OS ESPORTES ADAPTADOS COMO CONTEÚDOS PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO: A QUESTÃO DA DEFICIÊNCIA Shirley Silva VIEIRA, Paola Ribas Gonçalves dos SANTOS, Maria Caroliny Camargo FLORENTINO, Gilmar STAVISKI. Alunas do Ensino Médio Técnico em Administração do IFC de São Francisco do Sul Orientador do Trabalho e Professor de Educação Física do IFC Campus São Francisco do Sul. Introdução O Brasil vive um momento único dentro do cenário esportivo mundial em função da realização dos 31ª Jogos Olímpicos da Era Moderna. O esporte, na sua forma aprimorada, passa a atrair a atenção de uma maior parcela da população e torna-se então tema de discussão em inúmeros âmbitos, inclusive o escolar, sobretudo nas aulas de Educação Física. Para que as discussões ultrapassem a dimensão do senso comum, cabe aos professores trabalharem com seus alunos a temática das Olimpíadas de forma didática e pedagógica, conforme Soares et al., (1992) ressaltando-a como construção humana, patrimônio cultural da humanidade e conhecimento que deve ser transmitido de geração a geração. Findando os Jogos Olímpicos iniciam-se as Paralimpíadas, versão dos Jogos Olímpicos para as pessoas com deficiência. Embora com menos prestígio popular, investimento do governo, atenção e divulgação da mídia, quando comparada à versão olímpica, as Paralimpíadas surgem como importante conteúdo para as aulas de Educação Física no ensino médio, sobretudo por trabalhar diferentes assuntos como: oportunizar a tomada de consciência sobre os limites e superação do corpo humano; as diversas formas de expressão que se manifestam por meio do esporte; as deficiências e suas formas de classificação funcional e a inclusão social. Costa e Winckler (2012) afirmam que o esporte adaptado é uma prática esportiva realizada por pessoas com deficiência visando a inclusão ou a melhoria de suas funções motoras. No entanto, pessoas sem deficiência também podem beneficiar-se da sua prática e dos conhecimentos que ocorrem a ela atrelados. A prática de esportes adaptados para a pessoa sem deficiência, em especial para estudantes adolescentes que estão em formação, acontece permeada de significados que transcendem a simples prática mecânica ou aprendizagem de uma habilidade motora e pode contribuir significativamente para uma tomada de consciência sobre a inclusão e consciência corporal. São iniciativas desta natureza que permitem aos indivíduos olhar o diferente de
forma menos preconceituosa e ampliar a consciência de si, do outro e do mundo (KUNZ, 1994). Neste sentido e considerando a gama de possibilidades pedagógicas apresentadas acima, a presente pesquisa teve como principal objetivo investigar o conhecimento dos alunos do segundo ano do ensino médio técnico em Guia de Turismo e segundo ano do ensino médio Técnico em Administração sobre as Paralimpíadas e esportes adaptados e que experiências/emoções/sensações podem emergir da prática de modalidades esportivas adaptadas durante as aulas de Educação Física. Material e Métodos Esta pesquisa teve início em março de 2016 e encerrou-se em setembro do mesmo ano. Envolveu um total de 41 alunos, 24 do Curso de Guia de Turismo e 17 do Curso de Administração, sendo 29 meninas e 12 meninos, todos regularmente matriculados no ensino médio do Instituto Federal Catarinense de São Francisco do Sul. Caracteriza-se como uma pesquisa de abordagem qualitativa e de inspiração no referencial da pesquisa-ação, pois de acordo com Monteiro et al (2010), este design de pesquisa procura, de acordo com suas especificidades, contribuir para a transformação dos contextos que necessitam de alguma forma de intervenção, permitindo esclarecer e buscar soluções para os problemas ali existentes. Além disso, a pesquisa-ação necessita da intervenção do pesquisador no contexto estudado, da participação da população na construção do conhecimento e da importância da socialização do conhecimento (HAGUETTE, 2001). A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa participante engajada, onde procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática (MONTEIRO et al., 2010). A pesquisa-ação é indubitavelmente atrativa pelo fato de poder levar a um resultado específico imediato no contexto do ensino-aprendizagem. Desta forma, uma vez constatado que os alunos do ensino médio técnico em administração e guia de turismo apresentavam uma compreensão limitada das paralimpíadas e dos esportes adaptados, foi elaborada uma estratégia de intervenção, na qual os alunos tomam ciência das diferentes possibilidades de modalidades esportivas adaptadas e vivenciam a prática destas modalidades. Inicialmente foi realizada uma entrevista em forma de questionário aplicado aos alunos em sala de aula durante uma aula de Educação Física. Este questionário tinha a
