ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR MEIO DA ABORDAGEM CTS: UM CAMINHO VIÁVEL À FORMAÇÃO DOS CIDADÃOS

Documentos relacionados
ENSINO MÉDIO INOVADOR: AS EXPERIÊNCIAS NA COMPREENSÃO DA BIOLOGIA

POR QUE E PARA QUÊ ENSINAR CIÊNCIAS PARA CRIANÇAS

Por que e para quê ensinar ciências para crianças

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

Gilmara Teixeira Costa Professora da Educação Básica- Barra de São Miguel/PB )

NÚCLEO TEMÁTICO I CONCEPÇÃO E METODOLOGIA DE ESTUDOS EM EaD

O ENSINO DE BIOLOGIA E AS RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE: O QUE PENSAM OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

Eixo Temático 3-Currículo, Ensino, Aprendizagem e Avaliação

REFLETINDO UM POUCO MAIS SOBRE OS PCN E A FÍSICA

PROJETO DE EXTENSÃO ALFABETIZAÇÃO EM FOCO NO PERCURSO FORMATIVO DE ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA

DIFICULDADES RELATADAS POR ALUNOS DO ENSINO MÉDIO NO PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA: ESTUDO DE CASO DE ESCOLAS ESTADUAIS EM GRAJAÚ, MARANHÃO 1

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ENSINO DE QUÍMICA E SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA. (*) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará.

Resolução CEB nº 3, de 26 de junho de Apresentado por: Luciane Pinto, Paulo Henrique Silva e Vanessa Ferreira Backes.

OBJETIVOS DO CURSO DE ENFERMAGEM

ASPECTOS DAS RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NO ENSINO DAS CIÊNCIAS NATURAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

No entanto, não podemos esquecer que estes são espaços pedagógicos, onde o processo de ensino e aprendizagem é desenvolvido de uma forma mais lúdica,

CURSO: PEDAGOGIA EMENTAS º PERÍODO

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Conteúdos e Metodologia de Língua Portuguesa. Carga Horária Semestral: 80 Semestre do Curso: 6º

Aula 5 OFÍCINA TEMÁTICA NO ENSINO DE QUÍMICA

Didática e Formação de Professores: provocações. Bernardete A. Gatti Fundação Carlos Chagas

O processo de ensino e aprendizagem em Ciências no Ensino Fundamental. Aula 2

ETNOMATEMÁTICA E LETRAMENTO: UM OLHAR SOBRE O CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM UMA FEIRA LIVRE

Aluno(a): / / Cidade Polo: CPF: Curso: ATIVIDADE AVALIATIVA ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA

A coleção Português Linguagens e os gêneros discursivos nas propostas de produção textual

UMA AVALIAÇÃO FUNDAMENTADA DO LIVRO-DIDÁTICO: CIÊNCIAS NATURAIS: APRENDENDO COM COTIDIANO DO EDUARDO LEITE DO CANTO

Educar para a Cidadania Contributo da Geografia Escolar

EDUCAÇÃO INFANTIL: UM CAMPO A INVESTIGAR. Leila Nogueira Teixeira, Msc. Ensino de Ciências na Amazônia Especialista em Educação Infantil

Contribuições dos Mestrados Profissionais em ensino para a formação de professores em Física

Água em Foco Introdução

Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto Enf. Psiquiátrica e Ciências Humanas. Profa. Karina de M. Conte

A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA PAISAGEM NO ENSINO DA GEOGRAFIA

OBSERVAÇÃO DOS EFEITOS DO JOGO BATALHA NAVAL CIRCULAR NO ESTUDO DO CÍRCULO TRIGONOMÉTRICO

MATEMÁTICA ATRAENTE: A APLICAÇÃO DE JOGOS COMO INSTRUMENTO DO PIBID NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA

Educação Ambiental e Alfabetização Científica como instrumentos para. Dr. Anderson Lopes Peçanha DBIO / CCA / UFES

SEDUC SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO ESCOLA ESTADUAL DOMINGOS BRIANTE ELIANE CALHEIROS

O DESPERTAR PARA UM TRÂNSITO MAIS SEGURO

Didática das Ciências Naturais

SALAS DE APOIO À APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA DE 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: CONTRIBUIÇÕES PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

CONSELHO DE CLASSE: O ANO TODO E AGORA EM ESPECIAL NO FINAL DO ANO LETIVO

MATEMÁTICA, AGROPECUÁRIA E SUAS MÚLTIPLAS APLICAÇÕES. Palavras-chave: Matemática; Agropecuária; Interdisciplinaridade; Caderno Temático.

PROGRAMA CURRICULAR - ENSINO MÉDIO

RELATÓRIO DO SEMINÁRIO ESTADUAL SOBRE A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

NOVIDADE SM. para o Ensino Fundamental I. SM, a melhor. Um guia completo para você, educador, entender as coleções integradas e disciplinares.

