XVIII ENDIPE Didática e Prática de Ensino no contexto político contemporâneo: cenas da Educação Brasileira
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- Leila Amado Vidal
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1 PACTO NACIONAL PELA ALFABETIZAÇÃO NA IDADE CERTA: NOTAS SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA RESUMO Tarcyla Coelho de Souza Marinho Lícia Maria Freire Beltrão O estudo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: notas sobre a formação continuada é parte do resultado de pesquisa realizada em 3 escolas públicas no município de Santa Cruz Cabrália/Bahia. O objetivo foi contribuir com a discussão sobre formação continuada de professores no município de Santa Cruz Cabrália (BA), tomando por base os sentidos atribuídos por docentes desse município à formação continuada promovida pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Este estudo justifica-se pela necessidade de se pôr em relevo mais uma proposta de formação continuada docente do governo federal como estratégia para superação da problemática da alfabetização no país. A pesquisa é de cunho qualitativo, com delineamento do estudo de caso, operacionalizado através da leitura e análise de documentos e de entrevista semiestruturada, lida, sob inspiração da Análise de Discurso de linha francesa. Participaram da pesquisa 10 alfabetizadores representantes do ciclo básico de alfabetização. Dos resultados obtidos, percebe-se que a formação continuada realizada pelo PNAIC provocou no ambiente escolar uma discussão importante sobre alfabetização na perspectiva do letramento apontando para a necessidade de romper com práticas descontextualizadas do ensino da leitura e da escrita. Entretanto, foi possível perceber ainda resquícios de uma proposta formativa prescritiva, com base na formação de desempenho, com característica aplicacionista que se distanciava da realidade vivida pelas alfabetizadoras em suas unidades de ensino, rejeitado pelos docentes que revelaram uma forma pessoal de produzir formação continuada construída no diálogo entre eles, com destaque para a troca de experiências. Palavras-chave: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. Formação Docente. Formação Continuada. INTRODUÇÃO O problema da baixa qualidade da educação básica no país, principalmente no que se refere às habilidades de leitura e escrita, é questão recorrente no cenário 9857
2 2 educacional, revelados pelos sistemas nacionais de avaliação, a exemplo da Prova e Provinha Brasil, que, ainda que imperfeitos, indicam que boa parte das crianças brasileiras em idade escolar passa pelos bancos escolares sem ser plenamente alfabetizada, o que coloca para o país um urgente problema a ser superado. Como estratégia para garantir aos alunos o direito a aprender, que agora tem uma idade certa, até os 8 anos de idade, os governos têm lançado mão de políticas públicas que se destinam à alfabetização de crianças, via formação continuada de professores. Nesse contexto, o Ministério da Educação (MEC) implantou o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, doravante PNAIC, em todo o território nacional, programa que se apresentou como uma proposta capaz de alterar esse cenário preocupante, tendo como eixo central de atuação a formação continuada. O PNAIC é um compromisso firmado entre governo federal, estados, municípios e entidades, previsto na Portaria nº 867, de 4 de julho de 2012, que institui e estabelece suas diretrizes gerais e tem como um de seus objetivos contribuir para o aperfeiçoamento da formação dos professores alfabetizadores (BRASIL, 2012). Devido aos poucos efeitos produzidos pelos programas de formação continuada já realizados, este estudo aponta a necessidade de investigar que sentidos alfabetizadores do município de Santa Cruz Cabrália (BA) podem ter atribuído à formação continuada que lhes foi oferecida e realizada pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa no ano de 2013, considerando formações futuras? FORMAÇÃO CONTINUADA DOCENTE Aliada à importância da função social do professor para elevação da qualidade do ensino e, consequentemente, das transformações sociais, está a positivação da formação continuada como aspecto imprescindível ao bom trabalho pedagógico, ao trabalho que atenda às exigências postas pela sociedade na direção da qualidade do ensino e sucesso das reformas educativas em face dos avanços científicos que colocam novas questões à educação escolar. Cabe destacar, desde já, que o conceito de formação continuada adotado neste estudo se refere à formação de professores já em exercício de suas atividades, em programas promovidos dentro e fora das escolas, considerando diferentes possibilidades (presenciais ou a distância) em conformidade com os 9858
3 3 Referenciais para Formação de Professores (BRASIL, 2002) por se tratar de um documento orientador das ações formativas em âmbito nacional. Nesse contexto, como ação estratégica, para alcançar a qualidade do ensino, o governo federal tem juntado esforços em direção à oferta de programas de formação continuada, amparada por dispositivos legais, a exemplo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, que estipula em seu Art. 67 que os sistemas educacionais devem promover a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes em seu inciso II aperfeiçoamento profissional contínuo, com direito à licença com remuneração (BRASIL, 1996). Assim, passamos a ter cada vez mais vivências com formação continuada em todo o país, com grande preocupação em responder aos indicadores de qualidade da aprendizagem dos alunos, provocando, de certo modo, um esvaziamento no processo formativo no qual os diferentes saberes dos docentes têm tido pouco ou nenhum espaço. Com isso, podemos dizer que a contribuição