intenção de investigar o conhecimento sobre as modalidades esportivas adaptadas, inclusão no ambiente escolar, conceitos, principais características das deficiências, estruturas arquitetônicas e acessibilidade. Posteriormente, o professor distribuiu para cada aluno uma modalidade paralímpica que deveria ser apresentada aos demais colegas no início de cada aula de Educação Física. Paralelamente a estas apresentações, o professor desenvolveu a temática da inclusão, das diferentes deficiências existentes e promoveu a prática de atividades que visavam preparar os alunos para a questão das deficiências e despertá-los para uma sensibilidade que esta temática solicita. Em função de limitações de espaço e de materiais próprios dos esportes adaptados, o professor utilizou, quando necessário, o recurso de vídeos no intuito de trabalhar temáticas específicas das deficiências. As respostas dos alunos investigados foram registradas e analisadas pelas pesquisadoras de duas maneiras. Primeiramente por meio das respostas aos questionários aplicados no início da pesquisa e posteriormente por meio do registro em um diário das falas dos alunos quando solicitados a comentar no grande grupo sobre as sensações e emoções provenientes das vivências ou dinâmicas realizadas. Resultados e Discussão Os alunos por meio das respostas ao questionário inicial revelaram ter um conhecimento superficial em relação aos esportes adaptados e aos jogos paralímpicos, conhecimento este proveniente apenas de notícias vinculadas à mídia, que na maioria das vezes retrada uma imagem limitada e tendenciosa dos fatos e fenômenos. Quanto ao número de esportes que conheciam, as respostas ficaram limitadas a 3 ou 4 exemplos, exclusivamente aos mais populares, como natação, atletismo e basquete em cadeira de rodas. Em relação às adaptações e estruturas arquitetônicas a maioria dos alunos demonstrou desconhecer esta nomenclatura. Quando submetidos a experiências que limitavam os sentidos, os alunos relataram sentir uma sensação estranha, uma sensação de medo, uma sensação desconfortável ou uma sensação de estar caindo. O fato de lidar com o desconhecido, com um movimento que pode gerar uma consequência imprevisível, característica apontada por Costa e Silva et al (2013), causa nos alunos certa paralisia momentânea, um travamento nas atividades que realizam sem dificuldade quando podem utilizar todas as suas habilidades e potencialidades.
A experiência da limitação física foi retrada pelos alunos como um desconforto, como se estivessem presos e dependentes, pois passam a precisar de outrem para realizar atividades habituais. É neste contexto da privação que o aluno reconhece e aprende a respeitar e valorizar seu corpo com todas as suas possibilidades e condições. A prática dos esportes adaptados também favoreceu a inclusão dos alunos que demonstram pouco interesse ou mesmo aversão em relação às práticas esportivas, corroborando com Costa e Winckler (2012) sobre o caráter de potencializar a sociabilidade e a inclusão que os esportes adaptados possuem. Considerações Finais Os alunos demonstram pouco conhecimento sobre a temática dos esportes adaptados e Jogos Paralímpicos, sendo seus conhecimentos restritos ao senso comum ou às modalidades mais tradicionais. As principais sensações relatadas pelos alunos puderam ser retradas como medo, insegurança e desconforto. Após 6 meses de apresentações e explanações do professor, assim como vivências de atividades e modalidades esportivas adaptadas os alunos manifestaram uma postura mais madura sobre as pessoas com deficiência e sobre as diferentes habilidades que estas desenvolvem em função da exigência das modalidades paralímpicas devido o comprometimento motor o sensorial apresentado. É necessário dar continuidade a esta pesquisa e promover mais oportunidades de vivências aos alunos para que possam compreender melhor esta temática e tratar de maneira mais natural e menos preconceituosa o corpo estigmatizado pela deficiência. Da mesma maneira, materiais e implementos próprios dos esportes adaptados também colaboram para potencializar positivamente a qualidade das experiências. Referências COSTA, Alberto Martins; WINCKLER, Ciro. A Educação Física e o Esporte Paralímpico. In: MELLO, M. T.; WINCKLER, C. (Org). Esporte Paralímpico. São Paulo: Editor Atheneu, 2012. COSTA E SILVA, Anselmo de Athayde. et al. Esporte Adaptado: abordagem sobre os fatores que influenciam a prátaica do esporte coletivo em cadeira de rodas. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. São Paulo, out-dez, v. 27 (4), 679-87, 2013.
HAGUETE, T. M. F. Metodologias Qualitativas na sociologia. Petropolis: Editora Vozes, 2001. KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijuí, 1994. MONTEIRO, C. F. S. et al. Pesquisa-ação: contribuído para a prática investigativa do enfermeiro. Revista Gaúcha de Enfermagem, Porto Alegre, v. 31, n.1, p. 167-74, 2010. SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.