LABORATÓRIO PROBLEMATIZADOR COMO FERRAMENTA PARA O ENSINO DE FÍSICA: DA ONÇA AO QUILOGRAMA

A DISCIPLINA DE DIDÁTICA NO CURSO DE PEDAGOGIA: SEU PAPEL NA FORMAÇÃO DOCENTE INICIAL

10 Ensinar e aprender Sociologia no ensino médio

REGULAMENTO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO. Licenciatura EM educação básica intercultural TÍTULO I DA CARACTERIZAÇÃO

O PLANEJAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE: PLANO DE ENSINO E ORGANIZAÇÃO DA AULA

A FORMAÇÃO TECNOLÓGICA DO PROFESSOR

Projeto Educação na Interdisciplinaridade. Sustentabilidade na Escola. Oficina de Garagem

EDUCAÇÃO AMBIENTAL ESCOLAR: AS CONTRIBUIÇÕES DE MARCOS REIGOTA ROBERTA DALL AGNESE DA COSTA PAULO TADEU CAMPOS LOPES

Didática Aplicada ao Ensino de Ciências e Biologia

CONTRIBUIÇÕES DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NA SUPERAÇÃO DAS DIFICULDADES DOS ALUNOS COM A MATEMÁTICA

A UTILIZAÇÃO DA PLATAFORMA MOODLE NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

Unidades de Aprendizagem: refletindo sobre experimentação em sala de aula no ensino de Química

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 2ª versão A ÁREA DE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMENTAL

Introdução

PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos jovens.

O Ensino de Ciências: história e tendências

Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio

A ORALIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL: REFLEXÕES SOBRE O USO DOS GÊNEROS ORAIS NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

AS COMPETÊNCIAS DOS PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS VISANDO À ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

O PIBID E OS JOGOS LÚDICOS COMO METODOLOGIA ALTERNATIVA DO ENSINO-APRENDIZAGEM DA QUÍMICA NO NÍVEL MÉDIO: JOGO DAS TRÊS PISTAS

FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS EM ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio. Habilitação Profissional: Técnico em informática para Internet Integrado ao Ensino Médio

PLANO DE ENSINO DADOS DO COMPONENTE CURRICULAR

Aula 5 OFICINAS TEMÁTICAS NO ENSINO MÉDIO. Rafael de Jesus Santana Danilo Almeida Rodrigues

Palavras-chave: Ensino de Química; Contextualização; Laboratório de Química; Conceitos Científicos; Experimentação. 1. INTRODUÇÃO

CONTEÚDO ESPECÍFICO DA PROVA DA ÁREA DE LETRAS GERAL PORTARIA Nº 258, DE 2 DE JUNHO DE 2014

BNC - Ciências da Natureza - Anexo 5

APRENDER E ENSINAR CIÊNCIAS NATURAIS NO ENSINO FUNDAMENTAL Apresentação do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) de Ciências Naturais

Colégio Valsassina. Modelo pedagógico do jardim de infância

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem. (Mário Quintana).

1º Ciclo. Competências Gerais do Ensino Básico

Tecnologia Assistiva: uma análise das percepções dos professores sobre o uso desse recurso na promoção da inclusão educacional

GUIA DE ORIENTAÇÃO AO PROFESSOR

Professor(a): Ana Maria Siqueira Silva

CURSO: LICENCIATURA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS 2º PERÍODO

A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO E DA INFORMAÇÃO NA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL DE ESTUDANTES EM PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO

PLANEJAMENTO DAS AÇÕES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE

Fundamentos Pedagógicos e Estrutura Geral da BNCC. BNCC: Versão 3 Brasília, 26/01/2017

USO DE ATIVIDADES INVESTIGATIVAS NAS AULAS DE FÍSICA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA PARA O ESTUDO DA GRAVITAÇÃO

SÍNTESE PROJETO PEDAGÓGICO. Missão

Palavras-chaves: Hospital. Atendimento Escolar. Formação.

O ENSINO NA CONSTRUÇÃO DE COMPETÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES: IMPORTÂNCIA DA EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA

CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA MODALIDADE DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA MANUAL DE AT ATIVIDADES TRANSVERSAL

V Jornada das Licenciaturas da USP/IX Semana da Licenciatura em Ciências Exatas - SeLic: A

SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS NOS ANOS INICIAIS: SUBSÍDIOS TEÓRICO-PRÁTICOS PARA A INICIAÇÃO À ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA

A compreensão dos professores sobre a Alfabetização Científica: perspectivas e realidade para o Ensino de Ciências

A IMPORTÂNCIA DA CARTOGRAFIA ESCOLAR PARA ALUNOS COM DEFICIENCIA VISUAL: o papel da Cartografia Tátil

Jardim de Infância Professor António José Ganhão

ARTE EDUCAÇÃO E ARTETERAPIA NO AMBIENTE ESCOLAR MÓDULO I: OFICINA DE TEATRO

UM ESTUDO SOBRE AS FORMAS GEOMÉTRICAS EM NOSSO COTIDIANO. Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais

Um mundo fantástico de experiências através dos Cientistas mais queridos do Brasil, que vivem aventuras incríveis ao lado de grandes Mestres como

