POLÍTICA PULBICA DE INVESTIMENTO EM OBRAS DE SANEAMENTO SAÍDA ADOTADA PELO MUNICIPÍO DE JABOTICABAL



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Transcrição:

POLÍTICA PULBICA DE INVESTIMENTO EM OBRAS DE SANEAMENTO SAÍDA ADOTADA PELO MUNICIPÍO DE JABOTICABAL Wilson Luis Italiano Secretário de Obras e Serviços Públicos da Prefeitura Municipal de Jaboticabal, ex-presidente do SAAEJ,, Engenheiro Civil (DeCiv UFSCar), Mestre em Arquitetura e Urbanismo (EESC USP), cursa especialização em Administração (FUNDACE FEARP/USP). Victor Toyoji de Nozaki* Presidente do SAAEJ Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal, ex-diretor Administrativo e Financeiro da Autarquia, bacharelando em Ciências Econômicas (FEARP USP). Endereço para correspondência: SAAEJ Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal, Rua Monte Alto, 345 bairro Santa Mônica Cidade de Jaboticabal, Estado de São Paulo, CEP 14871-570, e-mail: saaej@saaej.sp.gov.br Palavras-chave: financiamento, saneamento ambiental, tratamento de esgoto. * Apresentador do Trabalho Equipamentos para Apresentação: Projetor Multimídia com computador

1. RESUMO A cidade de Jaboticabal, Estado de São Paulo, assim como, muitas cidades do país, sofre com a necessidade de investir em saneamento básico seguida pela escassez de recursos. Diante disto, este trabalho tem o objetivo de apresentar a experiência do auto-financiamento, que tem sido utilizada para a solução deste paradigma. Para implantação do sistema de auto-financiamento no município de Jaboticabal foi criado o Fundo Especial de Investimentos. O fundo é formado pelos recursos arrecadados com uma tarifa de 15% das contas de água e esgoto, gerando uma média de R$ 70 mil por mês. Conclui-se que este modelo de financiamento para obras públicas mostrou-se bastante promissor uma vez que possibilitou a perfuração de poço, construção de interceptores, emissários e está possibilitando a conclusão da estação de tratamento de esgoto sem financiamentos estaduais, federais ou externos. 2. INTRODUÇÃO 2.1 HISTÓRICO DO SANEAMENTO NO BRASIL Durante a década de 1960, foram implementadas no Brasil, pelo governo federal, as primeiras medidas políticas visando ao financiamento do setor de saneamento, tendo o objetivo de universalizar os serviços com a criação do BNH Banco Nacional da Habitação, que era o responsável pelo gerenciamento dos recursos do Sistema Financeiro do Saneamento e o Planasa Plano Nacional de Saneamento. Como nesse período os militares estavam no Governo, todas essas políticas seguiam uma linha centralizadora, privilegiando o âmbito nacional ao local. Um exemplo foi o incentivo, na verdade, uma imposição para que os municípios transferissem os serviços de saneamento para as CESB s Companhias Estaduais de Saneamento, ficando uma pequena parcela com serviços autônomos. Desta forma, o governo financiaria investimentos na área de saneamento somente para as CESB s e não diretamente para os municípios. O plano foi um dos maiores programas de financiamentos de saneamento básico do mundo, com recursos provenientes do FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço dos trabalhadores, que contribuíam com uma alíquota de 8% do seu salário mensal. Ainda hoje, os recursos do FGTS são utilizados como financiadores de investimentos na área de infra-estrutura urbana, tal qual o programa Pró-Saneamento da Caixa Econômica Federal. Apesar de todos os recursos, o plano não conseguiu universalizar os serviços, que era seu principal objetivo. Na década de 1990, uma nova roupagem foi implementada, com novos planos e programas foram implementados, com recursos ainda do FGTS (gerenciados pela Caixa Econômica Federal) e, agora, também com recursos externos do Banco Mundial e BID Banco Interamericano de Desenvolvimento além do BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. A partir de então, ocorreram maiores discussões e medidas que possibilitaram a participação de capital privado no setor, apesar de ocorrer, desde a década de 1960, uma discussão quanto à titularidade dos serviços. A situação hoje no país quanto à titularidade da prestação dos serviços de saneamento básico encontra-se dividida entre os estados por meio das CESB s - Companhias Estaduais de Saneamento Básico, nos municípios pela administração direta como DAE s Departamento de Água e Esgoto ou autárquica pelos SAAE s Serviço Autônomo de Água e Esgoto ou ainda pelo capital privado por alguma forma de concessão; não existindo um marco regulatório para esta questão.

