(D`8Ì0\1Q0) PODER JUDICIÁRIO EMENTA TRIBUTÁRIO. IPI. ISENÇÃO. OBTENÇÃO DE MATERIAS-PRIMAS, PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS E MATERIAIS DE EMBALAGEM. INCENTIVO FISCAL. PESSOAS JURÍDICAS PREPONDERANTEMENTE EXPORTADORAS. NÃO CONTRIBUINTE DO IPI. ARTIGO 29, 2º, DA LEI 10.637/2002. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE JULGAMENTO EXTRA PETITA. 1. O artigo 29 da Lei 10.637/2002 suspende o Imposto sobre Produtos Industrializados das matérias-primas, dos produtos intermediários e dos materiais de embalagem destinados aos estabelecimentos que se dediquem a produção dos produtos que indica (caput e 1º), como também às pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras ( 2º). 2. Em relação às pessoas jurídicas preponderantemente exportadora, a única exigência feita pela lei, no 3º do art. 29 em sua redação original, era que sua receita bruta decorrente de exportação, no ano calendário imediatamente anterior ao da aquisição, fosse superior a 80% de sua receita bruta total no mesmo período. 3. É de ver-se que não se exige que tal empresa seja contribuinte do IPI. Quando a lei quis referir-se ao contribuinte do IPI o fez, conforme se verifica no já citado caput e no 1º do art. 29. Aliás, no caput há, inclusive, permissão para a suspensão do IPI quando o insumo for destinado a empresas de produtos não tributados, o que implica na concessão do incentivo fiscal a empresas que podem ser não contribuinte do IPI. 4. Vale ressaltar que não se pleiteia a aplicação do princípio da não-cumulatividade do IPI, previsto no art. 153, parágrafo 3º, II, da Constituição Federal, nos moldes de creditamento do que seria devido em relação a operações econômicas anteriores isentas, não-tributadas ou tributadas à alíquota zero, situações estas tidas como não ensejadoras desse mecanismo constitucional de compensação do tributo segundo interpretação do STF em seus julgados proferidos nos REs 353657/PR e 370682/SC. Discute-se, na verdade, o exercício de um incentivo fiscal conferido pelo art. 29 da Lei 10.637/2002. 5. Apelação da Fazenda Nacional e remessa oficial a que se nega provimento. ACÓRDÃO Decide a 7ª Turma Suplementar do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa oficial, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 3 de setembro de 2013. JUIZ FEDERAL CARLOS EDUARDO CASTRO MARTINS Relator RELATÓRIO Trata-se de apelação interposta pela Fazenda Nacional contra sentença que concedeu em parte a segurança para declarar a inexigibilidade do requisito de ser o impetrante contribuinte do IPI para desfrutar do benefício previsto no art. 29 da Lei 10.637/2002. Sustenta a apelante, preliminarmente, que houve julgamento extra petita, pois o pedido é de declaração de que a impetrante é uma empresa preponderantemente exportadora e a sentença limitou-se a afastar a condição de não contribuinte do IPI para usufruto do benefício do art. 29 da Lei 10.637/2002. Entende que a impetrante é parte ilegítima para propor a presente ação. No mérito, alega que a impetrante, por atuar no ramo de raízes e frutas frescas, não realiza processo produtivo que tipifique o conceito de industrialização, por isso não é contribuinte do IPI, razão pela qual não participa da relação jurídico-tributária a que se refere o art. 29 da Lei 10.637/2002. Foram apresentadas as contrarrazões (fls. 242-252). O representante do Ministério Público Federal manifestouse pelo provimento da apelação da Fazenda Nacional e da remessa oficial (fls. 260-266). É o relatório.