PRÁTICA DE ESCRITA NO ENSINO FUNDAMENTAL I E FORMAÇÃO DO PROFESSOR: DA TEORIA À PRÁTICA PEDAGÓGICA

Vamos brincar de construir as nossas e outras histórias

BERÇARISTA. CURSO 180h: CURSO 260h:

Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA POR MEIO DA ABORDAGEM CTS: UM CAMINHO VIÁVEL À FORMAÇÃO DOS CIDADÃOS Juliana Pinto Viecheneski cajuzinhasp@gmail.com Rosemari Monteiro Castilho Foggiatto Silveira - castilho@utfpr.edu.br Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR Av. Monteiro Lobato, s/n Km 04 Ponta Grossa PR Resumo: O objetivo deste trabalho é contribuir com reflexões acerca da alfabetização científica, por meio da abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), como um caminho viável à formação dos cidadãos. Fundamentados em autores como Sasseron e Carvalho (2008), Santos (2007), Leal e Gouvêa (2002), Chassot (2000 e 2003), Auler e Delizoicov (2001), destaca-se que para alfabetizar cientificamente os sujeitos é necessário concretizar o ensino de ciências, a partir de abordagens interdisciplinares, que contemplem as interrelações entre a ciência, tecnologia e a sociedade. Ressalta-se que esse trabalho precisa ser realizado desde os anos iniciais do Ensino Fundamental e que a abordagem CTS configura-se como uma postura epistemológica que pode ser adotada pelos professores já nas séries iniciais, trazendo à sala de aula questionamentos e estudos sobre as interações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, evidenciando os benefícios e prejuízos que a produção científico-tecnológica pode trazer para a população e o planeta como um todo. Palavras-chave: Alfabetização científica, Abordagem CTS, Anos iniciais do ensino fundamental. 1 INTRODUÇÃO Os avanços científicos e tecnológicos fazem parte do cotidiano da população e a produção e o uso da ciência e da tecnologia na sociedade tanto pode trazer melhorias para as condições de vida das pessoas, quanto pode trazer implicações e consequências negativas. Desse modo, democratizar o acesso ao conhecimento científico tornou-se fundamental para que os sujeitos possam compreender melhor o mundo que os rodeia e intervir de modo responsável. Nesse contexto, o desafio que se coloca à educação é a formação de cidadãos científica e tecnologicamente alfabetizados, com discernimento para entender, julgar, posicionar-se e

tomar decisões acerca de questões científico-tecnológicas que se fazem presentes no cotidiano (CHASSOT, 2003; AULER & DELIZOICOV, 2001). Responder tal desafio requer ações transformadoras no ambiente escolar, que passam pelo resgate da função social da educação em ciências. A inclusão de novos conteúdos, bem como a ampliação de carga horária em ciências ou implantação de laboratórios sofisticados não basta. É preciso mudança de postura e de objetivos pedagógicos em sala de aula (SANTOS, 2007). Para alfabetizar cientificamente os sujeitos é necessário concretizar o ensino de ciências a partir de abordagens metodológicas contextualizadas e interdisciplinares, que possibilitem aos alunos a compreensão da ciência, tecnologia e suas interrelações com a sociedade. Esse trabalho implica a discussão de valores que venham por em xeque os modelos de desenvolvimento científico e tecnológico, bem como as ideologias subjacentes à produção científico-tecnológica atual (SANTOS, 2007; CHASSOT, 2003; AULER & DELIZOICOV, 2001). Nesse sentido, emerge a necessidade de tecer reflexões sobre o ensino de ciências e o processo de alfabetização científica, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. O objetivo deste trabalho é justamente contribuir com reflexões acerca da alfabetização científica, por meio da abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) como um caminho viável à formação dos cidadãos que hoje vivem em contextos sociais marcados pela presença da ciência e da tecnologia. 2 ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA De acordo com Chassot (2003) a alfabetização científica é o conjunto de conhecimentos que auxiliam os sujeitos a compreenderem o mundo em que se encontram inseridos. Para o autor, é necessário que os indivíduos não somente tenham facilitada leitura do mundo em que vivem, mas compreendam a necessidade de transformá-lo positivamente. Segundo Shen 1, (1975, p. 225, apud LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, p. 3) a alfabetização científica pode abranger muitas coisas, desde como preparar uma refeição nutritiva, até saber apreciar as leis da física. De acordo com esse autor é preciso popularizar e desmistificar o conhecimento científico, para que as pessoas saibam como usá-los no dia a dia. A mídia, e de modo especial, a escola, pode contribuir para a população adquirir uma melhor compreensão da ciência. Ao definir alfabetização científica, Shen (1975, apud LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001), indica três noções diferentes, com variações em termos dos objetivos, conteúdos, formas, público-alvo e meios de disseminação. A alfabetização científica prática habilita os sujeitos a enfrentarem e solucionarem os problemas básicos do cotidiano. Essa alfabetização deve propiciar um tipo de conhecimento científico e técnico que pode ser posto em uso imediatamente, para ajudar a melhorar os padrões de vida. (SHEN, 1975, p. 265, apud LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, p. 4). Lorenzetti e Delizoicov (2001) destacam que essa noção de alfabetização científica está vinculada às necessidades básicas do homem, como alimentação, saúde e habitação e que essa alfabetização deveria estar acessível a todos. Nesse contexto, o ensino de ciências poderia contribuir independentemente de o aluno dominar ou não, a leitura e a escrita. Segundo os autores, a alfabetização científica poderia ser entendida de forma mais ampla, abordando temáticas [...] como agricultura, indústria, alimentação e, principalmente, sobre a melhoria 1 SHEN, B. S. P. Science Literacy. In: American Scientist, v. 63, p. 265-268, may.-jun. 1975.

