EMPREGO DA PRESSÃO NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO ENQUANTO INDICADOR DA QUALIDADE DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE SANEAMENTO
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1 EMPREGO DA PRESSÃO NA REDE DE DISTRIBUIÇÃO ENQUANTO INDICADOR DA QUALIDADE DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO DE SANEAMENTO Daniel Manzi (1) Engenheiro Civil, Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC/USP), Doutorando em Hidráulica (FEC/UNICAMP), Coordenador de Fiscalização da Agência Reguladora ARES- PCJ Ludimila Turetta Engenheira Ambiental, Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC/USP), Analista de Fiscalização e Regulação da Agência Reguladora ARES-PCJ. Fernando Girardi de Abreu Engenheiro Ambiental, Mestre em Hidráulica e Saneamento (EESC/USP), Doutorando em Hidráulica e Saneamento (EESC/USP), Analista de Fiscalização e Regulação da Agência Reguladora ARES-PCJ. Lia Garcia Matelli Bióloga, Mestre (ESALQ/USP), Analista de Fiscalização e Regulação da Agência Reguladora ARES-PCJ. Marcelo Oliveira Santos Bacchi Engenheiro Civil, Analista de Fiscalização e Regulação da Agência Reguladora ARES-PCJ. Endereço (1) : Rua Sete de Setembro, Centro - Americana - SP - CEP: Brasil - Tel: +55 (19) daniel@arespcj.com.br. RESUMO O Art. 2º da Lei federal nº /2007 apresenta, em seu inciso XI, a garantia da segurança, qualidade e regularidade como princípios legais, especialmente notáveis para manutenção de sistemas de abastecimento de água com pressões adequadas e sem interrupções no fornecimento. A norma brasileira NBR /1992 estabelece pressões ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1
2 mínimas e máximas para projeto de novas redes de distribuição, mas a ausência de textos normativos para as pressões de operação em sistemas existentes levou a inclusão dos mesmos valores-limite como condições gerais de prestação dos serviços exigíveis pela ARES-PCJ, em sua Resolução nº 50/2014. O Programa de Monitoramento de Pressão da ARES-PCJ acompanhou, até abril/2015, as pressões de distribuição de água em 98 pontos em 31 municípios, em um total de mais de horas de monitoramento. Os resultados obtidos indicaram pressões dentro dos limites estabelecidos em aproximadamente 69% do tempo, mas com ocorrências significativas de pressões elevadas ou com grande amplitude de variação, que podem ajudar no surgimento e agravamento de vazamentos, além de pressões negativas que podem afetar a qualidade final da água distribuída pela intrusão de contaminantes. Palavras-chave: Pressão; monitoramento; regulação; qualidade da prestação dos serviços de saneamento; intrusão de contaminantes. INTRODUÇÃO/OBJETIVOS Em 2007 foi publicada a Lei federal nº , regulamentada pelo Decreto nº apenas em 2010, denominada Lei Nacional de Saneamento Básico, que apresenta diretrizes para o setor baseadas em princípios de universalização do acesso, eficiência e sustentabilidade econômica, controle social, fiscalização, regulação e integralidade entre os serviços de saneamento básico, agora definidos em suas quatro vertentes: abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos e drenagem urbana. A legislação apresenta então, mesmo que tardiamente para este setor, regras gerais e a necessidade de definição de um ente regulador para a prestação de serviços de saneamento. A Agência Reguladora dos Serviços de Saneamento das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (ARES-PCJ) foi criada a partir da demanda de diversos municípios em busca de uma solução comum adequada, aliando menores custos operacionais a uma maior proximidade e atenção a realidade de cada município. Mais que um órgão regulador e fiscalizador, a ARES-PCJ é uma entidade autônoma e independente, parceira dos municípios consorciados, que concilia tecnicamente os interesses de usuários, prestadores dos serviços e titulares (prefeituras), tendo como objetivos básicos: (i) estabelecer padrões e normas para prestação dos serviços públicos; ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 2
3 (ii) garantir o cumprimento do Plano Municipal de Saneamento; (iii) prevenir e reprimir o abuso do poder econômico; (iv) definir tarifas e outros preços para equilíbrio econômico e financeiro do prestador e; (v) garantir a eficiência e eficácia da prestação dos serviços. A agência ARES-PCJ é composta atualmente por quarenta e seis municípios, que totalizam uma população superior a 5 milhões de habitantes. Um dos princípios mais notáveis deste novo Marco Regulatório consiste na garantia da segurança, qualidade e regularidade (Art. 2º, inciso XI), sobremaneira na manutenção de sistemas de abastecimento de água com pressões adequadas e sem interrupções no fornecimento. A relação entre a pressão da água e as perdas físicas nas redes de distribuição é conhecidamente importante e seu controle desponta como uma das principais estratégias de controle destas fugas. A Norma Brasileira NBR /1994 (ABNT, 1994) apresenta os limites de pressão de 10 e 50 mca enquanto pressões mínima dinâmica e máxima estática, respectivamente, em projetos de redes de distribuição de água. Não há, todavia, um texto normativo que estabeleça valores para as pressões mínimas e máximas ou ideais para operação de sistemas existentes, sobretudo com vistas à redução de perdas e estabelecimento de níveis confortáveis de abastecimento aos usuários. O Art. 23 da referida Lei federal nº /2007 estabelece que cabe às entidades reguladoras a criação de normas, inclusive de caráter técnico, com objetivo de disciplinar a prestação dos serviços de saneamento. A ARES-PCJ editou, em 28 de fevereiro de 2014, a Resolução ARES-PCJ nº 50 que estabelece as condições gerais de prestação dos serviços de água e esgoto nos municípios associados à Agência Reguladora PCJ que, em seu Art. 17, fixa em 10 e 50 mca os limites mínimo e máximo, respectivamente, para as pressões no ponto de fornecimento de água. O acompanhamento das condições estabelecidas pela Resolução é realizado pela ARES- PCJ através de Programas de Fiscalização e Monitoramento e, no caso particular das pressões no sistema de distribuição de água, através de um programa específico para coleta e transmissão remota de dados de pressão aos técnicos da Agência e aos Prestadores de Serviço. METODOLOGIA ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 3
