Ementa aula 06 de junho de 2014. 07 de junho de 2014. ACADEMIA BRASILEIRA DE DIREITO CONSTITUCIONAL PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CONSTITUCIONAL Professor: Paulo Ricardo Schier Graduação em Bacharelado em Direito pela UFPR; Mestre em Direito pela UFPR; Doutor em Direito pela UFPR. Tema: Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. EMENTA 1.1) Importância e formação histórica. Constitucionalismo e neoconstitucionalismo. 1.2) Questão terminológica, gerações ou dimensões e características. Modelo estrutural. 2.1) Direitos fundamentais como núcleo essencial e conceitos formais e material dos Direitos Fundamentais. Desdobramentos do conceito de Direitos Fundamentais. O bloco de constitucionalidade. Abertura e flexibilidade dos Direitos fundamentais. 2.2) Dimensões objetiva e subjetiva dos Direitos Fundamentais. A teoria dos limites e os limites imanentes. Regime da restrição dos Direitos Fundamentais. 3.1) Colisão de Direitos Fundamentais: pressupostos da discussão (princípios, regras e abordagem sistêmica). 3.2) Colisão de Direitos Fundamentais. A metodologia de resolução. Eficácia horizontal dos Direitos Fundamentais. 4.1) Aplicabilidade imediata dos Direitos fundamentais e hetero-vinculatividade subjetiva no plano dos direitos individuais e sociais. 4.2) Direitos fundamentais e cláusulas pétreas. Análise de casos. PROGRAMA 1.1. FORMAÇÃO HISTÓRICA. CONSTITUCIONALISMO E NEOCONSTITUCIONALISMO A. Formação histórica - Antiguidade - Idade Média - Formação do Estado Moderno Absolutista - Revoluções burguesas, Direito Moderno e Direitos Fundamentais e Estado de Direito. - O ethos e o telos da Constituição B. Importância dos direitos fundamentais. - Marcam momento de inauguração, no Direito, do antropocentrismo. - Permitem rompimento com o Estado Absolutista. - Proporcionam o surgimento do Estado de Direito. - Criam condições jurídicas para o capitalismo liberal. - Fazem girar em torno de si a regulação, organização e racionalização do poder político. - A radicalidade fundante dos direitos fundamentais.
- A virada do Estado ao Homem. - Os direitos fundamentais como núcleo do sistema: a linha que costura o caos. - A Constitucionalização do direito infraconstitucional. C. Constitucionalismo e neoconstitucionalismo. - Existe efetivamente alguma distinção? - A mudança de objeto - A mudança do método - A mudança da teoria - O deslocamento para a teoria da argumentação - As conseqüências do neoconstitucionalismo e a idéia de constitucionalização como problema 1.2. QUESTÃO TERMINOLÓGICA, DIMENSÕES E CARACTERÍSTICAS A. Questão terminológica - Direitos Naturais - Direitos Humanos - Direitos Fundamentais B. Dimensões e gerações dos Direitos Fundamentais - A classificação pelas gerações - A idéia das dimensões - A primeira dimensão - A segunda dimensão - A terceira dimensão - Quarta dimensão? - Law in making e dinâmica das dimensões C. Deslocamento para a teoria estrutural e Características - A superação pela teoria estrutural e uma nova leitura a ser proposta - As características apontadas pela doutrina - As críticas 2.1. NÚCLEO ESSENCIAL E CONCEITO A. Direitos fundamentais como núcleo essencial do sistema constitucional. - O plano da dogmática constitucional e o regime jurídico. - DF como fundamento da RFB. - A situação topográfica. - A inviolabilidade do caput do art. 5º, a CF 88. - Cláusulas constitucionais sensíveis. - O art. 60, 4º, IV, da CF 88 cláusulas pétreas. - Se são intangíveis pelo poder reformador, mais ainda o são mediante normatividade infraconstitucional (o que não significa, como será estudado, que não possam sofrer restrições). - Aplicabilidade imediata. - Mecanismos constitucionais específicos de defesa dos direitos fundamentais: habeas corpus, habeas data, mandado de injunção, etc.