Todos os projetos, ações e programas do governo federal visavam e ainda visam à promoção de uma universalização dos serviços de saneamento básico, havendo até no presente momento uma discussão quanto à aprovação no Congresso Nacional de um projeto de lei que regulamente as PPP s Parcerias Público Privada, com o fim de obter recursos para esse objetivo, ou seja, investimentos em infra-estruturas na área de saneamento básico. Durante a década de 1990, ocorreram no Brasil algumas concessões dos serviços de saneamento para o capital privado, seja de forma segmentada ou mesmo completa, apesar da não existência de uma legislação ou regulação específica para o setor, além da discussão sobre a titularidade dos serviços. Assim, como em setores como os de energia elétrica ou telecomunicações, o setor de saneamento básico conta com uma agência reguladora, que é a ANA Agência Nacional da Água, criada em 2000, da mesma forma que a ANEEL Agência Nacional Energia Elétrica e ANATEL Agência Nacional de Telecomunicações. A ANA tinha por finalidade implementar a política de recursos hídricos, integrando assim o sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos, ou sejam, políticas e iniciativas voltadas a questões hídricas, bem como o estimulo a criação de comitês de bacia hidrográfica. O motivo principal de investimentos na área de saneamento básico é a promoção de uma melhor qualidade de vida à população, pois possuir água encanada de qualidade, rede de esgoto e coleta de lixo são condições mínimas de saúde pública, o que por sim só elevam o grau de qualidade de vida. Pode-se verificar que há duas discussões: uma quanto à obtenção de recursos escassos para o investimento na área de saneamento visando à sua universalização e a outra é a externalidade, ou seja, o benefício que um outro segmento ou setor da econômica tem, gerado por esses investimentos na área de saúde pública para a população beneficiada. O saneamento básico, ou seja, o fornecimento de água tratada, a coleta de esgoto e seu tratamento, o cuidado com o lixo; etc são na verdade bens públicos que, segundo Giambiagi (2000), constituem algo cujo consumo/uso é indivisível ou não rival. Em outras palavras, o seu consumo por parte de um individuo ou de um grupo social não prejudica o consumo do mesmo bem pelos demais integrantes da sociedade. Ou seja, todos se beneficiam da produção de bens públicos mesmo que, eventualmente, alguns mais do que outros. De acordo com MUSGRAVE (1980) a eficiência na utilização dos recursos pelo setor público é um conceito relativo, e a análise econômica pode nos ajudar na procura de melhores respostas. Sendo o desafio consiste em elaborar um mecanismo para o fornecimento de bens públicos que seja tão eficiente quanto possível. OLIVEIRA (2000) tem um exemplo que demonstra as características de bem público indivisível e não rival: um belo pôr-do-sol, que pode ser apreciado por diversas pessoas, sem que com isso torne-se menos belo. Quanto à externalidades, pode-se defini-la como o bem-estar de um individuo é afetado por decisões de outros. Fernando Rezende (2001) afirma que externalidades implicam custo e benefício sociais diferentes do custo e do benefício privado, sendo assim necessária à presença do governo para incorporá-las. PARLATORE (2000) demonstra a inviabilização do poder público em expandir os serviços de saneamento básico no país, gerados pela má gerência do setor ao longo do tempo, e a influência de uma política nefasta. O autor apresenta também os modelos de privatização de outros países e as justificativas para tal política.