das condições de vida do ser humano, ao mesmo tempo em que auxiliaria na apropriação do código escrito. (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, p. 4). A alfabetização científica cívica refere-se à formação de um indivíduo [...] mais atento para a Ciência e seus problemas, de modo que ele e seus representantes possam tomar decisões mais bem informadas. (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, p. 4) Já a alfabetização científica cultural é destinada a um público menor que tem interesse em obter conhecimentos científicos de modo mais aprofundado. A alfabetização científica cultural é motivada por um desejo de saber algo sobre ciência, como uma realização humana fundamental; ela é para a ciência, o que a apreciação da música é para o músico. Ela não resolve nenhum problema prático diretamente, mas ajuda abrir caminhos para a ampliação entre as culturas científicas e humanísticas. (SHEN, 1975, p. 267, apud LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001, p. 5). Lorenzetti e Delizoicov (2001) argumentam que deveria ser propiciado maior acesso da população à alfabetização científica cultural. De acordo com os autores existe atualmente uma variedade de revistas e jornais que buscam divulgar os conhecimentos científicos. É necessário, então, que esses materiais se façam presentes nos espaços educativos e que os professores os utilizem criticamente, como material pedagógico. Sasseron e Carvalho (2008, p.335) identificaram três pontos principais considerados quando se pensa em promover a alfabetização científica. Esses pontos têm sido chamados de Eixos estruturantes da Alfabetização científica. O primeiro eixo estruturante se reporta à compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos científicos fundamentais. São importantes porque a sociedade atual requer sujeitos que saibam utilizar os conceitos científicos para entender informações e situações cotidianas. O segundo eixo refere-se à compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática. Conforme as autoras, ao entender o modo como as pesquisas científicas são realizadas, há possibilidade de obter subsídios para a reflexão acerca dos problemas cotidianos que envolvam a ciência. O terceiro eixo volta-se para o entendimento das relações existentes entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. Considera-se que a vida da população na sociedade atual, é influenciada de algum modo pela ciência e tecnologia. Dessa maneira, se torna essencial trabalhar esses aspectos quando se pretende a construção de uma sociedade ambientalmente sustentável. No mesmo sentido, Krasilchik e Marandino (2007) argumentam que, tendo em vista que a ciência e a tecnologia fazem parte do cotidiano da população, sem dúvida, é necessário ampliar os conhecimentos que os indivíduos possuem, como uma forma de contribuir para que não somente acumulem informações, mas saibam utilizá-las para se posicionar e tomar decisões responsáveis na sociedade em que vivem. Segundo as autoras, há certo consenso entre pesquisadores e educadores sobre a necessidade de alfabetizar cientificamente os sujeitos e, nesse processo, a escola possui um papel muito importante no sentido de instrumentalizar os estudantes com os conhecimentos científicos. Nessa perspectiva, Chassot (2000, p. 47-48), afirma que: Quando se fazem propostas para uma alfabetização científica se pensa imediatamente nos currículos de ciências. Estes, cada vez mais, em diferentes países têm buscado uma abordagem interdisciplinar na qual a ciência é estudada de maneira inter-relacionada com a tecnologia e a sociedade. Tais currículos têm sido denominados de C-T-S Ciência, Tecnologia e Sociedade.