- Abertura e flexibilidade. - Regime de restrição. B. Conceitos formais e material. - Critério topográfico e extensão. - Critério da proteção especial e extensão. - Critério material e problematização 2.2. DESDOBRAMENTOS DOS CONCEITOS - Critério material: dignidade da pessoa humana, outros princípios fundamentais e graus de vinculação. A tríade antropológica. A. A classificação de Ingo Sarlet - Direitos do catálogo - Direitos fora do catálogo B. O bloco de constitucionalidade e a questão da extensão material e formal dos direitos fundamentais - Noção de bloco de constitucionalidade - Desdobramentos quanto à extensão dos Direitos Fundamentais C. Abertura dos direitos fundamentais e a idéia de sistema de regras e princípios - A abertura do sistema pelos princípios. O registro de aprendizagem e a mutação constitucional nos direitos fundamentais. - A questão da abertura pelo 2º, do art. 5º, da CF 88. - A extensão do 2º, do art. 5º, da CF 88. - A não taxatividade dos direitos expressos. - O bloco de constitucionalidade. - O problema do 3º. Proposta de interpretação - O regime jurídico-constitucional dos tratados internacionais de direitos humanos 3.1. DIMENSÕES OBJETIVAS E SUBJETIVAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. TEORIA DOS LIMITES E OS LIMITES IMANENTES A. Dimensão subjetiva dos Direitos fundamentais e teoria estrutural. B. Dimensões objetivas. C. Multifuncionalidade dos Direitos Fundamentais. D. O quadro dos limites em Alexy. E. A teoria dos limites imanentes e suas conseqüências. F. A restrição como espécie de limitação global. G. A multifuncionalidade da lei perante os direitos fundamentais e a crítica às teorias liberais. H. O regime jurídico da restrição de Direitos Fundamentais. - Pressupostos formais: tipicidade, reserva de lei, generalidade e abstratalidade da restrição e vedação de cláusula geral de restrição. - Pressupostos materiais: justificativa, preservação do núcleo essencial e proporcionalidade.
3.2. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: PRESSUPOSTOS TEÓRICOS A. A abordagem sistemática da Constituição e o princípio da unidade hierárquiconormativa da Constituição. B. Regras e princípios constitucionais: distinção e funcionalidade 4.1. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS: METODOLOGIA DE RESOLUÇÃO E EFICÁCIA HORIZONTAL A. Colisão de direitos fundamentais - Um direito fundamental pode estar em conflito com outros direitos ou com bens constitucionalmente protegidos. O fenômeno da colisão ou conflito de direitos fundamentais verifica-se quando o seu exercício colide (i) com o exercício do mesmo ou de outro direito fundamental por parte de outro titular (conflito de direitos em sentido estrito) ou (ii) com a defesa e proteção de bens da coletividade e do Estado constitucionalmente protegidos (conflito entre direitos e outros bens constitucionais). - A solução do conflito de direitos articula-se, por um lado, com a delimitação do âmbito normativo de cada direito (pressupostos objetivos e subjetivos da existência de um direito e extensão da sua cobertura constitucional) e, por outro lado, com a reserva de lei restritiva. - Daí a necessidade da distinção de vários planos ou instâncias: em primeiro lugar, há que determinar o âmbito normativo dos direitos, a fim de se verificar se existe ou não um verdadeiro conflito, pois pode acontecer que esta primeira etapa sirva logo para excluir hipóteses de conflitos, sendo estes apenas aparentes (ex.: não há conflito entre a liberdade de expressão e o direito ao bom nome em caso de difamação); em segundo lugar, uma vez verificada a existência de um conflito autêntico, é preciso verificar se existe uma reserva de lei restritiva expressamente prevista na Constituição para algum dos