PNAIC: UM ESTUDO SOBRE SUA IMPLANTAÇÃO NO MUNICÍPIO DE PEDRO CANÁRIO Resumo: Keli Simões Xavier Silva i - CEUNES Gracielle Alves Santiago ii - CEUNES Este artigo apresenta dados parciais da pesquisa monográfica intitulada O Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC): um estudo sobre sua implantação no município de Pedro Canário, a qual encontra-se em fase final. Expõe pequenos recortes da revisão de literatura, metodologia e uma prévia das entrevistas realizadas. Tem como objetivo geral apresentar a implementação do PNAIC em uma escola do município de Pedro Canário-ES e desdobra-se nos seguintes objetivos específicos: a implementação do pacto em uma escola municipal; a percepção dos professores com relação a essa implementação e a assimilação destes profissionais no tocante á perspectiva histórico-cultural defendida por Vygotsky (signo e símbolo, zonas de desenvolvimento e mediação) e apresentada nos cadernos de formação deste pacto. Para alcançarmos os objetivos indicados, adotamos como referencial teórico-metodológico o Estudo de Caso e utilizamos como instrumentos de coleta de dados a observação, análise documental e entrevistas com as professoras trabalham nas séries de atuação do PNAIC. Torna-se relevante esclarecer que o PNAIC é um programa amplo que envolve diversas esferas que gestam o ensino nacional como, por exemplo, governo Federal, Estadual e Municipal. Engloba também as propostas reivindicadas pela sociedade civil organizada, a qual é representada pelo movimento Todos pela Educação. Dentre os documentos e autores que apontamos neste estudo destacamos: Leis que antecedem e fundamentam o pacto, Brasil (2001; 2005; 2006; 2008) e Vygotsky (2009; 2010). Por fim, este artigo indica, como análise parcial do estudo, que a participação dos demais colaboradores não é percebida pelos professores pesquisados, porém a aceitação dos mesmos quanto ao PNAIC é positiva e a perspectiva histórico-cultural de Vygotsky está presente mesmo que os pesquisados não relacionem ao autor. Palavras-chave: PNAIC; Alfabetização; Percepção dos professores. Introdução Este trabalho integra um recorte da pesquisa monográfica do Curso de Especialização em Educação Básica do Programa de Pós-Graduação do Departamento de Educação e Ciências Humanas do Centro Universitário Norte do Espírito Santo da Universidade Federal do Espírito Santo - DECH-CEUNES UFES, que está em andamento, cujo objetivo é descrever e analisar a implementação do PNAIC Pacto Nacional da 05506
2 Alfabetização na Idade Certa em uma escola municipal de Ensino Fundamental de Pedro Canário/ES bem como a percepção dos professores dentro deste processo. O tema alfabetização tem sido alvo de diversos debates. Partindo da problemática da sua consolidação nas séries iniciais do Ensino Fundamental, educadores, escolas e sistemas educacionais têm se discutido na busca da tão sonhada educação de qualidade. Algumas medidas institucionais, como programas de acompanhamento do aprendizado do aluno. Por exemplo, a Prova Brasil, o PAEBES, programas de aperfeiçoamento docente e o próprio PNAIC, vem sendo implantado com a suposta missão de solucionar as mazelas no que tange à alfabetização. Contudo, algumas questões que vão desde a falta de uma política efetiva de valorização dos professores às falhas na execução de tais programas nos fazem refletir sobre esta temática. Lançando um olhar sobre a história, percebe-se que tal temática está presente desde o início do processo de escolarização no Brasil, pois desde meados do século XIX não havia uma preocupação em alfabetizar a população. Esse olhar histórico, nos mostra que: [...] estamos inseridos no tempo: o presente não se esgota na ação que realiza, mas adquire sentido pelo passado e pelo futuro desejado. Pensar o passado, porém, não é um exercício de saudosismo, curiosidade ou erudição: o passado não está morto, porque nele se fundam as raízes do presente (ARANHA, 2006, p.19). Sendo assim, tal indício nos faz questionar se há realmente uma preocupação que vise formar, de fato, cidadãos, uma vez que a problemática da alfabetização tem se mostrado cíclica e recorrente. Após a promulgação da LDB 9.394/96 as discussões sobre a melhoria da alfabetização no país se intensificaram assim como programas de formação continuada para os professores. Tais como: PROFA, Pró-Letramento, Pró-Info e o próprio PNAIC. E a partir do ano de 2000 o governo começa a promover reformulações para tornar viável o ensino fundamental de nove anos através das leis: Lei nº 10.172/01 que estabelece o ensino fundamental de nove anos como meta da educação nacional, Lei nº 11.114/05 que torna obrigatória a matrícula de crianças a partir dos seis anos de idade e Lei nº 11.274/06 que altera o ensino fundamental de oito para nove anos de duração com o prazo de implantação até o ano de 2010. Visando tentar garantir a alfabetização nas séries iniciais o Governo publicou o parecer CNE/CEB Nº 4/2008, determinando que os 05507