Chassot (2003) defende que há necessidade de se buscar um ensino de ciências a partir de uma visão holística, ou seja, um ensino de ciências que aborde os aspectos históricos, sociais, ambientais, políticos, econômicos, éticos. É necessário um ensino a partir de uma abordagem interdisciplinar, que integre as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. Leal e Gouvêa (2002) também argumentam que a alfabetização científica se encontra diretamente vinculada ao ensino de ciências com base no enfoque ciência, tecnologia e sociedade CTS. Desse modo, pode-se afirmar, com base nos autores supracitados, que para alfabetizar cientificamente os sujeitos, faz-se necessário efetivar um ensino de ciências a partir de uma abordagem interdisciplinar, que contemple as interações entre ciência, tecnologia e sociedade. Segundo Chassot (2003) pode-se dizer que se fará alfabetização científica quando a escola, em todos os níveis de ensino, cumprir seu papel de instrumentalizar os indivíduos para que saibam utilizar os conhecimentos científicos adquiridos para resolver problemas do dia a dia e tomar decisões (individuais e coletivas) responsáveis, percebendo que a produção e o uso da ciência tanto podem contribuir para a melhoria das condições de vida da população, quanto podem trazer implicações e consequências negativas para o ser humano e o seu meio. Para Auler e Delizoicov (2001), a alfabetização científico-tecnológica (ACT) pode ser entendida segundo duas perspectivas: reducionista e ampliada. Na perspectiva reducionista, a ACT é reduzida ao ensino de conceitos, desconsiderandose a existência de mitos relacionados à ciência e tecnologia. Essa perspectiva desconsidera que a produção de conhecimento é uma construção social que se concretiza a partir de interesses econômicos, políticos e sociais de determinados grupos, e que, portanto, não há neutralidade na ciência e na tecnologia. Dessa concepção de neutralidade da ciência e da tecnologia (chamada de mito original, na análise dos autores), derivam-se outros mitos como: superioridade do modelo de decisões tecnocráticas, perspectiva salvacionista da Ciência-Tecnologia e determinismo tecnológico. No que se refere ao mito da superioridade do modelo de decisões tecnocráticas, os autores afirmam que as decisões sobre os problemas relacionados à tecnologia e que são de interesse da população como um todo, são transferidas a especialistas ou cientistas. Praticamente não há lugar para democracia. Na perspectiva salvacionista da Ciência-Tecnologia, considera-se que essas são fatores essenciais para a melhoria das condições humanas e ambientais. Acredita-se que a partir do avanço científico e tecnológico, se obtém o progresso social e são encontradas soluções para os problemas da humanidade. Quanto ao determinismo tecnológico, destaca-se na análise de Sanmartín 2 (1991, apud AULER & DELIZOICOV, 2001), que se configurou no âmbito da superteoria do progresso, e considera que quanto mais avanços tecnológicos acontecerem melhor será a sociedade e o homem, e toda inovação tecnológica é positiva, benéfica. Assim, o avanço científico e tecnológico conduz de forma linear à construção de um mundo melhor. Segundo Auler e Delizoicov (2001) desconsiderar a existência desses mitos contribui para uma visão ingênua da realidade. Na perspectiva reducionista, os conteúdos têm um fim em si mesmo. Por outro lado, na perspectiva ampliada, os conteúdos atuam como [...] meios para a compreensão de temas socialmente relevantes (AULER & DELIZOICOV, 2001, p.6). Na abordagem ampliada, o ensino de conceitos se encontra vinculado à problematização dos mitos acima descritos, contribuindo para uma percepção crítica da realidade, por meio da compreensão entre as interações ciência-tecnologia-sociedade. 2 SANMARTÍN, J. Tecnología e futuro humano. Barcelona: Anthropos, 1990.

De acordo com Auler e Delizoicov (2001) superar a visão ingênua e fatalista da realidade exige uma compreensão dos processos de interação entre CTS. A partir da perspectiva problematizadora e dialógica de Freire é possível organizar um trabalho pedagógico que associe o ensino dos conceitos científicos ao desvelamento dos mitos, contribuindo para uma compreensão ampliada e crítica do mundo, fornecendo os subsídios necessários para uma participação autêntica, consciente e responsável no meio social. Segundo os autores supracitados, para promover uma alfabetização científica é necessário efetivar no ambiente escolar um ensino que busque a compreensão das interações entre ciência, tecnologia e sociedade, a partir de uma concepção ampliada, que desvela e problematiza os discursos ideológicos relacionados à ciência e tecnologia. Para tanto, é preciso superar o ensino superficial e descontextualizado e colocar em prática uma ação pedagógica que mobilize e propicie a construção de conhecimentos, mediante a problematização e estudo de temáticas locais significativas, com a participação ativa do aluno. 3 ALBETIZAÇÃO CIENTÍFICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL No que se refere ao Ensino Fundamental, espera-se que o ensino de ciências, desde os primeiros anos de escolarização, propicie ao aluno oportunidades de envolver-se em situações investigativas e desenvolver capacidades de observação, interpretação, reflexão, comunicação, decisão - essenciais para o exercício da cidadania. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de ciências no Ensino Fundamental (PCN s), Numa sociedade em que se convive com a supervalorização do conhecimento científico e com a crescente intervenção da tecnologia no dia-a-dia, não é possível pensar na formação de um cidadão crítico à margem do saber científico (BRASIL, 1997, p.21). Nesse sentido, o ensino de ciências desde os anos iniciais, torna-se fundamental para a formação dos cidadãos. O ensino de ciências pode contribuir para que os sujeitos tenham uma melhor compreensão do mundo e das transformações que nele ocorre diariamente, em função da ação humana. Os conhecimentos dessa área podem auxiliar no entendimento acerca dos fenômenos da natureza, bem como podem ajudar o homem a compreender e questionar os diversos modos de intervenção e utilização dos recursos naturais do seu meio, compreendendo que essas intervenções trazem sempre consequências tanto para as relações sociais quanto para o meio ambiente (BRASIL, 1997). Segundo os PCN s, o ensino de ciências precisa ser realizado a partir de uma perspectiva interdisciplinar. O professor assume o papel de mediador, elaborando estratégias de aprendizagem que possibilitem aos alunos ampliação e compreensão dos conhecimentos científicos, articulando-os com o contexto social mais amplo. Esses documentos propõem que os conteúdos de ciências sejam trabalhados por meio da problematização de temas relevantes que contemplem a ciência e a tecnologia, sem deixar de abranger as relações entre estas e os aspectos históricos, sociais e econômicos. Desse modo, pode-se dizer que as orientações dos PCN s, apontam para a formação de sujeitos cientificamente alfabetizados já nos primeiros anos do Ensino Fundamental e apresentam aproximações e convergências com o enfoque CTS. Para Lorenzetti e Delizoicov (2001, p.8-9), a alfabetização científica nos anos iniciais, é entendida [...] como o processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquire significados, constituindo-se um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de conhecimento, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade.

