PENSAMENTO CRÍTICO Aula 3 Profa. Dra. Patrícia Del Nero Velasco Universidade Federal do ABC 2016-2
Inferir é concluir, é extrair informação nova a partir de raciocínio, do encadeamento de informações disponíveis. Inferência é tanto o processo de extração de informação nova quanto a própria informação obtida (conclusão). INFERIR E INFERÊNCIA
Basicamente, raciocinar, ou fazer inferência, consiste em manipular a informação disponível aquilo que sabemos, ou supomos, ser verdadeiro; aquilo em que acreditamos e extrair consequências disso, obtendo informação nova. O resultado de um processo (bem-sucedido) de inferência é que você fica sabendo (ou, ao menos, acreditando em) algo que você não sabia antes. [...] Por outro lado, é importante notar que nem sempre o ponto de partida do processo são coisas sabidas, ou em que se acredita: muitas vezes raciocinamos a partir de hipóteses. [...] É provavelmente desnecessário mencionar mas vou fazê-lo assim mesmo que existem outras maneiras, além de inferências, de obter informação nova. Frequentemente, contudo, obtemos informação executando inferências, ou seja, raciocinando, e é aqui que o interesse da lógica se concentra. (MORTARI, Cezar A. Introdução à Lógica. São Paulo, UNESP/ Imprensa Oficial do Estado, 2001, p. 4, grifos nossos)
A Lógica estuda inferências e argumentos. Qual a relação entre as noções em questão? INFERÊNCIA E ARGUMENTO
Conclusão é a informação extraída do processo de inferência. Premissas são as informações que servem de fundamento para as inferências, são os pressupostos disponíveis que justificam, embasam, oferecem sustento adequado para a aceitação da conclusão. PREMISSAS E CONCLUSÃO
Um argumento é uma entidade linguística, [...] uma inferência não o é. [...] Para avaliar uma inferência, devemos considerar a relação entre uma conclusão e a evidência da qual a conclusão é extraída. Assim como a conclusão deve ser formulada, também a evidência deve sê-lo. Quando a evidência é explicitada, temos as premissas de um argumento; quando a conclusão é enunciada, converte-se na conclusão desse argumento. O enunciado da inferência é, portanto, um argumento, e este pode ser submetido à análise lógica. (SALMON, W. C. Lógica. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LTC, 2002, p. 5) A RELAÇÃO ENTRE INFERÊNCIA E ARGUMENTO
Um argumento é uma sequência de enunciados na qual um dos enunciados é a conclusão e os demais são premissas, as quais servem para provar ou, pelo menos, fornecer alguma evidência para a conclusão. (NOLT, John; ROHATYN, Dennis. Lógica. São Paulo: McGraw-Hill, 1991, p. 1) SOBRE ARGUMENTOS
Da demonstração de que a Lebre é inocente decorre por (iv) que a Lebre diz apenas verdades e, usando a hipótese (i), temos que o Chapeleiro também é inocente. Novamente usamos o pressuposto (iv) para inferirmos que o Chapeleiro diz verdades e, portanto, a hipótese (ii) é necessariamente verdadeira, i.e., o Leirão também é inocente. Neste caso, tem-se então que as três criaturas são inocentes. RESOLUÇAO DE PARTE DO SEGUNDO ENIGMA
P 1 A 1. P 2 A 1. A Lebre é inocente. [Premissa Não Básica ou Conclusão Intermediária] Os inocentes sempre dizem a verdade. [Premissa Básica (PB)] CA 1. = P 1 A 2. O chapeleiro é inocente. [Conclusão do Argumento 1 e Premissa do Argumento 2; logo, uma Conclusão Intermediária (CI) ou Premissa Não Básica (PNB)] CA 2. = P 1 A 3. O chapeleiro diz a verdade. [CI/PNB] P 2 A 3. CA 3. CA final. O chapeleiro disse que o Leirão é inocente. [PB] O Leirão é, de fato, inocente. As três criaturas são inocentes. ESQUEMA ARGUMENTATIVO
Costuma-se denominar argumentos complexos aqueles que são constituídos por etapas e, portanto, contêm um outro argumento como uma dessas etapas. Nomeiam-se premissas não-básicas ou conclusões intermediárias as sentenças que foram inferidas de premissas anteriores (são, portanto, conclusões) e, concomitantemente, servem de pressuposto para novas inferências (são, portanto, premissas). Os dois nomes refletem o papel dual das sentenças em questão. As premissas que não são conclusões de premissas prévias, por sua vez, são chamadas premissas básicas. ARGUMENTOS COMPLEXOS
Os argumentos contidos em outro(s) são denominados subargumentos. Assim, um argumento complexo necessariamente contém, ao menos, um subargumento. SUBARGUMENTOS
Na prática, os argumentos costumam ser macroestruturas formadas por argumentos menores, ou subargumentos. Muitas vezes, a melhor forma de começar a deslindar uma rede complexa de argumentação é identificar e formular com clareza um ou mais desses argumentos. (WALTON, 2006, p. 151)
MAQUIAVEL. O príncipe, capítulo III. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 11. (Os Pensadores) EXERCÍCIO
EXERCÍCIO. É necessário fazer isso [organizar colônias], ou ter lá muita força armada. Com as colônias não se gasta muito, e sem grande despesa podem ser feitas e mantidas. [...] Mas conservando, em vez de colônias, força armada, gasta-se muito mais, e tem de ser despendida nela toda a receita da província. A conquista torna-se, pois, perda, e ofende muito mais, porque prejudica todo o Estado com as mudanças de alojamento das tropas. Estes incômodos todos os sentem, e todos por fim se tornam inimigos que podem fazer mal, ainda batidos na própria casa. Por todas as razões, pois, é inútil conservar força armada, ao contrário de manter colônias. MAQUIAVEL. O príncipe, capítulo III. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 11. (Os Pensadores)