Os círculos de cooperação na indústria automotiva brasileira Luís Fernando Sasseron Agostinho 173167 Introdução Apresentando uma das maiores frotas mundiais de veículos automotores, o Brasil tem em sua indústria automobilística as raízes de um desenvolvimento industrial notável, e que busca cada vez mais avançar em termos de desempenho e competitividade. Comandada majoritariamente por uma restrita gama de fabricantes, sendo os quatro maiores Volkswagen, Fiat, GM e Ford (75% da produção), a indústria automotiva brasileira vive uma situação de oligopólio industrial em que poucas empresas detêm o controle da maior parcela do mercado. Desde a primeira fábrica automotiva instalada em 1919, muita coisa mudou. Os processos de produção, gerência, distribuição, etc, adquiriram novas faces frente ao mundo globalizado, denso e fluído, fazendo com que as formas da indústria automotiva brasileira fossem alteradas. Novas bases materiais e normativas possibilitaram processos de divisão territorial do trabalho, tornando os conceitos de circuito espacial da produção e círculos de cooperação no espaço (SANTOS, 1986; SANTOS;SILVEIRA, 2001) fundamentais para o entendimento da nova sistemática territorial. O objetivo desse trabalho é de construir um panorama geral sobre a indústria automobilística brasileira e seu circuito espacial produtivo. Utilizando conceitos introduzidos por SANTOS e SILVEIRA (2001), buscaremos entender como se dão seus processos de produção analisando sua dinâmica espacial. O circuito espacial produtivo da indústria automobilística brasileira Conceito O conceito de circuito espacial produtivo sistematiza as ideias de circulação (circuito) das etapas da produção, a condição do espaço (espacial) como determinante social, econômico e político, e a atividade produtiva (produtivo) em si. A divisão territorial do trabalho pode nos dar apenas uma visão mais ou menos estática do espaço de um país. (...) Mas para entendermos o funcionamento do território é preciso captar o movimento, daí a proposta de abordagem que leva em conta os circuitos espaciais da produção. Estes são definidos pela circulação de bens e produtos e, por isso, oferecem uma visão dinâmica, apontando a maneira como os fluxos perpassam o território (SANTOS; SILVEIRA, 2001, P.143). 1
Na indústria automobilística brasileira podemos observar como os processos de produção, distribuição, troca e consumo se dão de maneira independente, uma vez que existe um processo de especialização funcional em que cada etapa do circuito espacial produtivo é de responsabilidade de um agente diferente. De uma maneira geral, podemos dizer que a produção ocorre em pontos específicos do espaço, como nas cidades que têm, ocasionalmente, uma indústria montadora de veículos ou nas regiões onde existem conglomerados industriais desse tipo. A distribuição fica por conta das empresas de logística, que são responsáveis a conferir fluidez e racionalidade aos circuitos espaciais produtivos, direcionando os fluxos de capitais. Enquanto isso a troca ocorre na relação consumidor x empresa, quando circuitos inferior e superior interagem entre si. Por fim, o consumo é de ordem social, quando o produto tem seu valor de uso extraído pelo consumidor. Produção e círculo de cooperação A indústria automobilística brasileira exerce grande influência em âmbito latino-americano. Segundo dados da OICA (Organisation Internationale des Constructeurs d'automobiles), em 2013 o Brasil era o sétimo maior produtor automobilístico do mundo, e o maior da América Latina. No que diz respeito à parte comercial do circuito espacial de produção de automóveis, nota-se que nas cinco regiões brasileiras existem redes de concessionárias. O processo de fabricação de um veiculo automotivo compreende o encaixe de diversas matériasprimas provenientes de diferentes ramos. Como afirma Peter Dicker (2010, p.302), a indústria automobilística é basicamente uma industria de montagem, remetendo a ideia de que ela apenas 2
recebe peças e componentes específicos e encomendados, utilizando-os na montagem dos automóveis, não sendo responsavel pela produção de grande parte do veículo, salvo algumas exceções.podemos dizer então que entre as empresas automotivas e suas fornecedoras de componentes existe um circulo de cooperação. A ideia de circulo de cooperação é fundamental para compreender as dinâmicas existentes na indústria automobilistica. Indústrias dos ramos siderurgico, elétrico, mecânico, material de plástico, têxtil, etc desenvolvem componentes para as montadoras, que os utilizam no processo de montagem. Dessa relação entre industrias nasce uma relação de cooperação mútua, e que não se restringe a essa escala e instância, mas atinge os circuitos espaciais de produção em diversas maneiras, como políticas e econômicas. Os diversos agentes, com objetivos e perspectivas próprios, se interrelacionam dentro de círculos de cooperação cada vez mais intensos e extensos. Dentro dos circuitos espaciais produtivos, são estabalecidos diversos círculos de cooperação : entre as empresas ; entre empresas e poderes públicos locais, regionais e nacionais ; entre empresas, associações e instituições, etc. É necessario, portanto, analisar as especificidades dos círculos de cooperação estabelecidos e as respectivas escalas de poder dos diferentes agentes (CASTILLO ; FREDERICO, 2010). 3