Nesse contexto, o processo de alfabetização científica pode ser iniciado desde a infância, mesmo antes da aquisição da leitura e escrita, contribuindo para a inserção do aluno à cultura científica, por meio de uma prática pedagógica interdisciplinar e contextualizada (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001). Uma escola descontextualizada da realidade social, não é capaz de promover a alfabetização científica dos alunos. Sendo assim, é necessário que o professor elabore estratégias que possibilitem aos educandos a compreensão e aplicação dos conhecimentos no cotidiano, como por exemplo, saber analisar de modo crítico as informações que são veiculadas pela TV, pelos jornais, livros e revistas, saber interpretar gráficos, analisar discursos publicitários, desmistificando-os, compreender assuntos como alimentação e saúde, habitação, entre outros, para se posicionar e saber tomar decisões responsáveis em sua vida. (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001). Dentre as atividades que podem ser realizadas nas séries iniciais, os autores elencam as seguintes: uso da literatura infantil de maneira sistematizada, música, teatro e vídeos, textos e outras atividades da revista Ciência hoje das Crianças, aliadas a aulas práticas. Realização de visitas a museus, zoológicos, estação de tratamento de águas, participação em feiras de ciências, uso do computador e da internet. A utilização de livros de literatura infantil pode ser uma das maneiras de propiciar a alfabetização e a alfabetização científica. Além disso, quando os professores têm a prática de ler textos com qualidade para os alunos, podem ajudar na exploração das características dos conceitos como espaço, tempo, matéria viva e não viva (LORENZETTI & DELIZOICOV, 2001). De acordo com Rosa et al. (2007, p. 362) é necessário compreender que o ensino de ciências para crianças, especialmente no que se refere ao ensino de conceitos de física, assume características diferenciadas do ensino ministrado a jovens ou adultos. Segundo os autores: Ao ensinar ciências às crianças, não devemos nos preocupar com a precisão e a sistematização do conhecimento em níveis da rigorosidade do mundo científico, já que essas crianças evoluirão de modo a reconstruir seus conceitos e significados sobre os fenômenos estudados. O fundamental no processo é a criança estar em contato com a ciência, não remetendo essa tarefa a níveis escolares mais adiantados. Conforme os autores, o importante é que a criança tenha oportunidades de envolver-se em situações investigativas, de estabelecer contato com as manifestações dos fenômenos naturais, de experimentar, testar hipóteses, questionar, expor suas ideias e confrontá-las com as de outros. Nessa perspectiva, o papel do professor é propiciar um espaço favorável à descoberta, à investigação científica. Na mesma ideia, Lima e Maués (2006, p. 170) destacam que o trabalho docente nas séries iniciais não se reduz ao ensino de conceitos. Os autores entendem que mesmo os professores que não possuem um domínio aprofundado dos conceitos científicos, são capazes de contribuir para o processo de formação de conceitos dos alunos, pois, [...] O papel que a professora exerce no desenvolvimento da criança é justamente o de forçar a ascendência dos conceitos cotidianos, de mediar o processo que vai abrindo caminho para a posse dos conceitos científicos. [...] Fazer isso demanda das professoras saberes ou vivências que não são necessariamente da ordem de conceitos específicos, mas sobre o mundo da criança e de seus modos de pensar, dizer e aprender. Trata-se de um domínio mais da ordem dos conteúdos procedimentais e atitudinais do que conceituais propriamente dito. Desse modo, o grande desafio dos professores dos anos iniciais está em promover atividades investigativas que suscitem o interesse dos alunos, que estimulem sua criatividade,