3 três anos iniciais devem ser destinadas à alfabetização e letramento do educando, e portanto, a avaliação não deverá ter caráter classificatório, sabendo que cada aluno tem um tempo próprio para aprender. Diante das dificuldades em se alcançar o objetivo o governo implantou ainda o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAIC, com o objetivo de preparar professores alfabetizadores para que todos os alunos sejam alfabetizados até os 8 anos de idade, ou seja, até o 3º ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Metodologia A abordagem adotada nesta pesquisa é a qualitativa, pois conforme afirma Lüdke & André (1986, p.12) o interesse do pesquisador ao estudar um determinado problema é verificar como ele se manifesta nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. Com vistas em analisar a implantação e a formação oferecida pelo Pacto Nacional da Alfabetização na Idade Certa PNAIC, esta pesquisa se configura como um Estudo de Caso. Segundo Dencker (1998, p.127), o Estudo de Caso [...] permite o conhecimento em profundidade dos processos e relações sociais [...]. Como instrumento de coleta de dados, realizamos observação dos encontros de formação, fizemos um levantamento do percurso histórico da implementação do PNAIC, e apresentamos uma análise das entrevistas aos professores participantes do pacto, a qual se encontra em sua fase inicial. Visão política do PNAIC O pacto é resultado de um acordo entre Governo Federal, estados, municípios e algumas entidades, entre elas Todos pela Educação, com o propósito de assegurar que todas as crianças sejam alfabetizadas até 8 anos de idade, para tanto, recorre de diversas ações entre os parceiros. A formação do pacto está sendo aplicada em 97% dos municípios brasileiros, onde o programa fornece bolsa aos envolvidos no processo e materiais didáticos para a sua execução. O PNAIC foi inspirado em um programa realizado no estado do Ceará cujo título é PAIC Programa Alfabetização na Idade Certa, mas também agregou em sua metodologia experiências de formações anteriores como, por exemplo, Próletramento. 05508
4 Os eixos de atuação do PNAIC são: Formação continuada presencial para os professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo; Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais; Avaliações sistemáticas; Gestão, controle social e mobilização. Os cadernos de formação apresentam diversos autores acerca da alfabetização e o processo de aprendizado. Dentre os quais, nos chama a atenção o conceito de signo e símbolo; as zonas de desenvolvimento e a mediação, defendidos por Vygotsky (2009) (2010) e presente em diversos cadernos da formação. Os professores participantes do PNAIC receberam uma coleção de cadernos, sendo que cada série/ano é diferenciado, ou seja, o tema das unidades permanece, mas os textos destinados para cada série/ano se diferenciam, se adequando ao nível. O PNAIC em Pedro Canário No município de Pedro Canário/ES, todas as escolas que atuam nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental participam do pacto, o qual é sistematizado através de encontros que acontecem quinzenalmente. Nestes, as formadoras apresentam os módulos por meio de slides e atividades em grupos. Os professores participantes do pacto são responsáveis pelo planejamento e execução das ações didáticas conforme definição do currículo, a saber: Projeto Político- Pedagógico e orientações do PNAIC; seleção ou confecção do material didático para facilitar a aprendizagem do educando; atendimento ao aluno individualmente ou em grupo respeitando as particularidades dos mesmos; realização de rotinas escolares, aplicação das avaliações com os educandos observando os direitos de aprendizagem; participação de reuniões escolares com pais ou equipe docente visando a melhoria do ensino e frequentar os encontros presenciais do pacto. A escola em que o estudo ocorre abriga doze turmas do 1º ao 3º ano, as professoras selecionadas para entrevistas lecionam no turno vespertino da referida instituição de ensino. As entrevistas estão divididas em três blocos, cada qual, com aproximadamente três perguntas que abordam os eixos da perspectiva histórico-cultural de Vygotsky (signo e símbolo, zonas de desenvolvimento e mediação), percepção dos professores com relação ao pacto e a sua implantação na referida escola. 05509
5 Análises parciais das primeiras entrevistas apontam que as participantes aprovam o PNAIC, porém não conseguem identificar a atuação dos demais colaboradores do pacto, como por exemplo, o Conselho ou Núcleo de Alfabetização, que segundo o programa é formado por diversos profissionais para monitorar e articular o trabalho pedagógico realizado nas escolas. Com relação a atuação das docentes em sala de aula, as mesmas mencionaram concepções metodológicas baseadas na perspectiva histórico-cultural, mas não fizeram relação com o autor Vygotsky. Em suas falas também afirmam que o pacto precisa de melhorias na implantação dentro do município, indicando falhas em sua aplicação. Referências ARANHA, Maria Lúcia de A. História da Educação e da Pedagogia: geral e Brasil. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006. BRASIL, Plano Nacional de Educação: Lei nº 10.172 de Janeiro de 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf >. Acesso em: 20 mai. 2014.. Lei n. 11.114, de 16 de maio de 2005. Altera os artigos. 6º, 30, 32, e 87 da Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 2006, com o objetivo de tornar obrigatório o início do ensino fundamental de seis anos de idade. Diário Oficial da União, Brasília, 16 maio, 2005.. Lei n.11.274, de 06 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos artigos. 29, 30, 32 e 87 da Lei nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a educação de nove anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União Brasília, 06 fev. 2006.. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CEB n. 4/2008. Disponíveis em: <www.portal.mec.gov.br/cne>. Acesso em: 20 mai. 2014. DENKER, Ada de F. M. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo: Futura, 1998. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. VIGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. 2. Ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009., L. S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 05510
6 i Professora Assistente do Centro Universitário do Norte do Espírito Santo UFES. ii Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino na Educação Básica do Centro Universitário do Norte do Espírito Santo UFES. 05511