de iniciativas de formação continuada desenvolvidas até aqui tem sido, muitas vezes, insuficiente para alterar a fragilidade do sistema educacional. Em certas circunstâncias, servindo para complicar um cotidiano docente já de si fortemente exigente, com excessiva sobrecarga de trabalho, sendo vista por alguns como [...] uma evidente e oportunista prática de deformação [...] (MACEDO, 2010, p. 30) em que não há lugar para falar de si, de suas experiências, sua história de vida, não havendo tempo para o sujeito, para a escuta, uma evidente tentativa de silenciamento de suas aprendizagens, de suas experiências, do seu fazer. Com isso, entendemos que os professores necessitam de propostas formativas mais líquidas e menos centralizadas, em íntima relação com situações reais das instituições de ensino a partir de movimentos de aprendizagem que favoreçam a socialização de experiências entre os agentes envolvidos que promovam oportunidade de desenvolvimento pessoal atrelado ao desenvolvimento profissional, uma abordagem formativa que valorize o seu caráter contextual, organizacional direcionado para a mudança, lembra García (2013). Tudo isso torna imprescindível uma alternativa de formação continuada que seja pensada com o olhar do professor, a partir de suas necessidades e dos problemas que enfrenta diariamente em suas salas de aula, [...] permitindo que se situem na perspectiva do outro, sentindo o que o outro sente [...] (IMBERNÓN, 2010, p. 110) aberto ao que diz e deseja do outro, pensado na horizontalidade, o que implica em maior 9859
4 4 presença docente na elaboração de estratégias formativas, inserção no debate sobre sua formação, se posicionando ética e politicamente. O QUE DIZEM OS ALFABETIZADORES Para corresponder e alcançar a dimensão da pergunta apresentada, procurei, na realização da pesquisa, seguir a orientação da abordagem qualitativa, com delineamento de estudo de caso, operacionalizado através da leitura e análise de documentos e de entrevista semiestruturada, lida, sob inspiração da Análise de Discurso de linha francesa. A escuta aos alfabetizadores, através das entrevistas, aponta que a maneira como a formação continuada no PNAIC foi concebida e implementada pelo MEC, no município de Santa Cruz Cabrália (BA), demonstra profundo distanciamento entre a realidade vivida pelos alfabetizadores, em suas unidades de ensino, e o proposto pelo programa, já que desconsidera as precárias condições de trabalho dos docentes, seus conhecimentos, as diferenças entre as escolas, atrelado a resquícios de uma proposta formativa prescritiva, pautada em teorias pré-definidas, com soluções genéricas para situações singulares que anulam as práticas culturais presentes em cada unidade de ensino, reforçando a forma autoritária de pensar e fazer formação, de dirigir-se ao outro, baseada em uma escola e em alfabetizadores ideais. É preciso dizer, no entanto, que a formação continuada no PNAIC agregou valor positivo à formação dos alfabetizadores no que concerne à atualização, aprimoramento de conceitos referentes ao campo alfabetizador, ainda que de forma parcial, uma vez que os mesmos permanecem sem respostas para situações concretas vividas diariamente em suas salas de aula, junto aos seus alunos. O que se observou, como resultante das informações produzidas, é que o aprimoramento conceitual no campo da alfabetização aconteceu a partir das oportunidades interativas oferecidas entre os estudos teóricos e a troca de experiência entre os pares. Entendemos que a conversa, o diálogo possibilitam aos sujeitos envolvidos no processo formativo transitar por diversos lugares, pois desloca, provoca um olhar relativo tomado a partir de um lugar que não é o meu nem o do outro, o que permite a compreensão histórica e política que descola das evidências produzidas de forma superficial, parcial que não se dispôs a olhar criticamente o problema na sua essência, tendo em vista sua superação. 9860
5 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das informações produzidas reforça que é preciso nos posicionar contrários a práticas de formação continuada com característica homogeneizadora, pensadas na verticalidade, que trata de forma igual questões diferentes e sujeitos diferentes, imbuídos de autoritarismo teórico em defesa de uma formação continuada que veja a diferença como potência, que parta dos sujeitos em formação, das suas reais necessidades e desejos, que demandem desenvolvimento pessoal e profissional de modo a promover uma reflexão coletiva no interior das escolas sobre as práticas desenvolvidas pelos docentes em suas salas de aula a partir da qual se definam teorias a serem estudas em íntima aproximação com as práticas desenvolvidas nas escolas, se constituindo, desse modo, a formação continuada em um solo fértil para discutir os dilemas reais vividos pelos alfabetizadores em seus contextos escolares como exercício político de empoderamento docente, com vistas à transformação ou ressignificação da escola. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Referenciais para formação de professores. Brasília, DF, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Leis ordinárias. Diário Oficial da União, 23 dez Disponível em: < Acesso em: 20 de ago/ Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 867, de 4 de julho de Institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 jul Disponível em: < >. Acesso em: 21 ago GARCÍA, Carlos Marcelo. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto, (Coleção ciências da educação). IMBERNÓN, Francisco. Formação continuada de professores. Tradução: Juliana dos Santos Padilha. Porto Alegre: Artmed, MACEDO. Compreender/mediar a formação: o fundante da educação. Brasília: Liber Livro,
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