sua capacidade de observar, testar, comparar, questionar, que favoreçam a ampliação de seus conhecimentos prévios, preparando-os para níveis posteriores da aprendizagem conceitual (LIMA & MAUÉS, 2006). O professor pode contribuir significativamente no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças ao propor atividades planejadas que possibilitem ao aluno envolver-se com o mundo científico, partindo dos conhecimentos prévios dos alunos e de questões que se articulem à vida real, constituindo problemáticas desafiadoras aos estudantes. Entendido nessa perspectiva, o ensino de ciências pode auxiliar as crianças a desenvolverem habilidades e valores que lhes possibilitem continuar aprendendo, atingindo patamares mais elevados de cognição, ao longo de sua caminhada escolar (LIMA & MAUÉS, 2006; RAMOS & ROSA, 2008). Sasseron e Carvalho (2008) também partem do pressuposto de que é necessário promover a alfabetização científica desde os anos iniciais da escolarização. Destacam a importância da participação ativa dos alunos na construção do conhecimento e a discussão de problemas e desafios que se fazem presentes na realidade atual. Segundo as autoras, se faz importante nas aulas de ciências, as propostas de atividades investigativas nas quais se contemplem as interações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente. De acordo com Sasseron e Carvalho (2008) é importante que o professor traga à pauta da sala de aula questionamentos e estudos sobre os avanços científicos e tecnológicos, mas também sobre os impactos e consequências que esses podem trazer para a população e o planeta como um todo. É preciso, desde cedo, despertar a curiosidade para a ciência, para o questionamento e o pensamento crítico, de modo a instrumentalizar os alunos para que saibam usar os conhecimentos adquiridos na escola para fazer escolhas conscientes, com vistas a uma melhor qualidade de vida. Com base nos autores supracitados e nos Parâmetros Curriculares Nacionais pode-se afirmar que os estudos acerca da ciência, tecnologia, sociedade e suas interrelações precisam acontecer desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. A diferença do trabalho pedagógico com enfoque CTS, nesse nível de ensino, estará no grau de aprofundamento que se dará a cada um dos aspectos abordados e nas atividades que o professor poderá realizar em classe, levando-se em consideração os níveis de desenvolvimento e as especificidades infantis. Vale ressaltar que segundo Pinheiro et al. (2009), o enfoque CTS configura-se como uma postura epistemológica que pode ser adotada pelos professores. A partir do momento que o docente assume essa nova postura, a intervenção pedagógica passa a ter outra conotação. Professores e alunos atuam juntos para a construção do conhecimento científico, que já não é mais entendido como algo imutável e infalível. Ao contrário, é um constructo carregado de verdades transitórias, sujeitas a alterações. A ciência e a tecnologia são desmistificadas e os alunos são instigados à pesquisa, ao questionamento e à reflexão crítica sobre a produção científico-tecnológica, compreendida não como atividade neutra, autônoma, mas como processo social onde as crenças, os interesses políticos, econômicos e sociais tem um papel importante na concretização e uso das inovações científicas e tecnológicas. No mesmo sentido, Santos (2007) afirma ser necessário desenvolver o ensino de ciências a partir de uma abordagem contextualizada, incluindo a discussão de valores que venham questionar os modelos do desenvolvimento científico e tecnológico, bem como as ideologias e mitos subjacentes à produção científico-tecnológica atual. Conforme o autor, [...] não são necessários laboratórios sofisticados, grade horária ampliada e incorporação de novos conteúdos, mas sim mudanças de propósitos em sala de aula (SANTOS, 2007, p. 488). Colocar em prática tal perspectiva de ensino requer ações pedagógicas transformadoras no ambiente escolar, que passam pelo resgate da função social da educação em ciências.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os debates atuais relacionados ao ensino de ciências apontam para a necessidade de se buscar uma interação mais próxima entre ciência, tecnologia e sociedade, como uma forma de contribuir para a formação de sujeitos científica e tecnologicamente alfabetizados, capazes de compreender o mundo e utilizar os conhecimentos aprendidos para enfrentar os desafios da vida e transformar a realidade, a partir de ações individuais e coletivas responsáveis. Nessa perspectiva, o ensino de ciências encontra-se diretamente vinculado à formação para a cidadania. Desse modo, o processo de alfabetização científica precisa ser iniciado desde a entrada do aluno na escola. A partir da apropriação dos conhecimentos científicos, construção de valores e desenvolvimento de posturas reflexivas e questionadoras, a escola estará contribuindo para, desde cedo, formar um adulto mais responsável e consciente. Além disso, a aprendizagem dos conteúdos de ciências não é apenas importante e necessária, mas é, sobretudo, um direito da criança como cidadã. Cabe aos educadores proporcionar um ambiente rico e estimulador, por meio de estratégias que favoreçam a investigação e despertem na criança a curiosidade pela ciência. Para propiciar a aquisição de conhecimentos e capacidades necessárias ao exercício da cidadania, faz-se necessário abandonar práticas tradicionais, fundamentadas na memorização e fragmentação dos saberes, e concretizar um ensino contextualizado e interdisciplinar, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental (BRASIL, 1997). Um caminho viável para a formação dos cidadãos é a abordagem CTS. O enfoque CTS configura-se como uma postura epistemológica que pode ser adotada pelos professores (PINHEIRO et al., 2009) desde os anos iniciais, trazendo à sala de aula questionamentos e estudos sobre as interações entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, evidenciando os benefícios e prejuízos que a produção científico-tecnológica pode trazer para a população e o meio ambiente como um todo. A partir da abordagem CTS o professor pode concretizar um trabalho pedagógico interdisciplinar e contextualizado. Partindo dos conhecimentos prévios das crianças e de questões investigativas que se articulem à vida real, o professor pode incentivar o espírito investigativo e a curiosidade em seus alunos e estimulá-los a levantar novas hipóteses e construir conceitos sobre os fenômenos naturais, os seres vivos e as interrelações entre o ser humano, o meio ambiente, a ciência e a tecnologia, construindo problemáticas desafiadoras às crianças. Assim, a escola poderá contribuir para a formação de cidadãos com espírito investigativo e crítico, capazes de não somente exercer os seus direitos e deveres sociais, mas, sobretudo, capazes de ler o mundo que os rodeia, posicionando-se e assumindo a corresponsabilidade na construção de uma sociedade mais humana, ética e ambientalmente sustentável. 5 REFERÊNCIAS AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica para quê? Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, p. 1-13, 2001. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997. CHASSOT, A. I. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 23, n. 22, p. 89-100, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n22/n22a09.pdf> Acesso em: 10 ago. 2010.

