Feira da Biodiversidade, em junho de 2016, pelos alunos da escola para alunos de outras escolas públicas da região. Suspeita-se também que a personagem Nina, de três livros infantis com temáticas socioambientais e muito popular entre os estudantes de diversas escolas, bem, suspeita-se que Nina, na verdade, foi nascendo e crescendo na Baréa, uma vez que sua criadora é professora na escola. Outra colaboração significativa foi na formação da Teia de Educação Ambiental Mata Atlântica, rede de intercâmbio e formação que entre professoras de escolas públicas do Litoral Norte. A Teia foi formada em 2005, a partir de um curso organizado pelo Centro Ecológico sobre a realidade socioambiental da região. De dois em dois anos a escola organiza a Semana da Conscientização Ambiental (SCA), quando todos os estudantes, desde o pré-escolar até o 9º, apresentam instalações, vídeos, exposições, maquetes, jogos e outras estruturas para ensinar os adultos como se cuida do meio ambiente. Mesmo com a proverbial dificuldade de aprendizagem dos adultos, as crianças e jovens conseguem bons resultados. De acordo com depoimentos de mães, muitos hábitos em casa mudaram depois das intervenções dos alunos. A construção social de mercados 8