TUROLLA (2002), apresenta uma visão legal do setor ao longo do tempo, e das ações implementadas pelo Governo, desde o esgotamento do Planasa a partir de 1980 até períodos recentes, além de questionamentos quanto à universalização dos serviços, com a necessidade de uma legislação específica. 2.2. A CIDADE DE JABOTICABAL A cidade de Jaboticabal, situada no interior do Estado de São Paulo, região administrativa de Ribeirão Preto, com uma população de aproximadamente 70 mil habitantes, tem como base de sua economia, a agricultura, sendo a principal a canavieira, além do amendoim. É expressivo ainda no município, o grande desenvolvimento tecnológico do setor de pesquisa em biotecnologia, desenvolvido pela UNESP Campus de Jaboticabal (Banco de Genoma), e produção de cerâmica. A cidade se destaca por ter sido classificada com o nonagésimo oitavo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios paulistas em 1996. Jaboticabal é hoje uma referência em questões ambientais, por ter implementado uma política extremamente agressiva neste setor, destacando-se entre as cidades do mesmo porte com o Programa Gestão Ambiental Integrada, que coordena todas as atividades relacionadas ao meio ambiente. Os serviços de saneamento básico (água e esgoto) são de responsabilidade de uma Autarquia Municipal (SAAEJ Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal) criada em 17 de janeiro de 1974, através da Lei Municipal nº 1.133. A questão do lixo, drenagem urbana e educação ambiental até 2.003 era de responsabilidade da Prefeitura Municipal por intermédio da Secretaria de Obras e Serviços, Secretaria de Planejamento e Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer. Mas que através da Lei Municipal nº 3.179 de 30 de Julho de 2.003, todas as ações passaram a ser de responsabilidade do Departamento de Meio Ambiente do SAAEJ. Desde a década de 1960 quando da criação do BNH Banco Nacional da Habitação e do Planasa Plano Nacional de Saneamento, o país vem tentando implementar políticas visando a universalização dos serviços de saneamento básico. Porém, os programas emperram em algumas dificuldades, sejam elas financeiras, operacionais ou mesmo legais. 3. OBJETIVOS O objetivo do presente trabalho é apresentar a política de financiamento adota pelo Município de Jaboticabal, Estado de São Paulo, para viabilizar todas as obras necessárias para o saneamento ambiental da cidade, tendo em vista a escassez de recursos do município e ainda a falta de uma política concreta de financiamento para o setor. Demonstrando como um pequeno município conseguiu ampliar o abastecimento de água na cidade e ainda promover obras que tratarão 100 % do esgoto produzido, tudo com isso com recursos próprios. Com isso objetiva-se também a propor a utilização de fundos de financiamentos para outros tipos de obras ou intervenções que um município marginalizado a investimentos públicos necessite. 4. METODOLOGIA Baseou-se na experiência realizada pelo município de Jaboticabal, no que se refere ao financiamento de obras de saneamento básico, ou seja, a criação do Fundo Especial de Investimentos: 1 Motivação: O Município de Jaboticabal através do Inquérito Civil nº 05/95, que impôs à Administração a tarefa de não mais lançar os esgotos in natura em corpos d água na cidade. Esse inquérito fundamentou a elaboração e aprovação da Lei Municipal nº 2.633, de 23 de março de 1.998, que versa sobre a Celebração de termo de Compromisso entre o Ministério Público e o Executivo Municipal.