. Alfabetização científica: questões e desafios para a educação. Ijuí: Editora Ijuí, 2000. KRASILCHIK, M.; MARANDINO, M. Ensino de ciências e cidadania. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2007. LEAL, M. C.; GOUVÊA, G. Narrativa, mito, ciência e tecnologia: o ensino de ciências na escola e no museu. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v.2, n.1, mar. 2002. LIMA, M. E. C. de C.; MAUÉS, E. Uma releitura do papel da professora das séries iniciais no desenvolvimento e aprendizagem de ciências das crianças. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v.8, n.2, dez. 2006. LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries inicias. Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, jun. 2001. Disponível em: <http://www.fae.ufmg.br/ensaio/v3_n1/leonir.pdf> Acesso em 10 ago. 2010. PINHEIRO, N. A. M.; SILVEIRA, R. M. C. F.; BAZZO, W. A. O contexto científicotecnológico e social acerca de uma abordagem crítico-reflexiva: perspectiva e enfoque. Revista Iberoamericana de Educación, n. 49, p. 1-14, mar. 2009. Disponível em:< http://www.rieoei.org/2846.htm>. Acesso em: 15 jun. 2011. RAMOS, L. B. da C.; ROSA, P. R. da S. O ensino de ciências: fatores intrínsecos e extrínsecos que limitam a realização de atividades experimentais pelo professor dos anos iniciais do ensino fundamental. Investigações em Ensino de Ciências, v.13, n.3, p.299-331, 2008. ROSA, C. W.; PEREZ, C. A. S.;DRUM, C. Ensino de física nas séries iniciais: concepções da prática docente. Investigações em Ensino de Ciências, v. 12, n. 3, p.357-368, 2007. SANTOS, W. L. P. dos. Educação científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, v. 12, n.36, set/dez. 2007. SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. de. Almejando a alfabetização científica no ensino fundamental: a proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino de Ciências, v.13, n.3, p.333-352, 2008. Disponível em: <http://www.if.ufrgs.br/ienci/artigos/artigo_id199/v13_n3_a2008.pdf>. Acesso em: 25 out. 2010. LITERACY SCIENTIFIC THROUGH THE APPROACH CTS: A VIABLE WAY TO THE FORMATION OF CITIZENS Abstract: The objective of this study is to contribute to reflections on scientific literacy, by addressing Science, Technology and Society (STS) as a viable path to the formation of citizens. Based on authors such as Sasseron and Carvalho (2008), Santos (2007), Leal and

Gouvea (2002), Chassot (2000 and 2003), and Delizoicov Auler (2001), highlights that for scientifically literate citizens is necessary to achieve the teaching of science, from interdisciplinary approaches that address the interrelationships between science, technology and society. It is emphasized that this work needs to be done since the early years of elementary school and that the STS approach appears as an epistemological position that can be adopted by teachers already in the initial series, bringing to the classroom inquiries and studies on the interactions between science, technology and society, highlighting the benefits and losses that the scientific-technological production can bring to the people and the planet as a whole. Keywords: Scientific literacy, CTS approach, Years of primary school.