4 O Programa de Monitoramento de Pressões da ARES-PCJ é realizado através da instalação de equipamentos para coleta, registro e transmissão remota de dados de pressão (data loggers) em todos os municípios associados, por um período de um mês em cada município. O número de equipamentos instalados por município é proporcional à extensão total das redes de água e sempre igual ou superior ao número de dois equipamentos por município, a fim de serem verificadas ao menos um ponto de pressões baixas e outro de pressões mais elevadas por município. Os equipamentos são instalados nos pontos de fornecimento de água (cavalete), em derivação que não afeta ou interfere nos hábitos de consumo da unidade usuária, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1 - Aspecto da instalação de ponto de monitoramento remoto de pressão Os dados de pressão são coletados a cada quinze minutos e transmitidos a cada 12 horas a um servidor remoto, que disponibiliza aos técnicos da ARES-PCJ e aos Prestadores de Serviço as pressões medidas em tempo real via web. A utilidade prática do Programa excede às atividades de fiscalização e regulação, objetivo primeiro da iniciativa, auxiliando Prestadores de Serviço a conhecer melhor as características de seu sistema de abastecimento de água, planejando intervenções e otimizando a sua operação. RESULTADOS ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 4
5 Até abril/2015 o Programa de Monitoramento de Pressão da ARES-PCJ já havia acompanhado das pressões de água em 98 pontos em 31 municípios, em um total de mais de horas de monitoramento. Os resultados parciais da aplicação do Programa revelam um comportamento das pressões observadas conforme Figura 2, com aproximadamente dois terços dos dados coletados dentro dos limites estabelecidos pela Agência em sua Resolução nº 50/2014, ou seja, entre 10 e 50 mca. > 50 mca; 16,97% Negativas; 2,34% 0 a 10 mca; 11,79% 10 a 50 mca; 68,92% Figura 2 - Distribuição das pressões observadas Observa-se, ainda, uma participação significativa da faixa de pressões entre 0 e 10 mca (11,79%), que revelam deficiências no abastecimento de água nestas situações e, portanto, falhas na prestação local dos serviços de saneamento. O mesmo pode ser observado em relação às pressões superiores ao limite máximo de 50 mca, que em proporção de 16,97% também configuram o fornecimento do serviço em situação não adequada. A ocorrência de pressões negativas em 2,34% do total monitorado apresenta-se como dado preocupante, pela potencialidade na intrusão de contaminantes do solo na rede por vazamentos ou acessórios do sistema e explica-se, em parte, pela operação em regime de Racionamento diante da escassez hídrica que assolou alguns municípios associados em Além do comportamento das pressões em termos de mínimos, médios e máximos, também a amplitude geral das pressões em cada ponto monitorado é analisada, conforme ilustra a Figura 3. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 5
6 140,0 130,0 120,0 110,0 100,0 90,0 Pressão (mca) 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0-10,0 Mínima Média Máxima Figura 3 - Amplitude das pressões nos pontos monitorados Esta análise permite observar pontos de monitoramento com valores de pressões dentro dos limites estabelecidos pela ARES-PCJ, mas que oscilam significativamente entre valores baixos e altos, podendo implicar em novos vazamentos principalmente em tubulações plásticas. CONCLUSÃO O controle das pressões na rede de distribuição de água consiste em importante instrumento de avaliação da qualidade geral da prestação dos serviços de saneamento, enquanto indicador indireto do potencial de perdas no sistema pela operação com pressões elevadas ou com grande amplitude de variação, que podem contribuir para o surgimento de novos vazamentos ou agravamento dos existentes, ou ainda pela ocorrência de pressões negativas que podem afetar a qualidade final da água distribuída, ademais do desconforto final ao usuário em casos de pressões abaixo do limite mínimo dinâmico. ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 6
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA REGULADORA DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO DAS BACIAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIAÍ (2014). Resolução nº 50 de 28 de fevereiro de Estabelece as Condições Gerais de Prestação dos Serviços Públicos de Abastecimento de Água Tratada e de Esgotamento Sanitário, no âmbito dos municípios associados à Agência Reguladora PCJ. Americana, SP. 35p. Disponível em: _2014_-_Condi%C3%A7%C3%B5es_Gerais.pdf. Acesso em: 12/01/2015 às 14:18. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1994). NBR Projeto de rede de distribuição de água para abastecimento público. Rio de Janeiro. 4p. BRASIL (2007). Lei nº , de 5 de janeiro de Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei nº 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, BRASIL (2010). Decreto nº 7.217, de 21 de junho de Regulamenta a Lei n o , de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e dá outras providências. Diário Oficial da República federativa do Brasil. Brasília, ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 7
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