A presente lei determina que o município deve reparar os danos ambientais decorrentes do lançamento de esgotos urbanos in natura em diversos corpos d água do Município, isso através de da implantação de adequado sistema de tratamento sanitário. A legislação ainda determina o prazo de 72 (setenta e dois) meses a partir da vigência da lei, ou seja, até o ano de 2.004, com a possibilidade de prorrogação de mais 24 (vinte quatro) meses, para a conclusão de todo o sistema. E em caso de descumprimento desses prazos, o Município ficará sujeito à cominação civil, através do pagamento de multa diária no valor de 100 (cem) salários mínimos. 2 - Legislação: Assim, para solucionar o problema e atender ao Ministério Publico, o Poder Público de forma inédita formou o Fundo Especial de Investimentos, criado em 1997 através da Lei Municipal nº 2.550 de 18 de julho de 1.997, determinando uma tarifa de 15% (quinze por cento) das tarifas de água e esgoto do SAAEJ Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal. Todos os recursos dessa tarifa eram gerenciados, contabilizados e aplicados pela Autarquia. Portanto, todas as diretrizes e quais investimentos necessários eram do SAAEJ. Sendo o fundo fiscalizado por um conselho composto por representantes de: do SAAEJ; Câmara Municipal; Associação Comercial Industrial; Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia e Ordem dos Advogados do Brasil. Todos os recursos provenientes dessa tarifa do fundo eram destinados para investimentos nos sistemas de abastecimento de água e coleta e tratamento de esgotos. A partir de 2001 a lei do Fundo Especial de Investimentos foi alterada pela Lei Municipal nº 2.938 de 15 de outubro de 2.001, determinado que todos os recursos do fundo sejam somente investidos em obras e serviços necessários para a conclusão do sistema de tratamento de esgotos. 3 Realizações: Foram concretizadas algumas obras visando à ampliação do abastecimento de água e na concepção do sistema de tratamento de esgoto, como: perfuração de um poço profundo; realização de 17 km de interceptores de esgotos nas margens do Córrego Cerradinho num total de 10 km e nas margens do Córrego Jaboticabal mais 7 km; 3km de emissários de esgoto; aquisição de 12 alqueires de área para a implantação da Estação de Tratamento de Esgoto e ainda os serviços e obras necessárias para o empreendimento, tudo por administração direta. 4 Recursos Financeiros: Com a tarifa de 15% do Fundo Especial de Investimentos o SAAEJ obteve uma receita faturada de R$4.863.196,10 desde julho de 1997 à dezembro de 2003, sendo a receita realizada de R$4.327.088,40, correspondendo a 90,60% da faturada, sem a aplicação de qualquer índice de correção monetário. 5 Estrutura do Fundo O Fundo foi criado através da Lei Municipal nº 2.550, de 18 de julho de 1.997 Anexo A, que prevê uma tarifa de 15% sobre as tarifas de abastecimento de água e coleta de esgoto de Jaboticabal. Cerca de 70 mil reais mensais são arrecadados (ano de 2002/2003), o que desde a sua criação, ou seja, julho de 1997 até a setembro de 2003 gerou um valor de R$4.606.813,37, sem correção monetária. O Sistema de funcionamento do auto-financiamento é exposto na Figura 1 do Anexo A, no final do trabalho: O Fundo Especial de Investimentos é fiscalizado por uma Comissão representada pela Prefeitura Municipal, Câmara Municipal, ACIJA Associação Comercial e Industrial de Jaboticabal, OAB Ordem dos Advogados do Brasil, AREA Associação Regional de Engenharia e Arquitetura e SAAEJ. A gestão e decisão