direitos colidentes, pois neste caso a lei pode resolver o conflito de direitos através da restrição ou ingerência no respectivo âmbito normativo. - As soluções concretas e os instrumentos metódicos a utilizar dependem essencialmente da natureza dos direitos e bens em conflito. B. Eficácia horizontal - Ausência de menção expressa na CF 88 (na portuguesa o DrittwirkungGrundrecht é expresso). - Compatibilidade da eficácia horizontal em vista do regime jurídico dos direitos fundamentais. - Ponto de partida: casos concretos. - Premissas: (i) superação da divisão Estado-sociedade civil e (ii) superação da tese liberal dos direitos fundamentais (direitos de defesa somente contra o Estado). Necessidade de compreensão da Constituição como ordem jurídica vinculante do Estado, da sociedade e do indivíduo. - Compreensão da eficácia horizontal: (i) direta, sem mediação legislativa e (ii) indireta, com mediação legislativa pela vinculação do legislador. - Canotilho analisa cinco hipóteses de eficácia horizontal: (i) Situações em que a própria Constituição prevê a eficácia horizontal (art. 5º, III, V, XX...). (ii) Situações mediadas pelo legislador (VII, XIII, XXXII...).
(iii) Situações mediadas pelo juiz através de interpretação conforme do direito privado diante da Constituição. (iv) Situações de eficácia horizontal entre poderes privados e poderes sociais (particular diante do sindicato). (v) Situações do núcleo irredutível da autonomia privada. Canotilho diz que aqui não incide eficácia horizontal (pai que doa parte disponível a um dos filhos, a questão das obrigações solidárias, a questão do inquilino despejado...). - O debate: o campo da autonomia privada, de matriz constitucional, comporta um núcleo de injustiça? - Conclusões. 4.2. APLICABILIDADE IMEDIATA E HETERO-VINCULATIVIDADE SUBJETIVA. DIREITOS FUNDAMENTAIS E CLÁUSULAS PÉTREAS A. Aplicabilidade imediata dos Df na CF 88: as diversas abordagens. B. Hetero-vinculatividade subjetiva C. Direitos fundamentais e cláusulas pétreas - O papel das cláusulas pétreas. - Compreensão do art. 60, 4º, caput. Significado do "tendente a abolir", a interpretação de Manoel Gonçalves Ferreira Filho e a questão da fraude à Constituição. - A compreensão da locução "direitos e garantias individuais" do inciso IV. A interpretação sistemática com art. 1º e o sistema dos direitos fundamentais. Os direitos coletivos, sociais, políticos, etc., como dimensões do indivíduo (SARLET). - O STF (ADIn 939-7/DF, contra emenda constitucional n.º 3) considerou cláusula pétrea a garantia constitucional assegurada ao cidadão no art. 150, III, "b", da CF 88 (princípio da anterioridade tributária). Portanto, o rol do art. 5º (direitos e garantias individuais), segundo o Min. Marco Aurélio, não é exaustivo. O Min. Carlos Velloso afirmou, no seu voto, que a limitação do art. 60, 4º, IV, engloba os direitos e garantias individuais e coletivos, sociais, direitos atinentes à nacionalidade e direitos políticos. Portanto, tais direitos são determinados por uma natureza própria, e não por qualquer critério topográfico. OBJETIVO E METODOLOGIA 1 Oferecer ao pós-graduando noções teóricas indispensáveis à compreensão dos aspectos mais relevantes do Direito Constitucional. 2 Exposições teóricas pelo Professor sobre temas estratégicos para o desenvolvimento do curso. AVALIAÇÃO Prova escrita e individual, ao final do Módulo. BIBLIOGRAFIA SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 11. ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2012;
MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2007; CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7. ed., Coimbra: Almedina, 2003. MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 8. ed., São Paulo: Saraiva, 2007. p. 221-348.