Podemos concluir então que a produção da indústria automobilística brasileira não se restringe às montadoras localizadas na região do ABC, Vale do Paraíba e Belo Horizonte, mas a uma gama de indústrias fornecedoras de matérias primas específicas que produzem, de fato, os componentes dos veículos automotores. Essa é a ideia de circuito espacial produtivo e círculos de cooperação, que fornecem uma visão sistemática do objeto de análise e permitem uma compreensão mais abrangente dos mecanismos que interagem entre si. Consumo O ultimo estágio do circuito espacial de produção se dá na hora do consumo, quando o objeto adquirido tem seu valor de uso extraído pelo consumidor. Conforme exposto na Tabela 1, o Brasil é o país latino-americano onde se consome o maior número de veículos automotores. Alcançando a uma frota de 34 milhões de automóveis, o numero de veículos nas estradas brasileiras cresce a cada ano. Fabricados nos mais variáveis modelos e vendidos em diversas faixas de preço, os automóveis são bens de consumo que se adequam as diferentes classes sociais existentes em nosso país. Existindo um forte estímulo nacional para a compra de veículos automotores, essa indústria é muitas vezes utilizada para fomentar a produção industrial e o consumo no país. Ocorre então que em algumas localidades a concentração e o consumo excessivo de veículos acarretam problemas de ordem social e político devido, principalmente, a políticas de planejamento territorial ineficientes. É o caso da cidade de São Paulo, que todos os dias sofre com engarrafamentos e 4
problemas de trânsito uma vez que o consumo de automóveis naquela região se da de maneira intensa. Considerações finais O desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, e mudanças nas politicas de estados e empresas possibilitaram a mundialização da produção industrial, alterando as estruturas até então vigentes e atribuindo maior dinamismo aos fluxos produtivos. Apoiando-se nas especificidades políticas, econômicas e sociais dos territórios, a produção industrial se especializa e se dispersa espacialmente. Analisando as diferentes etapas pelas quais um produto qualquer é submetido podemos montar o conceito de circuito espacial produtivo, que considera, espacialmente, como ocorrem produção, distribuição, troca e consumo das mercadorias. Uma análise que utilizase desse conceito forma uma visão dinâmica dos processos envolvidos e compreende de que maneira e sentido se dão os fluxos de capitais. A indústria automobilística brasileira é considerada uma indústria de montagem, uma vez que recebe componentes fabricados por outras indústrias para a fabricação de veículos automotivos. Dessa relação entre empresas temos o conceito de círculos de cooperação, que é de extrema importância para a compreensão de como ocorre a produção automotiva. Localizada no circuito superior da economia urbana, a indústria automotiva brasileira é um constitui um caso de oligopólio, em que quatro montadoras detêm 75% do mercado. É muitas vezes utilizada como instrumento político-econômico de estímulo ao mercado, o que lhe confere grande importância nacional 5
Fonte: Business 6
Bibliografia BOTELHO, A. (2002) Reestruturação produtiva e produção do espaço: o caso da indústria automobilística instalada no Brasil. Revista do Departamento de Geografia, n. 15, pp. 55-64. VANALLE, R. M; SALLES, J. A. (2011) Relação entre montadoras e fornecedores: modelos teóricos e estudos de caso na indústria automobilística brasileira. Gest. Prod, São Carlos, v.18, n.2, p.237-250. SANTOS, M; SILVEIRA, M. L.. Brasil: Território e Sociedade no início do Século XXI. RJ: Record, 2001 IEVORLINO, Fernando. Crescimento da Indústria Automobilística e de Autopeças no Brasil nos Últimos 10 Anos. In: 16ª Conferência Internacional de Forjamento, 2012, Plaza São Rafael. 22-24 de outubro. CASTILLO, R. A. ; FREDERICO, S.. Espaço geográfico, produção e movimento: uma reflexão sobre o conceito de circuito espacial produtivo. Sociedade & natureza (UFU. Online), v. 22, p. 461-474, 2010. AZEVEDO, Maíra N. Circuito espacial de produção de automóveis e uso corporativo do território: a topologia da Toyota no Estado de São Paulo. 2015. 120f. Trabalho de Graduação Individual Departamento de Geografia, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015 7