sobre a utilização dos recursos é de responsabilidade do SAAEJ, mensalmente são prestadas contas para a Comissão. Em 2001, a lei de criação do Fundo Especial de Investimentos foi alterada pela Lei Municipal nº 2.938, de 15 de outubro de 2.001 (Anexo B). A alteração estabeleceu que o montante dos recursos arrecadados com a tarifa de 15% sobre a conta de água e esgoto do SAAEJ, seriam destinados exclusivamente para a Implantação dos Emissários e da Estação de Tratamento de Esgoto em um prazo máximo de quatro anos. Complementando a regulamentação do fundo foi firmado em 1998, através da Lei Municipal nº 2.633, de 23 de março de 1.998, o Termo de Compromisso com o Ministério Público do Estado de São Paulo, destinado a reparar danos ambientais decorrentes do lançamento in natura de esgotos domésticos, num prazo de setenta e dois meses, prorrogáveis por mais vinte e quatro, a partir de março de 1.998. 5. RESULTADOS A Prefeitura e o SAAEJ, desde 1997, vêm investindo na questão do tratamento do esgoto da cidade de Jaboticabal, pois apenas os seus Distritos possuem estações de tratamento de esgoto. Logo, foram construídos interceptores ao longo dos córregos que cortam a cidade em 2002, foram construídos mais de três quilômetros de emissários sendo investidos ao redor de 1 milhão de reais. Em 2003, a Estação de Tratamento de Esgoto começou a ser construída com recursos próprios, administrada e operada pelo SAAEJ. A ETE tem o seu valor estimado em 3,5 milhões de reais, boa parte dos serviços necessários à mesma, vêm sendo realizadas por administração direta, o que reduz drasticamente o custo. Tal empreendimento possibilitará o tratamento de cerca de 15 milhões de litros de esgoto por dia. 6. CONCLUSÃO Com isso, foi possível o investimento em várias áreas do saneamento, com uma política para: água, esgoto, resíduos sólidos, drenagem, áreas verdes e educação ambiental. Resolvido em parte o problema financeiro, com a criação do Fundo, a Prefeitura e o SAAEJ em 2.001 verificaram, a necessidade de criar uma marca e, assim, surgiu a Gestão Ambiental Integrada, que nada mais é, do que implementar políticas ambientais de saneamento básico, de forma concisa, objetiva e que tenham resultados práticos para a população. Tudo isso demonstra que com um pouco de criatividade e vontade política vários obstáculos que pareciam instransponíveis foram deixados para trás. BIBLIOGRAFIA ALÉM, Ana C.; GIAMBIAGI, Fábio. Finanças Públicas Teoria e Prática no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000. Setor de Saneamento Rumos Adotados. Informe Infra-Estrutura. Rio de Janeiro: BNDES/Área de Projetos de Infra-Estrutura, n. 20, jun. 1998. Saneamento: O Objetivo é a Eficiência. Informe Infra-Estrutura. Rio de Janeiro: BNDES/Área de Projetos de Infra-Estrutura, n. 23, jun. 1998.

Fotografia da Participação Privada no Setor de Saneamento (JUN/99). Informe Infra-Estrutura. Rio de Janeiro: BNDES/Área de Projetos de Infra-Estrutura, n. 32, jun. 1999. IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ministério do Planejamento e Orçamento. Infra-Estrutura Perspectivas de Reorganização Fianciamento, p. 140, 1998. MOREIRA, Terezinha. Sanemamento Básico: Desafios e Oportunidades. Revista do BNDES. Rio de Janeiro: dez. 1996. A hora e a vez do saneamento. Revista do BNDES. Rio de Janeiro: dez. 1998 BNDES 50 anos Histórias Setoriais: a Infra-Estrutura Urbana. Revista do BNDES. Rio de Janeiro: dez. 2002. MUSGRAVE, Richard; MUSGRAVE, Peggy. Finanças Públicas. Trad. de Carlos A. P. Braga; Cláudia C. C. Eris. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1980. PARLATORE, Antonio Carlos. Privatização do setor de saneamento no Brasil. in A Privatização no Brasil O caso dos serviços de utilidade pública. Rio de Janeiro: BNDES. REZENDE, Fernando. Finanças Públicas. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2001. TUROLLA, Frederico A. Política de Saneamento Básico: Avanços Recentes e Opções Futuras de Políticas Públicas. IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão. Brasília: dez. 2002. VASCONCELLOS, Marco A. Sandoval de; OLIVEIRA, Roberto Guena de. Manual de Microeconomia. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2000.

ANEXO A Figura 1 Tarifa 15% conta de água e Esgoto Alimentação Fundo Especial de Investimento Gerenciamento Fiscalização SAAEJ Fiscalização CONSELHO Prestação de Contas FIGURA 1: Fluxograma do funcionamento do auto-financiamento do saneamento de Jaboticabal,SP.

Anexo B REGISTROS FOTOGRÁFICOS DAS REALIZAÇÕES Foto 1 Perfuração de Poço Profundo Foto 2 Construção de Interceptores Foto 3 Construção de Emissários

Foto 4 Construção de Emissários Foto 5 Construção da ETE