VOTO Objetiva a impetrante adquirir matérias-primas, produtos intermediários e/ou materiais de embalagem com isenção de IPI, na forma do artigo 29 da Lei 10.637/2002, por considerar que, na condição de empresa preponderantemente exportadora, preenche todos os requisitos legais, mesmo não sendo contribuinte do IPI. Preliminarmente, verifica-se que não houve julgamento extra petita. Embora o pedido tenha sido de declaração de ser a empresa preponderantemente exportadora, o que impedia esse reconhecimento para usufruto do benefício do art. 29 da Lei 10.637/2002 era o fato de a impetrante não ser contribuinte do IPI. Correta, portanto, a sentença. A preliminar de ilegitimidade ativa confunde-se com o mérito e com ele será apreciado. No mérito, o artigo 29 1 da Lei 10.637/2002 suspende o Imposto sobre Produtos Industrializados das matérias-primas, dos 1 Art. 29. As matérias-primas, os produtos intermediários e os materiais de embalagem, destinados a estabelecimento que se dedique, preponderantemente, à elaboração de produtos classificados nos Capítulos 2, 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 23 (exceto códigos 2309.10.00 e 2309.90.30 e Ex-01 no código 2309.90.90), 28, 29, 30, 31 e 64, no código 2209.00.00 e 2501.00.00, e nas posições 21.01 a 21.05.00, da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados - TIPI, inclusive aqueles a que corresponde a notação NT (não tributados), sairão do estabelecimento industrial com suspensão do referido imposto. (Redação dada pela Lei nº 10.684, de 30.5.2003) 1 o O disposto neste artigo aplica-se, também, às saídas de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem, quando adquiridos por: I - estabelecimentos industriais fabricantes, preponderantemente, de: a) componentes, chassis, carroçarias, partes e peças dos produtos a que se refere o art. 1 o da Lei n o 10.485, de 3 de julho de 2002; b) partes e peças destinadas a estabelecimento industrial fabricante de produto classificado no Capítulo 88 da Tipi; c) bens de que trata o 1 o -C do art. 4 o da Lei n o 8.248, de 23 de outubro de 1991, que gozem do benefício referido no caput do mencionado artigo; (Incluído pela Lei nº 11.908, de 2009). II - pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras. (...) 3 o Para fins do disposto no inciso II do 1 o, considera-se pessoa jurídica preponderantemente exportadora aquela cuja receita bruta decorrente de exportação para o exterior, no ano-calendário imediatamente anterior ao da aquisição, houver sido superior a 80% (oitenta por cento) de sua receita bruta total no mesmo período.
produtos intermediários e dos materiais de embalagem destinados aos estabelecimentos que se dediquem a produção dos produtos que indica (caput e 1º), como também às pessoas jurídicas preponderantemente exportadoras ( 2º). Em relação às pessoas jurídicas preponderantemente exportadora, a única exigência feita pela lei, no 3º do art. 29 vigente à época, era que sua receita bruta decorrente de exportação, no ano calendário imediatamente anterior ao da aquisição, fosse superior a 80% de sua receita bruta total no mesmo período. É de ver-se que não se exige que tal empresa seja contribuinte do IPI. Quando a lei quis referir-se ao contribuinte do IPI o fez, conforme se verifica no já citado caput e no 1º do art. 29. Aliás, no caput há, inclusive, permissão para a suspensão do IPI quando o insumo for destinado a empresas de produtos não tributados. Veja que se tal empresa só produzir os produtos indicados pelo caput como não tributados o benefício será concedido a um não contribuinte do IPI, como pode ocorrer com as empresas preponderantemente exportadoras. Vale ressaltar que a impetrante não pleiteia a aplicação do princípio da não-cumulatividade do IPI, previsto no art. 153, parágrafo 3º, II, da Constituição Federal, nos moldes de creditamento do que seria devido em relação a operações econômicas anteriores isentas, não-tributadas ou tributadas à alíquota zero, situações estas tidas como não ensejadoras desse mecanismo constitucional de compensação do tributo segundo interpretação do STF em seus julgados proferidos nos REs 353657/PR e 370682/SC. Busca, na verdade, o exercício de um incentivo fiscal, que lhe foi 3 o Para fins do disposto no inciso II do 1 o, considera-se pessoa jurídica preponderantemente exportadora aquela cuja receita bruta decorrente de exportação para o exterior, no ano-calendário imediatamente anterior ao da aquisição, tenha sido superior a 50% (cinquenta por cento) de sua receita bruta total de venda de bens e serviços no mesmo período, após excluídos os impostos e contribuições incidentes sobre a venda. (Redação dada pela Lei nº 12.715, de 2012) (...)
conferido pela legislação tributária (arts. 29 e seu parágrafo 5º da Lei 10.637/2002). Assim, não merece reforma a sentença que declarou a inexigibilidade do requisito de ser a impetrante contribuinte do IPI para desfrutar do incentivo fiscal previsto no art. 29 da Lei 10.637/2002. Em face do exposto, nego provimento à apelação da Fazenda Nacional e à remessa oficial. É como voto. JUIZ FEDERAL CARLOS EDUARDO CASTRO MARTINS Relator